Pedro estava certo em confiar em Leopoldina como sua espécie de tutora, era incrível como ela entendia facilmente dos assuntos que tinha acabado de descobrir, relacionados ao curso dele, e mais incrível ainda era o jeito que ela conseguia explicar tudo para ele de forma interessante. Foi assim que, os dois estudantes passavam um bom tempo juntos, o tempo que estavam em casa ao mesmo tempo, usavam para estudar. É claro que, às vezes, seus assuntos eram um pouco mudados, Pedro contava sobre o Brasil e Leopoldina sobre a Áustria, comparavam  juntos como as coisas estavam mudadas na Europa desde que parte dos Bragança tinham se mudado de Portugal.

Habituada a essa rotina, Leopoldina começou a antecipar os momentos que passava com Pedro, as tardes em que conversavam, riam, discutindo, era quase perfeito. Perfeito porque ela amava uma boa conversa intelectual, e seu amigo, por mais que não fosse exatamente o mais intelectual dos homens, estava realmente disposto a aprender, além de ter um charme próprio que mostrava quando eles mudavam de assunto. Não que Pedro flertasse com ela, ao contrário, ele era bastante respeitoso, talvez porque ela fosse uma hóspede especial em sua casa, mas ele era gentil e engraçado, conseguia a distrair de um jeito bom, dando um pouco de lazer à sua mente pensante. E era tudo isso que Pedro tinha de especial para ela, até que a austríaca percebesse que, talvez estivesse sentindo algo mais que a amizade pelo jovem português.

Um pouco distraída, refletindo justamente nisso, Leopoldina foi pega de surpresa por uma ligação de sua irmã. Deu um sorriso enorme ao atender Maria Luísa.

—Oi, faz um tempo que você não liga, eu comecei a ficar preocupada, não é essa a Leopoldina que eu conheço - a irmã mais velha cobrou dela.

—Hã... Me desculpa, me desculpa mesmo por isso, não foi minha intenção - Leopoldina percebeu seu deslize e tratou de se retratar - é que eu estava ocupada com os estudos e pra ser sincera, não são só meus estudos que estão ocupando meu tempo, eu estou ajudando o Pedro também...

—Espera, Pedro, o mesmo Pedro filho do embaixador, que foi meio... inconveniente com você quando ele foi te buscar no aeroporto? Por que exatamente tá ajudando ele? - Maria Luísa se lembrou do jeito que a irmã tinha descrito o rapaz em conversas anteriores que as duas tiveram, bem diferente de alguém que Leopoldina se aproximaria.

—Acontece que ele é mais legal do que aparenta, quer dizer, no dia que eu cheguei ele estava com um pouco de pressa e tudo mais, foi uma terrível confusão, mas ele foi bem gentil comigo no restante dos dias - Pold foi contando - tá certo que ele realmente tem um jeito bruto, mas ele tem um bom coração, esses dias nós até saímos juntos...

—Saíram juntos? Você tá gostando desse cara? Leopoldina, não esconda a verdade de mim! - Luísa exigiu, achando que a irmã estava escondendo muito mais coisas dela.

—O que? Não, não é nada disso que você tá pensando, você tá enganada, não, não é isso - a mais nova se desesperou, surpreendendo até a ela mesma - você entendeu errado.

—Então me explica por favor - Luísa queria entender o que estava acontecendo.

—Certo, o que aconteceu foi que Pedro me pediu ajuda com os estudos dele, eu virei uma espécie de tutora pra ele, e nós fomos juntos ao Jardim Botânico, falamos sobre botânica, naturalmente - Leopoldina conseguiu voltar a calma e contou o que tinha acontecido.

—E foi só isso que aconteceu? - Luísa ainda tinha dúvidas.

—Foi sim, eu garanto que sim, mas... - a mais nova suspirou - parando pra pensar, eu não sei... Acho que talvez... você tem razão...

—Você acha que gosta desse rapaz? - a irmã quis saber, esperando sinceridade.

—Acho que sim, Luísa, acho que sim - Leopoldina disse com todas as letras, admitindo a si mesma o sentimento que estava começando a desenvolver dentro de si.

—Bom, de qualquer forma, eu só peço pra você ter cuidado e não fazer nenhuma besteira - pediu Luísa - não se esquece do motivo principal de você ter ido pro Brasil, seus estudos e seu intercâmbio, tá bem? Não deixe nada te atrapalhar.

—Não se preocupe, você me conhece, eu não vou esquecer - Leopoldina garantiu.

—Eu confio em você, maninha, você é cheia de bom senso, e não vai perder isso tão fácil assim - Luísa completou - se precisar de mim, não esqueça que eu estou aqui.

—Eu sei, sempre, eu também vou estar por aqui - a mais nova sorriu, grata pelo apoio.

—Se cuida Pold, eu te amo - Luísa foi se despedindo.

—Pode deixar, também te amo Luísa, tchau - Leopoldina desligou.

Sua irmã tinha a deixado com muito mais coisas para se pensar. Ela não podia negar, era a verdade, tinha se apaixonado por Pedro, mas o que isso significaria no futuro, de modo algum Leopoldina poderia prever.