Believe In Magic: Um novo começo. escrita por Gab Murphy


Capítulo 21
Capítulo 20




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A história da fuga de Fred e Jorge para a liberdade foi narrada tantas vezes nos dias que se seguiram que Amélia pode prever que logo se tornaria um episódio da história de Hogwarts: ao fim de uma semana, até os que haviam presenciado a cena estavam meio convencidos de ter visto os gêmeos mergulharem com as vassouras sobre Umbridge e a bombardearem com Bombas de Bosta antes de atravessar velozmente as portas. Em decorrência de sua partida, houve uma grande vontade de imitá-lo. Com frequência Amélia ouvia estudantes dizerem coisas do tipo: "Francamente, tem dia que simplesmente tenho vontade de montar minha vassoura e ir embora deste lugar", ou então: "Mais uma aula dessas e vou querer dar uma de Weasley".

Fred e Jorge tomaram providências para ninguém esquecê-los cedo demais. Primeiro, porque não haviam deixado instruções sobre o modo de remover o pântano que ainda enchia o corredor do quinto andar na ala leste. Umbridge e Filch tinham sido vistos experimentando diferentes métodos para removê-los, mas sem sucesso. Com o tempo, a área foi fechada e Filch, rilhando os dentes furiosamente, recebeu a tarefa de carregar, através do pântano, os estudantes às suas salas de aula. Os professores, como McGonagall e Flitwick, mesmo Amélia achando que seriam capazes de remover o pântano em um instante, pareciam, assim como no caso dos Fogos Espontâneos, preferir assistir Umbridge se descabelar.

Depois, havia os dois grandes rombos em forma de vassoura na porta da sala da Umbridge, que as Cleansweeps de Fred e Jorge haviam feito ao sair para se reunir aos seus donos. Filch substituíra a porta e levara a Firebolt de Harry para as masmorras onde, comentava-se, Umbridge postara um trasgo de segurança armado para guardá-la. Mas os problemas da diretora estavam longe de terminar.

Inspirados no exemplo dos gêmeos, muitos estudantes agora competiam pelos lugares de chefes dos Criadores de Caso que eles haviam deixado vago. Apesar da nova porta, alguém conseguira escorregar para dentro da sala de Umbridge com um pelúcio de nariz peludo, que imediatamente destruiu o local à procura de objetos brilhantes, saltou sobre a diretora quando ela entrou e tentou arrancar, a dentadas, os anéis em seus dedos curtos e grossos. Bombas de Bosta e Chumbinhos Fedorentos eram atirados com tanta frequência nos corredores que se tornou moda os estudantes se protegerem com Feitiços Cabeça-de-Bolha antes de sair das salas de aulas, o que garantia um suprimento de ar fresco, ainda que  desse a aparência esquisita de estaremos usando aquários invertidos na cabeça.

Filch patrulhava os corredores com um açoite nas mãos, desesperado para apanhar vilões, mas o problema é que agora havia tantos deles que ele nunca sabia para que lado se virar. A Brigada Inquisitorial tentava ajudá-lo, mas não paravam de acontecer coisas estranhas aos seus membros. Warrington, da equipe de Quadribol da Sonserina, procurou a ala hospitalar com um terrível problema de pele, que parecia ter sido coberta de cornflakes; Pansy Parkinson, para alegria de Amélia e de Hermione, faltou a todas as aulas do dia seguinte porque havia lhe crescido uma galhada na cabeça.

Entrementes, tornou-se conhecido o número de kits Mata-Aula que Fred e Jorge tinham conseguido vender antes de deixarem Hogwarts. Umbridge só precisava entrar na sala de aula para os estudantes ali reunidos começarem a desmaiar, vomitar, sentir febres perigosas ou, então, sair sangue pelas narinas. Gritando de raiva e frustração, ela procurou descobrir a origem dos misteriosos sintomas, mas os alunos teimavam em lhe dizer que estavam sofrendo de "Umbridgetite". Depois de pôr em detenção quatro turmas sucessivas, ela, incapaz de descobrir o segredo, foi forçada a desistir e deixar os estudantes que sangravam, desmaiavam, vomitavam ou suavam abandonarem sua sala em bandos.

