Assim que o dia amanheceu Alyssa acordava contra sua vontade, alguns fios de cabelo estava jogado sobre seu rosto e encolhida debaixo da coberta, deixava claro que naquele dia ela não se importava em fazer nada, apertava contra seu peito uma foto, duas meninas idênticas sorrindo mas por um tempo caindo na gargalhada assim que uma desequilibrou. Alyssa lembrava nitidamente sobre aquele dia, uma das últimas vezes que tinha sido feliz de verdade. Tentou secar apressadamente as lágrimas de seu rosto mas seria impossível completar aquele simples ato já que as memórias vinham constantemente.
 Abriu a cortina azul de sua cama e saiu em direção ao banheiro, fez sua higiene matinal e vestiu uma jardineira jeans com uma blusa de manga longa azul clara por baixo e um tênis simples branco. Se olhou no espelho, e preferiu deixar seu cabelo solto já que estava adequadamente no lugar, seu rosto cansado e os olhos escuros inchados denunciava que sua noite não tinha sido nada bem.
 Olhou para a pilha de presentes ao lado de sua cama e sem ao menos esperar, fechou a porta do seu quarto silenciosamente, e encontrou Luna lendo o Pasquim de cabeça para baixo como de costume, preferiu não comentar nada e assim saiu da sala comunal da corvinal, desceu as longas escadas e quando chegou ao último degrau duas vozes muito conhecida a fizeram parar.
 — Bom dia menina Alyssa - desejou os gêmeos.
 — Bom dia meninos - falou enquanto surgia um singelo sorriso em seu rosto.
 — Sabemos que dia é hoje - começou Fred - e então preparamos algo especial para ser seu presente de aniversário.
 — Eu agradeço muito mesmo, mas eu combinei com algumas meninas do primeiro ano de estudar - Disse apressadamente.
 — Mentira! - dessa vez Jorge afirmou - Como você imagina que vamos acreditar nessa? Depois de 5 anos dando a mesma desculpa?
 — Ano que vem eu invento uma nova então - Ela parou de falar por um momento e após um longo suspiro continuou - é sério meninos, hoje não é um dia bom, eu quero ficar sozinha, por favor.
 — A gente se preocupa com você Aly. Podemos ficar sem fazer nada o dia todo se você quiser, mas não ficaríamos nem um pouco a vontade se ficasse longe de você!
 — Podemos ficar perto do lago? - Perguntou ela com lágrimas nos olhos.
 — Tudo o que você quiser princesa.
 Em silêncio eles saíram, Jorge passou o braço pelos ombros de Alyssa, e ela passou o dela por sua cintura enquanto Fred ia para o salão principal pegar alguma coisa para eles comerem. Alguns professores passavam e desejavam um bom dia, mas Miller torcia para que não encontrasse com seu pai ou sua mãe, não demorou muito para que Jorge percebesse e tentou mudar de assunto com uma pergunta boba que atraiu um sorriso da menina.
 — Você já percebeu como as paredes de Hogwarts são cinza demais?
 — Percebi, não gosto nenhum pouco delas.
 — Poderíamos pintar algumas delas o que você acha?
 — De azul? E de roxo? Melhor e de amarelo? - empolgada.
 — São todas as suas cores favoritas? Por que essa?
 — Não faz essa cara, eu sei que esteticamente essas cores não combinam muito, até porque o amarelo é uma cor quente enquanto as duas outras são frias, mas podem fazer uma combinação interessante, o importante não é exatamente como ficam mais sim o significados que passam, é engraçado que as cores podem fazer com cada um, mas para mim eu tenho a sensação de felicidade e tranquilidade quando eu as vejo.
 — Quantos pontos você que ganhar 20 ou 30?
 — Ah para com isso!
 Seu olhar vagava pelo lago, a imagem de um sorriso foi desaparecendo com o tempo, sentou-se um pouco afastada de Jorge, pegou algumas pedras na mão, e as jogava pelo o lago vendo quais caiam mais afastada das outras. Fred logo apareceu e entregou um bolinho com cobertura rosa com alguns confeitos coloridos, Alyssa percebeu que ele mesmo tinha confeitado. Aquele ato fez com que algumas lágrimas torna-se a aparecer, imaginando como seria sua vida sem a presença dos gêmeos.
 — Lembra uma vez que você disse que tinha medo da lula gigante? - Fred indigou depois um longo abraço - eu e o Jorge confirmamos que você não precisa ter medo dela, fizemos cosquinhas nela, e depois sem querer machucamos ela.
 — Aí como vocês são horríveis!
