A volta dos alunos do quinto ano após o recesso foi marcada por um aumento radical na dificuldade das aulas.

Parecia que apenas naquele momento o ano tinha de fato começado. Apesar de estarem reclamando desde setembro, os meses anteriores pareciam manhã de Natal comparados ao que foi apresentado para eles em janeiro, fevereiro e março.

Kira, sempre muito sensível, começou a ter crises de choro esporádicas, saindo duas vezes da aula de Poções na mesma semana depois do professor Snape apenas olhar para ela, o que o deixou com uma expressão confusa ao qual Scarllet teve que se segurar muito para não rir, ao mesmo tempo que se compadecia com a amiga. Scott Gowen, colega de quarto de Kai e batedor do time da Grifinória, apresentou um problema de soluços nervosos que o fazia ter que ir para Ala Hospitalar dia sim, dia não, pois além de desconcentrar-lo nas aulas, o fez errar um feitiço na aula de Feitiços e sumir com as sobrancelhas de uma aluna da Corvinal. Katherine Watson, colega de dormitório de Kira e Scarllet e artilheira do time, não podia ver a professora McGonagall ou escutar a voz dela que tinha sobressaltos, o que levou-a a sala da diretora da Grifinória várias vezes, preocupada com a aluna.

Madame Pomfrey devia ter feito um estoque das poções para sua gastrite nervosa também, Scarllet tinha certeza, além das poções calmantes corriqueiras para essa época. Pois toda terça, quinta e sexta, após os fracassos de suas aulas de Herbologia, a garota ia direto para lá com suas queimações no estômago e enjoos. As vezes segurava até o fim do período, às vezes não. Às vezes tinha vontade de chorar junto de Kira.

Kai, diferente de todo mundo, parecia bastante calmo. Mas as amigas o incentivaram a manter uma agenda ou comprar um lembrol quando ele começou a sobrecarregá-las com seus pedidos para lembrá-lo das coisas. A memória do Stom já não era das melhores, porém parecia piorar conforme era exigido que guardasse mais e mais matérias em sua mente. 

Quando abril chegou, os dias pareciam cada vez mais compridos e os meses cada vez mais curtos, a Grifinória permanecia na frente do Campeonato de Quadribol, mas na lanterna do Campeonato das Casas e os alunos do quinto ano começaram a ter orientação vocacional com os diretores de suas casas logo depois da Páscoa.

A de Kai foi numa terça-feira a tarde, fazendo-o quicar de felicidade por perder parte da aula de Poções. O garoto queria seguir carreira como jogador de quadribol profissional, mas sabia as dificuldades que alcançar esse objetivo teria. Seu plano B, segundo tinha contado para as amigas, era trabalhar com criaturas mágicas, sua segunda maior paixão depois do quadribol.

A orientação de Kira foi no hora final da aula de Feitiços de sexta-feira, fazendo-a deixar a sala um pouco antes de todo mundo. A aspiração da Tuner era ser curandeira, mesmo andando muito nervosa com a possibilidade de não conseguir os N.O.M.s necessários para isso. Scarllet teria sua orientação logo depois da amiga, o que a levou em direção a sala da professora McGonagall, se despedindo de Kai na saída da aula e Feitiços, tão logo a aula terminou. 

Ficou alguns minutos do lado da porta, esperando Kira sair. Quando a porta se abriu, ela abriu a boca para fazer uma graça para a amiga, mas franziu o cenho em seguida, encarando a expressão de Kira de quem tinha visto um fantasma.

—O que houve? -ela perguntou.

—Dumbledore. -a amiga respondeu em um fio de voz.

—Como assim? -Scarllet perguntou ainda mais confusa

Kira apenas fez um sinal para Scarllet entrar de uma vez e a ruiva obedeceu levantando uma sobrancelha. Mas sua confusão logo se desfez quando entrou na sala, pois não era a professora McGonagall que a aguardava atrás da escrivaninha de mogno.

—Boa tarde, senhorita Wolfgan. -a voz clara e calma de Albus Dumbledore cumprimentou.

—Bo-boa tarde, professor. -Scarllet se atrapalhou com as palavras, arregalando os olhos em surpresa. 

Dumbledore sorriu bondoso, indicando a cadeira a sua frente.

—Deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui. -ele disse com uma risadinha. -Minerva teve alguns problemas e precisou se ausentar e eu estou fazendo o favor de substituí-la nas orientações essa tarde.