Mas nem os usuários dos kits conseguiam competir com o senhor do caos, Pirraça, que parecia ter levado profundamente a sério as palavras de despedida de Fred. Gargalhando alucinado, ele voava pela escola, virando mesas, irrompendo de quadros-negros, derrubando estátuas e vasos; duas vezes ele prendeu Madame Nor-r-ra dentro de uma armadura, de onde foi resgatada, miando alto, pelo furioso zelador. Pirraça quebrou lanternas e apagou velas, fez malabarismos com archotes acesos por cima das cabeças de estudantes aos berros, fez pilhas bem arrumadas de pergaminhos caírem dentro das lareiras ou fora das janelas; inundou o segundo anda, arrancando todas as torneiras dos banheiros, deixou cair um saco de tarântulas no meio do Salão Principal durante o café da manhã e, sempre que lhe dava na telha fazer uma pausa, passava horas seguidas flutuando atrás de Umbridge, imitando o ruído de puns com a boca todas as vezes que ela falava.

Nenhum funcionário de Hogwarts, exceto Filch, parecia estar se mexendo para ajudá-la. Na verdade, uma semana depois de Fred e Jorge partirem, Amélia viu a Profa. McGonagall passar por Pirraça, que estava decidido a soltar um lustre de cristal, e poderia jurar que a ouviu dizer ao poltergeist pelo canto da boca: "Desenrosca para o outro lado".

Para completar, Montague ainda não se recuperara da temporada no vaso sanitário; continuava confuso e desorientado, e seus pais foram vistos em uma manhã de terça-feira subindo a estrada da escola extremamente zangados.

— Será que devíamos dizer alguma coisa? - Amélia arriscou, preocupada, comprimindo o rosto contra a janela da sala de Feitiços, o que lhe permitiu ver o casal Montague entrar. - Sobre o que aconteceu com ele? Caso ajude Madame Pomfrey a curá-lo?

— Claro que não, ele se recuperará - disse Rony, indiferente.

— Em todo o caso, mais problemas para a Umbridge, não é? - disse Harry em tom satisfeito.

Ele e Rony bateram de leve com a varinha nas xícaras que deveriam enfeitiçar. A de Harry ganhou quatro pernas curtas que não conseguiam alcançar a escrivaninha e se sacudiam em vão no ar. A de Rony ganhou quatro perninhas finas que ergueram a xícara com grande dificuldade, tremeram por alguns segundos, então se dobraram, fazendo a xícara se partir em duas.

Reparo— disse Hermione depressa, consertando a xícara de Rony com um aceno da varinha. - Tudo está muito bem, mas e se o Montague ficar permanentemente lesado?

— Quem se importa?! - exclamou Rony, irritado, enquanto sua xícara se erguia como bêbada, os joelhos tremendo violentamente. - Montague não devia ter tentado tirar todos aqueles pontos da Grifinória, não é? Se vocês quiserem se preocupar com alguém, se preocupem comigo!

— Com você? - Amélia perguntou admirada enquanto apanhava sua xícara que fugia precipitadamente pela mesa com as quatro perninhas robustas com textura de salgueiro, e recolocou-a a sua frente. - Por que deveríamos nos preocupar com você?

— Quando a próxima carta da mamãe acabar de passar pelo processo de censura da Umbridge - disse Rony, amargurado, agora segurando sua xícara, cujas perninhas tentavam suportar o próprio peso -, vou estar bem enrolado. Não ficarei surpreso se ela me mandar outro Berrador.

— Mas…

— Vai me culpar por Fred e Jorge terem ido embora, espere só - disse sombriamente. - Vai dizer que eu devia ter impedido os gêmeos de ir, devia ter agarrado as vassouras deles pelas pontas... é, vai ser minha culpa.

— Bom, se ela realmente disser isso, vai ser uma baita injustiça, você não poderia ter feito nada! Mas tenho certeza de que ela não fará isso, quero dizer, se é verdade que eles arranjaram uma loja no Beco Diagonal, devem estar planejando isso há séculos.

