— Então quer dizer que você realmente recusou sair com ela, Pontas? – Sirius perguntou pela segunda vez, descrente

— Ué, recusei... não estou nem um pouco a fim de sair com ninguém...

— Ninguém que não seja a Lily, não é? – Peter comentou, deitado no tapete.

Marlene e Dorcas riram, ao que Lily se esticou e deu um peteleco na cabeça dele, depois voltando para recostar-se ao lado de James.

— Você pegou o espírito da coisa, Rabicho... – James piscou, e Lily então virou-se para dar um tapa também na cabeça dele, fazendo-o rir

A verdade é que nenhum deles ali lembrava mais como era antes de serem todos amigos e muito próximos. Até perto do terceiro ano, Lily andava apenas com suas amigas Marlene e Dorcas, numa espécie de trio maravilha, ocasionalmente mais próxima de Remo Lupin. Mas Sirius e James eram, com certeza, as pessoas menos prováveis de que Lily se aproximasse, principalmente porque Potter a chamava para sair numa constância irritante.

Mas então ele se tornou monitor, substituindo o antigo colega que recém se formara, e Lily não teve muita opção. Se tornou, primeiro, uma obrigação interagir com James, mas os meses foram passando na atividade, e Lily percebia cada vez mais que gostava da companhia de James.

Quando passaram a almoçar juntos, estudar juntos e, até mesmo, sair juntos, entre amigos, no final de semana, foi só uma questão de tempo até que Sirius, Remo e Peter também se aproximassem, bem como Marlene e Dorcas.

Era uma tarde de sexta, após a escola, um dos poucos dias em que nenhum deles tinha nenhuma atividade extracurricular e, consequentemente, o melhor dia da semana. Remo, Dorcas e Lene passariam no Starbucks ao lado de Hogwarts High e comprariam as bebidas favoritas de todos antes de irem para a casa de James.  Sirius, Peter, James e Lily iriam sempre juntos no carro do primeiro, logo chegando em casa e escolheriam um jogo, filme ou algo para fazerem em conjunto até que anoitecesse.

Era um bom final de adolescência, antes da vida universitária e as obrigações.

— E você nem mesmo passou meu número para ela? Nem para ajudar seu amigo aqui? Tô na seca há um tempão!

— Você dormiu com a Emmeline há duas semanas Almofadinhas! – Remo relembrou, fazendo os amigos rirem, ao que Sirius disse que duas semanas com certeza já era muito tempo.

— Imagina o coitado do James, que faz mais de seis meses que nem fica com ninguém... – Peter comentou, inocentemente, fazendo James rir constrangido

— Ah, sei lá... só não estou a fim esses tempos. Está bom como está... – respondeu simplesmente, dando de ombros. Mas como o clima ficou estranho ele logo emendou a velha piada. – Mas, claro, se a Lily me desse uma chance, era outra história!

Os amigos obviamente riram e, recostada no ombro de James, Lily corou, fazendo uma careta de deboche logo em seguida e levantando-se para jogar seu copo no lixo.

— Eu acho que depois dessa até deu a minha hora eim... – comentou, espreguiçando-se

— Ah, qual é, ruiva... só estamos implicando. Todo mundo sabe que você não dá corda para as cantadas do Pontas! – Sirius amenizou. – E o Rabicho tem que aprender a segurar a própria língua para não criar essas tortas de climão de graça!

Sirius se levantou do sofá, ao lado de Dorcas, dando um tapa na orelha de Rabicho, e aproveitando para levar a tigela de pipoca, agora vazia, de volta para a cozinha.

— Sim, eu sei que estão brincando... mas realmente está na minha hora. – ela sorriu, piscando para Sirius. – Amanhã eu vou cedo para o abrigo de animais para o mutirão de vacina... aliás, nós vamos mesmo no aniversário daquela menina do primeiro ano... Tonks eu acho?

