Avalon escrita por Strife


Capítulo 2
Capítulo 2




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Tomoyo assentiu, e acabou sendo separada de Miles. Sem saber para onde ir, ela correu da multidão para uma rua menos movimentada, e pensou no que faria a seguir. Não sentia vontade de ir para casa, então decidiu ficar por ali até amanhecer. Quando olhou pra trás, a polícia estava atrás dela.

 

— Ah, merda. - Ela disse, em voz alta.

 

Decidiu, pelo menos uma vez na vida, obedecer as ordens de Miles, e correr ao invés de ficar e brigar. Sua velocidade era infinitamente maior que a daqueles policias, e os despistou com facilidade. Estava um pouco longe do centro, onde a manifestação não havia chegado. A rua estava calma, para os padrões da cidade, e andou tranquilamente, agindo o mais naturalmente possível. A jovem já estava acostumada com as ruas poluídas das favelas, então andar por aquela região limpa era estranho, sentindo um ar tão leve para seus pulmões. Ela se apoiou em um muro, e puxou um cigarro. Miles não sabia que ela estava fumando, caso soubesse, já teria tomados sérias providências quanto a isso. Ficou por alguns minutos reabastecendo seu pulmão com um ar menos saudável do que aquele, e continuou andando, com as mãos nos bolsos de sua jaqueta, e um olhar desinteressado e estressado no rosto. Apesar de parecer ser uma garota frágil, nunca foi abordada por algum bandido nem mesmo nas favelas. Apenas alguns poucos infelizes, como os Roche, tinham coragem de mexer com ela, e sempre sofriam o mesmo destino que eles. Algo em seu olhar espantava qualquer um que tentasse tocar nela, como se soubessem de longe que aquela garota traria grandes problemas. Essa era uma característica que Tomoyo compartilhava com seu pai, a facilidade de se meter em encrencas. Isso era uma sina que ela carregava, e os infortunados eram os que compravam as tais brigas com ela. Decidiu entrar em um bar, e foi obrigada a se livrar do cigarro que estava em sua boca, pois era proibido fumar ali.

 

— Fala sério, um bar que não pode fumar? Onde já se viu isso. - Ela reclamou, após notar a placa na entrada, e jogou seu cigarro no lixo.

 

Ela entrou, e resolveu que iria pedir um drink. Ela acabou esbarrando em uma garota ao ir até a cadeira. Essa mesma garota sentou ao seu lado logo em seguida. Ela era loira, tinha olhos verdes, sardas no rosto, e parecia ser mais nova, talvez 1 ou 2 anos. Ela se vestia com uma saia jeans, sapatos brancos e uma blusa preta, com a estampa de uma grande flor roxa no peito.

 

— Noite movimentada, né? - A garota puxou assunto.

 

— Já vi coisas piores que isso. - Respondeu Tomoyo.

 

— Pior que uma zona de guerra? 

 

— Você não faz ideia do que é uma zona de guerra de verdade. Nada mais te surpreende depois disso. 

 

— É, nada mais bizarro do que um portal abrindo no céu. - Comentou a garota.

 

— Então, você viu isso também? 

 

— Todos viram, bobinha. Foi o maior evento que esse mundo já viu, e olha que muita coisa já aconteceu por aqui. Muitos morreram, outros ficaram sem lar, sem familia. Mas, mesmo depois de tudo isso, a humanidade continua evoluindo sem parar, né? Continua criando novas tecnologias, novas cidades, e tudo mais. Você mal consegue imaginar como esse mundo será daqui míseros 20 anos.......

 

— Falando assim, parece até garota propaganda da Stigma. 

 

— Vai sonhando. Eu to falando da raça humana, e não daqueles monstros da Stigma. Como é possível que - ela foi cortada.

 

— Como é possível que as pessoas acreditem ainda, né? É, eu já ouvi esse questionamento muitas vezes. E a verdade, é que eu não faço a menor ideia. Talvez tenham pessoas que sejam imbecis mesmo. E, sinceramente, acho que eu me enquadro nesse grupo. - Disse Tomoyo. - Ei, chefia! E meu drink, sai ou não?!

 

— Você não é imbecil. - Disse a loira, e Tomoyo ficou surpresa.

 

— Você não me conhece. Só de eu ter saído de casa hoje, eu já sendo uma imbecil. Mas, acho que é sendo assim que eu me divirto. 

 

— Ta vendo? Seu estilo de vida é imbecil, mas você não é.

 

— E como sabe disso? 

 

— Eu sei, da pra perceber olhando nos seus olhos. Você deve viver fugindo da polícia e fazendo besteira na rua. Sem planos, apenas seguindo o instinto. Tem o olhar de alguém que já não se importa com as consequências dos seus atos. Acertei?