— É, mas isto é outra coisa, como foi que eles arranjaram uma loja? - disse Rony, batendo a varinha com tanta força na xícara que as pernas dela tornaram a ceder e ficaram se torcendo à sua frente. - É meio suspeito, não é não? Precisarão de uma montanha de galeões para alugar uma loja em um lugar como o Beco Diagonal. Ela vai querer saber o que andaram fazendo para pôr as mãos em tanto ouro.

— Bom, é, isso também me ocorreu - comentou Hermione, deixando sua xícara correr em círculos precisos em torno da de Harry, cujas pernas curtas continuavam incapazes de alcançar o tampo da mesa. - Estive me perguntando se Mundungo teria convencido os gêmeos a vender mercadoria roubada ou qualquer outra coisa horrível.

— Ele não fez isso - Amélia disse brevemente, olhando diretamente para Harry, ele a olhou de volta meio confuso.

— Como é que você sabe? - perguntaram Rony e Hermione juntos.

— Harry, porque você não conta?

— Porque... - Harry hesitou. - Porque receberam o dinheiro de mim. Entreguei a eles o meu prêmio no Torneio Tribruxo em junho passado.

Houve um silêncio de perplexidade, em seguida a xícara de Hermione saiu correndo pela borda da mesa e se espatifou no chão.

— Ah, Harry, você não fez isso! - exclamou ela.

— Fiz, sim - respondeu ele com rebeldia. - E não me arrependo, tampouco. Eu não precisava do ouro, e eles serão um sucesso com uma loja de logros.

— Mas que ótimo! - exclamou Rony, vibrando. - Então a culpa é toda sua, Harry, mamãe não pode me culpar de nada! Posso contar para ela?

— Pode, acho que é melhor - respondeu desanimado - principalmente se ela pensar que eles estão recebendo caldeirões roubados ou coisas do gênero.

Hermione não falou mais nada até o fim da aula, mas Amélia suspeitou com perspicácia que o controle dela não fosse resistir por muito tempo. E acertou, quando deixaram o castelo no intervalo e pararam sob o fraco sol de maio, ela fixou em Harry um olhar penetrante e abriu a boca com um ar decidido. Harry interrompeu-a antes que chegasse a falar.

— Não adianta ralhar comigo, está feito - disse com firmeza. - Fred e Jorge têm o ouro, já gastaram um bocado, pelo que parece, e não posso pedi-lo de volta nem quero fazer isso. Portanto, poupe o seu fôlego, Hermione.

— Eu não ia falar nada sobre Fred e Jorge! - disse ela sentida.

Rony e Amélia reprimiram uma risadinha, incrédulos, e Hermione os lançou um olhar feio.

— Não, não ia não! - protestou zangada. - Na verdade, ia perguntar a Harry quando é que ele vai procurar o Snape e pedir mais aulas de Oclumência!

Uma vez esgotado o assunto da partida dramática de Fred e Jorge, que sem dúvida rendera muitas horas, Amélia, Rony e Hermione quiseram saber notícias de Sirius. Como Harry não os contara por que queria falar com o padrinho, e depois de tanto insistirem (talvez Hermione mais que qualquer outro) acabou dizendo que Sirius queria que ele retomasse as aulas de Oclumência, o que parecia bem vago para Amélia, mas Hermione não só engoliu como não deixava o assunto morrer, e o retomava sempre quando menos esperavam, o que Amélia achava muitíssimo chato.

— Você não vai me dizer que parou de ter sonhos esquisitos, por que Rony me contou que você estava outra vez resmungando durante o sono ontem à noite.

‘ Harry lançou a Rony um olhar furioso. Rony teve o decoro de parecer envergonhado.

— Você só estava resmungando um pouquinho - murmurou ele em tom de desculpa. - Algo como "só um pouquinho mais".

— Sonhei que estava assistindo a vocês jogarem Quadribol - mentiu Harry descaradamente. - Eu estava tentando fazer você se esticar mais um pouquinho para agarrar a goles.

As orelhas de Rony ficaram vermelhas.

— Você está tentando bloquear sua mente, não está? - perguntou Hermione, lançando um olhar penetrante a Harry. - Você está continuando a praticar Oclumência?

— Claro que estou - respondeu Harry, tentando demonstrar que a pergunta era ofensiva, mas sem encarar Hermione nos olhos.

