Dinastia 1: O Sonho Real escrita por Isabelle Soares


Capítulo 4
As escolhas da Vida




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Adentramos a Abadia. Ela era enorme e tão bela! Embora já tenha vindo aqui algumas vezes, eu nunca cansava de apreciar a sua beleza estonteante. Como eu imaginava, ela estava lotada de gente e muitos eu nem mesmo conhecia. Casamentos reais são conhecidos por terem muitos convidados, mas Edward e eu fizemos de tudo para que tudo fosse o mais discreto possível, porém ainda assim tinha se tornando em algo grandioso.

Eu estava aterrorizada e extremamente nervosa. Afinal, minha vida estava mudando completamente. Num dia eu era uma garota pobretona que tinha vindo dos Estados Unidos e no outro eu havia me tornado a Duquesa de Richamond, a caminho de me tornar a esposa do futuro rei de Belgonia. É mais do que eu poderia imaginar. Se alguém um dia me dissesse que isso aconteceria eu direi que essa pessoa estava brincando comigo. Entrar para realeza? Era um sonho alto demais! Porém, ali estava eu tendo o meu conto de fadas particular.

A marcha Nupcial começou a tocar e as pessoas se levantaram a me ver. Mas alguns passos eu me encontraria com o meu príncipe real.

                                 ***

— Eu nem acredito que está nevado! – Mike disse num dia desses, onde tudo era natural demais.

— Eca. – eu disse. – Odeio neve!

— Você provavelmente é a única pessoa nesse planeta que não gosta de neve, Bella! – disse Jéssica com desprezo.

— Sabe... Neve às vezes pode ser um pouco incômoda. – Mike disse tentando ficar ao meu lado na discussão.

— Não precisa dizer isso Mike. Agradeço o apoio, mas não julgo ninguém pelos seus gostos.

Eric e Angela riram e Mike corou. Ele ainda tentava se aproximar de mim de todas as formas por mais que eu tentasse mostrar a minha total falta de interesse nele. Além dele não ser o tipo de homem com quem eu sairia, estar perto dele atraia certa raiva de Jéssica que não tinha ainda tido a coragem para dizer a ele o que sente. Eu não queria confusão pro meu lado.

— Então, tudo em cima para a nossa festinha? – Mike perguntou tentando mudar de assunto.

—Por mim está tudo ótimo! Acertei o local, as comidas e a decoração. Falta providenciar as bebidas. – falou Jéssica.

— Pensei que seria algo simples. –indagou Angela.

— Simples? Temos que arrasar! Fazer História nessa universidade!

— Concordo Jéssica. – concordou Mike. -Se vamos fazer alguma coisa tem que ser um grande sucesso.

— Já pensaram na data? – perguntou Eric.

— Infelizmente só consegui agendar o salão para o fim do mês. O bom é que posso pensar em tudo. – explicou Jéssica.

— Você está calada Bella. – observou Mike. – Não está interessada na festa?

— É uma idéia bacana, Mike, mas provavelmente não vou estar presente. Minha mãe me prometeu me visitar no fim do mês e eu realmente quero estar com ela.

— Isso não a impede Bella.

—Mike não insista. Bella claramente não quer ir à festa. – rebateu Jéssica.

— Se você diz Jéssica... Não quero dar uma resposta definitiva agora.

E eles começaram a fazer planos para a tal festa. É claro que eu não me sentiria a vontade, assim como não estava me sentindo agora. Eu nunca fico muito a vontade quando tem muita gente por perto, eu nunca sei como agir. Embora, eu tentasse e quisesse ser diferente. Pensei em Edward. Como deveria ser para ele ter que sorrir o tempo todo e fingir que estava ambientado o tempo inteiro? Automaticamente direcionei o meu olhar para a mesa dele e como se eu o tivesse o chamado, ele me olhou de volta e ficamos nos encarando por alguns instantes. Será que ele pensava da mesma forma que eu ou era só charme?

— Por Deus Bella! O príncipe Edward está olhando para você. – disse Jéssica espantada.

— É mesmo? – perguntei fingindo de desentendida.

— Ele tem andado muito próximo de você, Bella... Agora não tem mais a desculpa de que é só por causa do trabalho que vocês tinham que apresentar.

— Nós só somos colegas Jéssica se é isso que quer saber. Nós só conversamos sobre coisas da disciplina.

