I'm With You escrita por KL


Capítulo 4
Capítulo Três: A Queda




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Scarllet só notou que estava sangrando quando parou de correr, já no saguão de entrada.

Suas mãos tremiam e ela demorou um momento para entender da onde vinha todo aquele sangue. Ainda ofegante e com a mente confusa pela cena que acabou de presenciar, suas pernas mecanicamente a levaram para a Ala Hospitalar.

Madame Pomfrey a acudiu conjurando um balde tão logo a viu e Scarllet despejou todo o conteúdo do seu jantar lá dentro, sentindo o estômago queimar. Quando passou as contrações do enjoou, a curandeira já tinha uma poção para ela e um olhar analitico para o machucado em sua mão. Explicou que se machucou com uma faca na detenção e ficou nervosa, estando a a mulher acostumada a ajudá-la em suas crises de o que os trouxas chamariam de “gastrite nervosa”. Ela pareceu querer tirar mais informações de Scarllet, mas não insistiu, cuidando de seu machucado com os lábios em riste e resmungando como os jovens eram sem atenção e consideração, mas a mente da grifinória estava muito longe para registrar muita coisa.

Ainda sentia as pernas moles quando saiu da Ala Hospitalar com a mão enfaixada, já passado o toque de recolher, com um pergaminho na mão assinado por Madame Pomfrey caso fosse pega por algum monitor, professor ou Filch em ronda e uma poção para caso de voltar a passar mal . O grito aterrorizado do professor Snape, uma mistura de dor, medo e surpresa, não saia de seus pensamentos, junto com a careta de dor que se desenhava nos traços marcantes de sua face. Ela queria muito entender o que estava acontecendo e porque ele a enxotou daquela forma, se ele estava bem e se tinha conseguido buscar ajuda. Seu coração ainda batia fora de ritmo, com se não tivesse se recuperado do susto.

Chegou no Salão Comunal e ainda haviam muitos alunos por lá. Procurou Kai e Kira com o olhar, mas não encontrou nenhum dos dois.

—Hey, Scarllet! -escutou uma voz conhecida chamar e encontrou Katherine Watson a olhando, sentada numa poltrona jogando Snap Explosivo com outro alunos do 5º ano -Está tudo bem? Você está pálida.

—Que? -Scarllet perguntou -Ah, sim, está… Você viu Kai e Kira?

—Kira subiu com a Marta faz uns trinta minutos, ouvi algo sobre o trabalho do Flitwick. -Katherine respondeu -O Kai… Olha, a ultima vez que eu vi o Kai… ele estava conversando com a Lin no banquete. Não vi eles virem pra cá. -Katherine sorriu maliciosa e Scarllet levantou as duas sobrancelhas.

—Certo, obrigada… -ela agradeceu -Vou subir, até mais tarde.

Katherine assentiu e Scarllet tomou o rumo do dormitório, querendo desesperadamente conversar com Kira para tentar colocar alguma ordem em seus pensamentos. Mas quando chegou lá, a amiga já estava deitada, assim como a outra colega de quarto delas, Marta Smaler, irmã mais nova de Lin.

Demorou um momento parada na porta do quarto até se decidir por tomar banho e deitar também. O sono não veio logo, virando de um lado para o outro, a voz do professor Snape perturbando sua mente e quando finalmente dormiu sonhou com seu grito, despertando ofegante no meio da noite.

OoOoOoOoOoOoOoOoOo

Scarllet acordou com algo a cutucando e desviou e reclamou algumas vezes antes de escutar a voz de Kira a chamando. Abriu os olhos e se deparou com a amiga ainda com a cara amassada e os olhos avermelhados, parecia não ter dormido muito bem assim como ela própria.

—Hey… -Scarllet chamou, sentando-se na cama -Vem cá.

Kira sentou-se ao seu lado e as duas ficaram quietas por um momento. Katherine e Marta não estavam em nenhum local a vista, as camas vazias e arrumadas.