— Sabe - falou Rony, cujas orelhas ainda estavam vermelhíssimas - se Montague não se recuperar antes da Sonserina jogar contra a Lufa-Lufa, poderíamos ter chance de ganhar a copa.

— É, imagino que sim - Amélia disse, contente com a mudança de assunto.

— Quero dizer, ganhamos uma, perdemos uma... se a Sonserina perder para a Lufa-Lufa no próximo sábado…

— É, verdade - disse Harry, olhando Cho que acabara de atravessar o pátio.


A partida final da temporada de Quadribol, Grifinória contra Corvinal, teria lugar no último fim de semana de maio. Embora Lufa-Lufa tivesse tido uma vitória apertada sobre Sonserina no último jogo, Grifinória não se atrevia a esperar uma vitória, principalmente por causa da abissal quantidade de frangos que Rony já engolira (embora , é claro, ninguém lhe dissesse isso). Ele, no entanto, parecia ter encontrado uma razão para otimismo.

— Quero dizer, não posso piorar, posso? - disse a Amélia, Harry e Hermione sombriamente ao café da manhã no dia da partida. - Não há nada a perder agora, há?

Amélia desceu para o campo assim que Angelina os chamou aos berros na porta do Salão, aparentemente gostaria de fazer uma reunião antes do jogo, mas, como sempre, foi um fiasco, ninguém prestou atenção.

Quando entraram no campo, Amélia viu que Harry e Hermione encontraram lugares na penúltima fila das arquibancadas. Fazia um dia claro e bonito; não poderia desejar um dia melhor e, contra todas as probabilidades, a garota se viu desejando que Rony não desse aos alunos da Sonserina motivo para mais coros crescentes de "Weasley é nosso rei".

Lino Jordan, que andava muito desanimado desde a partida de Fred e Jorge, era como sempre o locutor. Quando as equipes entraram em campo ele anunciou o nome dos jogadores com menos prazer do que o seu normal.

— ... Bradley... Davies... Chang - disse. - E começou a partida! - anunciou Lino. - E Davies agarra a goles imediatamente. O capitão da Corvinal, Davies, detém a posse da goles, dribla Johnson, dribla Bell e dribla Spinnet também... está voando direto para o gol! Vai atirar... e... e... - Lino soltou um sonoro palavrão - ... foi gol.

Amélia ouviu os demais alunos da Grifinória gemerem junto com ela. Previsivelmente, horrivelmente, os torcedores da Sonserina do lado oposto das arquibancadas começaram a cantar:

Weasley não pega nada

Não defende aro algum…

Amélia viu, depois de desviar o balaço que ia na direção de Kirke, de relance Hermione e Harry saírem atrás de Hagrid e suspirou, esse jogo seria longo.

Depois do gol que Davies fez, Rony, surpreendentemente, agarrou praticamente todas as outras tentativas, e quando Gina pegou a Pomo e perceberam que tinham ganhado, todos saíram em coro, cantando a nova versão de "Weasley é nosso rei!"

Amélia acabou ficando para trás na multidão e encontrou com Harry e Mione conversando.

— Não! - ouvi Hermione exclamar aos sussurros.

— SIM! - a garota falou em voz alta e eles levaram um susto.

— HARRY, HERMIONE! - berrou Rony, balançando a taça de prata do Quadribol no ar, parecendo fora de si de felicidade. - CONSEGUIMOS! GANHAMOS!

Os dois sorriram para o amigo que passava. Houve um rolo na porta do castelo e a cabeça de Rony bateu com força na viga superior, mas ninguém parecia querer colocá-lo no chão. Ainda cantando, a multidão se comprimiu no Saguão de Entrada e desapareceu de vista. Os três ficaram vendo os colegas se afastarem, sorrindo, até que os últimos ecos do refrão "Weasley é nosso rei" morreram ao longe. Então viraram-se para Amélia e seus sorrisos se desfizeram.

— Temos que te contar algo.

— O que houve? Vi vocês saindo com Hagrid.

E então eles lhe contaram tudo sobre Grope, o meio irmão gigante que Hagrid estava escondendo na Floresta Proibida e Amélia teve vontade de bater em Hagrid. Mas apenas decidiram que contariam a Rony amanhã, deixariam que ele aproveitasse o dia dele.