— Bom, pelo menos tem o que falar na frente dele. Eu acho que eu ficaria muda em seu lugar.

Ri meio embaraçada. Eu também não tinha o meu total controle quando ele estava perto de mim. Era incrível o que ele poderia fazer conosco, pobres mulheres. Devia ter um milhão delas sofrendo por ele nesse momento.

— Sinceramente... Eu nunca o vi muito perto de alguém como ele está de você agora.

— Você fala Jéssica como se convivesse anos com ele.

— Não convivi, mas eu tenho uma amiga que está no mesmo semestre que ele e ela me disse que ele nunca se relacionou com ninguém daqui e sempre permaneceu como o conhecemos: isolado de todos.

Não consegui responder e nem sabia como. Eu conhecia tão pouco de Edward Cullen que nem poderia saber se o que ela disse era verdade. O que eu tinha que chamou tanto a atenção dele?

— Não tem mesmo nada rolando entre vocês, não é?

— Claro que não Jéssica! O que você acha que um homem como ele iria querer com uma mulher como eu?

Ela não falou mais nada e nem poderia, concordava inteiramente comigo nesse quesito. Vai ver ele só me achava uma aberração muito interessante.

O sinal tocou e seguimos para as nossas salas. Confesso que eu ainda sentia nervosa toda vez que eu me lembrava que eu iria estar perto dele por alguns minutos. Senti um alívio quando vi que a nossa carteira ainda estava vazia. Um verdadeiro milagre! Pois Edward sempre chegava com antecedência à aula. Eu mantive os meus olhos longe da porta, batucando á toa na capa do meu caderno. Quando de repente, ouvi a cadeira rangendo ao meu lado, ele chegara.

Eu olhei pra cima, ele estava estonteante! O cabelo dele estava pingando de tão molhado, desgrenhado por causa da chuva que finalmente resolvera cair, seu rosto estonteante era amigável, aberto, um leve sorriso nos seus lábios indefectíveis.

— Olá.

— Oi.

Fiquei o observando enquanto ele sentava e ajeitava as coisas para aula. E depois de todo o ritual, ele me olhou bem como se estivesse me analisando e eu rapidamente olhei para baixo corando feito uma boba.

— O que aconteceu no refeitório? Você me olhou como se me pedisse ajuda. Eu quase me levantei para ver se algum deles estava ameaçando você.

—Não seja exagerado! Era apenas uma bobagem...

— Que bobagem?

— Eles estavam falando da festa dos calouros que eles estão organizando.

— E por que isso parece ruim?

— Pensei que havia sido você que havia me dito que não se sentia bem em festas.

— Eu estou perguntando sobre você. – Ele me lançou um olhar tão atento que parecia estar me escaneando e isso me assustou um pouco.

— Por que eu também tenho essa sensação de estar perdida quando estou em locais cheios e agitados como uma festa.

Ele pegou a minha mão como se quisesse me confortar.

— Eu sei o quanto isso é difícil, Bella, mas acho que deva ir.

— Por que eu faria isso? – Olhei para ele como se ele fosse um lunático. Isso por que ele não sabia das minhas totais faltas de modos para dançar.

— Por que devemos viver o máximo que a vida pode nos proporcionar. Para depois dizer que não viveu tudo.

— Nossa que profético!

Ele riu e desviou o olhar por alguns instantes como se estivesse pensando em alguma coisa.

— Acredite Bella, mesmo que não goste de festas, coisa que eu não a julgo, deve aproveitar a liberdade que lhe dá direito a aproveitar todos os tipos de coisa.

Aquilo foi bem forte, pensei. O que ele queria dizer além do óbvio? Esperei que dissesse mais alguma coisa, mas ele permaneceu calado até a chegada do professor e o início da aula. Que estava bem interessante por sinal. Eu adorava estudar a “alma” das obras literárias, isso nos deixava tão mais próximos do autor e também bem maiores do que somos. Porém, as palavras de Edward dançavam na minha mente. Não era nada demais o que ele havia dito, eu sei, mas acionou a minha curiosidade para saber tudo a respeito dele e o que ele não costumava falar. Loucura? Claro que era, mas também completamente novo para mim. Eu nunca me sentira tão aguçada por alguém antes.

Não nos falamos até o professor pedir que fizéssemos uma analise de uma estrofe de uma poesia que estávamos estudando. E claro que o trabalho era em dupla. Ótimo!