Scarllet abriu a boca para fazer uma pergunta que não saiu. Pensou em perguntar por que não outro professor e sim ele. Pensou em perguntar se a professora McGonagall estava bem. Pensou em perguntar se isso não tornava injusto as orientações dos outros alunos. Pensou em várias outras perguntas. Mas o simples fato de estar a sós em uma sala com Albus Dumbledore tirou-lhe a fala e ela com facilidade entendeu a expressão de Kira ao sair do encontro com o mago. Apesar da idade, Dumbledore tinha um ar imponente e poderoso, mesmo com o sorriso bondoso e os olhos azuis cintilantes por trás do oclinhos de meia-lua.

O diretor de Hogwarts aguardou um momento, mas como Scarllet permaneceu calada, ele seguiu:

—Certo, senhorita Wolfgan… A senhorita tem alguma ideia da profissão que deseja seguir quando deixar nossa querida Hogwarts? 

—Hã… Bem… -a ruiva continuou atrapalhada com as palavras antes de conseguir colocar alguma ordem em seus pensamentos. -Eu estive pensando que gostaria de, talvez, seguir carreira no ramo de poções, senhor.

Dumbledore sorriu gentil.

—Gosta muito de poções, senhorita Wolfgan? -perguntou.

—Bastante, senhor. -ela declarou. -Mesmo quando era pequena, antes de entrar em Hogwarts, já gostava.

—Certo. -ele assentiu. -Se é isso que deseja, é exigido um mínimo de quatro N.I.E.M.s e nenhuma nota abaixo de “Excede Expectativas”. Depois disso, é necessário um curso de quatro anos para conseguir um certificado que te torne apta a trabalhar em qualquer área desejada dentro do ramo de poções, de pesquisa a docência.

Scarllet ouviu quieta, apenas assentindo.

—Suponho que gostaria de saber as matérias que terá que fazer? - perguntou Dumbledore, o sorriso não deixando seu rosto.

—Sim, senhor - ela respondeu.

—Poções, naturalmente, Herbologia, Astronomia e Feitiços. Eu também aconselharia a não deixar de lado Trato de Criaturas Mágicas e Runas Antigas, se aceita minha opinião. O professor Snape não aceita alunos com média abaixo de “Ótimo” em sua turma de N.I.E.M.s, em Feitiços, Runas Antigas e Trato de Criaturas Mágicas, é exigido “Excede Expectativas. Mas as professoras Sprout e Sinistras estão felizes com um “Aceitável” em suas matérias. -informou. -Mas, pelo que vejo de suas notas, senhorita Wolfgan, não haveriam muitas dificuldade para atingir seus objetivos. 

—O-obrigada, senhor – agradeceu, corando pelo elogio.

Dumbledore assentiu.

—Ficou alguma dúvida? -perguntou educadamente.

—Na verdade… -Scarllet hesitou -Tenho muitas.

—Suponho que nenhuma em relação aos N.O.M.s e os N.I.E.M.s. -estimou Dumbledore 

—Não. -Scarllet admitiu culpada. -São sobre o curso e as possibilidades de carreira.

—Eu tenho algum conhecimento sobre isso, senhorita Wolfgan. -Dumbledore confirmou -Porém, temos um Mestre de Poções no castelo que com certeza esclareceria com muito mais vivência do que eu o que a senhorita gostaria de saber. Assim como encaminhei a sua amiga, a senhorita Tuner, para uma conversa com Papoula, creio que possa pedir para que o professor Snape ceda um pouco de seu tempo para esclarecer suas dúvidas.

Scarllet arregalou os olhos com a sugestão do diretor.

—Nã-ão há necessidade, professor! -gaguejou.

O sorriso de Dumbledore se modificou, como quem sabe um segredo e está prestes a revelá-lo. 

—Não creio que o professor Snape vá se incomodar em ceder alguns minutos de seu tempo para uma aluna aplicada como a senhorita. -Dumbledore insistiu

—Desculpe, senhor. -Scarllet pediu -Mas eu acredito no oposto.

Dumbledore deu uma pausa, olhando-a por cima dos oclinhos de meia lua. Scarllet pensou por um momento que o diretor podia ler pensamentos.

—Minha querida… -ele recomeçou bondoso -Severus não é um dragão de três cabeças incompreensível que só sabe soltar chamas para aqueles que lhe dirigem a palavras.

