Dual escrita por carlotakuy


Capítulo 1
Primeiro beijo


Notas iniciais do capítulo

Oie! Num surto totalmente inexplicável trago uma história que há muito tempo me coço pra postar. E dependendo da aceitação continuo direitinho. Ela não é longa, então não vão ser muitos capítulos, mas espero que se divirtam e apreciem a história de Ana e Beatriz, asjahsa.



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O destino de Beatriz mudou drasticamente no momento em que ela aceitou ir junto com a família à confraternização da firma de seu pai. Ou talvez seu destino já estivesse traçado e ela não soubesse que suas ações não poderiam impedir aquele acontecimento, aquele desejo.

Enquanto toda a casa fervia em agitação, preparando-se para a confraternização da empresa de seu pai, Beatriz se encontrava jogada na grande cama de seu quarto, ainda enrolada em sua toalha, lendo, vidrada, em seu Kindle, mais um romance. Ela mal ouviu a batida em sua porta antes de Eliza, sua mãe, passar sua cabeça por ela com um olhar se reprovação teatral em seu rosto.

— Eu podia dizer que não acredito no que estou vendo, mas como sei que é você, Ana, estou plenamente ciente de sua capacidade.

Tirando os olhos escuros do livro digital a garota sorriu, agitando as pernas levantadas.

— Eu vou só terminar esse capítulo e termino de me arrumar, mãe.

A mulher a encarou com descrença levantando uma das sobrancelhas.

— Juro – ela beijou dois dedos juntos.

O rosto maquiado da mulher suavizou-se e ela sorriu, mostrando as poucas rugas que ela trazia em seus olhos escondidas por suas bases. Com um suspiro assentiu.

— Iremos sair em meia hora, espero você lá embaixo.

Aumentando o sorriso em seu rosto Beatriz concordou com a cabeça, voltando os olhos para o Kindle. Eliza abriu um fraco sorriso, saindo e fechando a porta. Novamente sozinha a garota rolou no colchão, deitando de costas, e riu quando leu o último trecho da história.

Cumprindo com sua palavra ela travou o aparelho e o colocou de lado, tomando uma longa respiração absorvendo a última cena que se desenrolava em sua imaginação. Soltando uma estridente risada ela pulou para fora da cama.

Se Richard e Helena não terminassem o próximo capítulo em uma cama pegando fogo ela não iria aguentar esperar pelo próximo livro da série.

Saltitando alegremente ela escancarou a porta do seu guarda-roupa e desenrolou a toalha do seu corpo. Sabia que a noite seria longa, com os empresários engomadinhos e esnobes da elite esbanjando suas riquezas e narizes empinados.

Com um suspiro remexeu seus vestidos no cabide e toda a alegria que lhe aquecia pela história esfriou lentamente. Se não fosse pela comida maravilhosa que os organizadores sempre conseguiam ela realmente não colocaria um só pé nesses eventos entediantes.

Pelo seu estômago, ela faria esse esforço.

•••

— Viu? Em menos de vinte minutos – Beatriz desceu rapidamente as escadas, com os saltos em mãos, sorrindo confiante para a mãe.

Eliza remexia em sua bolsa exclusiva conferindo pela terceira vez seus itens. Ela não olhou para a chegada triunfante da filha, mas assentiu quando ouviu-a. Beatriz sentou com tudo no sofá acolchoado de sua grande sala e começou a calçar os sapatos.

Em poucos minutos seu irmão e seu pai desceram as largas escadas. Albert beijou sua esposa quando se aproximou e sussurrou baixo com ela, algo sobre amigos empresários, e saiu em disparada para pegar as chaves do carro.

Murilo também falou com a mãe, mas rapidamente foi até Beatriz, teatralmente pegando o salto de sua mão e se ajoelhou, ajudando-a a calça-lo.

— Cinderela – se curvou numa reverência fazendo-a rir.

— Para de graça – ela lhe deu um tapa leve – o que você quer?

Um brilho travesso cruzou os olhos escuros de Murilo que verificou se os pais os ouviam antes de cochichar com a irmã:

— Preciso que você me encubra hoje, marquei de me encontrar com alguém perto do restaurante e...

— Quer que eu dê uma desculpa aos nossos pais que bata com a sua quando você desaparecer, não é?

Um sorriso perfeitamente alinhado abriu-se no rosto do rapaz.