— Então parceira?

— Tenho alguma outra escolha? – disse enquanto dava um sorriso maroto.

Ele pegou o caderno e começou a copiar a estrofe com uma letra divina. Por que será que os príncipes deveriam ser tão perfeitos? Tentei me concentrar nas palavras que ele escrevia no caderno. Era um poema bonito, falava sobre as escolhas que tínhamos que tomar na vida de uma maneira bem abstrata, misturando diamantes e estradas. Parei para pensar um pouco, o quão poderoso era uma escolha? Nunca tinha parado para pensar nisso antes. Mas por mais que pequena que seja uma escolha pode mudar toda uma vida, para melhor ou para o pior. E como saber que decisão tomar? Difícil... De repente pensei em o que Edward acabara de me dizer. Será que ele se reprimia tanto por medo de tomar decisões erradas? Devia ser difícil levar o peso do mundo nas costas... Mas será que era isso mesmo que ele pensava ou era apenas o que eu queria ver? Olhei para ele procurando respostas, mas no momento não consegui ver nada. Ele era sempre um mistério, ou pelo menos tentava ser.

— Bem profundo não é? – perguntou.

— Com certeza. Nunca tinha parado para pensar nisso antes, nas escolhas da vida.

— Não é algo que todo mundo costuma pensar.

— Você teve que pensar. – afirmei categórica.

— Eu não nasci com escolhas.

Antes que eu pudesse perguntar algo mais, ele olhou para baixo para escrever os comentários sobre o que ele havia compreendido sobre o trecho. Definitivamente ele se esquivava para falar a respeito de sua vida como um príncipe. Colocava um muro entre nós quando o assunto chegava. O porquê disso eu não sabia, mas seria bem insistente em descobrir.

Depois que ele terminou peguei a folha e escrevi os meus comentários logo abaixo dos dele, tentando ser o mais sucinta possível. Formos os primeiros a terminar pelo que tinha percebido. Os nossos colegas estavam alvoroçados em tentar descobrir o que aquele emaranhado de letras tentava dizer. Para mim e Edward parecia fácil afinal, eu poderia dizer que eu era boa em decifrar palavras e coisas. Eu era uma leitora voraz.

O silencio entre nós era constrangedor. Eu olhei pra cima, e ele estava olhando pra mim, aquele inexplicável olhar de frustração nos seus olhos, como se quisesse me decifrar assim como eu queria decifrá-lo.

 O professor passou em nossa mesa para saber se tínhamos terminado. Pegou a nossa folha e leu o que tínhamos escrito.

— Terminaram rápido! Vocês são mesmo bons parceiros! É bom que fiquem juntos afinal de contas.

Ele saiu e nos deixou a sós de novo com o nosso silêncio constrangedor. Eu queria falar alguma coisa, mas tinha medo de falar alguma bobagem absurda e ele se trancasse de novo. Era difícil conversar com alguém como se tivesse pisando em ovos.

— Parece que a neve não durou muito, não é? – Sobre o tempo? Sério? É notório que eles se esforçava para falar qualquer coisa comigo e quebrar o gelo.

— Ainda bem. Não gosto de neve.

— Mesmo? Deve ser difícil viver aqui não é? Afinal temos quatro meses inteiros de inverno e frio aqui em Belgonia.

— Você não faz idéia! – Ok, eu definitivamente não era normal.

Ele me olhou mais uma vez com um olhar fascinado. Eu não conseguia entender a curiosidade dele por mim afinal de contas. Eu não era interessante e extremamente esquisita. Será que ele tentava entender por que eu era assim?

— Então, o que a fez vir morar na Europa? E em Belgonia?

— É complicado...

— Complicado como? – ele rebateu da mesma forma como eu tinha feito mais cedo.

— Eu achei que estava desprezando demais o meu pai...

— Por que?

— Minha mãe mudou-se comigo quando era muito pequena para os Estados Unidos e depois disso eu só via o meu pai nas férias de verão ou quando ele vinha me ver nos feriados.

— Isso é muito bonito. Com certeza seu pai deve estar muito feliz em tê-la com ele.

— Ele está.

— Mas agora você está infeliz.

— Como?

— Não parece muito justo você ter que abdicar de tudo que gosta para tentar consertar os erros do passado.