—Kai está ficando com a Lin. -Kira murmurou em voz baixa, puxando o cobertor de Scarllet e o torcendo. 

Scarllet suspirou, passando o braço pelo ombro da amiga.

—Eu sei. -ela respondeu. -Kathy me disse que eles burlaram o toque de recolher ontem.

—Eu sei que é muito idiota eu estar assim, sendo que nunca disse nada pra ele. -Kira confessou -Mas isso machuca.

—Eu imagino. -Scarllet afagou o ombro da amiga.

—Estou sendo uma boba, não é?

Scarllet demorou um momento antes de responder:

—É.

Kira virou o rosto, olhando ofendida para a amiga.

—Scarllet! -exclamou. 

—O que? -Scarllet perguntou, na defensiva -Sou sua amiga, tenho que dizer a verdade!

Kira a encarou mais um momento indignada e caiu na risada, sendo seguida pela ruiva.

—Por Merlin, Scar! -a morena exclamou, enxugando uma lágrima que escorria pelo canto do olho -Ontem eu fui dormir chorando de tristeza e hoje você me faz chorar de rir! Só você!

—Ótimo! -Scarllet sorriu -Que bom que eu te animei, agora bola pra frente e vamos levantar, tomar café e zoar com a cara do Kai, eu não quero ver você triste por causa daquela criatura ignóbil!

Kira sorriu e se levantou da cama. Scarllet jogou o cobertor para o lado e se levantou também.

—Scar -Kira chamou franzindo o cenho -O que aconteceu com a sua mão?

Scarllet também franziu o cenho antes de olhar para a própria mão, onde o curativo que Madame Pomfrey fizera na noite anterior ainda estava. As lembranças que tinham sido suprimidas para que pudesse confortar sua amiga voltaram a sua mente e ela ela sentiu o estômago dar uma volta, fez uma careta e depois suspirou.

—Vamos achar o Stom primeiro, Kira. -ela pediu -Eu acho que só consigo contar isso uma vez.

Kira a olhou estranho, mas concordou. 

Desceram depois depois de alguns minutos e encontraram Kai sentado em uma das poltronas perto da lareira que estava apagada, conversando com Scott.

—Bom dia flores do dia! -ele cumprimentou de muito bom humor.

As duas levantaram as sobrancelhas para ele e Scott riu.

—Bom dia. -elas cumprimentaram, Kira soou seca.

Foi a vez do Stom levantar as sobrancelhas.

—Estava esperando as senhoritas para tomar café. -ele informou.

—Então vamos. -Kira indicou a abertura do retrato com a cabeça -Scarllet precisa falar com a gente.

—Fica combinado hoje a noite então, Scott. -Kai se virou para o amigo -Já ‘ta no quadro de avisos pro resto do time, nós precisamos ganhar da Sonserina no primeiro jogo, então temos que pegar pesado nos treinos. 

—Beleza, Kai. -Scott respondeu, assentindo com a cabeça.

Kira, Scarllet e Kai saíram pelo buraco do retrato e Scarllet começou a relatar o que aconteceu na noite anterior, todos os seus sentidos pareciam voltar ao acontecimento e sentiu as pernas bambearem e o coração disparar e até mesmo as mãos tremerem e suarem conforme contava para os amigos.

—Uou! -Kai exclamou quando terminou.

—Isso é… -Kira tentou dizer algo, mas não pareceu achar palavras.

O fato dos dois amigos terem ficado tão impressionados com a situação quanto ela deixou Scarllet um pouco mais calma. Chegaram ao Salão Principal e sentaram-se, haviam poucos alunos. Sendo domingo, era normal que as pessoas comecem em horários variados. Por reflexo, os três olharam para a mesa dos professores, mas não havia um único docente naquele momento presente no salão.

Os três se encararam por um longo tempo, sem se lembrarem que haviam ido ali para comer. Scarllet queria a opinião dos amigos sobre o que presenciou, mas havia um certo receio em recebê-la agora que compartilhou a história.