— Você me conhece como ninguém maninha – ele a apertou a bochecha.

— Ei! – protestou estapeando a mão dele – demorei muito pra conseguir me maquiar, não destrua toda minha produção.

Murilo sorriu de lado, sabendo o quanto sua irmã não se importava verdadeiramente com isso.

— Certo, certo, ajudo você. Mas fica me devendo mais uma, ouviu?

Com um aceno da cabeça, discreto, o irmão de Beatriz firmou o pequeno acordo e com um sorriso satisfeito ela levantou do sofá, se firmando nos saltos, e caminhou confiante até a porta.

Dentro do carro Beatriz ajudou o irmão a travar seu cinto, lançando um olhar questionador para ele. Murilo apenas deu de ombros e sussurrou um “vou pegar uma carona”.

Rindo a garota encarou sua casa ficar para trás enquanto tentava não pensar no livro que deixara para trás.

— A noite está realmente escura hoje – comentou Eliza passando desajeitada seu batom com a ajuda de um espelho de bolso.

— Poderíamos ir para a casa de praia – sugeriu Alberto.

— Sim! – Beatriz respondeu animada.

— Aquela na costa? Perto da casa das...

— Borges? – Murilo interveio.

Eliza concordou com a cabeça e seu marido também.

— Aquele último verão foi divertido – murmurou Beatriz, encostando-se no banco.

— Foi sim – seu irmão a imitou – mas você não fez nada além de ler.

Lhe lançou um olhar de lado e um sorriso travesso.

— Cada um se diverte da sua maneira – ela piscou retribuindo o sorriso – eu com meus livros e você com as irmãs.

Beatriz aumentou seu sorriso.

Juntas— sussurrou.

Ele ameaçou cobrir a boca dela e a mesma riu. Depois de caretas eles voltaram a se sentar corretamente enquanto o carro fazia uma curva acentuada.

— Você se esconde muito nesse seu disfarce de antissocial.

— E você nesse de... – ela o olhou com zombaria de cima a baixo – garanhão.

Murilo riu.

— Não tenho culpa se as pessoas só de verem minha aparência se apaixonam – ele sorriu de lado.

— Você nunca vai ter um relacionamento sério assim. Essas pessoas nunca vão enxergar você de verdade, com seus defeitos e qualidades.

 O sorriso no rosto do garoto esvaneceu.

— Desse jeito você enche minha autoestima e pisoteia um pouco meu ego perfeito.

Beatriz riu.

— É sempre bom um pouco de realismo – ela bateu amigavelmente na mão dele – lembra da Jess?

Murilo sorriu, depois riu e balançou a cabeça. A irmã o acompanhou ao lembrar da última namorada dele, tão orgulhosa e egocêntrica quanto ele, e assim passaram os últimos minutos da viagem, rindo.

•••

Beatriz mau havia descido do carro quando seu irmão sinalizou que estava de saída e se enveredou pelo estacionamento até a saída mais próxima da orla. O restaurante ficava a beira mar e tinha janelas grandes e de vidro. Seu interior estava bastante iluminado e movimentado e o vento salgado batia furioso contra suas construções, esfriando a noite escura.

Beatriz seguiu sozinha até a entrada, a espera de seus pais que haviam ido atrás de uma vaga, e se escorou próxima a uma grande planta exótica. Seu suspiro virou uma fumaça branca ao sair de seus lábios e ela tentou ver através do breu que cobria o estacionamento ao lado.

Sons de passos se aproximaram e Beatriz encarou, um tanto desinteressada, a família que chegava para a confraternização. Os três eram bastante parecidos, com os cabelos escuros e roupas pretas. Pareciam ter acabado de sair de um cemitério e ela se perguntou se talvez seu vestido vermelho não estivesse fora do tom do encontro.

Quanto mais eles se aproximavam, mais ela conseguia​ ir TB certas coisas. Como o vestido da mulher, que ao invés de preto era de um azul escuro, a gravata do homem que tinha a mesma coloração da roupa de sua esposa e o filho deles que...

Cabelos castanhos.

Olhos verdes

Nariz reto.

Meu Deus!

— Vitória!

A voz de Eliza irrompeu na parte externa do restaurante. Toda a família, a poucos passos de onde Beatriz se encontrava, virou-se e a loira, em seu intocado vestidinho azul, abriu um grande sorriso.

— Eliza querida! Há quanto tempo!