— Ninguém te falou? A vida não é justa!

— Verdade.

Rimos como nunca tínhamos feito. Mas agora eu não me sentia uma heroína por tentar fazer a felicidade dos meus pais. Eu nunca tinha pensado dessa forma. Eu cresci com eles separados e me acostumei com isso. Na verdade, eu nunca consigo imaginar uma realidade onde eles viveriam juntos outra vez.

— No começo foi difícil. – comecei. – Eu achava tudo diferente aqui em Belgonia, principalmente o clima e a falta constante de estar de olho na minha mãe. Mas eu gostei de viver com o meu pai. Ele se parece muito comigo e nos damos bem. Ele também merece um pouco de carinho e atenção da minha parte. Não me sinto obrigada e nem penalizada por fazer isso.

— Eu sei, não quis dizer isso, mas alguma coisa me diz que você está deixando alguma coisa de fora.

Olhei para ele surpresa. Ele estava ficando bom nesse negócio de análise. Pensei se deveria contar afinal eu mal o conhecia e não gostava de dividir muitas informações sobre mim para outras pessoas, assim como ele, aparentemente, mas resolvi confiar.

— Minha mãe se casou de novo.

— E? Não gosta do novo marido dela?

— Não. O Phil é legal. Mas sabe aquela sensação de que está no lugar errado... Que está incomodando.

— Sua mãe lhe disse isso?

— Não, claro que não. Mas eu sentia que ela ficava meio sentida em não poder acompanhá-lo nas viagens que ele tinha que fazer para poder ficar comigo.

— É meio complicado mesmo. Qual é a profissão dele?

— Ele é jogador de beisebol da segunda divisão e bem mais jovem que ela.

— Isso te incomoda.

— Não acho que ele seja o tipo de pessoa para ela. Minha mãe sempre foi meio desligada, precisa de alguém que fique de olho nela e Phil é igual ou pior que ela.

— Isso te preocupa.

— Claro. Mas quem sou eu para julgar? Se ele a faz feliz, então tudo ótimo!

A aula chegou ao fim e Edward, como sempre, me acompanhou até próximo ao bloco onde seriam as nossas próximas aulas. Mas dessa vez ele foi além, me acompanhou até a porta da minha sala.

— Posso estar enganado, mas acho que está sofrendo muito mais do que deixa transparecer.

Engoli em seco. Odiava o fato de ser tão transparente! Olhei para o lado tentando disfarçar, mas para que? Ele já sabia.

— O mesmo posso falar de você.

Ele riu da minha tirada inesperada, com certeza ele não esperava por isso.

— Por que a gente não sai outra vez? Aí a gente pode conversar um pouco mais...

Ele estava me convidando para sair ou eu estava sonhando. Minhas pernas ficaram bambas de repente e eu fiquei completamente sem voz. Acho que muito provavelmente ele estava pensando que eu estava morrendo de tão branca que eu deveria estar.

— Algum problema Bella?

— Não... Eu acho a idéia ótima!

— Então combinado. Tem algum compromisso para hoje à noite?

— Já? Que dizer... Não.

— Ok. Te pego as seis pode ser?

— Claro estarei esperando.

Entrei na sala meio aérea e fiquei assim o dia inteiro e até me atrapalhei um pouco no trabalho por causa disso. Era bom Edward me dar um bom cargo caso eu perdesse o meu trabalho por causa dele. Ri no pensamento por conta da minha piada secreta.

Como uma pessoa poderia mudar tanto outra? Pensei o quanto eu era absurdamente inexperiente no campo do amor. Era ridículo a minha lista de relacionamentos levando em conta a minha idade. Eu só tinha saído com um garoto uma vez quando tinha 14 anos e com quem eu dera o meu primeiro, nojento, beijo. Depois disso eu não namorara ninguém. Não sei se a minha experiência ruim com o meu primeiro beijo influenciou, mas a verdade é que eu nunca me importara muito com essa coisa de romance. Muitas garotas faltavam se matar para tentar conseguir o cara certo, e eu só me importava em estudar bastante e tirar boas notas. E também eu nunca tivera muitos bons exemplos de grandes relacionamentos amorosos a minha volta. Minha mãe conhecera meu pai numa tarde de verão e um mês depois eles se casaram por que ela estava grávida de mim, o resultado foi desastroso para ambas as partes. Então, eu sempre ficava com um pé atrás, sempre querendo que tudo fosse o mais claro possível do que estava acontecendo e só me entregar quando eu tivesse certeza.

