OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 26
Advinha quem veio para o jantar?




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― Eu vou perguntar apenas mais uma vez ― disse Albedo pausadamente, cada palavra dita trazia uma pitada a mais de impaciência ― Onde está o regulador de entropia?

No centro do saguão, onde antes se encontrava o cofre da Caótica, agora uma criatura humanoide cristalina aguardava por uma resposta. Olhares mais atentos ainda poderiam perceber detalhes de um organismo polymorpho na aparência do alienígena, tal como a ausência de articulações ou o rosto composto apenas por olhos brilhantes. No entanto, não se encontrava a coloração ou o aspecto catarral em sua estrutura, bem como não se observava mais nenhum gerador de gravidade oscilando por sobre a cabeça da criatura.

Ao redor de Albedo, os soldados-cavaleiros se dispunham num semicírculo com as armas em posição. Kevin ainda sentado no solo começava lentamente a se por de pé, pois sentia que a situação iria evoluir mal em questão de segundos. Sir William mantinha-se de pé com um orgulhoso sorriso de vitória. Atrás dele, Sir Gustav e Sir Alfred (o tio do arco, como diz Kevin) atravessavam os portões da sala do cofre levando o ferido Sir Eduardo. Os primeiros socorros realizados foram o suficiente para poder colocá-lo de pé, mas ainda assim serão precisos cuidados mais intensos de suas feridas.

Sir William, por fim, disse:

― Não existe nenhum regulador de entropia.

― Não ouse tirar uma com a minha cara, Cavaleiro ― disse Albedo com voz grossa, totalmente distinta da conhecida voz fina e distorcida dos polymorphos ― Vocês não se colocariam em tanto risco apenas para me enfrentar.

― Ficastes tanto tempo em nossas instalações e até agora não conseguiu compreender os fundamentos de nossa Ordem, verme? ― Sir William apontou a ponta de sua espada em direção alienígena ― Acabar com criaturas asquerosas, que colocam em risco a humanidade, como você é a pedra fundadora de nossos preceitos!

Durante todo o discurso de Sir William, Kevin movia-se com muita cautela, buscando sair do meio do confronto eminente. Com a inexistência do tal regulador de entropia, tudo aquilo se tornou apenas uma batalha de psicopatas. Não fazia sentido continuar ali. Ele olhava ao seu redor e notou que a atenção dos soldados mantinha-se focado no novo Albedo. Agradeceu ao universo por fazer vilões gostarem tanto de discursos longos e por capangas raramente agir sem um comando.

Em meio ao silêncio da cripta, ouviu-se um lento bater de palmas.

― Lindo... ― disse Albedo. ― Realmente tocante...

Albedo cessou as palmas. Em seguida, disse:

― Só que eu não aceito ter perdido todo esse tempo para uma caçada infundada. Ou você me entrega um regulador de entropia nesse exato instante ou eu vou acabar com cada um de vocês até que alguém me traga o dispositivo.

― Suas ameaças não nos amedrontam, escória alienígena ― disse Sir William ― Nós, da Ordem dos Cavaleiros Eternos, juramos lutar e morrer por nossos objetivos!

― E quem disse que eu simplesmente os matarei? Há formas muito mais claras de se passar uma mensagem sobre sua determinação em alcançar um objetivo.

Albedo deu um passo a frente e, com isso, todos os soldados ao seu redor moveram-se um passo em recuo. O rosto gelatiforme do alienígena se torceu no que poderia ser interpretado como um sorriso.

― Antes de matar alguém você pode torturá-lo...

Ele avançou mais um passo e obteve como resposta outro recuo dos soldados.

― Fazê-lo gritar de dor...

Mais um passo. Mais um recuo dos soldados.

― Obrigá-lo a mostrar ao universo a insignificância de sua espécie a cada lágrima e pedido de clemência...

Mais um passo. Mais um recuo.

― Veja por exemplo seu companheiro, Eduardo...

Mais um passo.

