Milagreiro escrita por Bia


Capítulo 1
Milagreiro


Notas iniciais do capítulo

Um dado importante, talvez:

* A guerra nunca aconteceu, mas ainda assim Aang é o Avatar.



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Agora vamos ter os girassóis

Do fim do ano

E o calor vem desumano

Tudo irá se expandir

Crescer com as águas

Quiçá, amores nos corações

 

Quando aquela mulher colocou os pés nas areias da Nação do Fogo, Iroh sentiu como se estivesse vendo um tsunami se aproximar, direta e lentamente indo em sua direção.

Quase não pôde controlar o impulso de dar um passo para trás quando ela se curvou, cumprimentou-o sorrindo e perguntou de forma doce e confusa:

— Senhor do Fogo Zuko?

— O tio. — refletiu o sorriso dela e estendeu a mão direita. — Peço desculpas, meu sobrinho foi chamado com urgência para uma das colônias.

— Ah! Então você é o famoso general Iroh, o Dragão do Oeste? É uma grande honra conhecê-lo.

Ela apertou sua mão com força e Iroh cobriu-a com sua outra palma, afetuosamente.

— Senhorita Katara, a honra é nossa por ter se juntado a nós como correspondente da Tribo da Água do Sul. Você é muito bem-vinda.

— Me chame só de Katara, por favor.

— Se você me chamar só de Iroh.

O sorriso que ela abriu foi todo encanto.

— Combinado.

— Agora venha, vou levá-la para casa.

Águas

No caminho para a casa escolhida e mobiliada especialmente para sua chegada, Iroh foi explicando à Katara suas funções. Ela ouvia tudo com atenção e as perguntas que fazia eram elaboradas com sensatez e diplomacia. Quando perguntou pelo soberano da Nação, Iroh respondeu simplesmente:

— Ele virá conhecê-la na próxima semana, assim que voltar das colônias, em um baile que realizará em sua homenagem e para fazer um anúncio muito importante.

— Em minha homenagem? — a garota perguntou com os olhos azuis arregalados de surpresa.

— É claro que sim. Espero que tenha em sua mala algum vestido de festa, se não poderemos sair amanhã e comprar um. Não sou bom conselheiro para roupas mas...

A risada feminina soou no mesmo momento em que a liteira parou diante de uma mansão branca, vermelha e dourada.

— Veja. — Iroh disse antes de entrarem e apontando para a casa em frente. — Eu moro ali. Hoje acho melhor você descansar, mas amanhã venha tomar café comigo. Farei um chá que é a minha especialidade.

Eles entraram. Katara não deixou de sorrir um só instante, deslumbrada.

— Oh! Deuses! — disse levando as mãos ao rosto e com os olhos brilhando para a fonte de águas termais e piscina natural nos fundos da casa. — Iroh, é maravilhosa!

— Meu sobrinho escolheu a casa e os móveis pessoalmente. — informou orgulhoso.

— Talvez ele já me conheça, então, porque está tudo perfeito. — ela riu enquanto Iroh sentia um arrepio premonitório percorrer sua espinha.

Expandir

Nas primeiras três manhãs em que foi tomar o desjejum com ele, Katara não se demorou muito, afirmando ainda ter que arrumar os objetos da viagem e verificar alguns documentos. Na quarta manhã, porém, ela chegou com uma bandeja repleta de rodelas douradas e não demonstrou nenhuma pressa em partir.

Sentou-se diante do general e empurrou-lhe a bandeja.

— Abacaxi?

Iroh se surpreendeu. Duvidava seriamente que existisse tal fruta de primavera em um lugar que era sempre inverno, como na Tribo da Água do Sul. Temeu que Katara tivesse comprado por impulso ou curiosidade e não fosse gostar do sabor.

Para sua surpresa, ela pegou uma rodela e mordeu com prazer.