Um sorrisinho involuntário dançou nos lábios de Scarllet com a afirmação do diretor. Ela não comentou nada, mas para ela e noventa e nove por cento dos alunos essa seria a representação perfeita do professor Snape.

—Eu não sei, professor… -Scarllet hesitou, a curiosidade de ter suas dúvidas sanadas por alguém que tinha amplo conhecimento do assunto era grande, mas se esse alguém era Snape...

—Eu insisto. - disse Dumbledore disse por fim.

Scarllet refletiu por um momento, levantando os prós e os contras. Os contras pesavam em seu estômago, principalmente a última vez que ficou sozinha com o professor em uma sala, na detenção do Dia das Bruxas. Porém, a curiosidade e a sede de conhecimento, sua vontade de saber mais, de conhecer e se preparar para seu futuro eram maiores de que seu medo. Ela era uma Grifinória, no fim das contas.

—Está bem, professor - concluiu, suspirando.

—Certa, senhorita - disse o professor parecendo contente com sua decisão - Falarei com Severus. Creio que nosso encontro está concluído.

OoOoOoOoOoOoOo

O sábado amanheceu ensolarado, fazendo a maioria dos alunos deixarem os Salões Comunais e a Biblioteca de lado e irem aproveitar os terrenos da escola. Os alunos do quinto e sétimo anos não foram uma exceção, apesar dos narizes ainda grudados nos livros se preparando para seus exames de N.O.M.s e N.I.E.M.s, respectivamente.

Kai, Scarllet, Kira, Katherine e Scott tinham acabado de almoçar e estavam saindo do Salão Principal para os terrenos. Kai havia marcado um treino de quadribol com a equipe e Kira e Sacrllet levavam seus livros para assistir e estudar das arquibancadas, quando uma aluna pequenininha e bonitinha do primeiro ano da Grifinória, de grandes olhos de negros e cabelos castanhos, parou em frente à eles.

—Você é Lily Wolfgan? -ela perguntou numa voz fininha, corando, para a mais velha -E você Kira Tuner? -se virou para a morena.

—Sim. -Scarllet e Kira responderam em uníssono, a ruiva fazendo uma careta ao ouvir seu nome.

—O-o dire-to-or pediu para e-eu entregar para vo-cês. -a garotinha gaguejou, estendendo dois pedaços de pergaminho com os nomes delas gravados em uma letra elegante do lado de fora.

Cada uma das garotas pegou o pergaminho com seu nome e agradeceram a menina, que saiu correndo envergonhada. Kai olhou-as com ar interrogativo. Kira corou, tornando a andar e foi seguida pelos amigos.

—O professor Dumbledore fez questão que eu tivesse uma segunda orientação com a Madame Pomfrey. -ela disse sonhadora -Disse pra vocês ontem. Deve ser o horário para falar com ela.

—Ah, é… -Kai concordou -E Scar não está satisfeita com o tempo que passa nas masmorras em aulas com o Snape e vai bater mais um papinho com ele.

Scarllet revirou os olhos.

—É uma situação em que se faz necessário, Kai. -ela respondeu. 

—Claro, claro. -Kai fez um aceno com a mão. -Só espero que ele não tenha outra síncope.

—Desnecessário. -Scarllet resmungou.

Katherine e Scott os fitaram sem entender, mas Kai deu de ombro e continuou andando. Chegaram ao estádio de quadribol e os membros da equipe entraram no vestiário enquanto as garotas iam para as arquibancadas. Kira abriu sua carta tão logo sentaram-se e Scarllet acabou por fazer o mesmo.

Cara Senhorita Wolfgan

Venho por meio desta informar-lhe que é esperada pelo Professor Snape nas masmorras na segunda-feira às 20h.

O Professor Snape pede que não se atrase.

Albus Dumbledore.

Scarllet suspirou, suprimindo a lembrança do dia da detenção em sua mente, não precisava da lembrança dele a expulsando aos gritos da sala para atrapalhar sua coragem.

No fim, Scarllet acabou não estudando muito, excerto por tirar algumas dúvidas de Kira sobre Transfiguração e Poções dos textos que a morena lia. Enquanto via a goles passar entre os artilheiros do time da Grifinória, Kai coordenar o treinamento,  Miranda desviando de balaços lançados pelos irmãos Gowen enquanto tentava localizar o pomo de ouro, ela pensava na orientação que teria com Snape e em que tipo de perguntas faria para ele, começando a anotar as mesma em um pedaço de pergaminho.