A euforia de Rony por ter ajudado a Grifinória a ganhar a taça de Quadribol era tal que ele não conseguiu se concentrar em nada no dia seguinte. Só queria comentar o jogo, por isso Harry e Hermione acharam muito difícil encontrar uma vaga para mencionar Grope. Não que eles tivessem se empenhado muito; nenhum dos dois queria ser responsável por trazer Rony de volta à realidade de maneira tão brutal. Como fazia outro belo dia de calor, os quatro se convenceram a fazer a revisão das matérias embaixo da faia à beira do lago, onde teriam menor chance de serem escutados do que na sala comunal. A princípio Rony não gostou muito da ideia - estava adorando levar palmadinhas nas costas de todo aluno da Grifinória que passava por sua poltrona, para não mencionar os coros repentinos de "Weasley é nosso rei"— mas, passado algum tempo, ele concordou que um pouco de ar fresco lhe faria bem.

Espalharam os livros à sombra da faia e sentaram, enquanto Rony contava sua primeira defesa na partida, ele próprio percebeu que pela décima segunda vez.

— Bom, quero dizer, eu já tinha deixado entrar um gol do Davies, então não estava me sentindo nada confiante, mas, não sei, quando Bradley veio na minha direção, sem eu nem saber de onde tinha saído, pensei: "Você é capaz de fazer essa defesa!" E tive um segundo para decidir para que lado voar, sabe, porque pelo jeito ele estava visando ao aro da direita, minha direita, obviamente a esquerda dele, mas eu tive a estranha sensação de que estava fingindo, então arrisquei e voei para a esquerda, a direita dele... quero dizer... e... bom... vocês viram o que aconteceu - concluiu ele modestamente, jogando os cabelos para trás à toa, fazendo-os parecer curiosamente despenteados pelo vento, e olhando para os lados para ver se as pessoas mais próximas, um grupo de terceiranistas da Lufa-Lufa, tinham-no ouvido. - Então, quando Chambers avançou para mim uns cinco minutos depois... Quê? - perguntou Rony, parando no meio da frase ao ver a expressão no rosto de Harry. - Por que é que você está sorrindo?

— Não estou - disse Harry depressa, e baixou os olhos para suas notas de Transfiguração, tentando ficar sério. - Estou feliz porque ganhamos, é só.

— É - disse Rony, saboreando a palavra ganhamos. - Você viu a cara da Chang quando Gina capturou o pomo bem debaixo do nariz dela?

— Imagino que tenha chorado, não? - comentou Harry amargurado.

— Bom, é... mais de raiva do que de outra coisa... - Rony enrugou ligeiramente a testa. - Mas você viu quando ela aterrissou e jogou a vassoura no chão, não viu?

— Ah... - começou Harry.

— Bom, na verdade... não, Rony - Amélia disse com um pesado suspiro, baixando o livro e encarando o amigo, seria mais fácil arrancar o band-aid de uma vez. - De fato, a única parte do jogo a que Mione e Harry assistirão foi o primeiro gol de Davies.

Os cabelos de Rony cuidadosamente despenteados pareceram murchar de desapontamento.

— Vocês não assistiram? - disse ele com a voz fraca, olhando de um para outro. - Vocês não me viram fazer nenhuma dessas defesas?

— Bom... não - disse Hermione, conciliadora, estendendo a mão para ele. - Mas, Rony, nós não queríamos sair: tivemos de sair!

— Ah é? - exclamou Rony cujo rosto começou a ficar vermelho.

— E por quê?

— Foi o Hagrid - disse Harry. - Ele resolveu nos contar por que está todo machucado desde que voltou da terra dos gigantes. Queria que a gente o acompanhasse à Floresta, não tivemos opção, você sabe como ele fica. De qualquer jeito…

A história foi contada em cinco minutos, ao final dos quais a indignação de Rony deu lugar a uma expressão de total incredulidade.

— Ele trouxe um gigante e o escondeu na Floresta?

— Foi - confirmou Harry, carrancudo.

— Não - disse Rony, como se ao dizer isso pudesse mudar a realidade em irrealidade. - Não, ele não pode ter feito isso.

