OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 24
Andares




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Galvan Prime.

Dia 01.

A nave galvânica desce suavemente na área de pouso do Centro de Pesquisa de Galvan Prime. As portas se abrem e Azmuth desembarca pela rampa de acesso com uma jovem loira seguindo-o logo atrás. A garota até algumas horas não possuía um nome oficial, foi então batizada de Eunice por um trio de terráqueos.

Azmuth dirigia-se com seus minúsculos passos ao portão de entrada do laboratório. Em nenhum momento virou-se para verificar se a garota ainda o seguia. Sua vontade era desligá-la para sua forma de receptáculo e continuar seguindo com seus experimentos planejados, mas prometeu ao garoto Tennyson mantê-la nessa aparência disfuncional.

Eunice olhava para os arredores com exaltação. Estava viva há poucas horas e cada nova descoberta era digna de receber o máximo de sua atenção. Por várias vezes segurou o impulso de correr até algum objeto estranho e tocar pra ver o que poderia acontecer. “O Grande Pensador Azmuth vai acabar ficando irritado” era o que dizia pra si.

Assim que o portão de acesso se fechou atrás deles, Azmuth e Eunice continuaram seguindo pelos corredores e saguões com seu diálogo pautado no silêncio mútuo. Os demais funcionários do laboratório observavam a figura esguia e rosa caminhar pelas mediações seguindo o Cientista-chefe e não eram poucos os burburinhos e comentários que se espalhavam pelo local.

Acho que estamos chamando a atenção — pensou Eunice.

― Sim, estamos – disse Azmuth.

― Perdão, senhor? – perguntou ela.

― Sim, estamos chamando a atenção de todos – respondeu sem se virar.

Mas como ele sabia? Será que ele é capaz de ler pensamentos!?

― Com licença, senhor – disse Eunice, levemente inclinada para frente, buscando não precisar falar muito alto para ser ouvida – Mas por acaso-

― Não.

― E-eu...

― Não, eu não sou capaz de ler seus pensamentos.

― Mas então-

― É uma apenas uma questão de lógica, Unitrix. Raramente termos criaturas de outras espécies nesse prédio e eu saí em pesquisa faz dois meses e voltei agora sem avisar ninguém.

Eles param em frente a entrada dos elevadores. Azmuth se posiciona com as mãos atrás das costas aguardando o transporte. Eunice, por sua vez, continua observando os arredores e capturando os inúmeros olhares fixados neles.

― Então não é minha culpa toda essa agitação? Eu realmente não quero ser um incôm-

― Não, Unitrix ― interrompeu Azmuth, ― é culpa de nós dois. Agora vamos, o elevador chegou.

Dentro do espaço cilíndrico do elevador, Eunice precisava manter-se com o pescoço curvado pois a altura do teto não foi planejada para sua altura. Não havia música de elevador, pois Azmuth detestava isso e obrigou a remover o som ambiente de todos os locais. Cortava sua concentração, segundo ele. O único som que se ouvia era o do motor do elevador exercendo sua tração.

― Senhor Azmuth – disse Eunice.

Ele permaneceu encarando a porta à sua frente e disse:

― Sim.

― Muito obrigada por me permitir vir.

O galvaniano nada respondeu.

O sinal sonoro de nota única que indicava um “você chegou!” avisou os de dentro e os de fora da presença do elevador no andar. Assim que a porta se abriu, Azmuth seguiu caminhando com sua cifose habitual em direção a sua sala.

Eunice não sabia bem o que deveria fazer a partir dali. Deveria segui-lo? Deveria ficar ali? Havia algum lugar em que ela poderia descansar da viagem? Resolver perguntar:

― Senhor Azmuth, o que eu faço agora?

O galvaniano levantou apenas uma mão para o alto e respondeu:

― Eu não sei, algo de útil eu espero.

***

Dia 03

Eunice ainda se perdia pelos corredores do laboratório, mas já tinha obtido um progresso considerável sobre o conhecimento do local. Com a ajuda de alguns funcionários do laboratório, descobriu um lugar que poderia adotar como quarto. Explorando um pouco mais encontrou as oficinas, a biblioteca, os depósitos e a copa.

