Caos e Fúria - A Batalha das Rosas escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Menina e o Lobo




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O Lobo.

Dentro do Baralho de Macha, a carta do lobo simboliza um familiar. Um animal disposto a proteger aquilo que é seu. Também é honra, dever e desejo por sobrevivência. Uma criatura da guerra, da fúria e da lealdade pela lua.

Quando se ama algo, deve-se estar disposto a proteger, mesmo que isso signifique deixar partir. Mas ainda assim, deixar ir, não é sinônimo de deslealdade. É também deixar viver, é reconhecer que o sacrifício por aquilo, ou aquele, que ama, é uma forma de proteção.

A lealdade pelo que se ama, é também estar disposto a deixar ir embora. E saber, que perder, que sacrificar, também faz parte.

A neve caia, aos poucos pintando a Floresta Abissal de branco. O grupo estava acampando próximo à uma margem do Rio Shira, e em uma distância suficiente para avistar os picos das Montanhas da Alma. As dezenas de pessoas ao redor eram mestiços, descendentes dos filhos das fadas, e humanos portadores de magia, apenas uma parcela que ainda vivia no continente, que vinha reunindo-se quando o massacre iniciara.

Tentavam manter o mínimo de barulho possível, para chamar o mínimo de atenção, embora, os grupos reunidos conversassem baixinho.

― Lionel, perceberam alguma movimentação? ― Tereza, mulher de longos cabelos vermelhos questionou, estava sentada ao lado de Siren, com um bebê adormecido em seu colo.

Ao lado delas, uma menina dormia profundamente, apoiada no corpo de Siren. Não tinham uma fogueira acesa, mesmo que o frio intenso do Norte tornasse a noite insuportável. Não poderiam arriscar serem encontrados pelos soldados de Edésia.

O homem alto, com cabelos ruivos como o fogo aproximou-se, seus olhos eram de um azul brilhante, diferentemente de Tereza, que eram pretos. Eram irmãos, ele sendo o mais velho. Mais atrás, surgiu um felino gigante, que caminhou graciosamente até as duas mulheres. Os olhos amarelos brilharam no escuro, destacando-se da pelagem negra como as sombras. O animal deitou-se no chão, próximo ao grupo, enquanto lambia uma pata.

Lionel, no entanto, sentou-se no chão, próximo das duas mulheres e das crianças que dormiam.

Um aceno negativo com a cabeça foi a sua resposta.

― Nenhuma. ― O ruivo contestou.

― Estão escondidos. Posso não ser uma guerreira como vocês, mas entendo de estratégias. Deveríamos partir, o mais rápido possível. ― Disparou Siren, seus longos cabelos cinzentos não lhe davam uma aparência velha, era, na verdade, uma mulher bonita e jovem. Mas seus olhos prateados, cheios de anseio, eram emblemáticos. Era uma figura única, exalava sabedoria, porém, tinha uma aura acolhedora, dona de uma beleza excêntrica e chamativa.

― Uma domadora, as últimas bruxas conjuradoras vivas em Sidgar, guerreiros fugitivos. ― Outro homem aproximou-se, de cabelos negros e olhos puxados. Sentou-se próximo de Lionel. ― Dezenas de semi-faes e portadores de magia. Estaríamos em vantagem se a Queda não tivesse ocorrido.

A lembrança era recente, de dias atrás, do momento em que haviam selado a magia no continente. Siren lembrava-se da sensação, fora como um terremoto. A terra tremeu por minutos, os pássaros voaram sem rumo, fazendo barulho. Houvera três ondulações, seguidas de um silêncio mortal, e então, quando se deu conta, a magia natural não funcionava mais. E estava esgotada demais para tentar acessar seu poder demoníaco naqueles dias. Alguns que estavam próximos da costa quando o evento ocorreu, haviam contado que uma muralha colorida como aurora boreal do Norte havia se formado ao redor do continente, o que haviam denominado como Muralha Cintilante. Uma formação que reunia toda a magia do continente, e o selaria de tudo que viesse além mar. Siren ainda não vira com seus próprios olhos, mas não duvidava.

― Nós sabemos, Rezon. ― O guerreiro ruivo lamentou-se e escorou a cabeça no ombro do homem. Eram um casal, haviam selado seus votos dias antes da Queda ocorrer. Quando ainda poderiam ter uma vida normal, quando ainda estavam tentando reconstruir as ruínas que a guerra deixara. ― Como Ben e Sora estão?

Siren sorriu, embora, toda aquela situação catastrófica, saber que sua filha estava bem, era o suficiente.

― Adormecidos, há horas. ― Respondeu, enquanto afagava delicadamente os cabelos da menina, que eram prateados iguais os seus. Muito embora, um traço as diferenciasse e entregasse a herança da mais jovem: as orelhas levemente pontudas. Como as de um semi-fae. Um motivo para ser caçada naquela situação. ― Tereza, você não conseguiu mais sentir a ligação com a sua fera?