 

— Como você.....quer saber, nem vou perguntar. Eu só quero beber e esquecer essa merda toda, será que é difícil isso?! - Ela gritou novamente para o bartender. - Hein, será que é difícil alguém conseguir beber um pouco nessa cidade?!

 

— Eu acertei, né? O que você faz? Rouba? Pichação? Briga de rua?

 

— Um pouco de cada. - Ela respondeu. - Bom, tirando o fato que eu nunca roubei, e só pichei uma vez pra ver como é, e acredite, eu não levo jeito pra arte. Pensando bem, um pouco de cada é o cacete.

 

— Briga de rua, então, né? Difícil de acreditar que você faria alguém apanhar. -  A loira notou seu porte físico magro.

 

— É, o elemento surpresa é sempre o que pega as pessoas. - A bebida de Tomoyo finalmente chegou, e ela deu um gole. - Eu parei com essas besteiras já faz um tempinho. Quer dizer, eu tecnicamente fiz de novo hoje, mas foi por uma boa causa. Pra salvar uma vida, e não pra reforçar meu ego ou algo do tipo. Antes eu só brigava pra manter as aparências, mostrar que ninguém deveria mexer comigo.  Dessa forma eu já me meti em tantas encrencas, que eu mal sei por onde começar a contar sobre elas.

 

— Tipo quais?

 

— Bom, teve uma vez que.........olha, já chega disso, ok? Eu to contando minha vida pra uma estranha que eu nem sei o nome, em um lugar que eu nem deveria estar. 

 

— Olha, eu só perguntei. Não obriguei ninguém a responder nada. Aliás - A garota foi interrompida.

 

— Ei, meninas? - Um homem chegou e se enfiou entre elas. - As duas estão sozinhas?

 

— Não. Agora cai fora. - Advertiu a jovem.

 

— Qual é, lindinha, eu só quero conversar.

 

— Ah, é? Eu não quero conversar, e tenho certeza que a metida a psicóloga ali também não quer. 

 

— Só me deixe pagar um drink pra você, que tal? 

 

— Nesse lugar porco? Com a pior bebida que eu já provei? Melhor não. - Ela gritou para o bartender. - Ei, quase 10 minutos pra me servir essa merda, e ainda me da uma água suja dessas?!

 

— Eu prometo cuidar bem de você. - O homem segurou Ryoko pelo braço.

 

— Tira a mão de mim. - Ela o encarou nos olhos, e o homem se sentiu intimidado.

 

— Qual é, gatinha, eu só quero - Ele a segurou com as duas mãos.

 

Antes que pudesse terminar a frase, Tomoyo se levantou, e torceu seu braço ao contrário. Então, deu um chute em seu peito, que o jogou para o outro lado do balcão, fazendo-o cair nas bebidas que ali estavam. Todos a encararam com medo, e o bartender chamou a polícia. 

 

— Essa briga foi por uma boa causa, por acaso? - Disse a garota, ironicamente.

 

A jovem apenas se virou, e foi embora. Correu até um beco e se escondeu, enquanto via a polícia, que já estava em alerta máximo, procurando por ela. Resolveu ir pelas ruas menos movimentadas, a caminho de sua casa, porém, foi parada por uma voz familiar. 

 

— Ei, Tomoyo! Não finja que não me viu! - Gritou o homem.

 

— Uh, mas eu não te vi mesmo. - Ela se virou, e o reconheceu. 

 

— Ah, é você. Qual seu nome mesmo? Era......Kaito, né?

 

— Exatamente! Não ache vai fugir tão fácil dessa vez. - Kaito era um assassino de aluguel, que havia perdido para ela em jogos de azar varias vezes. Ele tinha entre 40 e 50 anos, com cabelos curtos e pintados de amarelo. 

 

— Qual é, eu não tenho culpa que você seja ruim no pôquer! Mas muito obrigada, viu? Eu comprei essa bela jaqueta com o seu dinheiro. - Zombou a jovem.

 

— Ah, sua pirralha! Por acaso você sabe quem eu sou?! 

 

— Eu sei, você já me falou mil vezes, um assassino perigoso, e tudo mais, que deveria ser temido e bla bla bla. Bom, das últimas 5 vezes eu te bati como um amador, o que faz você achar que dessa vez vai ganhar? Se eu fosse você, trocava de vida o mais rápido possível. 

 

— Você não vai mais ficar com esse sorrisinho no rosto quando eu terminar com você. - Ele puxou uma grande espada de sua cintura.

 

— Ei, cuidado com isso ai! Te conhecendo, você vai acabar cortando a mão fora. 

 

— Eu não diria isso, menina. Agora você vai entender a roubada em que se meteu. - Disse Kaito. - Meus socos podem ser desajeitados, mas eu aprendi a manejar uma espada com o melhor dos melhores! - Ele avançou contra ela, empunhando sua espada. 