O estômago de Beatriz se embrulhou, passando o olhar de seus pais para o pequeno grupo a sua frente, com o foco exclusivo no garoto. Ela o conhecia. Ele a conhecia. Fazia muito tempo que não se batiam na faculdade, sempre discutindo na sala e nos corredores.

Ele era o diabo!

Beatriz só saiu de sua discussão interna quando ouviu seu nome na pequena roda, sorrindo com sua melhor atuação de filha perfeita.

— Veja Vitória, esta é nossa filha, Ana Beatriz.

Os olhos verdes caíram sobre ela escrutinadores e Beatriz engoliu em seco, sentindo as gracinhas dele, que a perseguiam nos corredores, se revirando em seus pensamentos.

O que ele ia pensar sobre isso?

Quando por fim ela cumprimentou os pais do garoto viu um brilho diferente nos olhos esverdeados, mas nada além do que ele sempre lançava as garotas da faculdade. Não havia um só movimento de reconhecimento nele.

— Muito prazer em conhecê-la – ele tomou a mão dela na sua e a beijou – Ana Beatriz.

Beatriz prendeu a respiração com o movimento e riu internamente. Ele não havia a reconhecido! Ela não acreditava nisso. Era realmente um cafajeste.

Com um sorrisinho de lado ela acenou com a cabeça. Devia ser sua maquiagem. Ela não se maquiava para ir às aulas. Ou talvez fosse seus óculos, ela mal os usava em eventos sociais. Ou quem sabe a roupa...

— E este é nosso​ filho, Eliza – a loira sorriu pondo a mão no ombro do garoto, que acenou para a mulher, voltando automaticamente para Beatriz – Thomas.

Mas Beatriz já sabia o nome dele.

Thomas piscou para ela e a mesma sorriu. Ia ser maravilhoso brincar com ele e jogar em sua cara que ele flertara a noite inteira com ela. Rindo ainda mais alto internamente, com sua melhor voz maligna, ela seguiu o grupo em direção a porta.

— Posso acompanhá-la, Ana Beatriz?

Com diversão Beatriz assentiu, aceitando seu braço.

— Claro. Me chame de Beatriz.

O garoto lhe lançou um sorriso travesso.

— E você pode me chamar de Tom.

•••

As duas famílias sentaram-se na mesma mesa e tão logo estavam instalados um elegante garçom, com gel entupindo seus cabelos, ofereceu a todos os presentes taças de champanhe. Beatriz encarou o líquido borbulhante com receio.

A última vez que ela havia bebido, e fora uma garrafa inteira de vinho, não tinha passado muito bem e as lembranças dela agarrada na privada passavam em reprises em seus pensamentos.

Ao contrário dela todos alegremente tomaram suas taças e com tão poucos acompanhantes em não beber ela também pôs a taça nas mãos. Fazendo um brinde a corporação, junto com todos os outros convidados, eles beberam.

Thomas, ao lado da garota, lhe sorriu travesso por cima da taça, usando suas melhores habilidades de sedução. Beatriz o odiava. Ele era irritante, narcisista e inconveniente. Só ela sabia quantas vezes discutiram sobre os assuntos mais banais, só porque ele não os levava a sério.

Retribuindo o sorriso ela bufou internamente. Thomas era como qualquer garoto: totalmente manipulável quando atraído. E por um momento ela pensou no que poderia fazer com ele durante aquele pequeno transe.

Sorrindo mais verdadeiramente ela tomou outro gole da bebida, tentando esconder a satisfação que teria ao influenciá-lo a fazer coisas vergonhosas e jogar tudo na cara dele no dia seguinte. Ia ser fantástico!

— Me conte algo sobre você – ele sussurrou enquanto um dos organizadores fazia um belo e alto discurso num palco improvisado.

— Tenho 1,60 de altura.

Thomas abriu um sorriso de lado, confuso com a informação. Geralmente as garotas diziam coisas muito mais...

— Sua vez – Beatriz inclinou a taça na sua direção, piscando.

Ele se endireitou.

— Meu pai é dono do hotel Marin Royal, na costa sul.

A garota fez um estalo com a boca.

— Sim, mas e você?

Thomas a olhou confuso, deixando sem perceber uma das mechas castanhas escorrer para baixo em sua testa.

— O que quer dizer com isso?

Beatriz tomou mais um gole de champanhe enquanto o organizador chegava nos agradecimentos.