A mulher balançou a cabeça negativamente, o bebê em seu colo continuou dormindo profundamente.

― Nenhum traço de magia ou ligação com Lacan. ― Respondeu, lançando um olhar para o felino ao lado. Siren era uma conjuradora, portadora de uma magia poderosa e demoníaca. Mas Tereza tinha uma ligação com uma fera e com os elementos, tornando-a uma domadora. As duas mulheres conheciam-se a tempo suficiente para terem laços tão poderosos como os de irmãs, as duas eram mães, as duas eram aguerridas, as duas tinham um poder nebuloso e haviam lutado com todas as forças na guerra.

Mas depois da Queda, havia apenas um vazio, para todos eles.

― Lionel, acha que vamos demorar muito para chegar em Midger? ― Tereza questionou o irmão.

― Nesse ritmo, levaríamos um mês para chegar lá. Se tivéssemos um barco, poderíamos ir pela Lagoa Morta até a cidade, e dependendo da situação, poderíamos ir direto para Solaria, em Alaros. Com um barco seria bem mais rápido.

― Mas nessa situação, não vamos conseguir um. ― Siren observou. ― E talvez até chegarmos em Midger, a cidade já tenha sido massacrada. Eles se arriscaram demais em ajudar o povo fugitivo a navegar para outras terras.

― O Reino de Alaros se arriscou mais ainda ao negar unir-se ao massacre. ― Respondeu Lionel. De fato, os reis de Alaros haviam sido os únicos que optaram por não matar os portadores de magia. ― Eles só não foram confrontados pelos outros líderes, pois após o fim da guerra, tornaram-se a região com maior número de forças bélicas vivas. Mas também não se deram ao trabalho de tentar impedir qualquer ação. Muito embora, Edésia ainda é o território com mais afinco, que está guiando os demais para a matança.

― Se tivéssemos próximos daquela região quando tudo acabou, estaríamos em uma situação melhor. ― Tereza constatou em tom de voz frio, o grupo assentiu em silêncio. As perdas eram inestimáveis, e ela estava cheia de raiva e luto.

― Acho que se sobrevivermos, estaremos com sorte. ― Suspirou o guerreiro de olhos puxados, Rezon. ― Ele não entrou mais em contato, Siren?

― Não. Perdi o contato com o laço quando a Queda ocorreu, ele havia prometido que iria voltar. ― A conjuradora observou o anel de ouro em sua mão esquerda, a pequena pedra verde reluzindo com a luz da noite. A lembrança de um juramento, de um acordo, de um amor que ela perdera por causa da guerra. Ele estava vivo, de fato, mas ainda era jurado a sua rainha, e a situação o obrigara voltar para sua terra, do outro lado do oceano. Mesmo com a promessa de que voltaria, para encontrá-la, para levar a família à outra terra, distante de todo aquele caos e destruição.

Ele havia partido e não havia nada que Siren pudesse fazer.

― Ouvi dizer que a Queda aconteceu para que criassem uma barreira ao redor do continente, que impediria que os filhos das fadas, os fae, pudessem colocar os pés aqui novamente. ― Respondeu Rezon.

― É verdade. Quando estive na Torre Gaia, pesquisei sobre isso. ― Siren confirmou, enquanto observava sua filha dormindo ao lado. Sora tinha cinco anos e era um alvo fácil para os soldados que estavam massacrando os mestiços.

― O que pretende fazer para escondê-la? ― Questionou Tereza, a preocupação de uma mãe refletia em seus olhos.

― Talvez maldições ainda funcionem, posso tentar algo para que não deixe tão visível a descendência dela. ― Uma arte sombria que aprendera, um dom de uma bruxa habilidosa, uma raça poderosa que estava fugindo e se escondendo. Evocar uma maldição era diferente de utilizar um glamour mágico, exigia algo bem mais sombrio, e poderia ser utilizado para algo bom. Tudo dependeria de quem estivesse lançando. Mas havia sempre um sacrifício.

― Entendo, parece ser uma boa ideia.

No entanto, o sinal tocou.

O som de uma corneta aguda invadiu o acampamento, e as pessoas começaram a juntar seus pertences e a correr. Fogo surgiu entre as sombras das árvores.

Estavam cercados por um exército edesiano. Por mais cuidadosos que pudessem ser, por mais que tivessem verificado várias e várias vezes o local, haviam localizado aquele acampamento de fugitivos.

Soldados começaram a vir, gritos soaram por toda parte, enquanto massacravam e assassinavam os semi-faes e humanos portadores de magia.

Siren pegou Sora no colo, e então começou a correr.

Fugir era a única opção.


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Notas finais do capítulo

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