— Mas fez - confirmou Hermione. - Grope tem quase cinco metros, se diverte arrancando pinheiros de seis metros, e me conhece - ela deu uma risadinha desgostosa - como "Hermi".

Rony riu, nervoso.

— E Hagrid quer que a gente...?

— Ensine inglês a ele, é - completou Harry.

— Ficou maluco - protestou Rony num tom próximo ao assombro.

— É - falou Hermione, irritada, virando uma página de Transfiguração para o curso médio e examinando uma série de diagramas que ilustravam a transformação de uma coruja em um binóculo de teatro. - É, estou começando a pensar que ficou. Mas, infelizmente, ele fez a gente, Harry e eu, prometer.

— Bom, então o jeito é vocês quebrarem a promessa - disse Rony com firmeza. - Quero dizer, vamos... temos exames e estamos assim - ele ergueu a mão mostrando o polegar e o indicador quase juntos - de sermos expulsos sem fazer mais nada. Além disso... vocês se lembram do Norberto? Lembram a Aragogue? Algum dia lucramos alguma coisa por nos meter com os monstros do Hagrid?

Norberto? Aragogue? Amélia estava extremamente confusa.

— Eu sei, é só que... prometemos - disse Hermione com a voz fraquinha.

Rony tornou a alisar os cabelos, parecendo preocupado.

— Bom - suspirou - Hagrid ainda não foi despedido, não é? Se aguentou até aqui, quem sabe aguenta até o final do trimestre e a gente nem tem que chegar perto do tal Grope?

 


Os jardins e terras do castelo refulgiam ao sol como se tivessem sido recém-pintados; o céu sem nuvens sorria para o seu reflexo no lago liso e cintilante; o verde acetinado dos gramados ondeava ocasionalmente à brisa mansa. Junho chegara, mas para os quintanistas isto significava apenas uma coisa: estavam às vésperas dos N.O.M.s.

Os professores não passavam mais deveres de casa; as aulas eram dedicadas a revisar os tópicos que eles achavam que mais provavelmente cairiam nos exames. A atmosfera premeditada e febril varreu quase tudo para fora da cabeça de Amélia, exceto os N.O.M.S., embora se perguntasse ocasionalmente se tudo daria certo. Harry parecia estar bastante ocupado e tenso, Rony não demonstrava, mas também estava tenso. Hermione andava ultimamente preocupada demais para aborrecer a qualquer um; passava muito tempo falando sozinha, e fazia dias que não deixava roupas para elfos.

Ela não era a única pessoa a se comportar estranhamente à medida que se aproximavam dos exames. Ernesto Macmillan adquirira o irritante hábito de interrogar as pessoas sobre a maneira de fazerem revisões.

— Quantas horas vocês acham que estão gastando por dia? - perguntou a Amélia e a Harry na fila à porta da aula de Herbologia, com um brilho obsessivo nos olhos.

— Não sei - a garota respondeu. - Algumas.

— Mais ou menos de oito?

— Suponho que mais - disse, ligeiramente alarmada.

— Estou gastando oito - informou ele estufando o peito. - Oito ou nove. E estou encaixando mais uma hora antes do café da manhã todos os dias. Oito tem sido a minha média. Posso chegar a dez em um bom dia no fim de semana. Fiz nove e meia na segunda-feira. Não fui tão bem na terça: só sete e quinze. Depois, na quarta-feira…

Sentindo-se profundamente grata que neste momento a Profª Sprout os tivesse mandado entrar na estufa número três, obrigando Ernesto a abandonar sua enumeração.

Entrementes, Draco Malfoy encontrava um modo novo de induzir o pânico.

— Naturalmente, não é o que você sabe - ouviram comentar com Crabbe e Goyle à porta de Poções poucos dias antes dos exames começarem - mas quem você conhece. Agora, meu pai é amigo da chefe da Autoridade de Exames Bruxos há anos, a velha Griselda Marchbanks, ela já foi jantar lá em casa e tudo…

— Vocês acham que isso é verdade? - sussurrou Hermione alarmada.

— Se for, não há nada que se possa fazer - comentou Rony tristemente.

— Acho que não é verdade - disse Neville calmamente às costas do quarteto. - Porque a Griselda Marchbanks é amiga da minha avó, e ela jamais mencionou os Malfoy.

