Contato Imediato escrita por wildestfears


Capítulo 1
Contato Imediato (único)


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Essa é a minha primeira história de Stranger Things postada aqui. É apenas um conto curto (ou uma oneshot, como quiser chamar) de uma ideia que eu tive, e acabei me emocionando um pouco ao escrever, por isso tem um final em aberto...

Ah, e é óbvio mas é sempre bom reforçar: eu não possuo Stranger Things ou seus personagens. Todos os direitos reservados à Netflix e aos criadores da série Matt e Ross Duffers. Essa é apenas uma fanfiction, feito por uma fã, com imenso carinho.

Enfim, aproveitem a leitura e depois deixe um comentário dizendo o que achou! ♡

Se quiser algum tipo de contato comigo, me encontre no Twitter: @femdrs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789332/chapter/1

I never gave up on you, I called you everynight for - 353 days, I heard.

Ela dava pequenos passos em direção ao escuro, ao desconhecido. O chão era coberto por água, como um lago muitíssimo raso. Seu coração acelerava, sua respiração vacilava. Ela parecia estar naquele lugar, no fundo de sua mente, onde costumava visitar quando precisava achar alguém. Só que estava sozinha dessa vez, e ela detestava essa sensação.

Até que ela viu ele. No meio do inexistente, do vazio, ela viu a figura dele surgindo de longe, caminhando até ela. Apesar de não entender o que estava acontecendo, logo abriu um sorriso.

Quando o corpo esguio de Michael Wheeler foi se aproximando, Jane Hopper não hesitou em andar cada vez mais rápido para chegar até ele. Ela não sabia o que estavam fazendo alí. Como chegaram alí, se era real, se era um sonho ou um delírio, mas ver ele, depois de tanto tempo, era reconfortante, era bom demais. E depois de garantir que ambos não podiam ficar mais próximos do que estavam agora, Jane observou seu rosto, seus traços físicos. Era ele mesmo. Sua pele pálida parecia real, suas sardas ainda estavam no mesmo lugar. Os olhos negros ainda refletiam a sua imagem. Ela tocou sua pele. Ela respirou fundo então, porque parecia que estavam realmente se tocando, como na vida real.

Mike segurou seu braço e sorria pra ela. Eles se abraçaram. O tempo que eles tinham ficado sem se ver, desde a batalha no shopping e a morte do xerife Jim Hopper, não era nada comparado com o período angustiante que eles passaram quando Jane (quando ainda era somente Eleven) havia sumido diante dos olhos de Mike, e a existência dela tinha fincado uma incógnita na cabeça dele. Mas depois de um tempo, mais precisamente 353 dias, ela voltou pra ele. E agora eles foram separados novamente. Ele em Hawkins e ela em Illinois. Não parecia tão ruim quanto antes, mas ainda era doloroso.

— Isso é um sonho? - Mike pergunta a ela, ainda sorrindo. - eu estou sonhando, não estou?

— Eu não sei. - Jane respondeu, triste. O jeito que Mike a olhara esperançoso, como se esperasse que ela disesse que tinha recuperado os poderes e agora podiam se ver, mesmo que somente dentro de suas mentes. - Mas não parece com nenhum dos sonhos que eu costumo ter. - ela olhou em volta. - Tudo escuro.

— Você sonha comigo? - o rapaz questiona.

— Um pouco. Na cabana. Hopper. Sempre sonho com ele. Como pesadelos. - Jane não gostava de contar a ninguém que constantemente tinha sonhos com Hopper. Sonhos que começavam sempre bem, como eles fazendo torres de waffles com chantilly, mas terminavam sempre horríveis, como ele sendo levado pelos russos, pelos monstros ou por alguém do laboratório. Na maioria das vezes, nunca de forma pacífica.

— Também sinto medo. Tenho a sensação de que ninguém está seguro. - apesar de terem se desprendido do abraço há alguns minutos, Mike apertava a mão dela. Jane retribuía com a mesma intensidade.

— Acho que aqui estamos seguros.

E Jane sorriu, do seu jeitinho, e Mike sentiu seu coração derreter. Ele a beijou suavemente. Não um beijo caloroso como os que trocavam na cabana de Jim Hopper, ou o beijo necessitado que deram na casa dos Byers, no dia em que foram embora de Hawkins. Mas era um beijo terno, com gosto de saudade.

.