Viu Azmuth apenas no dia de sua chegada e, mesmo assim, sua última frase reverberava em sua mente. Como ela poderia ser útil ali?

Ela se encontrava no centro de pesquisas mais avançado da galáxia. Local criado e constantemente desenvolvido para trazer ao mundo as criações mais surpreendentes já inventadas. Logo, nada mais lógico e útil do que se criar algo extremamente necessário ao universo. Se decidiu: Ela se tornaria uma cientista.

Primeiro passo: aprender a ler.

Antes do primeiro passo: tentar se lembrar onde mesmo ficava a biblioteca. Era no quinto ou no quadragésimo sétimo andar?

***

Dia 12

Realmente cálculo fidgeriano multidimensional não é conhecimento pra mim— pensou Eunice. Sua cabeça pousava no tablet como sinal de desistência.

A biblioteca se encontrava ocupada apenas pela jovem e pelo bibliotecário.

Ok, ela tinha conseguido aprender sobre os teoremas evolutivos multi-temporais de Niwrad, a escala de cadência entrópica do universo e, mais cedo, nanomecânica bioquímica pluripotencial. Mas por que cálculo multidimensional tem que ser tão complicado? Não poderia ser fácil como física monomolecular catzianiana?

― Eu cansei, não aguento mais – Eunice cochichou sem tirar a cabeça apoiada do tablet.

Quando será que terei aprendido o suficiente para começar a praticar ciência? Pensou em ir até Azmuth e pedir alguma linha de pesquisa para desenvolver, mas temia ser repreendida caso não soubesse responder algo.

― Não! – Eunice levantou a cabeça determinada – Eu não posso desistir! – Abaixou os olhos para as primeiras linhas do livro e voltou a ler.

No entanto, sentia como se tivesse adquirido tanto conhecimento nos últimos dias que foi obrigada a desaprender a ler, pois não era possível! Leio, leio e não entendo nada!

― Agora é sério, desisto! – E apoiou a cabeça na mesa de novo em derrota.

Fechou os olhos e por alguns instantes meditou. Pensou no porquê estava fazendo tudo aquilo. Não apenas no porquê, mas para quem? Para ela? Para se provar perante Azmuth? Mas por mais que tentasse não conseguia encontrar uma resposta...

― Até mais, Pensador Azmuth! – disse o bibliotecário.

Eunice se levantou em sobressalto. Azmuth estava aqui!? Será que ele me viu? Correu em direção ao corredor para olhar a saída da biblioteca. Escondida por detrás da estante viu a silhueta pequenina do cientista desaparecer com o fechar das portas.

Que ele não tenha me visto, que ele não tenha me visto!

Eunice caminhou até seu local de estudos. À medida que se aproximava, percebeu que sobre a mesa não havia apenas um, mas dois tablets. Será que alguém esqueceu ali?

Pegou em mãos o tablet esquecido para colocar no lugar. Mas antes, resolveu ler algumas linhas do texto escrito para tentar determinar em qual estante deveria guardá-lo.

Leu uma, duas linhas, continuou até terminar o parágrafo. O livro era sobre cálculo fidgeriano multidimensional, mas comparado com o anterior ― fundamentado em sofrimento ― era como se esse tivesse sido escrito para uma criança do fundamental de tão simples e bem explicado.

Eunice decidiu se esquecer de devolver o livro. Sentou-se novamente sem tirar os olhos do tablet e assim permaneceu alimentando seu conhecimento. Não com um horrível ensopado de fígado e jiló, mas com uma deliciosa lasanha bolonhesa com sorvete de sobremesa. Foi mal pela metáfora, mas é que estou com fome no momento.

***

Dia 19

Parada em frente à porta do laboratório principal, Eunice inspirava profundamente tentando se acalmar para enfrentar mais um dia de “tentar entrar em alguma linha de pesquisa”.

Nos últimos três dias, infelizmente, não conseguiu nada.

Passou boa parte do dia parada como um objeto de decoração que se movia pelo laboratório. Nas vezes que tentava se comunicar com algum cientista chefe e pedir autorização para fazer parte da pesquisa, apenas recebia um “Xô!” ou silêncio como resposta.