Domingo foi um dia tão agradável quanto sábado e dessa vez os grifinórios resolveram usar a beira do lago para estudar, reunidos em um grande grupinho do quinto ano, fazendo perguntas um para os outros. Scarllet permanecia muito imersa nos próprios pensamentos, mas os amigos viviam a trazendo de volta sempre que precisavam de ajuda com algo que ela era realmente boa. A garota também acabou se aproveitando dos conhecimentos de Marta Smaler, sua colega de quarto, em Herbologia. Mesmo sua déficit sendo mais prática do que teórica, ela sentiu que sanou algumas dúvidas importantes.

Kira, logo depois do almoço, os abandonou. Sua segunda orientação com Madame Pomfrey havia sido marcada para o domingo por ser um dia mais tranquilo na Ala Hospitalar e por lá a garota ficou por uma longa parte da tarde. Os amigos só tornaram a vê-la quando subiram para deixar os materiais nos dormitórios antes do jantar e ela tinha um sorriso tão sonhador no rosto que deixou Kai e Scarllet felizes por ela sem nem mesmo saber o que ela tinha discutido com a curandeira.

Parecia que o tempo bom havia chegado para ficar e os alunos consideraram um disperdicio ficarem trancados nas salas quando chegou segunda-feira, mesmo que não tivessem opção. O quinto ano da Grifinória e da Sonserina ainda pode aproveitar um pouco do bom tempo antes do almoço com a aula de Trato de Criaturas Mágicas, onde estavam estudando tronquilhos, mas logo depois foram fechados nas masmorras, o que acabou com o bom humor adquirido por todos no período do lado de fora das paredes do castelo.

O professor Snape estava particularmente mal humorado também, mas continuava sua política de ignorar Scarllet em sala de aula. Também havia adquirido o bom senso de evitar olhar demais para Kira, querendo evitar os rompetes de lágrimas que ele com certeza considerava desagradáveis. Não deixava seus comentários ácidos de lado, contudo. 

A última aula do dia, Feitiços, passou tão rápido que quando Scarllet deu por si já estava jantando com os amigos e rindo do último incidente que os soluços de Scott causou. O garoto estava corado até as pontas das orelhas, mas ria também, deixando o clima confortável e dissipando a tensão acumulada pelo dia pesado de estudos.

—Scar… -chamou Kira lá pelas tantas, quando a garota já devorava a sobremesa com prazer.

—Hum? -ela perguntou saboreando seu bolo de chocolate.

—Você não tinha que estar às 20h na sala do professor Snape? -ela perguntou baixinho.

A ruiva franziu o cenho, se lembrando da sua orientação apenas naquele momento.

—Que horas são, Kira? -ela perguntou em um lamento.

—Se você correr, assim, muito… -Kira fez uma expressão de compadecimento -Você chega na hora.

Scarllet bufou, largando seu pedaço de bolo de chocolate e resmungando um obrigada para a amiga. 

Chegou à porta da sala de Snape ofegante e nervosa, sem nem se atrever a olhar para o relógio. Colocou as mãos nos joelhos e respirou fundo algumas vezes antes de se endireitar e bater na porta, recebendo um "Entre." seco do professor. Acatou a ordem depois de hesitar um segundo, engolindo em seco.

O professor Snape estava sentado atrás de seu escrivaninha. A sala não havia mudado muita coisa desde a última vez que viera ali, exceto por não ter mais as bacias das vagens e dessa vez haver uma cadeira de frente para o Mestre de Poções.

—Está atrasada, senhorita Wolfgan. -repreendeu secamente o professor -Eu não tenho a noite toda para responder suas perguntas, então sugiro que sente-se e as faça de uma vez.

Scarllet mordeu a língua, engolindo a resposta que gostaria de dar e obedeceu ao professor, murmurando um pedido de desculpas. Alguns segundos se passaram com ela encarando as mãos em seu colo, procurando como começar o diálogo, mas Snape pareceu se irritar e se pronunciou antes: 

—Senhorita, como já disse, eu não tenho a noite toda!

Scarllet respirou fundo.

—Desculpe, professor. -ela pediu novamente reunindo toda a paciência que nem mesmo sabia ter -Em nenhum momento minha intenção foi ser um incômodo. Eu gostaria de saber mais detalhes sobre o curso de poções e carreira.