Jane Hopper abriu os olhos. Tudo continuava escuro. Quando a sua visão se adaptou à escuridão ela olhou para o relógio ao lado da sua cama. 4h00 da manhã. Ela suspirou e voltou a fechar os olhos, tentando recuperar o sono. E assim, quem sabe, voltar a sonhar.

.

A residência dos Wheeler é sempre muito movimentada todas as manhãs. Karen Wheeler tem o dever de preparar o café da manhã e acordar suas crianças para se aprontarem para seus respectivos compromissos. Ted Wheeler se inclui nesse contexto, apesar de já ser um homem crescido. Todos se reuniram para a mesa do café da manhã, com a exceção de um único integrante.

— Nancy, cadê seu irmão? - Karen se dá conta da ausência do seu filho do meio. Holy continua comendo suas panquecas. Ted Wheeler, bem, tira seus olhos do jornal por míseros instantes.

— Não sei, ele ainda não acordou? - Nancy continua a adicionar as torradas ao seu prato. Karen suspira, abandona a mesa e sobe as escadas como uma mãe que está prestes a dar um bom sermão.

Mike Wheeler ainda está sentado na cama pensando no sonho que teve. Ele tinha sonhado com Jane, e tinha a abraçado, e ela parecia real, as coisas que ela falava pareciam reais. Parecia ela. Não era fruto da cabeça. Sua mãe bate à porta, e ele lhe dá permissão para abrir.

— Por que ainda está de pijama? Você tem aula hoje. É sexta, esqueceu? - Karen mantém uma mão na maçaneta  e a outra no quadril.

— Tive um pesadelo. Só isso. - o garoto responde. Sabia que se contasse à mãe a verdade ela não entenderia. Francamente, nem se ele contasse ao grupo eles o entenderiam. - Já estou indo.

Satisfeita, sua mãe fechou a porta. Ele deitou na cama novamente, parecendo surgir uma ideia na sua mente.

.

— Eu tô falando, Max! Vai ser um dos melhores filmes do ano!

— Ah cala essa boca! É nojento! Eu não vou assistir essa merda. Ferris Bueller's Day Off, esse é O filme.

Max olha pra Dustin, que concorda com a cabeça imediatamente.

— Viu?  - Max provoca, e Lucas revira os olhos.

— E o que diz, paladino? Qual vai ser o melhor filme do cinema de 1986? - Dustin pergunta a Mike. Claramente não era uma discussão importante pra ele, que já tinha iniciado o dia com outras coisas em mente.

— Não usamos mais esses apelidos, ok? - ele olha de relance pra Max, como uma referência à sua autonomeação de "zoomer".

— Só por que Will não está mais aqui não significa que não vamos mais falar de D&D, não é como se ele tivesse morrido! - Lucas declara, ganhando um empurrão de Max e uma expressão facial esquisita de Mike.

— O que há com você, hein? Tá meio sério hoje. A gente estava pensando em ir ao fliperama hoje à tarde. - Lucas convida.

— Ao fliperama, sério? - Mike pergunta carrancudo, mas depois ri. Dustin e Max riem também. - Ok, ok… olha, eu não sei se vai dar, acho que vou fazer outra coisa hoje à tarde.

— Tipo o quê? - Lucas questiona.

— Nada demais. Eu… vou ajudar Nancy com uns problemas da faculdade. - Mike se amaldiçoou internamente. Sabia que era um desculpa péssima, até porque nem era tão caridoso com Nancy assim, e não é como se ela precisasse de ajuda com alguma coisa.

— Quê? Ajudar a Nancy? Mas… - Lucas exclama porém Max o interrompe:

— Tudo bem então, se você quiser nos fazer companhia sabe onde estaremos. - Max disse por fim, como se entendesse Mike, e o que ele queria fazer. Ele agradeceu-a mentalmente, talvez desejando que ela tivesse capacidades telepáticas. Dustin e Lucas se olharam desintendidos.

.

Jane Wheeler era muito fã de literatura. Era a sua matéria favorita, a fazia lembrar das novelas que assistia na TV na cabana. Isso poderia entristecê-la, mas ela escolheu ficar feliz com os momentos nostálgicos. Entretanto, ela estava estudando física, e isso a matava por completo. Apesar dos reforços que Will Byers, agora seu meio-irmão, a dava, ela ainda sentia dificuldades e às vezes gostaria que equações matemáticas fossem resolvidas com a ajuda dos seus poderes psiquícos. Mesmo que isso fosse possível, eles a tinham abandonado há muito tempo.