 — Alyssa você tem que ocupar a sua cabeça, você vai pensar na Melissa o dia todo e...- Ele respirou fundo e ao notar o efeito que aquele nome tinha feito se desculpou - vem, vamos pintar algumas paredes, igual aquele filme que você insistiu que eu e Fred assistíssemos.
 — Com bexigas? Aonde vocês vão arrumar isso?
 Como de costume os Gêmeos saíram sem dar uma resposta, e Alyssa continuou sentada jogando as pedras no lago, e se assustou assim que eles voltaram correndo.
 — Você vem ou não vem?
 Não esperou muito e seguiu eles, era o corredor perto da sala de história da magia seu coração palpitou mais rápido a fim de imaginar sua mãe indo conversar sobre seu aniversário, e pela primeira vez concordou com os gêmeos que ela teria que fazer alguma coisa para esquecer. Miller não recusou a bexiga que deram para ela segurar e logo começaram a jogar na parede e algumas gotas de tintas indo parar neles, a cada 6 minutos alguém era responsável por ficar no começo do corredor com o mapa do maroto verificando se alguém estava vindo. E foi quando Fred voltou mais uma vez apurado dizendo que o professor Lupin estava vindo, por uma fração de segundo Jorge pegou sua varinha da Alyssa abriu a porta da sala e a empurrou. Ela ficou parada por um momento e viu a porta se fechando e na mesma sala Cedrico estava sentado no chão.
 — Bem vinda ao clube dos bruxos sem varinhas - falou sem emoção alguma - é incrível como duas pessoas pode te enganar fingindo que uma professora está te chamado para falar de nota baixa, sabe o engraçado? Eu nunca tirei uma nota baixa. E não adianta tentar abrir a porta, está trancada.
 — Eu não acredito nisso! FRED WEASLEY VOLTA AQUI E ABRA ESSA PORTA JÁ!
 — E como você tem tanta certeza que eu não sou o Jorge?
 — Eu não sei! Só quero que quem seja abra essa porta!
 — Não estou afim e você Jorge? - ouviu-se um riso atrás da porta seguindo de um não claramente pronunciado.
 — SEUS BOCÓS! EU VOU AZARAR VOCÊS QUANDO EU SAIR DAQUI.
 — Eu falei que não adianta - Cedrico falou estressado.
 Alyssa sentou-se furiosa no chão, no momento não conseguia pensar em nada a não ser uma maneira clara de fazer os gêmeos pagarem por isso. A dor de cabeça que sentia antes agora estava deixando impaciente, quase não escutava o que Cedrico dizia, até que uma frase chamou a sua atenção.
 — ... Claramente!
 — O que está claro? Isso era tudo plano seu e dos gêmeos? - levantou novamente indo na direção do Cedrico - Ah mas eu já devia saber disso! Como eu fui tão ingênua, se eu fosse tão firme na minha opinião eu estaria dormindo no meu quarto, mas não, estou suja de tinta andando de um lado para o outro igual uma tonta pelo simples fato de ter caído em uma pegadinha besta.
 — Alyssa calma.
 — E não me venha com Alyssa, você vai me escutar, hoje é um dos piores dias da minha vida, sabe por que Cedrico? Nem tudo na vida são flores, e desde o meu primeiro ano em Hogwarts eu vivo sem uma parte de mim, hoje é meu aniversário, e eu odeio meu aniversário. Nunca me deseje um feliz aniversário, porque não é feliz, e sabe por quê?- Perguntou nervosa e com o rosto já molhado de lágrimas, mas sem esperar a resposta continuou - Eu não posso amar ninguém, porque a única pessoa que eu amei morreu, e era a minha irmã gêmea que conviveu comigo durante anos da minha vida, e ela resolveu amar um babaca comensal da morte que MATOU ELA! Então não me peça para ficar calma, porque da mesma forma que eu poderia evitar isso eu tinha a chance de evitar a morte da minha irmã e agora eu convivo com isso todos os anos.
 As folhas secas caídas no chão se partiam conforme o andar apressado dos dois, Alyssa mais ofegante enquanto Ian e sua curiosidade Inútil não ajudava em nada, a medida em que as horas passavam mais dentro da floresta eles entravam, era possível escutar o som da água do riacho que não devia estar muito longe, mas logo um grito terrível surgiu em meio às árvores, o coração de Alyssa bateu mais forte que a fez correr, Ian continuava atrás da menina desesperada, não demorou muito até que Ian pela primeira vez perguntou algo útil:
 — O que você fez?
 Ela já não sabia o que era real e o que não era quando seu corpo caiu ao encontro do chão.