Mas hoje ia ser diferente. Estava determinada e não aceitaria um “não” como resposta. Respirou profundamente uma última vez e apertou o botão para abrir as portas.

O que se presenciou em seguida era a personificação do caos.

Luzes vermelhas piscavam por todo o salão. Uma sirene alta tentava avisar os presentes sobre a iminência de uma explosão. Galvanianos corriam de um lado para o outro tentando encontrar uma forma de interromper o experimento. A pesquisa do Dr. Uhmnael com partículas D acabou por resultar em uma reação absurdamente instável dentro do reator 7. Era questão de tempo para cinco andares do prédio desaparecerem numa poderosa explosão.

Eunice entrou correndo no laboratório, se desviando dos cientistas que se moviam como formigas numa colônia sobre ataque. Ela se aproximou do reator 7 com cautela. Vapor e fumaça escapavam por entre as brechas e encanamentos, indicando o aumento de pressão progressiva que se estabelecia ali. Lampejos sucessivos sinalizavam que a cadeia de reações se retroalimentava e se tornava cada vez mais instável.

O Dr. Uhmnael gritou para um de seus assistentes:

― Inicie o processo de resfriamento!

Eunice olhou para o cientista com descrença no que estava ouvindo. Ela havia estudado sobre esse tipo de reação retroalimentada e, embora não fosse com partículas D, a jovem sabia que diminuir a temperatura poderia ampliar e muito a força de reação.

― Doutor Uhmnael, não faça isso! – gritou Eunice – Esse tipo de reação se agrava se diminuir a temperatura!

― Quem é você e o que está fazendo aqui? – respondeu o cientista ― Saia, vamos! Não percebe que isso aqui está muito perigoso?

Eles não vão me escutar— pensou Eunice.

A jovem se aproximou do assistente encarregado de resfriar a reação e, como se tirasse uma boneca de frente do caminho, afastou o galvaniano e se posicionou frente à mesa de operações.

― O que ela está fazendo!? – gritou Uhmnael – Não mexa nisso, você vai matar a todos nós!

Eunice ignorou as falas ao seu redor. Concentrada no reator prestes a explodir na sua frente, ela alterava parâmetros e variáveis através dos botões no painel.

É preciso inicialmente elevar a temperatura até se observar um processo de desaceleração da cadência, seguido de inserção de três wikers de partículas Úons associado a remoção gradual da pressão...

Eunice sentiu algo pequeno se agarrar em um de seus braços.

― Pare já com isso, sua idiota, você não sabe o que está fazendo! – disse o galvaniano que segurava seu braço.

A resistência que o alienígena fazia sobre a jovem era praticamente nula, logo, ela continuou o com seu trabalho de interrupção.

Agora diminuo a temperatura a uma velocidade de um grau a cada dois segundos e-

Mais galvanianos se agarravam ao corpo dela. Talvez um não desse trabalho, mas com o aumento da quantidade, Eunice começava a ter dificuldade para se mover.

E altero o campo eletrogravitacional para 3u776...

Eunice começava a ceder com o peso dos alienígenas. Com dificuldade apertou o último botão que precisava.

Uma luz amarelada invadiu o laboratório e subitamente desapareceu. O reator, que há poucos instantes ameaçava acabar com a vida de todos ali, silenciou. Uma camada de gelo começou a se formar na superfície da máquina, acompanhada de uma leve névoa que se forma em dias frios.

As sirenes finalmente se calaram, assim como a luzes vermelhas resolveram finalmente descansar. Os funcionários se olhavam entre si tentando entender o que havia acontecido.

Foi então que um cientista-júnior gritou:

― A gente vai viver!

O frenesi de outrora se tornou uma comemoração, com abraços e gritos de vivas. Os galvanianos que antes haviam tentado impedir Eunice, agora ajudavam-na a se levantar do chão.

― Foi mal, humana, pedimos desculpas pelo que fizemos e espero que possa nos perdoar. – disse uma galvaniana.

― Não se preocupe, estamos vivos e é isso que importa – respondeu Eunice com um sorriso.