Sem recuo.

― Olha só... ― Albedo encarou os olhos de cólera que se projetavam pelos buracos dos capacetes ao seu redor.

Sir William trazia em seu rosto a personificação da ira. Sem levantar a voz, disse o comando que todos ali ansiavam ouvir:

― Acabem com esse desgraçado.

Os tiros eram disparados sem piedade. Num primeiro momento, Albedo permitiu que um ou outro laser lhe atravessasse seu corpo. O pedaço gelatinoso que era removido aos poucos retornava à sua estrutura corpórea. No entanto, a cadência dos tiros não diminuía e ele estava perdendo mais corpo do que conseguia recuperar.

De repente o corpo humanoide espalhou-se no chão como uma mancha circular extensa, em seguida, comprimiu-se num ponto único e se lançou no ar como um gêiser. Ao atingir uma altura próxima ao teto, expandiu-se novamente num enorme disco por sobre vários dos soldados.

Os cavaleiros passaram a disparar contra a forma circular; no entanto, os tiros chocavam, mas não eram capazes de atravessar a estrutura cristalina.

E então o disco desceu.

Caindo por sobre algumas dezenas de soldados, uma enorme fumaça de poeira e destroços se levantou no ar. Os cavaleiros que não foram atingidos tossiam e tentavam se localizar em meio a névoa que cobriu o local.

A fumaça rodopiou rápida num ponto do salão e em seguida se ouviu um som surdo e um grito.

Sir William e os soldados viraram em direção ao som atentos ao menor movimento.

Outro som de baque acompanhado de um grito em local oposto no salão.

Novamente os cavaleiros se viraram para o som.

Mais um som e dois gritos.

O medo se aprofundava. Um a um, o alienígena atacava os soldados remanescentes.

Embora tentassem prever o próximo local em que o alienígena avançaria, era praticamente impossível com toda a fumaça e o fato da criatura estar se movendo aleatoriamente pelo local.

Sir William ouviu um grito de um soldado que caiu no chão ao seu lado e em questão de segundos um novo grito no outro extremo do salão. Os gritos começavam a ocorrer cada vez mais rápido. Os cavaleiros, famosos por serem exímios caçadores, tornaram-se a presa.

A fumaça rodopiava e girava, assentando-se lentamente no solo. Aos poucos, Sir William conseguiu observar a criatura mover-se contra os poucos soldados que restavam. Sua velocidade de movimento era impressionante, aparecia e surgia em diferentes locais do salão em questão de instantes, derrubando os soldados impiedosamente.

A espada tremia nas mãos de Sir William. O suor que descia por seu rosto rasgava um caminho pelo pó assentado em seu rosto. Apoiou uma de suas mãos por sobre o emblema dos cavaleiros eternos em seu peito e em seus pensamentos clamava por uma ajuda divina.

― Muito bem, onde estávamos? ― disse Albedo por detrás de Sir William.

O Sir girou o corpo por sobre seus calcanhares, lançando sua espada num corte em semicírculo atrás de si, mas apenas golpeou o ar, pois o dono da voz já havia desaparecido.

― A indelicadeza de vocês para se estabelecer um diálogo amigável é irritante... ― disse Albedo novamente atrás do cavaleiro.

Sir William segurou a espada com as duas mãos e novamente girou o corpo, lançando um golpe na altura do pescoço do alienígena. A espada chocou-se contra a superfície cristalina da criatura e espatifou-se, espalhando fragmentos pelo ar.

Albedo encarou o cavaleiro com um olhar gélido de uma estátua de vidro.

Sir William viu por detrás da criatura que a poeira finalmente cedeu e dando espaço a um cenário desolador, com todos os seus soldados espalhados pelo chão do grande salão.

― Vamos, cavaleiro, o dispositivo ou a vida ― disse Albedo.

