OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 13
Velha amiga




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789396/chapter/13

 

Encantriz estica os braços para cima e tenta alongar a musculatura da coluna. Ouve-se um estalo de uma das vértebras. Agora é a vez do pescoço. Ela gira a cabeça de um lado para o outro. Mais dois estalos. Ficar horas sentada na cadeira, estudando um livro atrás do outro, acabava deixando sua musculatura tensa depois de um tempo.

Olhou para o relógio antigo preso na parede. Já é tão tarde!? Quase perde o jantar.

A feiticeira levanta da cadeira e segue em direção a um dos corredores formados pelas estantes de livros. A cada seis metros, um espaço surgia entre uma estante e outra, formando um novo corredor que cortava todos os demais. E foi ao passar por um desses cruzamentos que ela viu sua arqui-inimiga.

Gwendolin se mantinha em pé em frente a uma enorme estante. Atrás dela, duas pilhas de livros flutuavam aguardando serem lidos ou relidos. Outros três livros se mantinham abertos levitando em frente ao rosto da jovem. Ela levantou o olhar para a prateleira mais alta de uma estante e apontou para um livro de capa verde. O objeto saiu de sua posição e se reuniu aos demais livros abertos flutuantes.

Encantriz parou de olhar a jovem, com o desinteresse de quem desiste de assistir algum programa de tv, e continuou caminhando entre as estantes até a parte posterior da biblioteca ― restrita para apenas pessoal autorizado ― em busca de seu jantar.

***

A feiticeira sempre teve o hábito de ir deitar tarde. Muitas vezes por ficar envolta nos estudos e nos conhecimentos que a biblioteca de seu tio poderia lhe oferecer, acabava indo dormir poucas horas antes do sol acordar. Várias vezes só foi pra cama porque o corpo praticamente lhe obrigava.

Tinha também por hábito verificar todos os sistemas de segurança da biblioteca, antes de abaixar a guarda para atividades tão expositivas de fragilidade como dormir. Avaliava os dois alarmes, as três barreiras mágicas protetoras, o ponto de fixação temporal e o cadeado na porta da frente. Pode parecer exagero toda essa energia e equipamento usado na proteção de um local como uma biblioteca, mas a presença do cadeado fazia toda a diferença.

Estando tudo de acordo, Encantriz seguia pelo corredor superior em direção ao seu quarto. Com uma caneca de chocolate quente em mãos, ela assoprava a fumaça que saía e bebia em pequena bitocas a bebida para testar a temperatura. Do parapeito do corredor era possível observar as várias estantes que se espalhavam como um grande labirinto. E no meio dele, Gwen, de pé, lendo cinco livros ao mesmo tempo. As pilhas de livros que a seguiam agora se encontravam em número de três.

Vai dormir, garota e desaparece da minha biblioteca! ― pensou. E seguiu para seu quarto dando goles um pouco maiores em seu chocolate.

***

Assim que acordou do pouco que conseguiu dormir, Encantriz foi em direção à área comum da biblioteca. Sua esperança: provar para si que essa história de determinação era besteira e que mais cedo ou mais tarde, todo mundo acabava desistindo em algum momento.

Mas não...

Gwen mantinha-se em frente às estantes, com cinco pilhas que flutuavam atrás dela e mais dois livros abertos à sua frente. A jovem usava o dedo indicador direito para acompanhar a leitura pelas páginas, tomando o cuidado para não aproximar demais e acabar atravessando o objeto.

Como!? ― pensou, Encantriz.

Como ela consegue se manter tanto tempo fora de seu corpo?

Pra quê?

Pra quem!?

***

Encantriz já nem fingia mais pra si mesma.

A cada meia hora, ia até sua arqui-inimiga e verificava se ela ainda estava lá, sempre tomando o cuidado para não ser vista. E mesmo que quisesse ser vista, acho que não conseguiria tirar Gwen de sua concentração quase absoluta.

Em uma das vezes ― seria talvez a quarta ou quinta, já tinha perdido a conta ― A feiticeira focou sua atenção nos livros que acompanhavam a jovem: Anatomia humana; Encantos de Rurquart; Fisiologia; A magia cirúrgica; Neuroanatomia; O Tharkiniol; Neurocirurgia; Como invadir a mente e convencer as pessoas a te obedecer em 47 passos ilustrados; Psicobiologia; As bases científicas e mágicas do sono...

De repente, Encantriz começou a notar que a imagem de Gwen começava a ficar levemente apagada. Olhou para o rosto da garota e viu as pálpebras dela começarem a fazer um progressivo movimento de queda, como uma bola que cai e saltita no chão. Ela estava começando a cochilar!

Encantriz olha para os arredores em busca de algo que pudesse chamar a atenção de Gwen, fazer algum barulho, o que for! Foi então que se tocou que se encontrava rodeada de livros. Pegou um grosso de capa dura e arremessou com força no chão. O barulho se propagou em eco por toda a biblioteca.

Gwen se assustou. Seu coração disparou e, principalmente, sua imagem astral voltou à definição de antes.

Encantriz pegou o livro em mãos e passou pelo corredor, ao lado de Gwen, com um ar de desdém. Ao perceber que estava sendo acompanhada pelo olhar da jovem, virou-se e disse:

― O que foi garota? O livro apenas caiu quando eu fui tentar pegá-lo. ― E continuou caminhando com o olhar confuso da jovem lhe acompanhando.

Por que raios eu me justifiquei para ela!? ― pensou.

***

Gwen tirou o olhar dos livros abertos e observou Encantriz se aproximar caminhando pelo corredor com seu cajado em uma das mãos. Quando se encontrava a uma distância suficiente para um educado aperto de mão, parou.

Parada e em silêncio, assim permaneceu por alguns segundos.

Gwen, sem entender nada, apenas a encarava. Será que ela iria enxotá-la da biblioteca de novo?

― Toma ― disse Encantriz. Em sua mão, um livro de capa azul, com a palavra Somnus em letras prateadas.

― Sabe que não consigo tocá-lo ― respondeu Gwen.

Encantriz soltou o livro que flutuou e assim se manteve em frente à Gwen.

― Talvez te ajude no que está procurando.

Gwen apontou para o livro, que se abriu, as folhas foram passando com a ajuda invisível da biblioteca. Nas páginas, constavam exatamente aquilo que ela estava procurando esse tempo todo.

― Para a civilização Ebhardy ― disse Encantriz ― o coma é visto não apenas como uma consequência de um dano neurológico, mas às vezes é a forma que a mente da pessoa encontra para forçar o indivíduo a lidar com seus medos, angústias e aflições.

A jovem levantou o olhar das páginas e disse sorrindo:

― Obrigada, Encantriz.

― Se disser isso de novo eu acabo contigo.

― Uma dúvida: como você sabia que era isso que eu estava procurand-

Encantriz bate seu cajado no chão. Uma luz violeta reveste o ambiente forçando Gwen a sair de seu encantamento.

Ao abrir os olhos, estava de volta à poltrona de acompanhante da Ala Médica. À sua frente, Ben continuava desacordado, ligado à vários aparelhos. Em seu colo, o livro azul da feiticeira.

Gwen sentia-se cansada, mas ao mesmo tempo, algo tomava conta de seu ser e lhe fazia esquecer do cansaço pelo menos neste momento.

Esperança”, uma velha amiga que há algum tempo não aparecia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.