 - Mas é óbvio que vamos Lily! Desde quando a gente vai perder a chance de ver o Remo flertando com alguém! – Marlene devolveu, numa empolgação exasperada para constranger o amigo

Remo sentia o rosto flamejar. Levantou-se para pegar seu casaco e ir à cozinha pegar água.

— Ah, não é assim. Tonks é uma amiga!

— Certo, e daí? Não muda o fato de que você quer dar uns pegas nela. – Sirius provocou, jogando-se novamente no sofá

— Falar “dar uns pegas”, se tratando de uma menina do primeiro ano soa tão errado, Sirius. – Dorcas comentou, fazendo os demais rirem – Aliás... Remo é o maior papa anjos da história! Primeiro a Héstia Jones, agora essa Tonks...

— Nem vem! Héstia Jones tinha mal um ano de diferença! E sempre foi tudo consentido, eu jamai...

— Ele continua pegando corda né? – Marlene ria da defensiva de Remo. – A gente vai sim, Lils... você quer carona amanhã?

— Seria bom.. vou ver meus horários e falo com vocês no grupo. – Lene concordou

— Você vai no meu carro? Porque eu meio que vou para o outro lado, levar as meninas, aí fica ruim para te deixar em casa... mas posso parar na estação de Arnos Groove para você. Duas estações de casa. – Remo perguntou, calçando os tênis

— Deixa. Eu a levo em casa, Aluado.

— Não, James. Tá tranquilo! Da Arnos Groove é fácil para chegar em casa...

Mas quando James enfiava algo na cabeça, não era lá fácil fazê-lo mudar de ideia. Em coisa de cinco minutos, James tinha posto um casaco por cima da blusa, calçado o tênis que deixara ao lado da porta, e tinha a chave do carro em mãos.

— Você vai comigo, cachorro? – perguntou, virando-se para Sirius

— Claro! Que não... não mandei ser gado de ninguém. Nada pessoal, ruiva. – ele riu, ligando a tv da sala de James, ao que Lily apenas concordou.

Sirius passava mais tempo na casa de James do que na própria, o que fazia Euphemia Potter, a mãe de James, tratar Sirius como um segundo filho.

— Amanhã as 20h, certo? – James perguntou, confirmando os planos com os amigos antes que Peter, Lene e Dorcas entrasse no carro de Remo.

— Isso. Eu mando a localização no grupo mais tarde. – Remo garantiu, batendo a porta. Os amigos o seguiram, deixando James e Lily para também entrarem no carro.

— Da próxima vez eu vou dizer para o Remo simplesmente me levar, sem perguntar nada... é ridículo você sair de casa para me levar se eu posso ir de metrô.

— É ridículo você ir de metrô e andar quinze minutos no frio se eu posso sair e levar você de carro. Não estou carregando você nas costas, ué!

Lily riu, aceitando que perdera. James se tornara seu melhor amigo, e ela nem mesmo conseguia se imaginar sem o bom humor constante dele ao seu redor. Não gostava quando os amigos faziam piadas insinuando que ela e James deveriam ter algo, pois sentia que não daria certo.

Não que James não fosse seu estilo de garoto, ao contrário. As vezes achava que seu estilo era exatamente James Potter, com os cabelos arrepiados e bagunçados, os óculos dando um ar de intelectual, o sorriso de canto de boca que brincava entre o doce e o malicioso.

James era muito bonito.

Mas Lily simplesmente era acostumada com a amizade de James, que era tudo que mais gostava, e não estragaria isso por uma ficada com ele, mesmo que ele beijasse muito bem, segundo os boatos que uma ex, Amélia Bones, gostava tanto de espalhar pela escola.

E tinha o fato de Lily ter certeza de que tudo era só uma implicância antiga de James. Afinal, ele parara 90% dos flertes depois que tinham se tornado amigos, e os que ainda tinham permanecido eram apenas ocasionais e contextualizados com as piadas dos amigos.

— Você não quer por uma música? Tá tão quieta, Lils... tá tudo bem?