—Creio que o professor Dumbledore já tenha me dito isso, senhorita - respondeu o professor em tom ácido.

Scarllet subiu os olhos para os de Snape, estreitando os seus. O arrepio conhecido quando seus olhos se encontravam subiu sua coluna, mas ela sustentou o olhar. Pensou em começar uma discussão, mas desistiu. Ela de verdade queria respostas e sabia que, querendo ou não, Snape era sua melhor opção para tê-las. Tirou um pergaminho de dentro do bolso interno de suas vestes e o estendeu para o professor.

Snape levantou uma sobrancelha, estendendo a mão e pegando o pergaminho. Desdobrou-o e começou a lê-lo. Scarllet havia elaborado uma lista organizada por tópicos de todas as dúvidas que haviam ocorrido desde sua orientação com Dumbledore.

—Certo… -o professor começou depois de alguns poucos minutos de leitura e Scarllet teve a sensação que sua voz se amansou, assim como quando ele começava a falar sobre poções em aula -Vamos começar do começo: Para ingressar no Curso Avançado em Poções da Academia de Estudos Avançados em Poções e Elixires Europeia, como diz aqui que é sua ambição, é necessário que a senhorita saia do sétimo ano com Excede Expectativas, no mínimo, nos N.I.E.M.s de Poções, Herbologia, Astronomia e Feitiços. Eu particularmente recomendo um estudo mais aprofundado de Runas Antigas também, pois é uma das matérias dadas no curso e o pré-conhecimento das mesmas traria um adianto para a senhorita. Trato de Criaturas Mágicas é recomendável, mas dispensável se você não vai lidar diretamente com o recolhimento de matéria para as poções.

“O Curso tem a duração de quatro anos e vai ter como principal objetivo orientar no preparo de poções mais avançadas, no manejo de ingredientes mais perigosos e na introdução e avanço na realização de pesquisa em novas poções. Existem na grade curricular de matérias voltadas para a aplicação de plantas, ingredientes de origem animal, mineral, mágica, trouxa, feitiços para poções, além da já mencionadas runas direcionado para poções e pesquisa de novos usos de ingredientes e até mesmo utilização de ingredientes já conhecidos para novos fins, além de um aprofundamento em utensílios e suas utilidades e aplicações. Também existem matérias voltadas para pesquisa de campo e orientação didática.

O curso é de período integral, assim como Hogwarts, e oferece bolsa para os alunos que têm melhor desempenho nos N.I.E.M.s. Mas a instituição não é um internato como aqui, permitindo os alunos voltarem para casa via pó de Flu ou aparatação.”

—Certo, senhor. –Scarllet disse quando Snape deu uma pausa, voltando seus olhos para a pergaminho dela para saber se havia esquecido alguma pergunta.

—Após os quatro anos e a conclusão do curso, é possível entrar com uma solicitação junto ao ministério para conseguir o título de Mestre em Poções. –ele continuou depois de assentir, voltando os olhos para a aula –O candidato vai precisar apresentar um projeto de pesquisa e solicitar acompanhamento de um Mestre de Poções licenciado para acompanhar o projeto, para evitar fraudes, plágios, obter orientação e acompanhamento. O título só é alcançado se o candidato conseguir resultados positivos dentro do projeto e que causem boa impressão e alguma mudança significativa dentro da Academia.

—Certo... –Scarllet emendou quando ele deu outra pausa.

Um sorriso fino se desenhou nos lábios do homem e Scarllet arregalou os olhos.

—Mas existe outra forma também, senhorita Wolfgan. –ele disse, a voz aveludada embebida por aquela forma de falar cheia de segredos que ele só contaria para os que realmente queriam aprender, o que prendeu por total a atenção da ruiva –Quando se termina o segundo ano do curso, é possível fazer a solicitação no Ministério da Magia do que se é chamado de “estágio”. O aluno vai terminar sua formação sob a supervisão e orientação direta de um Mestre de Poções, que o terá como pupilo, ao mesmo tempo que desenvolve o projeto de pesquisa para se candidatar ao título de Mestre de Poções, alcançando os dois objetivos simultaneamente.

—Oh! –Scarllet exclamou, impressionada –E porque isso é uma segunda alternativa, e não uma primeira?

