Categorias. escrita por Blessed


Capítulo 1
Categorias - Capítulo Único.




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— Eu quero cachorro quente. –  Ele conhecia aquele tom de voz. Ela não mudaria de ideia, mesmo sob tortura ou se ele tentasse uma chantagem com a melhor torta de nozes de Nova York. Além de saber que a chantagem não funcionaria, ele teria que comprar a torta do mesmo jeito.

— Tudo bem. Por alguns minutos me esqueci do seu hiper foco gastronômico. – Ele soltou uma leve risada quando ela lhe encarou em confusão. – Seguindo para o Sidney’s.

— Hiper foco gastronômico? – Ela perguntou divertida e levemente impressionada por ele saber exatamente onde ela queria ir sem que precisasse falar.

— Sim. – Ele sorriu soltando o freio de mão e afivelando o cinto, para depois dar partida no carro. – Quando você foca em um alimento, só quer comer ele por semanas, até enjoar ou seu foco ir para outro alimento. – Oliver olhou para o smartwatch no seu pulso e a encarou rapidamente com a expressão divertida. – Estamos no dia 16 de abril e você me contou que pediu Delivery no Sidney’s pelo menos dez vezes. Eu sabia que se te levasse para qualquer outro lugar hoje você iria ficar enrolando com o cardápio até achar algo que fosse parecido com o cachorro quente explosion nº 6 do cardápio do Sidney’s, então pediria ele e por melhor que achasse iria chegar em casa e pedir outro lanche no Sidney’s.

Ela fez uma careta engraçada enquanto assimilava as informações. Nem Cooper a entendia tão bem quanto Oliver. Se fosse seu namorado no lugar de seu melhor amigo, ele reclamaria tanto que Felicity seria vencida pelo cansaço e optaria por comer algo em casa, sozinha. Então Cooper ficaria com raiva por ela não respeitar suas escolhas e eles brigariam, ela se sentiria culpada e aceitaria ir em qualquer lugar que ele quisesse. Quando estivesse por fim em casa, sozinha, ligaria para o Sidney’s e pediria seu cachorro quente.

— Você me conhece tão bem. – Ela suspirou dando-se conta do quanto aquela frase era acolhedora em seu coração. Olhou para o perfil de Oliver que exibia um sorriso maroto. A mulher que tivesse o coração dele seria uma mulher de sorte. – Por que Cooper não pode me entender tão bem quanto você?

— Porque ele nunca vai te conhecer como eu conheço, Felicity. –  “Ou te amar” acrescentou ele em pensamento, enquanto estacionava o carro, puxava o freio de mão e virava para encará-la. Ela sentiu seu estômago revirar com a sensação de ter aqueles olhos azuis a encarando como se pudesse ler todos os seus pensamentos e desvendar sua alma. – Ninguém nunca vai.

Principalmente aquele imbecil que ela insistia em chamar de namorado. Nunca entenderia o que Felicity tinha visto nele, sendo alguém tão incrível e única como só ela era. Ele viu quando ela ia contestar, mas o garçom chegou antes com os cardápios. O Sidney’s era uma barraca simples e bastante elegante instalada em uma esquina movimentada próximo ao Central Park. As pessoas estacionavam o carro nos locais indicados e o garçom ia até o veículo anotar os pedidos. Uma ideia que se desenvolveu muito bem na frenética Nova York. Praticidade era tudo.

— Ela vai querer um Explosion 6, sem mostarda e milho. Exagera no cheddar. Para beber qualquer coisa sem gás, tipo um chá gelado. Se tiver aquele de guaraná com açaí é o ideal. – Ele deu uma piscada breve para o garçom que anotava tudo. – Para mim pode ser o Boom nº 4, com uma Coca-Cola de lata.

O garçom se retirou indicando que em menos de 10 minutos os lanches estariam prontos. Ela observava tudo de maneira atenta e não pode deixar de sorrir quando ouviu Oliver gritar para o garçom que o número 6 poderia ser prensado por mais tempo de modo que a casca do pão ficasse escura e crocante. Eram tantos detalhes e só agora estava se dando conta deles.