 

Ela desviou do golpe, que foi mais preciso do que esperava. Talvez Kaito fosse mais perigoso do que realmente parecia. A jovem continuou desviando de golpes, e ficava cada vez mais surpresa. Não imaginava que aquele cara, que mal conseguia socar direito, poderia ter tanta habilidade com uma espada. Ela desviou de um último golpe, que acertou a placa de um estabelecimento próximo, e a cortou cirurgicamente pela metade. Ela acertou um chute em seu peito logo em seguida, e Kaito caiu pra trás, mas não se deixou abalar pelo golpe. Continuou tentando acertar cortes, e um deles quase cortou a cabeça de Tomoyo fora. Ela desviou por pouco, vendo a lâmina passar milímetros de seu nariz enquanto se abaixava para evitar o golpe, e aproveitou para acertar alguns socos em Kaito, com o soco final o jogando com força na parede. Ela então avançou contra ele, se apoiou em um cano na parede e o usou de apoio para acertar uma joelhada no rosto de Kaito, que o fez bater a cabeça na parede e cair no chão. Kaito ainda conseguiu se levantar, pegou sua espada, e a jogou na direção dela. Ela desviou, e a espada acertou a parede atrás, ficando fincada nela com força. Se tivesse acertado, aquilo teria literalmente aberto um buraco em sua cabeça. Ela enfim avançou novamente e acertou uma cotovelada em seu rosto, que o deixou quase inconsciente.

 

— É, tenho que admitir, você é melhor do que eu pensava. - Disse Tomoyo. - Devia ter vindo com a espada desde o início, ao invés de tentar me acertar com essa mão furada. Talvez tivesse tido mais sucesso.

 

— Merda, como eu posso continuar perdendo pra essa pirralha?!

 

— Primeiro, não subestime seu oponente. Não é só por eu ser uma "pirralha" que você deva ser superior. Esse é o primeiro passo. - Disse a jovem.

 

— Cala a boca! Eu não vou ouvir lição de moral de uma criança como você! - Os dois ouviram viaturas chegando.  – Merda, acho que chamamos atenção demais. Eu ainda te pego, pirralha! Pode esperar!

 

Kaito correu, e Tomoyo decidiu correr também. Se enfiou em alguns becos, e notou que estava ficando cada vez mais perdida na cidade. Já não sabia se estava indo para casa, ou se estava se distanciando dela cada vez mais. Ela enfim chegou em uma rua que conhecia, mas acabou sendo encurralada por 2 viaturas.

 

— Fique parada e não vamos atirar. Você vem com a gente. - Disse um dos policiais, saindo do carro e apontando a arma pra ela.

 

— Qual é, foi só uma briga de rua comum. Aposto que já viram coisa pior que isso por ai. Sem motivos pra pânico, pessoal. - Ela levantou os braços, "se rendendo".

 

— Pode explicar isso tudo na delegacia. - Um dos policiais tentou algema-la.

 

Tomoyo acertou um chute no meio das pernas do policial, e um soco no queixo de outro. Correu na direção do guarda a sua esquerda e deu um chute saltado, o derrubando no chão. Ela correu pelas ruas, enquanto via mais policiais vindo. Dos dous lados da rua, haviam policiais a pé vindo em sua direção. Ela correu para um dos grupos e os derrubou com socos e chutes rápidos.

 

— Foi mal. - Disse a jovem, nocauteando o policial com um chute no rosto.

 

Vendo que estava encurralada, resolveu correr para as viaturas e salta-las. Ao fazê-lo, conseguiu passar por cima da polícia e correr. Corria em direção a sua casa, e tentava ligar para Miles, porém ficava apenas na caixa postal. Quando chegou em sua rua, foi encurralada novamente. Dessa vez, haviam quase 10 viaturas, e pular por cima delas parecia inviável. Decidiu ficar e lutar. Os guardas desceram com cassetetes e tentavam acerta-la. Tomoyo saltava no ar para desviar, e acertava chutes enquanto o fazia. Pegou um dos guardas e deu uma joelhada em seu rosto, e logo após isso jogou o policial com o nariz quebrado em seus parceiros, os derrubando. Acertou um gancho no queixo de um deles e o lançou com força pra trás. Ela foi segurada por um guarda atrás dela, e tentou se soltar. Quando finalmente se livrou dele, por instinto, quase fez uma grande besteira. Suas mãos começaram a soltar um tipo de eletricidade avermelhada, e seus olhos brilharam. Porém, ela lembrou do que Miles falou, e decidiu parar. Ela acabou se distraindo, e foi algemada. 

 

— A gente só ia te interrogar um pouco, mas depois disso, se prepare para uns anos na prisão, garotinha.

 

—Espera ai, eu só tava me protegendo! Foi defesa pessoal! - Ela gritou, sendo arrastada para a viatura.


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