—Primeiro que não existem Mestre de Poções suficientes para atender uma demanda se todos que estudam poções quisessem fazer dessa forma. –Snape respondeu –A Academia de Estudos Avançados em Poções e Elixires Europeia é uma das únicas academias bruxas que forma profissionais em poções do mundo bruxo, portanto, o número de especialista é escasso. –ele deu uma pausa, observando Scarllet concordar –Em segundo lugar, é uma incerteza. Em quatro anos, se sai com um certificado que comprova suas habilidades e pode tentar o título de Mestre, demorando quanto tempo se fizer necessário. Ao escolher pela segunda alternativa, enquanto não tiver o título de Mestre, não se tem um certificado que comprove suas habilidades. E isso pode demorar um mês, seis meses, dois anos ou dez.

Scarllet assentiu devagar, entendendo o que o professor queria dizer. Snape voltou os olhos para o pergaminho mais uma vez e, enquanto o ele relia um novo tópico para dar continuidade, Scarllet se pegou notando como estava sendo muito mais agradável de se manter a conversa do que ela imaginava.

Pelas horas que se passaram, o professor Snape continuou a sanar suas duvidas, com muito mais participação dela na conversa a partir do momento que ela notou que ele permitiria que ela falasse também. Dado momento, as perguntas do pergaminho acabaram, mas a garota continuou a levantar novos questionamentos, despejando-os no professor que os respondia prontamente.

Quando deram por si, as badaladas do relógio anunciaram que era meia-noite.

—Creio que nossa conversa tenha se estendido um pouco demais, senhorita Wolfgan. –o professor disse após a décima segunda badalada, mas não parecia irritado ou a estar repreendendo. Pegou uma pena e um pergaminho e o preencheu rapidamente, tocando-o com a varinha –Por hoje, paramos por aqui. Mas se tiver qualquer outra dúvida, me procure após as aulas.

Scarllet assentiu e o professor se levantou, gesto imitado pela aluna.

—Se Fich a pegar pelo caminho, entregue isso a ele. –o professor estendeu o pergaminho, que Scarllet reconheceu como uma permissão para andar pela escola após o toque de recolher.

—Certo, obrigada pelo seu tempo e conhecimento, professor. –ela agradeceu.

—Por nada, senhorita Wolfgan. –ele respondeu e Scarllet se perguntou se o levantar no canto do lábio dele era sua imaginação ou era mesmo um sorriso.

Chegaram até a porta e Scarllet hesitou por um momento.

—Professor? –ela chamou.

—Sim? –ele perguntou olha-a com uma sobrancelha arqueada.

—Posso fazer uma última pergunta? -ela questionou ainda hesitante.

Snape a olhou ainda com a sobrancelha arqueada.

—Rápido. -permitiu.

—O senhor escolheu fazer os quatro anos ou pediu o estágio? –ela perguntou curiosa.

Snape solto uma risada seca pelo nariz.

—Pedi o estágio, senhorita Wolfgan. –ele respondeu –Fui o mais jovem bruxo a conseguir o título de Mestre de Poções aos vinte anos, apresentando a poção do meu projeto três meses após o pedido de estágio.

—Oh! –Scarllet exclamou, impressionada e voltou a perguntar, ainda mais curiosa –E qual foi a poção que o senhor criou?

Snape franziu o cenho e Scarllet achou que havia ido longe demais com suas perguntas, levando-o a voltar a ser o professor carrasco de sempre. Mas a expressão dele logo relaxou e ele respondeu:

—Poção Modo Altiorem. –foi a vez de Scarllet de franzir o cenho e Snape deu um sorriso sarcástico –Oh, a senhorita não conhece? Pois bem: Quero que me entregue um relatório sobre ela.

—Mas... Professor...!

—Valendo pontos extras, senhorita Wolfgan. –ele concluiu.

Scarllet abriu a boca e fechou três vezes antes de entender o que o professor estava propondo: A chance de recuperar os pontos que ele injustamente tirou dela durante todo o ano. Ela ainda chocada, acenou positivamente com a cabeça.

—Boa noite, senhorita Wolfgan. –ele desejou, indicando a saída com a cabeça.

—Boa noite, professor Snape. –Scarllet respondeu um tanto confusa, saindo da sala.

Enquanto andava pelos corredores das masmorras e subia em direção ao Salão Comunal da Grifinória, Scarllet sorriu. Nunca pensou que pensaria aquilo, mas até que Snape não era tão ruim assim.