Time escrita por Bura


Capítulo 1
Capítulo Único




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“Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de afastar-se; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz. ” ― Eclesiastes

Ela saiu o quarto 103 às 15h15 e olhou para seu livro de registros, havia surgido mais um nome no fim da fila, imediatamente reconheceu o sobrenome: Briefs. Se tivesse língua a estalaria. Odiava aquela família, eles sempre estragavam seu trabalho com as malditas esferas alaranjadas.

Passou pelo corredor que levava a ala da maternidade e escutou quando um dos médicos conversava com um Briefs. Realmente havia um deles no hospital, pelo visto.  

― Talvez, tudo o que precisamos é de mais tempo. ― A frase do médico ressoou nos ouvidos do homem de cabelos azuis que não aguentava mais ficar naquelas cadeiras desconfortáveis enquanto ouvia os gritos e lamentos da esposa dentro do quarto.  

― Nada ainda? — Falou com a voz fraca — Fazem mais de cinco horas, doutor.... — Deixou a frase morrer

― Não. A dilatação da sua esposa não aumenta, infelizmente — lamentou —, já administramos oxitocina para diminuir o tempo das contrações. Seu filho já está encaixado, mas ainda não há espaço suficiente para que ele saia.

— Partos são longos mesmo. — Bulma falou consolando o filho. Trunks nada respondeu a mãe, apenas assentiu com a cabeça olhando para ela. Agradeceu com voz baixa a explicação do médico que saia dali.

Ele bem que gostaria de ficar ali com Mai, mas estava mais nervoso que a esposa, chegando a quase desmaiar duas vezes antes dela pedir-lhe que ficasse do lado de fora. Respirou fundo passando a mão nos cabelos azuis, preferia lutar novamente com Majin Boo do que continuar naquele hospital sentado na cadeira do corredor. Aquela sensação para ele era a pior, ele se sentia desesperado, atordoado e frustrado. Bulma deu um sorriso reconfortante ao filho, sussurrando um “Vai ficar tudo bem” e Trunks voltou a se recostar na cadeira de ferro da sala de espera. Naqueles momentos ele parecia demais com o pai. Vegeta estava ali também, mas mais distante e em pé próximo a uma pilastra. O príncipe dos saiyajin estava nervoso, mas não só pelo motivo usual; ele não gostava de partos, foi em um que sua mãe morreu há tantos anos.

~*~

Ela já havia passado no quarto 504 da ala dos cardíacos, já havia ido para 2 centros cirúrgicos e a 4 ambulâncias, olhou novamente e o portador do sobrenome Briefs era o último da sua lista diária. Passou novamente pelo corredor da maternidade e viu na sala de espera os mesmos Briefs de antes. Entrou no quarto 303 e viu a mulher de cabelos negros rodeada de médicos e enfermeiras. Faltavam cerca de 9 minutos. Droga, havia chegado cedo demais! Odiava quando o tempo entre uma e outra visita não era alinhado.

Mai segurava fortemente a mão de uma enfermeira mais velha e rechonchuda, fazia força e gritava. Mesmo tendo vivido quase duas vidas, só naquele dia ela entendeu o porquê de partos serem tão viscerais; ela estava suada, pálida, com falta de ar e já havia perdido toda sua dignidade quando deixou de ter controle sob sua bexiga e seu reto, todavia nem mesmo os fatos acima citados ou aquela dor que parecia que a partiria ao meio ou o cansaço pelas mais de 6 horas de parto ou a fome ou a sede ou qualquer outro desconforto a faria deixar de empurrar e fazer força quando sentisse uma contração vindo. Só mesmo um descendente de saiyajin Aquela criança tinha mesmo sangue de saiyajin para ser tão teimosa e não querer sair, mas ela era mais e provaria isso. Parou para puxar o ar enquanto a contração não vinha, notou algo estranho ao ver uma pequena luz branca no fim do quarto, pensou que era só o cansaço que já impactava suas vistas.

Do outro lado do quarto, ela olhava para cena com certa admiração; seres vivos são mesmo incríveis. Às vezes, no meio do seu trabalho, se sentia de certa forma abençoada por ver aqueles pequenos milagres diários sem poder se incomodada, afinal, ninguém a via ali. Avaliou mais um pouco a cena que via e olhando para seu relógio viu o tempo que faltava: 5 minutos. Ela já deveria estar vendo os primeiros sinais.

— Falta pouco, senhora — O médico disse aliviado — Mais da metade da cabeça já saiu, continue a empurrar!