—Eu não sei o que pensar disso. -ela afirmou por fim, quando Kai pareceu recordar para que desceram e começou a se servir.

—Será que ele tem alguma doença, teve algum ataque, algo assim? -perguntou Kira.

—Eu não sei, Kira. -Scarllet respondeu um tanto desolada -Ele parecia com dor, mas muito surpreso e… Horrorizado. 

—E enxotou você… -Kai repetiu e Scarllet assentiu -Será que isso não foi um plano só para tirar pontos da Grifinória?

As duas meninas arregalaram os olhos chocadas.

—Ele não seria tão canalha a esse ponto… Seria? -perguntou Kira.

—Eu acho que não, Kai. -Scarllet afirmou -Ele pode ser um bastardo, mas aquilo não parecia fingimento.

Kai deu de ombro.

—Então eu não sei, Scar. -ele afirmou. -É muito estranho, mas eu não tenho ideia do que pode ter acontecido. 

—É preocupante. -Kira falou -Você devia ter pedido ajuda, Scar… E se aconteceu algo com ele…?

—Você está começando a fazer eu me sentir culpada, Kira. -Scarllet lamentou -Ele gritou comigo de um jeito que você só entenderia se estivesse lá e… -ela se interrompeu.

—Desculpe, Scar. -Kira pediu, apoiando a mão no ombro da amiga -Você tem razão. Não é sua culpa.

—Isso mesmo! -afirmou o Stom - Ele mesmo te enxotou de lá, a culpa é dele por ser orgulhoso e não aceitar ajuda se algo aconteceu com ele.

Scarllet sorriu para os amigos tentando fazê-la se sentir melhor, mas o sorriso não correspondia ao sentimento que tinha dentro de si. Na verdade, não fazia ideia de como se sentia, seu interior estava uma bagunça e ter conversado com Kai e Kira não tinha ajudado muita coisa, apesar de ter parecido que um peso havia sido tirado de seu estômago.

Ela não soube dizer se era impressão, mas o resto do dia pareceu passar em uma atmosfera estranha. Na hora do jantar, comentou com os amigos se eles tinha notado que não haviam visto um único professor durante todo dia, inclusive no almoço. 

—Também notei. -comentou Scott -Estranho né? Mesmo sendo domingo, nunca fiquei sem cruzar com nenhum professor assim… Será que aconteceu alguma coisa? 

—O diretor Dumbledore raramente falta as refeições né… -Katherine contribuiu preocupada -Ele pode ter ficado doente…

Kai, Kira e Scarllet se entreolharam, mas nada disseram. 

OoOoOoOoOoOoOoOoOo

Segunda-feira começou como um dia qualquer em Hogwarts. Até os estudantes descerem para o café-da-manhã.

A mesa dos professores continuou sem um único docente, assim como no dia anterior. Quando Scarllet entrou pelas portas do Salão Principal junto de Kai e Kira, a conversa já era alta e nervosa por todo o salão. Os três amigos se entreolharam e Scarllet sentiu o estômago afundar, perguntando em seu âmago o que estava acontecendo afinal. 

Os três amigos sentaram-se à mesa junto com Katherine e Scott, que conversavam nervosamente com Marta e Lin Smaler. Kai e Lin trocaram um sorriso um tanto nervoso dada a situação, Kira desviou o olhar dos dois, que sentaram-se frente a frente. 

Estavam para ser postos a par da conversa quando o correio coruja chegou. Seria algo de normal no meio de tantas coisas estranhas acontecendo, se a quantidade de corujas que entrou pelas aberturas do telhado não fossem absurda, abarrotando o ar e fazendo uma confusão para chegarem até seus donos. 