— Eu não entendo como você pode estar com ele. – Oliver revirou os olhos enquanto lia alguma mensagem no celular rapidamente, para voltar a atenção toda a ela. De repente, ela fez a mesma pergunta. Por que estava com ele?

— Eu também não sei. – Ela ponderou enquanto encarava as pequenas gotículas de uma chuva fina tirar toda a poeira do para-brisas. Lentamente sentiu como se a poeira fosse tudo aquilo que a cegava para seu relacionamento com Cooper e agora a chuva estava limpando tudo. – Quando o conheci, ele mostrou ser alguém incrível e fora das categorias de homens com quem eu jamais me envolveria. Achei que era o suficiente.

Oliver arqueou uma sobrancelha enquanto um sorriso surgia. Ela o fitou, ao estranhar o silencio, e nesse momento soube que havia falado demais.

— Categoria de homens? – Ele questionou rindo e ela sentiu seu rosto corar de vergonha. Ela sempre contou tudo a Oliver, mas havia coisas que ela sabia que era assunto de mulher. Só havia falado disso com Thea e Caitlin. Nem Sara sabia, ou a infernizaria. – Me explica isso.

— Ah nada Oliver, isso é bobeira minha, daquela época. – Ela deu ombros, tentando inutilmente demonstrar que aquilo não era mais relevante para ela, mas sabia que com Oliver isso jamais funcionaria. Ele a encarava de maneira cética e interrogativa e ela sabia que ele não iria falar mais nada enquanto ela não cedesse. – Está bem, Oliver.

Quando ela começou a falar, o garçom apareceu na janela para entregar os lanches. Até esse momento não havia percebido o tamanho de sua fome. Ultimamente estava se alimentando muito mal, visto que estava estudando feito uma condenada para terminar a tempo sua defesa de doutorado e ainda tinha que conciliar tudo com a Q.C.

— Você não está se alimentando direito, Felicity. – Oliver suspirou enquanto via ela comer o cachorro quente de maneira afoita. – Está decidido, vou te dar uma emana de folga da Q.C. Acho que Curtis pode se virar enquanto você coloca em dia o que precisa com sua defesa.

— O que? – Ela se forçou a engolir um pedaço maior do que conseguia, enquanto o encarava surpresa e consternada. Jamais pediria algo do gênero ao Oliver. Ela sabia separar bem a amizade que eles tinham, do relacionamento de chefe e empregada. – Sério?

— Sim. -  Ele sorriu e limpou o cheddar que estava na bochecha delicada. Podia ver o olhar cansado se transformar em alívio, gratidão e algo que ele gostaria de pensar que era amor. E então ela sorriu. Um sorriso sincero e brilhante. Aquele sorriso o hipnotizou por alguns segundos, como se tivesse o poder de mudar toda a realidade que envolvia o relacionamento dos dois. Por Deus, a vontade de beijar aqueles lábios suaves e carnudos era tão imensa que ele precisou se concentrar em algum ponto atrás dela para retomar o raciocínio. – Mas primeiro, você terá que me contar que história é essa de categoria.

Ele viu a expressão no rosto perfeito mudar de serenidade, para cautela e nervosismo. O que quer que fosse, deveria ser muito sério para ela reagir assim só pela possibilidade dele saber. Não havia segredo entre os dois. Bom, havia apenas um, mas que seria revelado no momento certo.

— Bem, digamos que é uma maneira divertida de eu encarar o mundo masculino. – Ela sorriu forçando uma simplicidade que não era de seu feitio. – Classifico os homens em três categorias.

— O que? – Oliver gargalhou enquanto via a amiga rir também. Aquele visível nervosismo havia se esvaído dela. – Quais categorias?