— Me diga algo sobre você— ela o olhou de lado – ou você não tem?

Um sorriso de lado fez com que o garoto se empertigasse, aceitando o desafio.

— Gosto de xadrez.

Beatriz quase se engasgou e ele sorriu vendo a surpresa.

— E também... – ele se aproximou mais para o ouvido dela e instintivamente Beatriz se sentiu arrepiar – gosto de ler livros de aventura – piscou.

— Eu não acredito! – ela virou-se completamente em sua direção.

Ele riu.

— E você?

— Eu gosto de contos e...

Beatriz se calou antes que dissesse alguma bobagem, corando no processo.

— E...?

— Nada, só contos, sim, contos.

Thomas ergueu uma das sobrancelhas, sorrindo travesso, e Beatriz por um segundo o achou bonito.

— Bobagem – pensou alto, sentando-se.

Ele a fitou curioso, mas ela ignorou o olhar reforçando internamente todos os adjetivos depreciativos que Thomas possuía tentando afastar o pensamento que tivera minutos antes. Bonito, há! Onde ele era bonito? Ele tinha olhos grandes demais, a boca pequena demais, e aquele nariz? Tão irritantemente reto!

— Bobagem?

Voltando a realidade ela o olhou e todos os adjetivos voltaram com tudo. Beatriz o encarou com raiva e voltou a levantar.

— Vou à toalete – disse para todos da mesa, ainda que os adultos estivessem focados no discurso, agora acalorado, logo a frente.

Dando a volta na mesa ela se apressou para o corredor do banheiro. Precisava ficar um pouco sozinha, longe de seu arqui-inimigo da faculdade e pensamentos sobre sua beleza.

Ela ainda não acreditava que havia o achado bonito!

Mas talvez só estivesse pensando demais nisso. Fora só um pensamento e...

De frente a porta do banheiro feminino Beatriz suspirou, encarando a placa. O livro que ela estava lendo acabou voltando com tudo e todo o romance rodopiou seus pensamentos, lembrando-a de si mesma. Ela nunca viveria um romance como os de seus livros. Ela nunca amaria ninguém, de novo. Ela havia escolhido viver na fantasia a ter que encarar a realidade.

A realidade que se trancara profundamente dentro de si mesma depois de seu último namorado.

Com a mão na maçaneta ela suspirou mais uma vez.

Toda aquela confusão dentro dela era totalmente sem sentido.

— O que está acontecendo comigo? – pensou alto.

— Você me quer, é simples.

A voz de Thomas a alertou e ela virou-se abruptamente para ele. Ele havia deixado seu paletó na mesa e apenas uma camisa social lhe cobria o peito. A altura dele era quase a mesma de Beatriz, em seus saltos, e ela lentamente ergueu as sobrancelhas num questionamento por ele estar ali, em frente ao banheiro feminino.

Mas com certeza Thomas não entenderia aquilo, então ela se endireitou, ficando o mais ereta possível.

— O que você faz aqui?

Um sorriso divertido cruzou o rosto do garoto, misturado a presunção.

— Você saiu escondida da mesa – ele deu um passo em sua direção – eu pensei que estivesse me convidando para...

— Pois pensou errado – ela bufou, desfazendo toda e qualquer encenação que cogitou no início da noite – nem todas as garotas do mundo querem você Thomas Mason — sibilou o nome dele com desdém.

Ao invés da reação de afastamento que ela esperou ou da surpresa que passaria pelos olhos dele, Thomas sorriu, se aproximando mais. Quando notou, em sua fuga inconsciente, Beatriz estava contra a porta de madeira do banheiro com o garoto tão próximo que ela conseguia sentir sua respiração balançar seus cabelos escorridos.

— Que coisa interessante​ a se dizer – ele sussurrou fazendo-a quase não escutá-lo.

— Agora que já disse e você escutou, poderia...

— Mais uma coisa só – Thomas deslizou a ponta do dedo na bochecha de Beatriz e ela prendeu a respiração.

Alarmes soava na sua cabeça. Ele estava próximo demais, interessado demais e cheiroso demais. Que tipo de perfume era aquele? Colônia? Inconscientemente​ ela puxou o ar para seus pulmões, num misto de expectativa e nervosismo para que ele fosse logo embora.

— Me diga que você não me quer – Beatriz se preparou para confrontá-lo, mas um olhar dele a calou – depois disso e deixo você ir.