Antes que os alunos conseguissem processar o que estava acontecendo, berradores começaram a falar ao mesmo tempo, enquanto cartas eram jogadas nos colos dos alunos e o Profeta Diário exibia uma manchete com letras garrafais, junto com foto de vários bruxos vestidos inteiramente de negro e rostos distorcidos em expressões de ódio, que dizia a mesma coisa que podia ser entendida entre as palavras confusas dos berradores: O Lord das Trevas, Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear, havia sido derrotado.

Quando as corujas se foram e os berradores pararam de falar, ainda assim não se conseguia entender nada que era dito dentro do salão: Todos os alunos falavam ao mesmo tempo, confusos, aliviados, nervosos, com medo, sem saber exatamente o que estava acontecendo. Os que conseguiam se acalmar o suficiente para ler o Profeta Diário tinham pouca informação a mais que os demais, pois a matéria era superficial e tinha poucos detalhes, mais muito alivio, afirmando que o Lord das Trevas havia encontrado seu fim nas mãos da família Potter, que haviam se sacrificado heroicamente para tal.

Não menos que de repente, palmas altas foram ouvidas e todos se calaram, olhando em direção a mesa dos professores onde Dumbledore estava de pé.

—Bom dia. -ele começou, seus olhos sábios passaram por todo o salão, sua postura era ilegível -Gostaria de ter chegado antes das notícias até os senhores, mas não foi possível. Felizmente, posso confirmar as palavras que seus parentes e o Profeta Diário trazem de que, por motivos desconhecidos, na noite do dia 31 de outubro, Voldemort perdeu seus poderes ao atacar o filho de Lily e James Potter, que sobreviveu com apenas uma cicatriz. O senhor e a senhora Potter não tiveram a mesma sorte que o filho e já não estão entre nós. Gostaria que fizéssemos um minuto de silêncio pelos dois corajosos bruxos que morreram protegendo seu filho.

O salão inteiro fez a homenagem aos bruxos falecidos, alguns fecharam os olhos e outros até mesmo derramaram algumas lágrimas. Após o momento pedido, Dumbledore continuou:

—Dada a situação, as aulas no dia de hoje estão canceladas. -informou. -Nós voltamos a programação normal das disciplinas amanhã. Aproveitem o dia de hoje para comemorar a vitória contra as Trevas e responder seus entes queridos. Vou deixá-los terminar o café-da-manhã agora. 

O bruxo deixou o salão da mesma forma que entrou, pela saída lateral. Um segundo depois, o silêncio explodiu-se em uma mistura de comemoração e conversas, gritos e choradeira.

Kai, Scarllet e Kira se entreolharam, chocados demais naquele momento para dizer qualquer coisa.

OoOoOoOoOoOoOoOo

Apesar de Dumbledore dizer que voltariam a programação normal na terça-feira, não foi bem o que aconteceu. Logo no café-da-manhã, foram bombardeados novamente por notícias no Profeta Diário, que deixavam claro que a situação ainda não estava controlada: era avisado para as pessoas evitarem sair de casa e ter cuidado por onde andavam ou com quem, ou em quem confiram. Os Comensais da Morte estavam loucos atrás de seu amo e os aurores estavam enfeitiçando primeiro e fazendo perguntas depois. Scarllet e Kai mandaram cartas para casa pedindo que suas famílias os mantessem atualizados e que tomassem cuidados. Kira, apesar da preocupação, não quis alarmar os pais, que eram trouxas e não tinham muita informação sobre o que estava acontecendo atualmente no mundo bruxo.

Mas a cereja do bolo foi o Profeta Diário da quarta-feira. "Homem de Você-Sabe-Quem em Hogwarts?” dizia a manchete seguida de nada mais, nada menos que uma foto do professor Snape, com suas vestes negras e capa esvoaçante que lhe renderam o apelido de “Morcegão das Masmorras” e os olhos gélidos e lábios em riste. Ele estava algemado por magia e acompanhado do professor Dumbledore.