A festa foi interrompida quando as portas do laboratório se abriram e uma conhecida voz ressoou por todo o local:

― Quem foi o responsável por quase destruir o meu laboratório!? – perguntou Azmuth.

Dr. Uhmnael caminhou em direção à Azmuth de cabeça baixa, envergonhado por toda aquela situação. Então disse:

― Grande Pensador Azmuth, a culpa é minha.

Azmuth nada disse, apenas encarava o cientista.

― Devo ter calculado alguma coisa errada ou deixei de verificar algum parâmetro antes de iniciar o experimento e acabou que as partículas D entraram num estado de reação retroalimentada e-

― E como você interrompeu o processo? – atravessou Azmuth na explicação.

― Perdão?

― Como você interrompeu a reação!? Afinal de contas não estamos mortos, então alguma coisa você fez!

― Na verdade, senhor, eu não sei como foi interrompida a reação. – O cientista virou-se em direção à Eunice e continuou ― Foi a humana que interviu e conseguiu interromper o processo.

Azmuth encarou Eunice.

A garota não sabia bem como interpretar o olhar de seu criador. Apenas continuou paralisada com um desconfortável frio na espinha. Talvez fosse o reator atrás de si que emanava um ar gelado, quem sabe.

― Unitrix, por favor, me acompanhe até o meu laboratório. – disse Azmuth.

***

Dia 22

Não se preocupe que Azmuth não desligou Eunice nem nada do tipo. Sem dar maiores explicações, ele tornou a jovem sua secretária pessoal. Dessa maneira a garota era obrigada a acompanhar o galvaniano a todo momento. Pensei em dizer 24 horas por dia, mas a duração dos dias em Galvan Prime é diferente, então não ia ficar uma boa frase. Você entendeu.

Sinceramente, Eunice não ficou muito feliz.

Passou dias se dedicando para ter condições de enfrentar uma pesquisa, no entanto, agora era obrigada a seguir Azmuth como um cãozinho doméstico. Isso é o que significa ser útil para ele?

A única coisa mais divertida que ganhava com essa tarefa de secretária era poder assistir Azmuth e seus experimentos. Estava trabalhando já há dois dias como secretária e tinha conseguido reunir anotações suficientes pra preencher um livro. Claro que ele não poderia saber disso: Azmuth era absurdamente chato com a possibilidade de vazamentos de informações.

Só que embora ela não pudesse ser uma cientista durante o dia, era à noite, nos recônditos de seu quarto que ela incorporava a Grande Pensadora Eunice e passava horas a desenvolver suas teorias e protótipos de equipamentos. Se poderia um dia coloca-los em prática não sabia dizer, mas só de poder planejar já conseguia satisfazer um pouco de sua sede de ciência.

***

Dia 47

Eunice se aproximava da sala de Azmuth com um conjunto de documentos que demandavam a atenção do cientista. Como é que ia fazer pra tirar ele de cima de uma de suas pesquisas e olhar os documentos é que ela não sabia bem. Azmuth detestava burocracias.

Quando faltava poucos passos para chegar ouviu gritos de dentro da sala. Uma discussão!? Mas com quem? Azmuth não gritava, apenas falava firme. Já o seu interlocutor fazia questão de avisar a todo o andar de que estava ali presente. Não era possível definir com clareza o que era falado, por isso, Eunice se aproximou lentamente da porta e apoiou o ouvido para escutar.

― Você não ouse falar esse nome— gritava a voz ― Você não tem esse direito!

E você tem o direito de vir ao meu laboratório e fazer esse tipo de escândalo ridículo? Não me venha com esses argumentos ignóbeis, meu caro rapaz!— disse Azmuth.

Muito bem então. Finalizamos por aqui. Você tem três dias para me dar uma resposta, se não...

Eunice ouviu sons de passos se aproximando da porta. Desesperada, se afastou da porta e tentou fingir que tinha acabado de chegar. Quando a porta se abriu, ela se deparou com o Conselheiro Fahtzi saindo de dentro da sala.

― Bom dia, minha jovem! – disse Fahtzi sorrindo. – Como você está?

― E-eu estou bem, senhor.