* * *

Quando o disco de vidro caiu e levantou sobre o salão a névoa de poeira, Kevin encontrou ali a oportunidade que precisava para finalmente escapar. Com ferimentos em coxa, braços e dorso, além de duas costelas quebradas, ele sabia que entrar em qualquer confronto agora seria assinar seu atestado de óbito com o próprio sangue.

Era frustrante saber que todo o tempo destinado a essa missão não passou de um desperdício. Se fosse ter que ver a situação com um olhar otimista, pelo menos foi frustrante para os dois, tanto para ele quanto para Albedo.

Kevin atravessou as portas da sala do cofre e retornou à sala da serpente de metal. Sua carcaça de aço ainda jazia jogada no chão. Escondeu-se por detrás dela ao notar que os tais Sirs, acompanhados de três soldados, ainda se encontravam na sala. O cavaleiro do escudo, outrora atacado por Albedo, se encontrava com um dos joelhos apoiados no chão. Os companheiros ao seu lado seguravam seus braços e diziam:

― Vamos, Eduardo, temos um caminho longo a seguir ainda ― disse o tio do arco.

― Eu sei... ― Sir Eduardo disse sofregamente. ― Estou pedindo apenas uns segundos de descanso...

― Senhor! ― disse um dos soldados para Sir Alfred. ― Estamos tentando contato com a equipe do castelo e ainda não tivemos resp-

― E nem vão conseguir ― interrompeu o cavaleiro-escroto-pai-do-George. ― Todos os sinais de comunicação são bloqueados aqui na cripta. ― Sir Gustav virou-se para Sir Eduardo e disse com um tom de voz atencioso. ― Assim que chegarmos aos elevadores, Eduardo, enviaremos um chamado ao pessoal do castelo para já deixarem a ala médica preparada.

― Agradeço o apoio, companheiros... ― Eduardo levantou levemente, tentando ignorar as dores de suas feridas e se apoiou nos braços dos colegas. ― Podemos ir.

Se encontravam nos umbrais da próxima sala quando o som de choque contra uma armadura ecoou pela sala, chamando a atenção dos cavaleiros.

Kevin, de seu esconderijo, viu Sir William adentrar a sala numa parábola pelo ar e atingir a carcaça metálica da serpente. Destroços de aço se espalharam a partir do local da queda.

― William! ― gritaram os Sirs.

Mas que merda... ― pensou Kevin.

Sir Gustav apontou com a cabeça para um dos soldados e ordenou:

― Você, venha aqui, ajude Sir Alfred a levar Sir Eduardo até os elevadores. ― O cavaleiro passou o braço do colega ferido por sobre o ombro do soldado. ― Eu alcanço vocês em breve! Vão!

Os cavaleiros continuaram seu caminho. Sir Gustav, por sua vez, retirou a maça presa em suas costas e partiu em direção a Sir William.

De dentro da sala do cofre, Albedo surgiu caminhando com calma. Agora, num ambiente um pouco menos empoeirado, mas ainda prejudicado em questão de iluminação era possível se observar três pequenas esferas orbitando entre si no centro do tórax do alienígena.

Sir Gustav se aproximou do colega caído e enquanto o ajudava a sair de dentro das ferragens da serpente, perguntou:

― O que aconteceu lá dentro?

― O desgraçado ficou ainda mais forte.

― E nossos soldados?

― Todos derrotados.

― Mas que filho da p-

― E Sir Eduardo? ― interrompeu Sir William.

― Alfred e alguns soldados estão levando-o aos elevadores.

― Muito bem, vamos ganhar tempo pra eles então...

― William, ele conseguiu colocar as mãos no-

― Não ― cortou Sir William, torcendo para que o alienígena não tivesse ouvido.

Ambos de pé, os cavaleiros encaravam a criatura que jazia parada junto a porta. Sir Gustav mantinha se armado de sua maça lisa com feixes elétricos, já Sir William tirou de suas costas os dois punhais de confronto e posicionou-se em defesa.

De repente, a criatura sumiu.

― Gustav, desvie! ― gritou Sir William, saltando para o lado.