— Como é que ela é, Neville? - perguntou Hermione na mesma hora. - É rigorosa?

— Na verdade lembra um pouco a minha avó - disse Neville em voz baixa.

— Mas o fato de conhecê-la não vai prejudicar você, vai? - perguntou Rony animando-o.

— Não acho que vá fazer diferença - retrucou ele, ainda mais infeliz. - Vovó está sempre dizendo à Profª Marchbanks que não sou tão bom quanto o meu pai... bom... vocês viram como ela é lá no St. Mungus…

Neville ficou olhando fixamente para o chão. Os amigos se entreolharam, mas não souberam o que dizer. Era a primeira vez que Neville mencionava que haviam se encontrado no hospital dos bruxos.

Nesse meio tempo, nascera entre os alunos de quinto e sétimo ano um florescente mercado negro de produtos para aumentar a concentração, a agilidade mental e a atenção. Harry e Rony se sentiram muito tentados a comprar a garrafa de Elixir Baruffio para o Cérebro oferecida pelo sextanista da Corvinal, Edu Carmichael, que jurou que o elixir fora o único responsável pelos seus nove "Excepcionais" nos N.O.M.s do verão anterior, e do qual estava vendendo meio litro por apenas doze galeões. Rony garantiu a Harry que lhe pagaria a sua metade assim que terminasse Hogwarts e arranjasse um emprego, mas, antes que pudesse fechar o negócio, Hermione confiscou a garrafa de Carmichael e despejou o conteúdo num vaso sanitário.

— Hermione, nós queríamos comprar o elixir! - gritou Rony.

— Não seja burro - Amélia rosnou, tão irritada quanto a amiga. - Você poderá tomar o pó de garra de dragão de Harold Dingle que faria o mesmo efeito.

— Dingle tem pó de garra de dragão? - indagou Rony ansioso.

— Não tem mais. Confisquei o pó também. Nenhuma dessas coisas faz realmente efeito, entende.

— Garra de dragão faz! - exclamou Rony. - Dizem que é incrível, realmente dá uma injeção de reforço no cérebro, a pessoa fica superperspicaz durante algumas horas... Hermione, me dá uma pitada, vai, não pode fazer mal…

— Essa droga faz - disse Hermione sombriamente. - Dei uma examinada, e descobri que na realidade é excremento de Fada Mordente…

A informação tirou a vontade dos garotos de comprar estimulantes para o cérebro.

Os alunos receberam os horários dos exames e os detalhes de como proceder na aula de Transfiguração seguinte.

— Como vocês podem ver - disse a Profa. McGonagall à classe enquanto os alunos copiavam as datas e os horários dos exames do quadro-negro - os seus N.O.M.s estão distribuídos por duas semanas sucessivas. Vocês farão os exames de teoria pela manhã e os de prática à tarde. O exame prático de Astronomia, naturalmente, será realizado à noite. Agora, devo prevenir a vocês que os seus exames receberam os feitiços anticola mais fortes que existem. Não são permitidos na sala de exame Penas de Resposta Automática, nem tampouco Lembrols, Punhos-de-Cola Destacáveis nem Tinta Autocorretora. Todo ano, é preciso dizer, aparece no mínimo um estudante que acha que pode contornar o regulamento da Autoridade de Exames Bruxos. Minha esperança é que não seja ninguém da Grifinória. Nossa nova... diretora... - a Profa. McGonagall pronunciou o nome com a mesma expressão no rosto, Amélia pensou, com que sua mãe falava dos Comensais - pediu às diretoras das Casas para avisar aos estudantes que a cola será punida com o máximo rigor, porque, naturalmente, os resultados dos seus exames refletirão o novo regime implantado pela diretora na escola... - A professora deu um pequeno suspiro. - ... contudo, não há razão para vocês não se esforçarem ao máximo. Têm que pensar no seu futuro.

— Professora, por favor - disse Hermione erguendo a mão - quando vamos saber os resultados dos nossos exames?

— Vocês receberão uma coruja em julho.

— Excelente - comentou Dino Thomas, em um sussurro audível - então não teremos de nos preocupar com isso até as férias.