― Mas que maravilha! – Fahtzi virou-se para Azmuth e disse – E não esqueça do que conversamos, Grande Pensador, preciso de uma resposta sua o mais breve possível! Galvan Prime conta com você! ―  E seguiu pelo corredor, caminhando despreocupado.

Eunice acompanhou o Conselheiro com o olhar até ele desaparecer dentro do elevador.

O que será que aconteceu aqui?

― Unitrix, me acompanhe – disse Azmuth ao passar ao lado da garota e seguir em direção aos elevadores.

Os dois permaneceram calados por todo o caminho. O destino: Setor de comunicações.

Assim que entraram na sala responsável por realizar os informes para todo o centro de pesquisa, os técnicos de som se afastaram de seus painéis e cumprimentaram Azmuth, respeitosamente.

― Abram um canal para todo o prédio, preciso enviar um comunicado a todos – disse o cientista.

Após alguns segundos o técnico deu a confirmação de que o canal estava estabelecido, Azmuth se aproximou do microfone e começou a anunciar:

― Atenção todos os funcionários do Centro de Pesquisa de Galvan Prime, aqui quem fala é Azmuth. Veio por meio desse comunicado anunciar que a partir de hoje, todas as operações, pesquisas e experimentos realizados por esse centro estão suspensas e todos os funcionários e pesquisadores estão dispensados até segunda ordem. Agradeço pelo apoio de todos durante esses anos e peço que esvaziem o prédio até o fim do dia.

Azmuth se afastou do microfone e seguiu novamente em direção aos elevadores. Eunice, os técnicos e todos os funcionários do centro de pesquisa permaneceram atônitos com a notícia. E agora?

― Unitrix? – disse Azmuth.

Eunice se obrigou a sair do estado catatônico em que se encontrava e acelerou o passo para acompanhar o cientista.

E agora? Ela também era obrigada a sair do Centro de Pesquisa? Ela não queria fazer essa pergunta.

A jovem acompanhou Azmuth pelo prédio sem conseguir prestar atenção no caminho. Seus pensamentos eram um turbilhão de dúvidas. Não reparou que o galvaniano estava fazendo um caminho diferente, buscando se desviar de qualquer funcionário que surgisse. Quando deu por si, estavam os dois em frente ao quarto de Eunice.

― Me permite entrar em seu quarto? – perguntou Azmuth.

― Senhor Azmuth? Mas por que?

― Precisamos conversar e tenho certeza que meu laboratório nesse momento deve estar lotado de gente enfurecida.

Eunice se lembrou das inúmeras anotações e teorias que mantinha escondidos em seu quarto. Pensou em negar a entrada, mas de que importava agora?

― Por favor, entre – disse, abrindo a porta automatizada.

Azmuth não conseguiu esconder sua surpresa. Havia bagunça? Sim havia. Mas principalmente havia exemplos claros de uma mente criativa e impressionante com sede de se libertar em cada papel e anotação colados naquelas paredes.

― O que o senhor gostaria de falar comigo? – Eunice sentou na cama.

― Provavelmente deve estar pensando “O que vai acontecer comigo agora?” estou certo?

― Já me acostumei com o senhor fazendo isso. Mas sim, acertou.

― Unitrix, não espero que entenda minhas razões.

― Na verdade, senhor, eu quero ao menos uma razão.

― Eu sei que sim. Mas não posso dizer.

― É sobre seu novo projeto, o superomnitrix?

― Como você sabe disso?

― Senhor, eu o acompanho o dia todo. Talvez você, de vez em quando, esqueça que eu estou ao seu lado, mas eu sempre estou lá. Numa dessas vezes eu acabei vendo anotações suas sobre esse novo protótipo.

― E você comentou isso com alguém?

― Claro que não! Eu jamais faria isso! Na verdade, me ofende o senhor ao menos cogitar isso de mim!

― Me desculpe, é que infelizmente essa informação vazou e eu sinceramente não consigo pensar no responsável.

― E pensou que poderia ser eu? Por isso veio até aqui?

― O quê!? Não! Unitrix, por favor, se acalme!

Um constrangedor silêncio caiu por sobre o quarto.