Embora o cavaleiro tenha reagido rápido ao comando, não foi rápido o suficiente, de tal maneira que a mão deformada como uma lança de vidro de Albedo atravessou de um lado a outro seu ombro esquerdo. Gustav reagiu com um gemido de dor.

Sir William saltou em direção ao alienígena, desenhando dois semicírculos com as lâminas dos punhais, mas seu ataque atravessou o corpo gelatinoso da criatura, fazendo-o pousar de maneira desconcertada.

O cavaleiro da maça observou a lança de vidro que o atravessava se liquefazer e retornar ao corpo do alienígena. Ele então se firmou os pés no chão e girou a maça em direção ao tórax de seu oponente. Com a aproximação da arma e de seus feixes elétricos, a criatura afastou num primeiro momento seu tórax e então recuou como um todo.

― Opa, será que estou vendo uma fraqueza aqui? ― sorriu Sir Gustav.

Albedo respondeu semicerrando seus olhos numa expressão de raiva e, então desapareceu em pleno ar.

Gustav já havia aprendido a lição: estava lutando com um oponente extremamente covarde, que não hesitava em golpear pelas costas. Por isso, mais do que se desviar, virou-se no próprio eixo e lançou um golpe com sua maça que atingiu a superfície maciça de um objeto bastante conhecido de Gustav: o escudo de Sir Eduardo.

Assim que se estabeleceu o contato entre as superfícies maça-escudo, os mecanismos de defesa do escudo em posse de Albedo se ativaram, lançando uma poderosa onda de choque em contra-ataque lançando Sir Gustav e a danificada maça pelo ar até se chocar contra a parede mais afastada da sala circular.

Kevin testemunhou o confronto sem saber o porquê. Talvez pela empolgação? Talvez para compreender os movimentos desse novo alienígena do Albedo? Talvez porque era sempre uma satisfação ver vilões se arrebentarem entre si? Quem sabe? A questão é que seu momento de expectador lhe rendeu informações importantes.

O jovem percebeu uma importante relação entre o corpo gelatiforme de Albedo e as esferas que caminham pelo seu corpo. Talvez o alienígena não possua mais o gerador de gravidade sobre sua cabeça, mas tais esferas executam uma função semelhante e mais especializada.

Durante a luta, os cavaleiros não puderam perceber, mas nem sempre as esferas se mantinham dentro do corpo do Albedo. Em vários momentos, elas flutuavam pelos arredores e traziam consigo uma importante função não observada nos polymorphos: O material gelatinoso é capaz de se absorvido por uma esfera e sair pela outra. Como resultado, a criatura apresenta uma capacidade de se teletransportar de um espaço para outro através das esferas e de projetar parte do corpo, como no instante que o escudo veio voando da sala do cofre trazida por um braço que parecia não pertencer a corpo nenhum.

Outra informação percebida por Kevin, mas que necessitaria de confirmação era a diferenciação de densidade que tais esferas permitia ao alienígena. No momento em que a lança de vidro atravessou o ombro do cavaleiro, uma das esferas se localizava onde deveria ser a mão. Talvez a esfera altere a gravidade sobre as partículas gelatinosas e a torne sólida e líquida quando bem lhe convém.

Mas o que estou dizendo? Chega de ficar analisando habilidades de alienígenas e voltemos para o confronto!

Albedo abaixou o escudo e o arremessou no chão. Pequenas faíscas saíam do escudo sinalizando que os mecanismos internos da proteção estavam totalmente inoperantes agora. Não sei vocês, mas esse escudo trabalhou bastante hoje, já pode descansar com a sensação de dever cumprido.

O alienígena abaixou o olhar em direção ao seu tórax e observou a lâmina de punhal que o atravessava. Sir William se encontrava do outro lado, segurando a empunhadura da arma com uma das mãos.

― O que você espera fazer com isso, cavaleiro? ― Albedo virou apenas a cabeça sobre o eixo de seu pescoço e encarou Sir William.