— Bom, primeiro tem a categoria dos bons de papo. – Ela deu uma última mordida no seu cachorro quente, enquanto gesticulava. – Eles são inteligentes, divertidos e fazem qualquer conversa fluir fácil, mas não me despertam nada. – Ela passou a língua pelos lábios a fim de verificar se estavam limpos e aquele gesto foi captado por Oliver quase que em câmera lenta. Era demais para sua sanidade ficar tão próximo a ela. – Não tem emoção, frio na barriga ou nervosismo.

— Entendi. – Ele mordeu seu cachorro quente como uma desculpa para não falar nada, pois não sabia se sua voz sairia firme. Por sorte Felicity entendeu que era um sinal claro para ela continuar.

— Aí temos os intensos. – Ela deu um sorriso malicioso quando Oliver arqueou a sobrancelha. – Te deixam com os nervos à flor da pele. Fazem você se arrepiar com um toque, possuem um olhar tão intenso que seu estomago revira. – Ela tomou um gole do seu chá enquanto sorria. – São excelentes para uns amassos ou sexo casual, mas quando abrem a boca, tudo acaba. – Ela suspirou em frustração.

— Ual. – Ele parou com a coca-cola a centímetros da sua boca, enquanto ela dava risadas. – E a última categoria?

— Ah, esses são os arrasadores de corações. – Ela inclinou a cabeça no apoio do banco e virou todo seu corpo na direção dele. – Você sabe, são o pacote completo. – Ela suspirou, fechando os olhos por alguns segundos enquanto pensava em Robbie do primeiro ano de faculdade. Ele definitivamente se encaixava naquela categoria e, portanto, o manteve bem longe de si.

— Como assim? – Ele questionou girando a chave na ignição e indo em direção a casa de Felicity que ficava há poucos quarteirões. – Qual o problema deles?

— Não há problemas neles, essa é a questão. – Ela levantou as duas mãos em um sinal claro de que o motivo era óbvio, então inclinou a cabeça resignada por seu amigo não ter compreendido. – Você, por exemplo, eu considero um arrasador de coração.

— Eu? – Oliver arqueou a sobrancelha. Nunca foi um arrasador de corações. Nunca achou correto brincar com o coração de alguém. Como Felicity podia falar algo assim?

— Oliver, olha pra você. – Ela gesticulou com uma das mãos apontando para ele. – Você sabe conversar, é lindo, tem um sorriso encantador, é gostoso e pelo que eu ouvi falar é muito bom de cama. – Pela primeira vez ele sentiu seu rosto queimar e ela gargalhou pela reação constrangida do seu amigo. – Isso tudo já o suficiente para encantar uma mulher, mas sabemos que são coisas que importam nos primeiros 15 minutos e foi depois desses 15 minutos que você arrasou todos os corações até hoje.

— Ainda não entendi em que parte eu arrasei um coração. – Ele continuou confuso e um tanto aborrecido por ela continuar com aquela história. – Eu nunca fiz isso e você sabe, Felicity.

— Sim Oliver, eu sei. – Ela agarrou a mão direita que ele havia tirado do volante e direcionado a nuca, num claro sinal de impaciência. Sabia que ele estava interpretando uma brincadeira boba de maneira errada. – Você não faz isso, não conscientemente. O problema é que depois dos 15 minutos você mostra tudo que é.

Ele encarou por alguns segundos a mão dela sob a sua. Fazendo movimentos circulares com o polegar. Sentiu todo o efeito que o toque dela causava em si. Em um minuto se sentia aborrecido, no outro sentia como se a paz e a calmaria estivessem ali, em carne e osso, o abraçando. Estacionou o carro em frente ao prédio e virou seu corpo na direção dela, prestando atenção.

— Você mostra que além de “lindo, tesão, bonito e gostosão” - Ela revirou os olhos ao cantarolar a musiquinha típica do colegial. - Você é gentil, sensível, engraçado, tem um coração bom, cheio de generosidade e empatia. – Ele viu toda a emoção que os olhos azuis transmitiam. – É dedicado, amigo, esforçado e mais mil outras qualidades que eu poderia citar aqui.

— Nossa... – Ele a encarou da mesma forma que ela o encarava. Como se soubesse que finalmente ela tinha percebido algo que era real, vital e totalmente enraizado em relação aos dois. Uma lufada de sentimentos começou a atingi-la.