Ela pegou um elástico azul do braço, que Hopper lhe dera, para amarrar o cabelo. Ela nunca o usava para esse propósito, porque sabia do valor sentimental do mesmo, tanto para ela, tanto para o seu falecido pai adotivo, Jim Hopper. Mas os seus cabelos estavam caindo no rosto, e ela sabia que se distraíria fácil se fosse buscar um outro elástico no quarto. Era esquisito a sensação de ter cabelos longos, pois agora isso a fazia se sentir verdadeiramente bonita.

— Hey! - Will tinha acabado de chegar do colégio. Jane acenou com a cabeça e deu um sorriso. Ela gostava da companhia dele. Era como ter um pedaço de Hawkins e da sua turma, alí, com ela. Em seguida, a mãe do garoto, Joyce Byers adentrou a sala. Ela afagou os cabelos ondulados de Jane, cumprimentando-a, depois se afastando para outro cômodo da casa.

— Como foi seu dia na escola? - Jane sempre perguntava a Will, ela sentia muita curiosidade em ir a uma escola, como uma jovem normal.

— Comum, como todos os outros. Mamãe e eu passamos na locadora para alugar um filme para assistirmos hoje à tarde, o que acha? - Ele se voltou à mesa, coberta de livros e cadernos de Jane, após jogar sua mochila em algum canto da casa. Will ainda estava se acostumando com a ideia de morar junto a Jane, "Eleven", mas não lhe restava outra opção além de compartilhar com ela seus gostos e hobbies.

— E Jonathan? - ela pergunta, tinham o costume de assistir com ele também.

— Ah, querida, ele vai ficar alguns dias fora da cidade por conta daquela oportunidade de emprego, lembra? - Joyce respondeu da cozinha.

Jane e Will ficaram em silêncio. Ele observava os estudos de Jane. Sabia que ela era esforçada, mas percebia sua dificuldade. Ele mesmo tinha perdido muito do seu rendimento acadêmico após os traumas vivenciados. Não era fácil viver com medo. E ele entendia Jane, que passara a vida toda sentido esse tipo de coisa. Agora, olhando pra ela, parecia pensativa.

— Will… você acredita… que as pessoas têm um tipo de… conexão? - depois de alguns segundos, Jane começou a falar pausadamente, como se pensando em cada palavra, num tom muito baixo, quase sussurrando. Will ouviu com atenção, e franziu o cenho. Aproximou seu corpo mais da mesa, para falar mais perto de Jane.

— Que tipo de conexão? - ele pergunta com curiosidade. Jane abaixa os olhos.

— Como… como você e a sua mãe, quando se falaram com as…

— As luzes. Entendi. - ele finalizou sua fala, com pressa, como se para raciocinar algo. Jane voltou seu olhar para ele. - Você acha que tem esse tipo de conexão com alguém? - ele questiona a garota.

— Ah, droga! Crianças, precisamos ir ao supermercado! - Joyce grita da cozinha.

Jane, por fim, nega com a cabeça a pergunta de Will. Ela diz que é só uma curiosidade que teve. Fechou seus livros e guardou seus cadernos. Will estranhou sua atitude, mas resolveu ignorar.

.

Mike Wheeler largou sua inseparável bicicleta no chão assim que chegou na cabine telefônica, consumido por uma ansiedade que fazia tempo que não sentia. Ele depositou as moedas e discou o número. Enquanto o telefone chamava, parou um pouco pra respirar. E esperou. E esperou mais um pouco. Esperou ainda mais. Porém nada. Ninguém na outra linha o atendeu.

— Droga! - exclamou o garoto, mais triste do que bravo, porque queria muito falar com Jane. E essas eram as últimas migalhas da sua mesada. Não havia sobrado nem dinheiro para enviar uma carta. Ele sorriu com a possibilidade de enviar cartas a Jane Hopper. Decidiu que não havia mais como tentar ligar para a residência dos Byers em Illinois, e foi direto para casa. Infelizmente, agora a sua única esperança era dormir de novo e ter o mesmo sonho novamente.

Em Illinois, Jane Hopper sentia o mesmo.

.

"Olá!"

Jane estava tendo o mesmo sonho. Estava exatamente no mesmo lugar. Agora ela gritava, chamando por alguém, ansiosa, de que ele estivesse lá. Mas ele ainda não havia aparecido, e ela estava ficando preocupada. Ela continuou andando no escuro. E ela viu algo distante. Por instinto, desconfiou não ser Mike. Quando se aproximou, por cautela, ela viu um homem grande, com roupas grossas e quentes, com um chapéu engraçado. Estava sentado, arfando, como se estivesse cansado. Pela lógica, ela não o conhecia. E como no outro sonho conseguia conversar com Mike, sentiu medo de chegar perto do homem e ele conseguir vê-la.