Inocente ela esperou, lhe lançando um olhar de desdém e que lhe dizia claramente para se apressar. Mas Beatriz não esperava que ele a beijasse. E quando Thomas o fez, apesar de todos os alertas incontroláveis dentro de si, ela não o impediu.

Maldito Mason!

O beijo era bom!

Presa entre a porta e o corpo quente a frente de si, Beatriz afundou na boca do garoto. Havia algo ali queimando-a internamente num desejo incontrolável e ela se perguntou se todas as descrições de livros falavam sobre aquele tipo de beijo.

Thomas afastou-se por centímetros dos lábios borrados da garota, esquadrilhando o rosto corado a sua frente. Os olhos dela pareciam brilhar com intensidade e contra todas as leis da genética ele viu-os tão dourados quanto ouro.

Sem conseguir manter sua palavra de deixá-la ir Thomas tomou posse mais uma vez de seus lábios. Beatriz, entretanto, não reclamou e sentiu, lentamente, cada pedaço do seu corpo se entregar.

Num movimento rápido das mãos ela abriu a porta do banheiro, cambaleando para trás e trazendo o garoto consigo. Eles chocaram-se​ contra uma parede de mármore e sorriram, voltando ao beijo logo em seguida.

Havia algo de selvagem ali, algo que envolvia necessidade e desejo. Beatriz não precisava de amor ou paixão para fazer o que faria, mas xingou Thomas internamente. Era uma droga que ele soubesse fazer aquilo tão bem!

As mãos deles percorriam os lugares certos, excitando-a, e a boca movia-se quase que numa dança, seduzindo-a, provocando-a.

Beatriz o empurrou e ele cambaleou para trás surpreso. Com um sorriso ela continuou a empurrar o peito dele, fazendo-o ir cada vez mais para trás, até que ele entrou em um dos boxes. Compreensão passou nos olhos do garoto antes que Beatriz fechasse a porta.

•••

— Uau – a voz de Thomas ecoou no banheiro vazio – eu não esperava por isso.

Beatriz, que se encontrava inclinada sobre a pia, retocando o batom e a maquiagem o olhou através do espelho e revirou os olhos, escondendo um sorriso interno. Ela também não esperava.

— Quem é você? – ele se aproximou da pia, apoiando-se nela enquanto via a garota passar batom – E por que nós nunca nos encontramos antes?

Beatriz tentou não rir das palavras dele. Era assim que ele conseguia seus contatos? Era só ele falar isso que as garotas ririam e cairiam na dele? Ser homem na arte da conquista parecia fácil demais.

Terminando de esfregar os lábios ela olhou o resultado no espelho. Não lhe admirava que Thomas não a houvesse reconhecido. Ela estava completamente diferente. Os cabelos cacheados estavam​ encobertos por longas horas no salão e pendiam lisos do topo ao meio de suas costas. A maquiagem a deixara mais branca, afinou seu nariz, lhe deu cor as bochechas, deu destaque aos seus olhos.

E o batom parecia esconder ainda mais sua identidade.

Sorrindo de lado ela guardou os seus materiais de maquiagem no bolso e virou-se para o garoto ao seu lado, aparentemente ainda esperando uma resposta sua. Provocadora ela deslizou seu dedo do queixo até a gola da camisa social dele, agora desabotoada nos primeiros botões.

— Porque não era para nos conhecermos – lentamente Beatriz abotoou o botão da camisa, desamassando-a no processo.

A resposta pegou Thomas de surpresa e antes que ele pudesse contestar, ela cobriu a boca dele com seu dedo. Os olhos castanhos dela, fixos nos dele, mantiveram-no calado com o movimento.

— Não tente me fisgar para uma rede a qual não pertenço – Beatriz caminhou até a porta do banheiro – vamos só voltar e agir normalmente. Eu vim pela comida e não quero perder o prato principal.

Ainda que surpreso e contrariado Thomas sorriu e depois riu, seguindo até a porta.

— Que coincidência – ele segurou a maçaneta para que ela saísse primeiro – eu também vim pela comida.

Ela o lançou um sorriso divertido.

— Então vamos lá.

•••

De volta a mesa eles conseguiram pegar as palavras finais do organizador, que desejou uma boa noite e apreciação da generosidade da empresa, em outras palavras. Beatriz quis rir dele quando sentou, ao ver sua postura de cachorro em cima do palco improvisado.