Pelo estado da moça ela sabia que não haveria tempo para aquela que demandava tanta força fazer o que tanto gostaria. Pela primeira vez em muito tempo ela se compadeceu por um humano. Pegou o relógio no meio de suas vestes negras e girou o ponteiro maior colocando ali mais 30 minutos. 35 minutos deveriam ser o bastante. Atravessou a parede e voltou para o corredor, pois os gritos voltaram e ela não aguentava ouvir gritos mais naquele dia, quase todas as suas visitas, como gostava de dizer, foram precedidas por gritos, havia atendido 6 acidentados. Ficou mais alguns minutos ali matando tempo até que quando faltavam cerca de 26 minutos adentrou novamente no quarto e pode presenciar aquele milagre que já não via a tanto tempo: o começo de uma vida. Um último grito foi dado pela mulher sendo seguido pelo choro forte e alto da criança. O médico saia para contar a boa nova aquele que tanto a esperavam do lado de fora do quarto, as enfermeiras começavam a realizar a limpeza da cama, da mãe e do bebê e ela ficou ali, quieta e atenta apenas observando tudo que acontecia a sua volta.

Ela se assustou ao ver a porta ser escancarada por aquele mesmo homem de cabelos azuis. Ele sorria e chorava e nem ao mesmo percebeu que havia atropelado o médico que auxiliou no parto.

— Foi um parto difícil, não é? — Uma das enfermeiras comentou

— Sim, mas deu tudo certo no final. Afinal esse garotão lindo acordou e é só isso que importa — Disse sorridente entregando o pequeno e frágil bebê a mãe que o pegou com delicadeza. Dos olhos castanhos de Mai brotaram lágrimas ao segurar o pequeno em seus braços. 

Mai o aninhou seu filho enquanto o observava com tanta atenção, ele estava enrolado em uma manta azul clara e com um lindo gorro que quase tampava totalmente os cabelos azuis do menino. Trunks se sentou na beira da cama em que Mai estava com a maior delicadeza que um descendente de saiyajin conseguia, e admirou seu filho; olhou cada pedacinho dele, ele era perfeito. A pele clara, os cabelos azuis, os olhos azuis, a forma como fechava os dedinhos e como fazia um pequeno bico enquanto olhava para tudo a sua volta

— Ele é perfeito — Falou para a esposa — Muito obrigada, meu amor

— Eu que tenho que agradecer a você por me dar a oportunidade de formar uma família com você — Ela respondeu com lágrimas nos olhos, Trunks nada respondeu apenas deu um beijo na testa da amada.

Vegeta e Bulma entraram logo após e se alegraram por ver o primeiro neto, o príncipe dos saiyajins percebeu a fraqueza da nora e logo tratou de fazer com que Trunks e Bulma saíssem do quarto e deixassem Mai descansar. Trunks, mesmo sob os pedidos dos pais de deixarem Mai descansar, ainda passou mais alguns minutos ali com sua esposa curtindo juntos o primeiro filho, saiu quando faltava cerca de 7 minutos com o intuito de registrar o filho e resolver alguns problemas burocráticos.

Logo que ficou sozinha Mai, aos poucos, entendeu o que estava acontecendo com ela. A luz que via só havia aumentado desde que seu pequeno havia nascido. Restavam 5 minutos.

— Eu te amo tanto — Falou com doçura para o filho — nunca pensei que te amaria de forma tão arrebatadora, mas te vendo aqui hoje eu tenho certeza que você é o amor da minha vida. — Sussurrou para o pequeno que era aconchegado e levemente balançado pela mãe — Independentemente do que aconteça hoje eu e queria que você me perdoasse, meu pequeno. — Segurou a pequena mão do filho com o dedo anelar, o menino enrolou sua pequena mão envolta do dedo de Mai a apertando, claramente ele tinha a força saiyajin em suas veias. — Me perdoe por não estar com você quando você dar seus primeiros passos, não ouvir suas primeiras palavras, mas não se preocupe, eu escolhi o melhor pai para você e quem sabe eu volte, não é mesmo? — Faltavam 3 minutos. — Por mim eu nunca ficaria longe de você, mas quando eu completei 9 meses de gravidez sua vó decidiu pedir pra ficar mais um pouco jovem — Sorriu lembrando do pedido de Bulma. Quem imaginaria que as esferas seriam úteis naquele ano, não é mesmo? — De toda forma, eu quero que saiba e lembre o quanto eu o amo — Disse enquanto a voz falhava, os olhos ficavam pesados e a luz ficava mais forte no ressinto. Faltava 1 minuto e 30 segundos.

Ela sorriu, beijou calidamente a testa do pequeno e sorriu ao vê-lo esboçar uma espécie de sorriso. Ajeitou o pequeno da melhor forma que pode enquanto sentia sua força se esvair e fechava os olhos. Havia sido um dia longo, ela só precisava de um tempo de descansar. O relógio parou. Seu tempo havia acabado. Um pequeno sorriso de agradecimento ficou em seu rosto, estava grata pelo tempo que lhe fora dado, aqueles minutos em que pode curtir seu filho.

Tempo. Um dos senhores do mundo, aquele grande governante dos Universos. É ele que rege nossa vida. Algo crucial, implacável e único e que, naquele dia, deu esperança para Trunks e também foi um presente para Mai. Aquele tempo foi um ato de bondade da Morte.


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