Pela emoção, ela mesmo assim se aproximou, porque no fundo, ela sentia que devia olhar seu rosto. Receosa, foi chegando cada vez mais perto. Primeiro, ficou ao seu lado, esperando que ele a notasse, mas não o fez. Depois, aos poucos, foi ficando frente a frente com ele.

Finalmente, sua pupila dilatou. Suas mãos ficaram suadas. Seu coração começou a bater tão rápido que parecia fazer pressão na sua caixa toráxica. Era ele. Seu pai. Não Papa. Não Dr. Martin Brenner. Era Jim Hopper. O seu pai. Por coincidência, ele ergueu a cabeça nesse exato instante. Estava diferente, sem barba, mas ainda era ele. Seu olho se encheu de lágrimas e, por impulso, ergueu a mão para encostar nele, mas a sua imagem se diluiu feito uma nuvem de fumaça. Ela chorou ainda mais. Não sabia o que aquilo significava. Se era um sonho, se era real, se ele estava vivo, ou se era só mais um dos seus pesadelos.

— Jane?

Ela escutou seu nome ser chamado. Quando olhou para trás, era Mike, alí estava ele de novo. Por mais que amasse Mike, e amasse também o fato de ele estar alí, podendo vê-la e tocá-la, naquele momento tudo o que ela desejava era ver seu pai. Mike percebeu sua cara vermelha de choro e se preocupou instantaneamente.

— El? O que aconteceu, El? - ele correu para abraçá-la. Ela decidira que gostava de seu nome Jane, e Mike respeitava isso, mas às vezes, em momentos frágeis como esse, ele deixava escapar e chamava-a pelo nome o qual a conhecera.

— Eu vi ele, Mike. Eu vi. - seu abraço com Mike ficava cada vez mais apertado, como se ela descontasse toda a sua emoção num único gesto. Mike esperou ela se acalmar um pouco.

— O Devorador de Mentes? O Demogorgon? O seu… os homens maus do laboratório? - ele perguntava aleatoriamente, só queria que ela lhe respondesse alguma coisa, só queria que ela ficasse calma.

— Hopper. Eu vi ele. - ela disse e os dois, ainda abraçados, foram se agachando até ficarem ajoelhados no chão, onde se desprenderam do abraço. Mike fazia uma expressão de perdido, incrédulo.

— Você viu ele como está me vendo agora? - o rapaz segura a mão de Jane, que está tremendo. Ela fixa seu olhar no dele, como se implorasse para que ele acreditasse.

— Não. Diferente. Ele está diferente. Ele não conseguiu me ver. Foi como… como quando eu procurava as pessoas dentro da minha mente, quando eu tinha os meus poderes. - com essa declaração, Mike fez uma cara de espanto. Para a surpresa de Jane, ele esboçou uma cara alegre em seguida.

— Então isso aqui pode ser real. Podemos estar na mente um do outro agora ou… seus poderes podem ter voltado ou, não sei, El, eu tentei ligar para a tia Joyce hoje para falar com você sobre isso mas… é surreal. Isso é surreal. Não quero acordar e ter de me convencer de que é uma mentira. - Mike falava como uma metralhadora de palavras, Jane abriu um pequeno sorriso.

— Acho que estamos conectados. - ela disse, mas em seguida voltou a chorar. Mike afagou-a no seu peito, ainda ajoelhados no chão molhado daquele lugar escuro. - Eu só queria saber se ele está vivo. - ela suplica.

— Eu estou aqui. Eu tenho certeza que estou aqui. Então também tenho certeza que o que você viu é real. Mesmo sem os seus poderes, você ainda consegue encontrá-lo… - Jane silencia seus pensamentos por agora. Ela se conforta com as palavras de Mike. Por fim, antes de acordar e de tudo isso se desmanchar, ela descansa a cabeça no peito de Mike, onde consegue ouvir seu coração batendo. Então ela diz:

— Acho que estamos todos conectados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui já tem o meu agradecimento. Por favor, deixe sua opinião sobre a história!

Se quiser algum tipo de contato comigo, me encontre no Twitter: @femdrs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contato Imediato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.