— Mas é aí que está o problema, Oliver. – Ela sorriu de maneira doce, enquanto encarava seus dedos entrelaçados com os dele. Não sabia em que momento havia criado aquela teoria toda, mas sabia que muito disso tinha a ver com o homem que estava a sua frente e mais do que nunca, sabia que teria que reforça-la de todas as maneiras ou se machucaria. – Tem que ser uma mulher tão incrível quanto você para conquistar seu coração e te fazer ficar. E pessoas como você são raras no mundo.

Oliver a encarou surpreso e viu em sua expressão um leve ressentimento. Talvez seu cérebro o tivesse pregando uma peça enquanto insistia em gritar que ela era mulher incrível que o faria ficar. Que ela já o havia conquistado de todas as maneiras possíveis e ela só precisava perceber isso sozinha.

— Você acredita realmente que ninguém nunca teve esse efeito sob mim? – Ele questionou levantando a mão na altura do rosto, forçando-a a encará-lo nos olhos.

Ambos estavam envolvidos por aquela áurea de energia, sentimentos e interpretações. Ela não sabia o que podia interpretar de tudo que estava sentindo e acontecendo. Ele não sabia se tudo que havia interpretado estava finalmente acontecendo, mas ambos sabiam que algo estava acontecendo. Algo distinto de tudo que já havia acontecido entre eles.

— Bom, não há outra explicação para você estar solteiro, Oliver. – Ela o fitou com a mesma curiosidade e expectativa que ele lhe direcionava. Não sabia o que esperar com aquilo, mas sabia que nada mais seria como antes. Encarou as gotículas no vidro e fechou os olhos. Novamente a sensação de que a poeira estava impedindo-a de ver claramente, a dominou. Lentamente abriu os olhos para encarar o homem a sua frente. – Ou há?

Não sabia em que momento ele se descobriu sem saídas. Se foi quando ela lhe encarou cheia de expectativas ou se foi quando viu a resignação se apossar daqueles olhos, fazendo com que finalmente ela percebesse que não poderia mais fugir de tudo aquilo que os acometia.

Mas também tinha grandes chances de ser no momento em que ela fechou os olhos e lentamente os abriu lhe encarando e deixando transparecer todo o desejo que sentia e vibrava dentro de si.

Antes que pudesse raciocinar, puxou a nuca dela em direção a sua e tomou-lhe os lábios de maneira ágil. O contato das bocas causou uma explosão em ambos. O gosto dela era quente, doce e maravilhoso e  nunca o bastante para lhe deixar saciado. Não podia acreditar que aquilo fosse real, talvez fosse algo além do conhecimento humano. E não estava surpreso por saber que tudo vinha dela. Sentiu seu corpo em êxtase, como se finalmente tivesse encontrado seu propósito.

Eles se afastaram lentamente. Ela sentia seu coração bater descontrolado sob o peito. Suas mãos estavam trêmulas, sentia-se completamente vulnerável. Como pensou que poderia lidar de forma racional com tantas emoções? Principalmente agora que descobriu sentir tudo que sempre ansiou sentir com um simples beijo. Desejo devastador, calor intenso e em contradição, uma súbita sensação de que aquilo era a coisa mais certa que havia feito na vida.

— Tem você, Felicity. – Ele a encarava com seriedade, tentando acalmar sua mente após esse turbilhão de sentimentos que o envolveu.

—  O que? – Ela ainda lutava para conseguir manter a consciência. Por mais certeza que tivesse do quão certo era aquilo, não podia deixar de pensar em todo o contexto. Eles eram amigos, há tantos anos, ela tinha namorado. Não podia lidar com a brevidade das emoções causadas pela paixão súbita. E novamente começou a racionalizar tudo. – Não Oliver, não podemos, isso é... é errado.

— Errado? – Oliver a encarou incrédulo e ela sentiu toda mágoa povoar aqueles olhos azuis que ela tanto amava. – Por Deus, será que você nunca percebeu?