O cavaleiro moveu o punhal num quarto de círculo e removeu uma das esferas de dentro do tórax da criatura e a arremessou em direção ao solo.

Olha só, não é que os cabeças-de-lata também sacaram as esferas?

Albedo ao compreender o que estava prestes a acontecer, moveu-se de maneira sem forma em busca de uma forma de se proteger.

Sir William lançou seu segundo punhal em direção a esfera que quicava no chão. Uma bolha gelatinosa revestiu a esfera e endureceu como numa pérola, impedindo que a lâmina do punhal causasse dano o objeto.

O líder dos cavaleiros rangeu os dentes frustrado, em seguida, sentiu seu corpo ser revestido do material cristalino que compunha o alienígena.

Sua frustração tornou-se pânico.

Os gritos apavorados do cavaleiro ecoavam pela sala, ciente do que poderia vir a seguir. Ele tentava se desvencilhar do tecido gelatinoso inutilmente, mas era como se tentasse segurar uma bolha d’água. Os dedos atravessavam o material e o pouco que ele conseguia afastar flutuava no ar por alguns segundos e então retornava em direção a ele.

Kevin estava próximo da saída da sala quando ouviu os gritos de Sir William.

De novo não... ― pensou ele.

O jovem virou sua cabeça em direção aos gritos, quando então ouviu uma voz que se aproximava

― Você ainda está vivo, verme? ― perguntou Sir Alfred com seu arco em sua mão esquerda.

― Infelizmente pra você estou sim, mas relaxe que não represento perigo nenhum pra você, mas assim... ― Kevin apontou com o polegar por cima do ombro ― Teu chefe está muito enrascado, tu deveria ajudar ele.

― Quem você pensa que é pra me dar orde-

Os gritos de Sir William se intensificaram, interrompendo Sir Alfred.

― Beleza então ― disse Kevin. ― Se não for problema pra você, eu vou indo então...

― Não ouse desdenhar de nós, escória alienígena! Se pensa que deixare-

Mais gritos de Sir William.

― É sério, vai ajudar teu parça, lá ― disse Kevin.

O jovem caminhou ao lado do cavaleiro e notou que a mão do cavaleiro tremia.

― Aí, tio do arco ― disse Kevin. ― Eu acho que já saquei como essa criatura funciona e se você precisa de alguma aju-

― Nem em mil anos eu pensaria em pedir a ajuda de um verme como você! ― Explodiu Sir Alfred.

Kevin encarou os olhos trêmulos e envoltos em ira do cavaleiro. Acenou um “então tá” com a mão e seguiu mancando em direção aos elevadores.

― Espere, escória! ― disse o cavaleiro sem acreditar nas palavras que lhe escapou.

Kevin parou e não se virou.

― Fala... ― disse Kevin.

― Preciso de seus conhecimentos de criatura inferior para poder trazer fim a esse-

― Mas é muita prepotência e arrogância! ― Explodiu Kevin dessa vez, mancou até se aproximar do cavaleiro e apontou um dedo na cara do cavaleiro ― Teu colega tá ali dentro tomando um coro, você não tem a menor ideia de como pode salvar ele, está se borrando de medo e vem me pedir ajuda me chamando de “verme”, “escória” e “criatura inferior”! Eu quero que você e toda a Ordem dos Cabeça-de-lata Eternos se danem para o inferno!

Kevin se virou e segui trôpego pelo se caminho. Deu cerca de cinco passos quando ouviu a voz de Albedo dizer:

― Finalmente! O Regulador de entropia!

O jovem osmosiano abaixou a cabeça e deu um suspiro. Virou em direção a Sir Alfred e disse:

― Beleza, eu ajudo vocês, mas você vai ter que obedecer ao que eu disser sem reclamar, tá beleza?

― Sim...

― E se me chamar de verme eu quebro a tua cara.