— Uma vez o avatar Aang levou um desses como presente para meu pai. — contou com os olhos na fruta. — Meu pai disse que deveria ser algo delicioso e só nos deixou provar depois do jantar. Ele e meu irmão estavam muito ansiosos, mas quando provaram quase passaram mal. Eu, por outro lado, assim que senti o gosto na boca, me apaixonei imediatamente. Parecia completamente impossível algo ser tão ácido e tão doce, mas ali estava. Depois disso fiz Aang prometer que, toda vez que fosse nos visitar, me levaria um abacaxi.

Iroh aceitou uma rodela da fruta e ao invés de se perguntar por que algo na fala dela o lembrou do sobrinho, optou imaginar se o avatar teria cumprido sua promessa.

Calor

O sol ainda não tinha nascido quando Iroh entrou sem cerimônias no quarto do Senhor do Fogo. Zuko tinha voltado no tempo determinado e exigido uma audiência imediata com o general para saber sobre sua nova correspondente.

— Bom dia, tio. — disse energético. Estava cercado de alfaiates tirando as medidas para as roupas do casamento.

— Bom dia, senhor do Fogo Zuko. Como foi a viagem?

— Cansativa... — jogou o pescoço para o lado para enfatizar. — Mas não o chamei aqui para isso. E a garota da Tribo da Água do Sul? A tal de Kitana.

Katara é uma mulher excepcional. — Iroh afirmou com sinceridade, corrigindo-o. — Inteligente, responsável, doce...

— Ela parece ser muito cheia de qualidades pra mim. — Zuko riu. — Então, confia nela.

— Absolutamente.

Iroh apertou as mãos na frente do corpo, incerto.

— No entanto...

— No entanto? — o senhor do Fogo olhou para o general e arqueou a sobrancelha.

— Eu tenho essa estranha sensação quando estou com ela.

— Sensação, tio! — o tom de Zuko foi de zombaria e alívio.

— Falo sério, sobrinho. Quando estou com Katara sempre lembro de você. A sensação... A sensação é quase a mesma de quando estou com você.

Um dos alfaiates informou a Zuko que tinham terminado de tomar as medidas e ele os dispensou com um gesto. Indiferente, vestiu o roupão e disse:

— E qual é o problema com isso? Considere-a uma sobrinha então. Você sempre foi um tio incrível, tenho certeza de que ela não vai se importar.

Iroh suspirou. Não sabia mais o que dizer, ainda que sentisse a ansiedade queimando seu peito e estômago.

— Vamos, tio. — o jovem senhor do Fogo disse sorrindo e depositando o braço nos ombros do general. — Hoje eu vou anunciar meu casamento com Mai. Quero o meu padrinho contente.

Fim

Iroh viu em pessoa o tsunami chegar à praia e destruir casas e vidas quando Zuko e Katara finalmente se encontraram no baile. Ela usava um vestido prata e ele uma armadura dourada. Se acrescentavam e rivalizavam de uma maneira estranha.

O senhor do Fogo se curvou para beijar a mão da garota da Tribo da Água sem desviar seus olhos dourados dos azuis dela. Seus lábios tocaram a pele macia e se arrastaram levemente. Katara estremeceu.  

O anuncio do casamento com Mai não foi feito naquela noite e em nenhuma outra.

Amores

Na primeira vez em que viu a capa vermelha sair discretamente da casa de Katara, altas horas da madrugada, Iroh não se surpreendeu. Não ficou surpreso em nenhuma das outras tantas vezes em que viu a mesma cena.

Entretanto, seria difícil não ficar completamente surpreso ao ouvir um gemido suplicante sair de dentro da biblioteca do palácio real. Com a testa enrugada, o general entreabriu a porta.

Zuko estava deitado no chão, entre pergaminhos, com as roupas amarrotadas e as calças baixas até os joelhos. Suas mãos seguravam com força a cintura de Katara e puxavam-na para baixo, para seu colo.

— Por favor...ah! Por favor. — pedia deslizando vez ou outra as mãos até os seios cobertos pelo vestido.

— Eu não estou entendendo. — ela disse baixo, aproximando suas bocas. — O que deseja, meu senhor?

— Senta no meu colo. — ele gemeu, jogando o quadril para cima. — Me deixa meter...

Katara ergueu um pouco as saias e sentou.