E agora eu estava caindo num abismo profundo. Eu não estava entendo nada do que estava acontecendo comigo e com os meus sentimentos. Edward transformou tudo. E eu não sabia o significado daquilo. Seria capaz de eu está me enganado? Não iríamos a um encontro essa noite? Somos só amigos ou ele me ver diferente? Será que ele sente o mesmo que eu ou eu é que estava sendo absurda como sempre? Muitas perguntas, mas poucas respostas.

Cheguei ao meu dormitório e vi Angela e Ben se beijando. Bonitinhos! Atravessei o quarto até o meu guarda- roupa para evitar ficar olhando para eles e atrapalhar tudo. Mais uma vez fiquei aflita por ter tantas poucas roupas adequadas para o momento. Acabei pegando a melhorzinha. Se ele não gostasse seria problema dele. Esse era o meu estilo e ele teria que gostar de mim do jeito que eu era.

Eu tinha acabado de me arrumar quando ouvi as batidas de Edward na porta. Angela e Ben conversam agora e quando ela me viu indo até a porta me deu sorriso encorajador. Sorri feito uma boba quando o vi e ele me sorriu de volta. Uma cumplicidade certa.

— Você está pronta?

— Sim.

Como da outra vez, ele me levou até o carro preto com vidro fumê. John, o motorista, estava nos esperando e eu me perguntei se Edward não dirigia nunca.

— Onde estamos indo? –perguntei

— Surpresa.

— Você e suas surpresas...

— Isso não lhe agrada?

— Eu sou uma garota prática.

— Espero que não seja agora. Eu realmente quero surpreendê-la essa noite. A propósito, você está muito bonita.

Agradeci e corei. Era possível que ele estivesse me cantando? Era ruim não ter muita certeza do que ele realmente queria com uma simples garota como eu. Lancei um olhar discreto para ele e percebi que ele tocava nos cabelos com muita freqüência e tentava se distrair chupando algumas balas de menta, sinais claros de nervosismo. Seria mesmo? Ele estava nervoso em estar comigo ou seria uma má interpretação minha?

— Não poderia me dar algumas dicas?

— Você é realmente incrível! Não vou lhe contar.

Fiz uma cara de indignação e ele deu uma risada linda! Pelo menos eu tinha conseguido distraí-lo um pouco.

— Eu estive curioso com uma coisa... – começou

— O que?

— Você nasceu aqui em Belgonia ou só os seus pais são daqui?

— Eu nasci aqui, mas me mudei com a minha mãe quando ainda era um bebê.

— Hum... Então praticamente não conhece o nosso pequeno país.

— Conheci um pouco quando vinha passar as férias de verão e também esse último ano que estive morando aqui eu pude conhecer algumas coisas.

— Por que? Isso faz parte da surpresa?

— Um pouco. Mas receio que hoje não conheceremos um lugar assim tão exótico, mas é espetacular e é um dos meus preferidos.

— Mal posso esperar!

Sorrimos e em seguida ele pôs o gorro e os óculos, supus então que estaríamos perto e realmente estávamos. Paramos na frente de um prédio grande e esplendido! Era todo cinza, mas trazia formas arquitetônicas do século XIX ao seu redor, certamente não era um prédio recente. John abriu a porta para mim e Edward tocou a minha cintura me conduzindo para dentro. Quando entramos, eu percebi o quanto era ainda mais bonito. Tinha um teto alto e dourado com lustres e as paredes todas brancas ao redor. De repente, me senti tão pequena diante de tanta grandeza, mas ao mesmo tempo era como se eu fosse alguma personagem histórica ou algo do tipo.

— Edward se tivesse me dito que era um lugar assim, eu tinha me vestido melhor.

— Não seja boba! Você está linda.

Um funcionário nos recebeu e nos levou para a mesa mais ao fundo do grande salão. Edward gostava mesmo de discrição, mas eu não sabia se era por que ele não queria ser descoberto ou se não queria que soubessem que estava ao meu lado. Imaginei quantos comentários isso iria render. Estremeci só de pensar.

— Você gosta mesmo de lugares discretos.

— Discrição é tudo.

— Imagino como deve ser difícil para você ter zero privacidade.