“Severus Snape, Mestre em Poções pela Academia de Estudos Avançados em Poções e Elixires Européia, professor de Poções e diretor de uma das casas da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, contratado pelo diretor Albus Dumbledore no começo do ano letivo, está sendo acusado de portar a tatuagem da Marca Negra, símbolo que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, derrotado no último dia 31 de outubro por Harry Potter, O Menino Que Sobreviveu, empregava em seus seguidos, auto-intitulados Comensais da Morte. 

Os seguidores de Você-Sabe-Quem são conhecidos por pregarem uma ideologia de pureza de sangue e repúdio aos seres não mágicos e nascidos em famílias não mágicas, os considerando inferiores, e estudantes de artes consideradas das Trevas. Também são acusados de usar constantemente as Três Maldições Imperdoáveis, crimes que garante por si só uma pena perpétua em Azkaban. 

O senhor Snape se apresentou por livre e espontânea vontade ao Ministério da Magia junto ao diretor Dumbledore na noite de terça-feira, 1. Ele aguarda julgamento sob custódia e está proibido de voltar a lecionar até receber a sentença do mesmo.

O julgamento foi marcado para dia 6 de Novembro, próxima sexta-feira. 

Em breve entrevista, Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Ordem de Merlin Primeira Classe, Membro da Confederação Internacional e Chefe da Suprema Corte dos Bruxos, alega que o senhor Snape é inocente."

—Acho que isso coloca um fim às nossas especulações, não? -Kai afirmou para Kira e Scarllet, estando os três sentados a beira do lago sozinhos no horário que teriam a dobradinha de Poções.

—O que quer dizer? -Scarllet perguntou franzindo o cenho.

—Quero dizer que Snape é um Comensal da Morte. -Kai afirmou -Você viu ele recebendo um sinal que Você-Sabe-Quem estava perdendo os poderes.

—Como você pode ter tanta certeza, Kai? -Kira perguntou, revirando os olhos.

—Olha, dizem que a Marca Negra é tatuada no antebraço esquerdo, sabia? -ele perguntou e Kira negou com a cabeça.

—Como você sabe? -ela questionou.

—Ouvi alguns sonserinos comentando. -ele respondeu -Eles são sonserinos, sonserinos vivem para correr para os braços das trevas…. Viviam… Sei lá.

—Isso foi bem preconceituoso da sua parte. -Scarllet afirmou.

Kai olhou para ela, depois para Kira e fez uma careta.

—’Ta, certo. -ele concordou -Foi mesmo. Mas, mesmo assim… Ouvi isso. Então, se o Snape estava lá, apertando o braço, e bem no dia e na hora que Você-Sabe-Quem perdeu os poderes… Não precisa ser um gênio para somar dois mais dois.

—Mas Dumbledore disse que ele era inocente! - Kira reclamou

—É, Kira, mas o titio Dumbie é humano é pode errar, não pode? -o garoto perguntou com um quê de ironia.

Scarllet permaneceu calada enquanto os dois amigos continuavam a discutir sobre a culpa ou inocência do professor Snape. Por um lado, a garota se sentia menos culpada por não ter sido responsável por deixá-lo passando mal sozinho. Por outros, ela ainda não tinha tomado um partido em sua mente sobre o que pensar. Os pontos que Kai levantara tinha sentido e lógica e, junto com o favoritismo a Sonserina e a personalidade do homem, tudo pesava contra ele.

Mas era difícil de acreditar que alguém tão talentoso podia ser tão mal. E que Dumbledore podia errar tão feio julgando o caráter de alguém.

—Não é, Scar? - perguntou Kira. Scarlett não respondeu - Scarlett! - chamou de novo.

—O que? - a ruiva questionou, saindo de seus pensamentos

—Eu perguntei se você viu alguma coisa no braço do professor Snape. - a garota repetiu a pergunta.

—Não, eu já disse mil e uma vezes que o braço dele estava coberto, eu só o vi segurando o braço e gritando. -Scarllet respondeu impaciente.

—’Ta vendo! -a morena exclamou triunfante.