O som que eles soltaram foi tão carente e selvagem que fez Iroh corar.

O pobre general fechou a porta com delicadeza. Ficou de guarda até ter certeza de que tudo estava acabado.

Se mais alguém visse aquilo...

Geralmente coisas assim atraem problemas.  

Quiçá

O Avatar Aang estava presente para uma reunião. E não tirava os olhos dela.

Um Zuko carrancudo não tirava os olhos deles.

Assim que a reunião acabou, Aang avançou em sua direção. Iroh observou o sobrinho avançar também. A cabeça erguida e a coluna ereta, quase em postura de batalha.  

O Avatar, de costas para ele, não notou qualquer mudança no ambiente.

— Katara. — o dobrador de ar segurou com delicadeza seu cotovelo para prender sua atenção. — Será que podemos conversar?

A troca de olhares entre Katara e Zuko durou menos do que um segundo. Ela deu de ombros.

— Claro, Aang. Vamos tomar um chá.

Corações

De madrugada, Zuko bateu em sua porta e Iroh não precisou perguntar para saber do que se tratava. Permitiu que entrasse e trouxe-lhe um chá.

— Terminei meu noivado com Mai. — confessou rodando a xícara quente na mesa de madeira. — Eu... Eu gosto de outra pessoa.

— Sim, eu sei. — admitiu o velho. — E, pelo que tenho observado, ela também gosta de você.

O senhor do Fogo corou intensamente.

E Iroh soube que essa reação não se devia ao que tinha dito, mas ao que não tinha. O que quer que estivesse acontecendo entre Zuko e Katara estava ali, para todo mundo ver.

— O que devo fazer, tio?

— O que quer fazer?

O general bebericou o chá enquanto Zuko se erguia, cruzava os braços e encostava-se na parede, próximo à janela. A janela que dava para a casa escura em frente.

— Quero ficar com Katara. — disse ele de forma direta. Sem meios termos. — Tio, eu nunca quis tanto algo... Nós temos um vínculo especial, diferente.

— Sim, eu também sei disso, sobrinho.

Fechando os olhos e sorrindo, Iroh lembrou-se da estranha sensação quando estava com Katara e da visão do tsunami. Era isso o que simbolizava.  

— E então? O que me diz, tio? Pode... Pode me aconselhar?

O general permaneceu em um silêncio pensativo até terminar seu chá.

— Eu não sei a resposta. — declarou afinal. — Ás vezes a vida é como um túnel escuro, nem sempre se pode ver a luz no fim, mas se você continuar em frente vai chegar em um lugar melhor. A perfeição e o poder são sobrestimados. São sábios os que escolhem a felicidade e o amor.

Girassóis

Katara o abraçou com força e sussurrou:

— Muito obrigada, Iroh! Você não sabe o que significa pra mim.

Afastando-se dela, ele sorriu e disse honestamente:

— Não há motivos para agradecer. Nem por isso, nem por nada. Admito que, por um tempo, temi que meu sobrinho fosse desistir de seu verdadeiro desejo e se conformaria em realizar exatamente o que esperavam dele... Mas agora estou aqui, com uma garota da Tribo da Água do Sul e Senhora do Fogo.

Os olhos azuis de Katara ficaram ainda mais brilhantes e sua expressão emocionada de felicidade.  

— Agradeço a confiança, General. — Zuko brincou aproximando-se do tio e da esposa. Katara riu enquanto o Senhor do Fogo apoiava um dos braços em seus ombros.

Mais para si do que para os outros, Iroh sorriu. O que não daria para poder eternizar aquele momento?

Cedo demais, um soldado gritou do alto do navio:

— General, estamos prontos.

Antes de subir a bordo, Iroh escutou seu sobrinho sussurrar em seu ouvido ao abraçá-lo:

— Muito obrigado, tio. Por tudo. Volte logo.

— Não seja tolo. — Iroh respondeu brincando.

Afinal de contas, não estava indo fazer uma declaração de guerra. Estava apenas indo dizer ao chefe Hadoka que se preparasse, pois muito em breve ele seria avô.


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