No interior da sala, Sir William se encontrava com seu tórax e braços envoltos em feixes de material gelatinoso. Ao redor de sua cabeça, uma enorme bolha de tecido cristalino sufocava-o, com metade do corpo polymorpho de Albedo se projetando por sobre a bolha. Nas mãos do alienígena, um pequeno dispositivo hexagonal brilhante como nanocircuitos desenhados em sua superfície. O objeto outrora se encontrava dentro da insígnia dos Cavaleiros Eternos no peito da armadura de Sir William.

― Eu sabia que não era um simples blefe ― disse Albedo. ― Acha mesmo que vocês foram os primeiros que eu torturei nos últimos dias atrás de informações?

Sir William tentava manter os últimos resquícios de ar em seus pulmões, mas a hipóxia prolongada já fazia seus lábios ficarem azulados e sua consciência quase se esvair.

― Da próxima vez que quiserem lutar contra mim ― Albedo curvou seu corpo e ficou com sua cabeça invertida ao mesmo nível da do cavaleiro, ― procurem pesquisar melhor se vocês tem condições de me enfrentar. Perguntem ao Animal quantos dentes eu o fiz perder no nosso último encontrou. Ou aos mal-educados Vreedles e seu péssimo hábito chorar com o primeiro braço quebrado. Não, não! Pergunte ao Vulcanus se é muito difícil arrancar aquelas barbas de chifre dele com o pé de um vaxauriano...

Uma flecha passou próximo à cabeça de Albedo e fincou-se no teto.

O vilão voltou-se para o local de origem da flecha e encontrou Sir Alfred com seu arco pronto para um novo disparo.

― Bem que eu tava dando pela falta de alguém! ― disse Albedo. ― Não seria justo acabar apenas com três de seus colegas e deixar você de fora não é mesm-

Outra flecha passou rente ao rosto do alienígena e se fixou no teto.

― Muito bem! Então vamos-

Sir Alfred começou a caminhar pela sala e disparar flechas continuamente. Uma a uma as flechas iam se fixando ao teto.

― Mas que mira péssima é essa a sua, cavaleiro!?

― E quem disse que eu estou mirando em você?

Albedo franziu o que poderiam ser sobrancelhas e olhou para o teto. As flechas se encontravam fincadas em pequenos furos no teto. Então num só instante todas as flechas detonaram em pequenas explosões controladas. O alienígena buscou endurecer parte de seu corpo visando se proteger, mas percebeu se desnecessário ao sentir sobre si gotas de água caindo como numa chuva.

Utilizando dos mecanismos de simulação existentes em todas as salas, Sir Alfred ativou os dispositivos utilizados nas simulações de tempestades, fazendo com que uma chuva se espalhasse pela sala. O chão aos poucos tornou-se mais e mais úmido, formando um superficial espelho d’água.

― Sua estratégia não foi de todo ruim, Sir ― Albedo recebia a chuva em si como uma planta que recebe o sol da manhã e, aos poucos, seu corpo crescia de tamanho ― Água com certeza não é algo que um polymorpho se dê bem. Mas já um espécime evoluído como eu, água nada mais é do que um excelente jantar após um dia cansativo de confrontos como esse!

― Pois não vamos esquecer da sobremesa então! ― gritou Kevin do outro lado da sala.

O vilão viu o osmosiano agachado com um dos joelhos no chão e uma mão apoiada sobre o solo úmido. Esta mesma mão se encontrava revestida de um material metalizado e sobre ela, um receptáculo cilindro semelhante a uma pilha grande era mantida apoiada utilizando a outra mão.

Albedo olhou por detrás do jovem e viu Sir Gustav caído desmaiado e partes de sua maça espatifada sobre o chão. Não bastou muito para o alienígena entender e então agir:

A criatura lançou de dentro de si as três esferas que partiram flutuando pela sala, cada uma em uma direção.

Sir William caiu inerte no chão desmaiado após se ver livre do corpo gelatinoso.