—Você vai ter que encarar os fatos mais cedo ou mais tarde, Tuner! -Kai afirmou. -Um: Snape é um Comensal da Morte. Dois: Você só está defendendo ele porque o tio Dumbie acredita nele e você tem uma paixão platônica por ele!

—Por Merlin, Stom! -Kira levantou subitamente de onde estava sentada e encarou de forma dura Kai -Quando você vai crescer e para de fazer piadinhas idiotas em momentos sérios?

—Provavelmente nunca. -Kai respondeu e deu de ombro, olhando seu relógio de bolso -Olha! Já deu o primeiro tempo. A Lin tem um horário vago agora. Vou encontrar com ela. Vejo vocês em Defesa, gatas.

As suas garotas não falaram nada enquanto Kai se afastava, mas assim que não era possível ver mais suas costas, Kira suspirou e sentou-se novamente.

—Ele é um idiota! -a garota exclamou.

—E justamente por ele ser um idiota que você devia dizer de uma vez que gosta dele. -Scarllet aconselho. 

—Ele está saindo com a Lin agora, Scar! -Kira lamentou -É no mínimo covarde falar com ele sobre meus sentimentos agora.

—E você vai esperar até quando, Kira? -Scarllet perguntou impaciente -Até a gente se formar, cada um casar com uma pessoa diferença, vocês terem filhos, netos e aí ficarem viuvos e solitarios?

Kira olhou para ela com uma careta.

—Isso foi muito dramático.

—É, eu sei. -Scarllet estalou a língua e levantando. -Vamos pro Salão Comunal. Se bem me lembro, temos uma redação de Transfiguração pra entregar amanha. O Kai também tem, mas como ele prefere enfiar a lingua na boca da Lin, não vou revisar a dele, só a sua.

—Te adoro, Ruiva. -Kira afirmou, também se levantando e seguindo a amiga.

OoOoOoOoOoOoOoOo

Na sexta-feira de manhã o Profeta Diário lembrou a todos o que ninguém tinha de fato esquecido: O julgamento do professor Snape. 

O professor Dumbledore, como esperado, não apareceu no café-da-manhã. Dar aulas naquele dia foi um desafio muito grande, com todas as turmas muito inquietas. Todos queriam saber qual seria o destino do Morcegão das Masmorras. A professora Sprout, com quem o quinto ano da Grifinória tinha aula com a Lufa-Lufa antes do almoço, desistiu de fazer os alunos prestarem atenção quando apenas cinco alunos da turma não tinham nenhuma mordida da planta que deveriam podar, Scarllet não estava entre eles, dispensando a turma mais cedo.

Todos correram para se lavar antes de ir para o Salão Principal, em expectativa. Mas não havia sinal do professor Dumbledore ou Snape durante o horário do almoço, mesmo todos postergando ao máximo nas mesas.

Scarllet foi para Runas Antigas depois do almoço, se despedindo de Kai e Kira, que tinham Adivinhação. Depois, quando se encontraram para a aula de História da Magia, os dois relataram as previsões nefastas sobre o futuro do professor Snape que a professora Trelawney fez, deixando alguns alunos que acreditavam em tudo que ela dizia aterrorizados. Apesar de Kai acreditar de fato que Snape era um Comensal da Morte, ele tirou sarro, achava a professora uma charlatã. Kira já parecia um pouco impressionada, mas Scarllet nada comentou.

Até mesmo a aula de História da Magia que geralmente era usada para tirar o atraso no sono ou adiantar algum trabalho de outra, ou da própria matéria de maneira silenciosa e monótona foi preenchida por sussurros, fazendo o professor Binns ter que pedir silêncio pela primeira vez na história de sua aula.