— Oliver, não confunda as coisas. – Ela precisava lutar contra aquilo, ou estaria perdida. Novamente soube que jamais as coisas voltariam a ser como antes, mas ainda havia uma chance de deixar tudo menos caótico. – Somos amigos e podemos esquecer tudo que houve aqui, como duas pessoas maduras. Eu tenho namorado, meu Deus.

— Esquecer tudo que houve aqui? – Ela colocou as mãos na cabeça enquanto negava tudo aquilo com um sorriso perturbado. – Droga, Felicity, nem por um milhão de anos eu poderia esquecer tudo que houve aqui. Você nem ama o Cooper.

— Oliver, por favor, entenda que isso não vai ser bom pra nenhum de nós dois. – Ela sentia a insegurança dominar cada um dos seus poros. A verdade é que nunca soube lidar bem com seus sentimentos e era muito mais fácil administrá-los quando os mantinha presos dentro de suas caixas, com enorme barreiras. – Você e eu somos pessoas diferentes. Não podemos nos machucar por uma aventura boba.

Por alguns minutos ele ficou encarando as mãos deles unidas. O contraste das mãos grandes e rudes com as mãos delicadas e pequenas, definia exatamente o que um era na vida do outro. Complemento. Como ela não percebia?

Vendo que ele permanecia em silencio ela resolveu sair do carro. Deu um leve beijo em seu rosto e desejou-lhe boa noite.

— Você não entende a gravidade disso, não é? Prefere ser covarde e se esconder atrás dessas suas teorias ridículas do que enfrentar a situação, mesmo após criar consciência de que nunca vai haver só amizade entre nós dois. – Ela sentiu as palavras dele atingirem em cheio seu ego. Ela sabia que estava fazendo justamente isso, mas não conseguia lidar com o fato dele acusa-lá de forma tão injusta, quando tudo que ela sentia era medo.

— Covarde? O que você sabe sobre o que eu sou, Oliver? – Sabia que ele não tinha culpa, mas sentia tanta raiva de si mesmo que não conseguiu segurar antes de projetar tudo nele. – Pra você sempre foi muito fácil enfrentar tudo. Se algo não estava bom, você descartava, sem culpa ou ressentimento. Você não sabe o que é entregar seu coração a alguém. Agora você acha que pode dizer o que eu sinto, só porque não fui conivente com seu desejo de mais uma aventura. Você deveria saber que não sou qualquer mulher.

Ele a encarou curioso. Ela enxergou a decepção naqueles olhos e isso a enfraqueceu. Por um segundo ficou tentada a gritar com ele e exigir saber com que direito ele podia se mostrar decepcionado, até se dar conta do que havia falado. Cobriu suas mãos com a boca enquanto sentia seus olhos cheios de lágrimas.

— Oliver... – Ela deu um passo em sua direção e ele levantou a mão, pedindo que ela parasse.

— Você nunca vai ser qualquer mulher para mim, Felicity. – Ele colocou as mãos no bolso e deu um sorriso triste, enquanto se virava para ir em direção ao carro. – Você é a única que me faria ficar, porque você também é rara.

Ele entrou no carro e deu partida, saindo o mais rápido possível, antes que ela pudesse reagir. O choque daquelas palavras custara a passar e mesmo que tentasse achar mil outras explicações para ele ter dito aquilo, só conseguia pensar que ter magoado ele, havia destruído uma parte do seu próprio coração.

****

— E ele me disse isso. – Ela colocou as mãos na cabeça enquanto suspirava, impaciente. – Eu não sei o que pensar sobre.

Felicity estava almoçando com Thea, Sara e Tommy. Já tinha uma semana que tudo havia acontecido. Ela terminou com Cooper já no dia seguinte e ficou surpresa por não ter sentido absolutamente nada, mas em compensação, a sua situação com Oliver a estava matando. Soube por Thea que no dia seguinte ele havia ido a uma viagem de negócios em São Francisco e voltaria em dois dias. Mas quando voltou, sequer entrou em contato com ela. Nunca imaginou que sentiria tanta falta dele.