Amélia se perguntou onde estaria dali a seis semanas, esperando os resultados dos N.O.M.s.

 


O primeiro exame, Teoria dos Feitiços, estava programado para a segunda-feira pela manhã. Harry concordou em testar Hermione depois do almoço de domingo, mas arrependeu-se quase imediatamente: a amiga muito agitada não parava de puxar o livro das mãos dele para verificar se respondera totalmente certo, e acabou lhe dando uma pancada no nariz com a borda afiada de Sucesso em Feitiços.

— Por que é que você não se testa sozinha? - disse ele com firmeza, devolvendo-lhe o livro com lágrimas nos olhos e Amélia riu. Estava sentada ao lado dele, estudando para Feitiços também.

Enquanto isso, Rony seguia lendo dois anos de anotações sobre Feitiços com os dedos nos ouvidos, movendo os lábios silenciosamente; Simas Finnigan deitara-se de costas no chão, e repetia a definição de Feitiço Substantivo enquanto Dino verificava a resposta no Livro Padrão de Feitiços, 5ª série; e Parvati e Lilá praticavam Feitiços de Locomoção apostando corrida entre seus estojos de lápis em volta de uma mesa.

O jantar foi uma refeição calma àquela noite. Amélia, Harry e Rony não falaram muito, mas comeram com apetite depois de tanto estudo a tarde inteira. Por sua vez, Hermione não parava de descansar o garfo e a faca e mergulhar embaixo da mesa para apanhar a mochila, na qual pegava um livro para verificar algum fato ou número. Rony acabara de dizer que ela devia fazer uma refeição decente ou não conseguiria dormir àquela noite, quando o garfo escorregou de seus dedos dormentes e caiu com estrépito no prato.

— Ah, minha nossa - disse ela com a voz fraca, arregalando os olhos para o Saguão de Entrada. - São eles? São os examinadores?

Viraram imediatamente. Pelas portas que se abriam para o Saguão de Entrada, viram Umbridge com um pequeno grupo de bruxos e bruxas de aparência idosa. Umbridge, Amélia se alegrou ao ver, parecia muito nervosa.

— Vamos olhar mais de perto? - convidou Rony.

Assentiram e correram para a porta, abrandando a marcha ao cruzar o portal e continuando mais calmamente para passar pelos examinadores. Amélia achou que a Profª Marchbanks devia ser a bruxa miúda e curvada com o rosto tão enrugado que parecia coberto de teias de aranha; Umbridge se dirigia a ela com deferência. A examinadora parecia um pouco surda; respondia à Profª Umbridge em voz muito alta, considerando que estavam a menos de meio metro de distância.

— A viagem foi ótima, a viagem foi ótima, já a fizemos muitas vezes antes! - respondeu com impaciência. - Agora, não tenho tido notícias de Dumbledore ultimamente! - acrescentou, correndo o olhar pelo saguão como se esperasse ver o bruxo sair de repente de um armário de vassouras. - Suponho que não tenha ideia de onde ele esteja?

— Nenhuma - respondeu a diretora, lançando um olhar malévolo a Amélia, Harry, Rony e Hermione, que agora se demoravam ao pé da escadaria enquanto Rony fingia amarrar os sapatos. - Mas ouso afirmar que em breve o ministro da Magia descobrirá seu paradeiro.

— Duvido - gritou a Profa. Marchbanks - não se Dumbledore não quiser ser encontrado! Eu sei... examinei-o pessoalmente em Transfiguração e Feitiços quando ele prestou os N.I.E.M.s... fez coisas com uma varinha que eu nunca tinha visto antes.

— É... bom... - disse a diretora quando os quatro subiam a escadaria de mármore arrastando os pés, o mais lentamente que se atreviam - deixe-me levá-la à sala dos professores. Imagino que queira uma xícara de chá depois dessa viagem.

Foi uma noite meio tensa. Todos tentavam fazer alguma revisão de última hora, mas ninguém parecia estar conseguindo. Amélia foi se deitar cedo, junto com Harry, e teve a impressão de continuar acordada durante horas. Lembrou da orientação vocacional e da declaração furiosa de McGonagall de que a ajudaria a se tornar auror nem que fosse a última coisa que fizesse.


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