E quanto mais a hora do jantar se aproximava, mas os alunos ficavam impacientes. Era esperado que, àquela altura, eles fossem receber um veredicto sobre o destino do professor de Poções. A última aula do dia do quinto ano da Grifinória e da Sonserina foi Trato de Criaturas Mágicas e o professor Kettleburn desistiu antes mesmo de começar a aula, vendo e prevendo a agitação da turma. Sentaram-se todos em volta de uma pilha de espigas e o professor mandou descasca-las, alegando que precisava alimentar alguns animais com elas e assim os alunos podiam especular livremente.

A sineta mal tocou anunciando o fim da aula e os alunos já corriam em direção aos Salões Comunais, deixar seus materiais para então correrem para o Salão Principal. As mesas do salão nunca se encheram tão rápido. Scarllet, Kai e Kira foram uns dos primeiros a chegar, se acomodando em bancos no meio da mesa, tendo uma ampla visão da mesa dos professores, que começava a ser ocupada aos poucos. Scott e Katherine chegaram um pouco depois, sentando-se à frente deles e todos esperaram, em um silêncio tenso que em nada lembrava as especulações que passaram o dia todo fazendo.

Dumbledore adentrou o salão pela entrada lateral com suas vestes exuberantes em um tom claro de cinza. Logo atrás dele, em um contraste gritante, vinha Severus Snape, os cabelos mal cuidados e cumpridos escondendo parcialmente o rosto.ao qual não se conseguia definir a expressão.

O diretor passou os olhos pelo salão silencioso e tenso e sorriu enquanto Snape sentava ao lado da professora McGonagall.

—Creio que os senhores tenham estado o dia inteiro querendo saber o resultado do julgamento do querido professor de Poções de vocês. -ele deu uma pausa e Scarllet imaginou que a maioria dos alunos não teria definido Snape daquela forma, mas que Dumbledore não estava de forma nenhuma errado -Como podem imaginar, estando o professor Snape presente aqui atrás de mim: Inocente de todas as acusações. -e bateu palmas, fazendo a comida aparecer nas travessas de ouro.

A conversa explodiu antes mesmo que Dumbledore tivesse a chance de se sentar, machucando os ouvidos de Scarllet, que franziu o cenho. Kira, do seu lado direito, olhou por sobre sua cabeça com olhar de “eu-te-disse” para Kai, sentado à sua esquerda. Ele bufou, enfezado, se servindo de empadão. Scarllet achou melhor ignorar os amigos no momento e não resistiu ao impulso de olhar para o professor Snape.

Ele não parecia feliz em estar de volta, em ter se livrado da prisão. Estava sentado, ereto, parecia até mesmo desconfortável, o rosto contorcido na mesma expressão desgostosa de sempre. A professora McGonagall falava com ele e ele apenas assentia, fazendo-a logo desistir da conversa, se voltando para o próprio prato. Muitos alunos olhavam para ele, curiosos, se cutucando e fazendo comentários. Então por que, por Merlin, ele tinha que olhar justamente para ela? Perguntou-se quando os olhos negros encontraram os seus e o familiar arrepio percorreu sua coluna.

Scarllet teve vontade de desviar os olhos, mas não o fez. Não era um olhar ácido, mortal ou desdenhoso que ele geralmente costumava lançar. Não havia aquele brilho de malícia que antecêdia suas ironias e fazia o nó em sua garganta trazer respostas audaciosas para fora. Aqueles olhos cor de ébano estavam diferentes. Algo havia se apagado dentro deles.

Snape pareceu desistir da guerra travada, se levantando e se retirando pelo mesmo local que entrou, tentando em vão não chamar a atenção de ninguém. Scarllet o acompanhou com os olhos até ele sumir de vistas, ficando encarando o local da onde a capa do professor desaparecera. 

—Que ‘cê tanto olha, Scar? -Kai perguntou, um pedaço de coxa de frango na boca, olhando por cima da cabeça da amiga para tentar enxergar o que sua amiga encarava há algum tempo, sem nem perceber a saída de Snape do salão.

—Nada. -ela respondeu, voltando os olhos para seu prato vazio.

Sequer havia se servido ainda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! Espero comentários :)



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