— Sim, tá sim. – ela tirou os pensamentos do foco. – Ah, sabe o que achei? Uma playlist no meu Spotify chamada “Melhores do Pop 2009-2013”, que eu fiz no secundário ainda, acredita? Eu achei cada pérola! Quer ouvir?

— Pode aumentar o volume! Pop de 2009 é meu estilo favorito! – ele debochou, fazendo com que Lily lhe mostrasse uma careta e arrancasse risos. Ela ainda assim deu play.

Primeiro tocou Selena Gomez, fazendo Lily inventar uma coreografia aleatória sentada.

— Você não amava quando ela atuava no Disney Channel?!

— Eu amava Selena Gomez de qualquer jeito, Lily! Eu tinha uns 10 anos, eu só bastava ver uma menina bonita que ela virava minha crush. – Lily riu da honestidade de James

Então foi a vez de uma banda de que Lily não se lembrava mais, seguido de One Direction.

— Certo, deles eu gostava! – James comentou, preparando-se para cantar. – Acho que devo saber todas as músicas, ou quase isso.

— Tá de brincadeira?! – ele negou. – Okay, eu te amo James Potter!  Eles eram simplesmente os maiores ídolos da minha vida! Toda vez que eu ia à Piccadilly com minha mãe eu ficava maluca com a chance de encontrar um deles! – Lily estava tão empolgada que nem mesmo viu o sorriso de James, quando dissera que o amava.

Ela cantou a primeira música a plenos pulmões, e quando outra música deles emendou-se à primeira, nem mesmo tinha fôlego para continuar. Mas surpreendentemente James estava pronto para fazer sua audição ao The Voice Lily Evans.

— Oh I just wanna take you anywhere that you like, we could go out any day or any night. Baby, I'll take you there, take you there. Baby, I'll take you there, yeah! – ele dera uma piscadinha para Lily quando pararam em um sinal fechado.

Ela ficara surpresa. James realmente sabia a letra, e mais! James cantava bem! Muito bem!

— Me leve em casa então, senhor. – ela brincou, rindo e respondendo ao convite que a música fazia.

James continuou cantando para ela a segunda estrofe, até que Lily assumiu o refrão. O sinal recém abrira, e James já estava a três ruas da casa de Lily.

— And if youuu, You want me toooo let's make a mooove. So tell me, girl, if everytime we tooouch, you get this kind of ruuush. Baby, say yeah, yeah, yeah. Yeah, yeah, yeah.

Estava muito empolgada, era a primeira vez em muito tempo que cantava suas músicas favoritas, principalmente com o melhor amigo do lado. James não deixou-a cantando só e continuou a segunda parte do refrão, batucando no volante.

—If you don't wanna take it slow and you just wanna take me home, baby, say yeah, yeah, yeah. Yeah, yeah. And let me kiss you!

Lily ria alto, muito empolgada. James estacionara na frente de sua na metade da segunda parte da música, e Lily logo pediu que eles esperassem a música acabar para ela então descer.

— And if youuu, You want me toooo let's make a mooove. – Lily desafinava, mas cantava com muita empolgação. James soltou o cinto se segurança e virou-se para o banco de carona, preparando-se para cantar com Lily o resto da música.

— So tell me, girl, if everytime we tooouch, you get this kind of ruuush. Baby, say yeah, yeah, yeah. Yeah, yeah, yeah. If you don't wanna take it slow and you just wanna take me home, baby, say yeah, yeah, yeah. Yeah, yeah. And let me kiss you! – eles partilharam a cantoria juntos, segurando as mãos fechadas em punho perto da boca, como microfones imaginários.

A música tinha um intervalo de instrumental e sons antes de repetir o refrão, parte que Lily assumiu de bom grado, sacudindo os cabelos e fingindo tocar uma guitarra, virada de frente para o amigo. James sorria da cena, aproveitando aquele momento.