Quando o jantar foi servido os adultos voltaram a se sentar, animados entre si conversando amenidades. Ela nunca soube que os pais conheciam a família Mason, a tão famosa e rica família de milionários.

Apesar de Alberto, pai de Beatriz, trabalhar há anos entre empresas e suas administrações ela jamais imaginou que ele seria amigo de alguém tão influente. Não que eles também não possuíssem dinheiro, claro, era membros da classe alta, mas...

Os pensamentos sobre empresários e dinheiro evaporaram da cabeça de Beatriz quando ela ouviu seu nome no meio da roda de conversa.

— Sim, Beatriz é ótima com cálculos e o irmão dela, o Murilo, é péssimo – Eliza riu – não sei como conseguimos fazer crianças tão diferentes.

— E nosso Thomas então – Vitória acenou na direção do filho, ignorando o olhar de ofendido dele – sabe administrar tão bem nossos negócios! Mas insiste em fazer faculdade de letras!

Eliza suspirou.

— É essa juventude...

Beatriz olhou instantaneamente para o garoto e Thomas fez o mesmo, em questão de segundos eles estavam rindo. Ela nunca se perguntou porquê Thomas fazia letras, apesar de saber que em algum momento da sua vida ele iria herdar e administrar os negócios do pai. Talvez fosse para sentir um pouco do gosto do que gostava?

Uma careta quase cruzou o rosto dela. Thomas não gostava do curso, então o que...

Eles pararam de rir e Beatriz notou que ele ainda a olhava, cheio de expectativas. Inquieta ela se remexeu na cadeira. Ter transado com ela não acabou com o interesse dele?

— Me diga algo sobre você – ela bebericou o suco de uva.

Os olhos dele brilharam.

Pelo resto da noite eles fizeram aquele jogo e Beatriz descobriu o gosto do garoto por gatos, praia e paraquedismo. Disse a ele apenas o superficial de si mesma, como por exemplo o nome de seu antigo cachorro que morrera e sua preferência pelo natal ao ano novo.

No final da noite as duas famílias saíram juntas para o estacionamento. Depois de Beatriz se despedir de Vitória, que a abraçou com intensidade, e de Charles, com um aperto de mão totalmente imparcial, a garota sentiu as mãos de Thomas a envolverem em um abraço.

Atônita ela o retribuiu com batidinhas em suas costas e se afastou rapidamente, com o coração acelerado. Ele nunca, em hipótese alguma, a abraçaria. O Thomas que ela conhecia jogaria ela da janela sem pensar duas vezes e sequer olharia para ver o resultado dos seus atos.

— Será que posso pedir o seu número? – ele estendeu​ a mão para ela, a espera do número.

Beatriz piscou uma, duas, três vezes antes de processar as palavras dele. Era claro, ele não sabia quem ela era. Thomas só estava flertando com mais uma garota numa noite de quinta. Abrindo um sorriso falso ela tocou na mão dele sem qualquer número para lhe dar.

— Nos vemos por aí garoto.

Acenando ela caminhou, em sua melhor pose, até o carro de seus pais. Eles ainda o abriam e Beatriz se controlou para não virar de costas e testemunhar a expressão do garoto. Internamente ela ria às gargalhadas.

Quando o carro estava destravado e todos bem acomodados a voz de sua mãe a alertou.

— O Murilo não apareceu o jantar inteiro desde que chegamos, onde ele está Beatriz?

A garota se endireitou no banco, pensando rápido.

— Um amigo dele estava passando mal aqui perto e ele saiu correndo. Disse que ia tentar voltar a tempo, mas acho que ele não conseguiu.

Eliza gemeu em contragosto.

— De novo ele fazendo esse tipo de coisa. Já disse para ele deixar de ser tão altruísta.

Alberto tocou gentilmente na mão da esposa.

— Pelo menos o seu filho foi ajudar um amigo e não o matar.

A brincadeira do homem fez a mulher olhá-lo horrorizada e tanto pai quanto filha riram, enquanto o carro dava ré. Puxando o celular da pequena bolsa Beatriz digitou rápido para o irmão:

Você foi ajudar um amigo que estava passando mal e está me devendo uma ida ao japonês perto do parque. Sem valor mínimo.

Com um sorriso de satisfação ela se apoiou no banco acolchoado e tirou os sapatos. Seus pés estavam lhe matando.


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Notas finais do capítulo

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