— Não é fácil, mas na verdade eu nem sei o que é ter privacidade. As pessoas me conhecem desde que nasci e provavelmente sabem coisas sobre mim que nem eu mesmo sei.

— E esse é um dos lugares que o faz se sentir mais próximo do Edward do que do Príncipe.

— De certa forma sim, mas aqui eu sinto como se pertencesse a História, como se pertencesse ao passado também. Além de a comida ser muito boa é claro.

Ele piscou e eu abaixei timidamente a cabeça. Era exatamente o que eu sentia também, mas no caso dele, não importa o que fizesse já tinha um lugar marcado na História. Eu não. Serei sempre uma garota simples.

— Então, o que a fez cursar letras?

— Acho que foi a minha paixão pela literatura. Chega uma hora que não basta só você conhecer as obras, mas também tem que saber o que tem por trás delas.

— Acho que esse é um bom motivo. Eu também amo ler.

— Sério? Que ótimo! Às vezes é tão difícil encontrar alguém com quem possamos conversar sobre leitura.

— Isso é a mais pura verdade. Passei a vida inteira sendo caçoado pelo meu irmão por passar horas lendo. Ele me chamava de sabe tudo irritante.

— Eu era a rata de biblioteca.

Rimos bastante e só paramos com a chegada do garçom que recolheu os nossos pedidos e saiu meio desajeitado. Era óbvio que ele percebera que tinha acabado de atender um príncipe. Edward, mesmo que se esforçasse, não conseguia se livrar da atenção.

— Qual é o seu livro favorito? – perguntou.

— O Morro dos Ventos Uivantes.

— Sério? Pensei que seria alguma coisa de Austen.

— Orgulho e Preconceito é o meu segundo favorito.

— Me pergunto o que a faz gostar do Morro dos Ventos Uivantes. Acho essa obra extremamente sombria e depressiva.

— É alguma coisa relacionada à inevitabilidade. Como nada consegue mantê-los separados - nem o egoísmo dela, nem o gênio dele, e no fim, nem mesmo a morte...

— Interessante. Eu nunca tinha pensado por esse lado. Realmente algumas coisas são inevitáveis.

— Eu acho que é disso que eu estou falando. O amor deles é a única qualidade que os redime.

Ele sorriu levemente e ficou um pouco pensativo como se estivesse se lembrando de algo e eu queria saber o que Morro dos Uivantes pudesse ser associado a sua vida.

— O que está pensando? – perguntei sem medo de ser muito direta e me surpreendi com isso.

— Isso me lembrou um pouco os meus pais. Sabe, os meus avós eram muito rígidos com relação a todo esse negócio de protocolo e queriam que eu meu pai se cassasse com uma princesa, mas ele não quis, bateu o pé e se casou com a minha mãe, uma plebéia. Mesmo com todos os fatores contra, o amor deles venceu no final e era a única coisa que importava.

— Isso é muito bonito e corajoso da parte dele.

— Sim, foi, mas eu me pergunto se vale o preço.

— Por quê? Sua mãe não ficou satisfeita em estar casada com um rei? Eles não são felizes?

— São. Na verdade, eu não conheço nenhum casal que se dêem tão bem quanto eles, mesmo depois de tantos anos, mas... Ele se arriscou muito. A colocou num caminho sem volta. Num mundo pelo qual ela não conhecia e ela pagou de certa forma. Muita coisa teria sido diferente na vida dela caso ela não tivesse se casado com o meu pai. Teria uma vida normal como todo mundo. Eu me pergunto se não foi um pouco de egoísmo da parte dele...

Nesse momento, eu tive a certeza que Edward não era muito satisfeito com a vida que ele levava. Tudo parecia um fardo para ele. Eu sabia que ele não desejaria essa vida para ninguém, e nem deixaria seus desejos se sobressaírem em favor do outro, mesmo que essa pessoa fosse alguém que ele amasse bastante.

— Mas você não acha que ela teve uma chance para escolher? Imagino que seu pai não a tenha obrigado a nada...

— Não claro que não.

— Então, Edward, ela sabia o que estava por enfrentar.

O garçom chegou trazendo os nossos pedidos e começamos a comer em silencio. Edward deveria estar aliviado por termos sido interrompidos. Eu sabia que ele se esquivava toda vez que o assunto vida pessoal chegava, era o nosso limite. Isso me entristecia por que eu queria conhecê-lo por inteiro.