Uma das esferas já se aproximava da porta, quando sentiu um tranco e permaneceu parada no ar. Uma flecha com material colante em sua ponta se fixou na esfera, já na outra extremidade da flecha um fio elétrico retirado da carcaça da serpente ligava o solo úmido e a esfera que flutuava no ar. As outras duas esferas também foram presas pelo mesmo mecanismo restando a Kevin a conclusão do plano.

Albedo até tentou projetar seu corpo de uma das esferas mas não deu tempo. Kevin ativou o núcleo elétrico da maça de Sir Gustav sobre o dorso de sua mão metalizada e dissipou a eletricidade por todo o espelho d’água que se formou pela chuva. A eletricidade percorreu toda a sala em instantes e, utilizando os fios elétricos como pontes, eletrocutou as três esferas ao mesmo tempo que caíram inertes no chão.

Antes que você fique preocupado, a eletricidade não era alta o suficiente para causar dano nos cavaleiros ali na sala, mas para um organismo fluido como Albedo, era mais do que suficiente.

Kevin levanta-se do solo e sacode a mão para afastar a fumaça que saía do metal. Sentia a mão rígida, como se a musculatura dos dedos estivessem todas contraídas ao mesmo tempo.

Espero que não seja permanente...

O jovem viu caído próximo a Sir William um pequeno objeto hexagonal brilhante e não hesitou em ir em direção para pegar o dispositivo.

Faltando cerca de trinta centímetros para sua mão alcançar o objeto, uma esfera passou rápida por ele, com uma mão gelatinosa lhe revestindo, e agarrou o regulador de entropia fugindo em seguida porta afora.

Kevin virou-se em direção a uma das esferas que ainda se mantinha presa, mas teimava em tentar fugir e correu rumo a ela. Saltou e agarrou a orbe recém liberta ainda em pleno ar e junto com ela, saiu sendo carregado.

― O que pensa que está fazendo? ― A voz grossa de Albedo ecoou do orbe.

― Você não me ajudou a entrar na cripta? Pois vai me ajudar a sair dela agora! ― disse Kevin.

A esfera se uniu as demais e continuaram seguindo pelas salas em direção aos elevadores. O material gelatinoso aos poucos começava a brotar dos orbes, formando uma mancha cristalina sem forma que flutuava a alguns centímetros do chão. Kevin mantinha-se segurando firmemente na esfera, mesmo que ela insistisse em fazer movimentos bruscos ou tentasse fazê-lo se chocar contra algum objeto no caminho.

Ao chegar nos elevadores, Albedo arrebentou uma das portas e seguiu subindo pelo poço do elevador, sem parar um só instante. Nem mesmo se esforçava mais para retirar o osmosiano de seu encalço.

Ele está com pressa! ― pensou Kevin.

Ao atingirem o andar correspondente à entrada da cripta no castelo, Albedo arrebentou a porta e se destransformou, voltando ao seu corpo humano.

Kevin caiu no chão ao seu lado. Ao levantar a cabeça, notou o regulador de entropia caído a alguns centímetros de si. Deu um impulso e agarrou o dispositivo, levantando-se em seguida em correndo com dificuldade em direção ao pátio do castelo. Albedo xingou algumas palavras ofensivas em Galvan Prime e em mais cinco galáxias e partiu atrás de Kevin.

O osmosiano abriu a porta do pátio com o ombro e se deparou com uma cena que já não seria agradável de se ver em condições normais. Depois de todo esforço das últimas horas, com toda certeza não era a melhor surpresa a se desejar.

Um outro confronto se estabelecia na área externa do castelo: os Cavaleiros Eternos de um lado, buscando proteger seu território e do outro lado, um conjunto de naves triangulares sedentas por um sinal gritante de energia Omni que surgiu naquele local, principalmente nas últimas horas.

Albedo parou ao lado de Kevin e observou o cenário de confronto.

― Duvido você adivinhar de quem eles estão atrás ― disse Kevin.

Por um breve instante, o jovem percebeu medo nos olhos de Albedo.


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