— So tell me, girl, if everytime we tooouch, you get this kind of ruuush. Baby, say yeah, yeah, yeah. Yeah, yeah, yeah. If you don't wanna take it slow and you just wanna take me home, baby, say yeah, yeah, yeah. Yeah, yeah. And let me kiss you!

A música repetia seu refrão pela última vez, dando indícios de que acabaria logo. Lily estava com os cabelos bagunçados, e parara sua coreografia com cantoria para dar uma gargalhada. Seu rosto parecia aceso. James também parara de cantar e só sorria, estava perto, inclinado na direção dela. Havia uma tensão palpável, de um jeito bom. A música continuava tocando, com seus “Yeahs” cadenciados e engraçados.

James se inclinou mais perto, de uma maneira que Lily ficava quase colada a ele. Obviamente os dois pressentiam o que iria acontecer, mas o momento estava suspenso no ar, como que esperando algo. Lily olhava dos olhos para os lábios de James, e sentia-se confusa de jeitos muito esquisitos.

— Yeah, yeah. And let me kiss you! – ele murmurou, no tempo da música, e então Lily o beijou.

Segurou-o pela nuca e beijou-o com uma intensidade que nem sabia que era capaz. James segurou-a pela cintura e acariciou os cabelos ruivos enquanto se deixava perder no beijo que há tanto tempo desejava.

A outra música estava perto da metade quando os dois se separaram, ofegantes. James dera uma risadinha, e Lily parecia constrangida. Não tinha coragem de olhá-lo nos olhos.

— Desculpa.

— Óbvio que não! Obrigado, isso sim! – ele riu, ainda acarinhando o cabelo de Lily.

— Agora vai ficar tudo estranho, não vai? – ela perguntou, olhando para a rua

— Só se você quiser agir estranha comigo. Mas eu vou continuar o mesmo. Fazendo cócegas em você, roubando batatas do seu almoço, pedindo que assine minha frequência na monitoria, sendo seu escravo pessoal, pedindo que saia comigo...

Lily riu. James deixava tudo leve, e era óbvio que até nesse momento ele faria piadas e quereria fazer Lily rir. E ele conseguia isso com facilidade.

— Você é meu melhor amigo, Jay. Não quero perder isso. – ela murmurou, olhando para ele.

— Não posso ser seu melhor amigo e, ainda assim, te dar uns beijos? – Lily riu, percebendo que ele brincava com um grau de verdade.

— É sério isso? – respondeu, ainda rindo.

— Sério como a gente cantando One Direction dois minutos atrás... – James a olhava com intensidade. – Você também é minha melhor amiga, Lily. E eu estou apaixonado por você.

Ela ficou em silêncio, absorvendo a informação. Era como se uma bomba tivesse caído no meio do deserto, e você tivesse que esperar a tempestade de areia sumir antes de se mover novamente. Depois de algum tempo, James apenas se sentiu um grande idiota por ter falado o que disse, já que Lily não respondia.

— Olha só, sobre o que eu disse por últim...

— Você quer sair?

— Como?

— Sair. Quer sair comigo? Pode ser no domingo... podemos ir ao cinema. – ela perguntou, olhando para o zíper da mochila.

— Tipo um encontro? – James estava bastante confuso, Lily estava o chamando para um encontro?

— Isso... a gente pode tomar um café, ou comer um sanduíche. Não sei. Ir ao cinema, talvez. – deu de ombros, como se não ligasse. – Se você não puder, ou não quiser, não tem problema, eu vou ent...

— Eu te busco que horas mesmo? – ele brincou, fazendo Lily dar um risinho.

James acariciou o cabelo dela mais uma vez e cantarolou um pedaço da música que estava tocando, ao que Lily apenas aproveitou a voz e o afeto dele.

— Vem cá, eu preciso cantar One Direction outra vez para poder te beijar de novo? – perguntou, em tom de desafio, ao que Lily apenas riu e o beijou, ignorando completamente a propaganda do Spotify que substituía a última música.