― Na verdade... – disse Azmuth.

― “Na verdade”?

Azmuth sobe na cama de Eunice e fica de pé ao lado da garota.

― Na verdade eu vim para lhe fazer uma proposta.

― E o que seria?

― Não sei como as coisas ficarão aqui em Galvan Prime a partir de agora e eu gostaria que você voltasse para a Terra. Acredito que o garoto Tennyson e sua família lhe receberiam de braços abertos.

― Senhor, mas e você?

― Não se preocupe comigo.

― Eu não vou simplesmente deixar o centro de pesquisa e fugir-

― Não é questão de fugir, Unitrix, é uma questão de se prevenir de maiores problemas futuros. Eu converso com o Magistrado Tennyson e em questão de horas você estará embarcando rumo à Terra. Ficará segura com o garoto Tennyson, o osmosiano e a garota humana com aquele negócio na cabeça.

― Negócio na cabeça?

― Sim, aquilo que parece uma trama de fios laranjas sobre a cabeça dela.

― O cabelo?

― Aquilo é cabelo? Mas a forma que ela apresenta esse tal de cabelo não faz sentido!

― Está dizendo o rabo de cavalo, senhor? – Eunice leva às mãos ao próprio cabelo e o segura simulando o penteado de Gwen – Dessa forma, você quer dize-

Azmuth salta e toca a nuca de Eunice, desativando o constructo que lhe dá a forma de humana e fazendo-a retornar à forma de receptáculo cilíndrico original.

― Me desculpe, Eunice.

***

Dia 198

Prisão Central de Galvan Prime

Eunice se agacha e entrega o cubo mecamorfo nas mãos de Azmuth.

― Use a armadura para tirar o Magistrado daqui, senhor Azmuth – disse Eunice, em seguida ficou de pé e olhando Azmuth de cima continuou – Acredito que a forma inativa já seja o suficiente pra te ajudar nessa tarefa.

― Não seja ridícula, Unitrix, vamos embora. Não tem a menor possibilidade de você conseguir enfrentá-los sozinhos.

― Eu sei disso.

Eunice virou de costas e encarou o corredor com os guardas da prisão vindo na sua direção. A garota pegou de seus bolsos duas luvas sem dedos e as vestiu. Em seguida pegou um pequeno headset e instalou em seu ouvido direito.

Azmuth ora encarava a garota ora encarava o Magistrado que se contorcia de dor aos seus pés.

Eunice pressionou uma vez o botão no headset e disse:

― Iniciar experimento. Acinonyx jubatus.

Em seguida observou crescer na palma de suas luvas uma textura peluda semelhante à pelagem de guepardo. Ela fechou as mãos e uma pequena luz verde escapou por entre seus dedos.

― Vão agora! – disse ela antes de partir numa corrida de quatro patas em alta velocidade corredor adentro.

A garota corria e saltava pelas paredes, acertando os guardas em pleno ar e desviando dos disparos de seus algozes. Sua velocidade e tempo de reação eram surpreendentes.

Após limpar o corredor, chegou novamente ao saguão das celas. De trás de uma esquina, um veículo blindado surgiu e foi em sua direção. No topo do veículo, um canhão de fótons, capaz de derrubar um vaxauriano facilmente.

Eunice olhou para o veículo e comparou com a saída do corredor atrás de si. Em questão de segundos formulou um plano:

Onthophagus taurus! – Novamente a luz verde escapou por entre seus dedos.

A garota partiu em direção ao veículo, desviando dos disparos que abriam rombos no chão da prisão. Quando conseguiu chegar próximo ao pára-choque do blindado, agarrou com toda sua força, fazendo as rodas do veículo patinar no solo.

Gotas de suor escorriam pelo rosto de Eunice e, então, num último impulso levantou o veículo e jogou por cima de sua cabeça. O blindado chocou-se com a entrada do corredor e, como uma enorme pedra que sela uma cova, obstruiu o principal caminho entre os guardas e Azmuth.

Eunice respirava ofegante. Seu olhar emanava fúria e determinação. Os guardas se acumulavam ao seu redor preparados para disparar.

― Me desculpe, Azmuth – disse Eunice.


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