— Ah finalmente o Ollie se declarou! – Tommy bateu com a mão na mesa animado. – Eu já estava cansado de ouvi-lo choramingar sobre você.

— O que? – Ela o encarou confusa. Como assim Oliver choramingar sobre eu? – Como assim Tommy?

— Ah, qual é Fel? – Sara revirou os olhos enquanto distribuía os pratos que o garçom havia deixado. Ela voltou a encarar Felicity que permanecia em silêncio e confusa. – Não acredito, ela não sabia mesmo.

— Ah não é possível. – Thea substituiu a expressão risonha por preocupação. – Não acredito, Felicity, como você não sabia que meu irmão te ama?

Ela encarou os três rostos perplexos e sentiu sua cabeça girar. Como assim o Oliver me ama? Desde quando? Por que? Sentiu o ar faltar e colocou a mão na cabeça, desesperada. Viu um filme passar sob seus olhos. Todos os momentos que viveram juntos, todo o carinho, o cuidado, a atenção. Todas as renúncias silenciosas, a dedicação excessiva e natural. O compromisso involuntário. Os detalhes, todos os detalhes. Que homem saberia como você gosta do pão do seu cachorro quente, se não te amasse? Que homem aparece na sua porta as 2h da madrugada trazendo chocolate quente e absorventes da marca certa quando sabe que você está tendo crises de cólica, se não te amasse? Que homem deixa de viajar no feriado mais importante do ano para ficar vendo tutorial de sopa no youtube porque você está doente, se não te amasse?

— Oh meu Deus! – Ela sentiu seus olhos encherem de lágrimas e a frase de Oliver martelou na sua cabeça. “Você é a única que me faria ficar”.

— E agora ela descobriu que também o ama. – Thea sorriu satisfeita, cruzando os dedos e apoiando o queixo sob as mãos.

— Finalmente! – Sara deu um high five com Tommy.

Ela o amava?

Novamente pensou em todos os aspectos da sua vida e em como Oliver está inserido em todos eles. Era apoio mútuo, cumplicidade, reciprocidade e doação. Eles sempre se equilibraram bem, sempre supriam às necessidades emocionais um do outro de maneira natural e efetiva. Sim, ela o amava. E tudo parecia tão claro como água, que ela precisou ficar sozinha para assimilar tudo que sentia. Saiu do restaurante apressada, sob protestos dos seus amigos. Foi até o Central Park e sentou sob uma das suas árvores preferidas. Inclusive a preferida dela e de Oliver.

Deu uma risada melancólica e irônica, eram o tipo mais clichê de casal: melhores amigos, que se amavam em segredo, mas viviam uma digna e típica história de amor, com direto a arvore preferida e tudo mais.

Você é patética, disse a si mesma. Você o magoou e agora prefere se esconder em um parque e dar uma de melancólica ao enfrentar a situação como se deve. Oliver tinha razão, naquela noite ela foi uma covarde, mas dessa vez não seria. Não sabia se Oliver a amava o suficiente para perdoá-la e ficarem juntos, mas iria pedir perdão ao seu melhor amigo, diria que o amava e mesmo que ele não a quisesse, poderia sofrer em paz sabendo que pelo menos ele a havia perdoado.

Tentou ligar para Oliver umas cinco vezes, mas o celular continuava dando na caixa postal. Realmente, ele não queria vê-la. Por alguns segundos sentia a coragem se esvair de seu corpo, mas tratou logo de freia-la. Se ele não queria atende-la, iria até a QC, subiria até a diretoria e o faria ouvi-la.

— Ou eu não me chamo Felicity Smoak. – Ela foi a passos firmes até seu carro e rumou em direção a QC. Antes ligou para Carol, secretária de Oliver e disfarçadamente captou a informação de que ele estava na empresa, inclusive havia acabado de sair de uma reunião. Aquilo a animou, afinal de contas, ele não atendeu suas ligações porque estava em reunião.

Hoje ela colocaria os pingos nos i’s.

— Felicity? Você está de folga! Achei que voltaria só na próxima semana. – Diggle a abraçou quando entrou no elevador. – Veio fazer o que aqui?

— Vim dizer ao Oliver que o amo. – Ela respondeu com um sorriso confiante e se divertiu ao notar a expressão confusa e perplexa do amigo.

— Ual. – Ele colocou a mão no queixo, surpreso. – Já não era sem tempo né?! Bom, boa sorte, torço por vocês há anos.

— Não acredito, então todo mundo sabia que a gente se amava e ninguém pensou em nos contar? – Ela bufou fingindo irritação, enquanto Diggle lhe encarava com deboche e segurava a porta aberta no nono andar, onde ele ficaria.

— Ah você acha mesmo que pode convencer Felicity Smoak que ela ama alguém assim do nada? – Ele arqueou uma sobrancelha quando ela pensou em contestar e saiu do elevador. – Você tinha que perceber sozinha, já foi difícil que ele percebesse sozinho.

As portas se fecharam e ela sorriu, dando razão ao amigo. Olhou os números no elevador indicando que estava próximo ao último andar. Agora sentia seus joelhos amolecerem e seu estomago revirar todo o almoço. Talvez as cinco chamadas recusadas queriam dizer que ele estava muito ocupado, seria sensato voltar em outro momento, não é?

Quando ela decidiu voltar atrás as portas do elevador se abriram e ela avistou Oliver parado próximo a mesa de Carol verificando alguma coisa. Os olhares se encontraram e ela percebeu o choque na expressão dele ao nota-la ali. Ele sentiu o conflito das emoções lhe invadirem. Surpresa, magoa, felicidade e expectativa. E Deus, como ela estava linda.

— Bom, se a montanha não vai até Maomé, Maomé... – Ela parou abruptamente. – Acho que comecei essa frase errado.

Carol riu do nervosismo da amiga e se levantou pedindo licença aos dois, alegando que buscaria um café. Assim que sua secretária saiu, ele a encarou segurando o sorriso e obtendo o controle de tudo que parecia querer emergir dele. Sentia falta de cada aspecto dela.

— O que quer, Felicity? – Ele a encarava sério. Os olhos não transmitiam emoção alguma. Oliver sempre foi bom nisso, ela lembrava. Sempre foi bom em camuflar tudo, quando queria. E ela sabia que estava pisando em terreno incerto.

— Eu quero conversar. – Ela suspirou desviando seu olhos dos dele. Ele viu insegurança, medo e magoa e se questionou o porque gesticulando para irem até sua sala. -  Primeiro, eu vim aqui me entender com você, pedir desculpas por ter te magoado e falado tantas coisas horríveis.

— Eu já a perdoei, Felicity. – Ele respondeu simplesmente enquanto escondia as mãos nos bolsos da calça para evitar a necessidade quase enlouquecedora de agarrá-la no mesmo instante. Não podia acreditar que ela estava ali para pedir desculpas achando que tudo ficaria bem. Não que ele a afastaria para sempre, mas jamais poderia lidar com ela da mesma forma que antes, principalmente agora. Ela devia saber disso. Lutou para controlar o ímpeto de irritação que cresceu em si.  – No que mais posso te ajudar?

Ela o encarou perplexa. Sentia todas as defesas ruírem. Não podia acreditar que ele podia ser tão indiferente a ela, depois de tudo aquilo. Não podia acreditar que um simples erro da parte dela acabaria com o amor que ele dizia sentir.

— Eu estava errada sobre você. – Ela o encarou decidida a ir com calma. Sabia que Oliver utilizava da frieza pra se defender. E se ela o havia magoado tanto quando achava, teria que ser paciente pra conseguir reverter a situação.

— Errada sobre o que? – Ele arqueou a sobrancelha, confuso com as palavras dela.

— Você não se encaixa em nenhuma daquelas categorias. – Ela caminhou pela sala dele, analisando todo local e ele a acompanhou com os olhos. – Você é a mistura perfeita das três, para mim.

— Explique. – Ele parou de tentar entender o que ela queria dizer e se comprometeu em apenas ouvir. Nada poderia ficar pior do que já estava.

— Nem preciso dizer que você é muito bom de papo, né?! A gente pode sentar por horas de baixo da nossa árvore preferida no Central Park e conversar sobre tudo. Mas ao contrário dos outros caras, enquanto conversamos você faz eu sentir tantas emoções e sensações que eu sempre evitei me perguntar o que significavam. – Ela o encarou rapidamente e sorriu, sentindo o olhar dele cada vez mais leve sobre si. – Quando você me olha com tanta intensidade e devoção, eu sinto minhas entranhas se derreterem, minha pele se arrepiar... É uma coisa louca, mas eu sempre preferi justificar que era a sua beleza surreal que causava isso. E quando você me beijou... – Ela fechou os olhos, lembrando de todas as sensações que aquele beijou provocou em si. Nunca tinha sentido nada parecido. – Eu senti que era a coisa mais certa que eu já havia feito na vida.

Quando ela tornou a abrir os olhos ele estava parado em sua frente. Com os olhos brilhando por antecipação. Ela apoiou as mãos em seu peito e continuou com os olhos fixos nos dele, deixando que ele visse todos os sentimentos que ela carregava consigo.

— Você é o homem mais incrível que eu já conheci. Em todos os aspectos possíveis. Eu posso ter sido burra e cega, por Deus, nem consigo pensar em como seu amor nunca foi evidente pra mim, mas acontece que eu não estava pronta pra lidar com tudo que eu sentia por você, Oliver e por isso eu sempre racionalizei, sempre preferi deixar você dentro da minha teoria perfeita, inalcançável, com altas barreiras, para que eu não tivesse o meu coração arrasado. – Ela sorriu melancólica e continuava encarando um Oliver sereno. – Mas aí eu vi que tinha errado outra coisa sobre você.

Ele avançou mais um pouco, as mãos continuavam dentro dos bolsos, com os punhos fechados. O seu cérebro parecia querer explodir com tanta informação para processar.

— O que? – Ele perguntou quando se encontrava há poucos centímetros de distância da boca dela, sendo envolvido pela calmaria e sensualidade que aquela voz transmitia.

— Que você jamais arrasaria o meu coração, mesmo sendo o único capaz disso. – Ele sentiu o ar faltar de seus pulmões por alguns segundos, ao entender a implicação daquela frase. – Eu só espero que meus erros não sejam o suficiente para eu deixar de ser a mulher que faria você ficar.

Antes que ela pudesse voltar com seu monólogo, ele a beijou. As mãos dele se enterraram nos cabelos loiros, enquanto as bocas se exploravam com ânsia e paixão. Quando ele a beijou, sentiu sua mente girar, como na ultima noite. Todos os sentimentos de raiva, dor e desespero haviam sumido. Foi como na primeira vez: paixão, nua e crua. O sentimento de estar fazendo a coisa certa e uma enxurrada de necessidades e sensações. Ele se afastou lentamente e encarou os olhos azuis repletos de paixão e felicidade genuína. Ela o amava!

— Você é a única que me faria ficar. Isso nunca vai mudar, Felicity. – Ele sorriu quando viu os olhos dela se encherem de lágrimas e o brilho de felicidade se intensificar. – Eu amo você e não vou a lugar algum.

Ela o abraçou com necessidade. Como se pudesse ter tudo dele naquele abraço. Sentiu tanta falta dele naquela semana. Não podia imaginar sua vida sem Oliver antes de saber que o amava. Agora tinha certeza absoluta que não podia viver sem ele.

— Criei uma nova categoria: O homem que eu amo. - Ela se afastou o suficiente para encarar os olhos do homem que amava.

— Contanto que eu seja o único homem dentro dela, sem problemas. – Ele sorriu enquanto a via gargalhar.

— Definitivamente você é o homem que eu amo. – Ela voltou a colar seus lábios nos dele, para nunca mais separar.


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