— Então, há algo nesse lugar que eu deva saber?

— Hoje em dia ele é um restaurante, como pode ver, mas no passado ele já foi muitas coisas, hotel, palácio e até hospital.

— Verdade? Quanta história ele tem!

— Sim. Essas paredes já viveram muita história e já se adaptou a muita coisa. Você sabia que ele foi um hospital temporário para ajudar a cuidar das pessoas que estavam com tuberculose no início do século passado?

— Não. Isso é interessante. Eu imagino como um lugar tão grandioso como esse tenha sido um lugar para abrigar tanto sofrimento das pessoas doentes.

— Sim. A família herdeira toda já tinha morrido, então, a minha bisavó, a rainha Mary, achou interessante transformar esse lugar em algo útil. Todo mundo achou um verdadeiro absurdo, mas ela lutou até o fim para que a idéia dela se tornasse realidade.

— Rainha Mary... Acho que já ouvi falar nela. Ela era uma mulher bem persistente, não é?

— Sim, ela era.

— Então, é por isso que gosta desse lugar? Por que também é um símbolo de persistência dela? De uma revolução na monarquia?

— Não. Eu me imagino pertencendo ao passado, trabalhando aqui como médico e ajudando todas essas pessoas.

— Você queria ter sido médico então?

— Sim, caso eu já não tivesse tantas responsabilidades e futuro definido, eu queria ter sido médico. Eu queria ter a chance de poder mudar a vida das pessoas de algum modo.

— Isso é muito nobre, Edward, mas você pode fazer isso mesmo sendo um príncipe.

— Eu sei. Por isso nós estamos envolvidos em muitas obras e causas humanitárias. Mas ainda assim não acho que seja o suficiente.

— Você pode tornar isso mais do que o suficiente.

— Eu sei. Eu tento.

— Edward. Não é só por que você está na posição que você está não o faz ser um monstro ou um ser desprezível com relação aos outros. Você pode sim fazer a diferença na vida das pessoas e tornar a sua missão mais significativa.

— Como você é uma boa leitora Bella! Eu estou impressionado.

— Eu estou andando demais com você, tenho que descobrir alguma coisa.

— E está tendo sorte, eu presumo.

— Nem tanto. Você se esforça para que eu não saiba de algumas coisas.

— Algumas vezes sim, mas não por desprazer e nem por falta de confiança em você, mas apenas por que eu não quero que me veja da maneira errada.

— Não pode controlar a forma como eu o vejo.

— Eu posso tentar.

— Espero que não se esforce tanto. Eu quero conhecê-lo por completo.

— É mesmo? Me acha tão interessante assim? A pessoa fora da carcaça do príncipe é claro.

— Estaria mentido se dissesse que não.

— Que bom, por que eu não vou me esquivar de você.

Ele tocou a minha mão e eu coloquei a outra por cima da dele. Ficamos assim por alguns minutos. Apenas nos observando e curtindo o momento. Seus olhos procuravam os meus, cheio com as suas próprias perguntas assim como eu tinha as minhas. Definitivamente aquilo estava sendo um sinal verde para algo mais sério e me lembrei do que ele dissera mais cedo, será que eu estava preparada para entrar no mundo dele?

— Bem, não quero que a nossa noite termine aqui.

— Não? Outra surpresa?

— Sim.

Ele chamou o garçom, pagou a conta sem nem me deixar tomar qualquer iniciativa para tal e me conduziu até o carro novamente.

— John, nos leve aquele lugar que te falei.

Pouco tempo depois estávamos num lugar que eu conhecia por ser um campo de patinação e nem preciso expressar o quanto eu estava temerosa por esse momento. Minhas coordenações não eram boas num chão completamente estável imaginem num escorregadio? Tremi só de pensar no resultado daquilo.

— Sem formalidades agora, precisamos de um pouco de diversão. – começou.

—Edward, eu temo que...

— Não Bella. Você não vai fugir essa noite.

— Não é isso. É que...

Ele me interrompeu colocando o indicador na boca e pegou a minha mão me conduzindo para dentro. Ao que parecia, não havia ninguém dentro do lugar a não ser nós e os funcionários.

— Eu reservei esse lugar para nós essa noite. Discrição total.

— Que ótimo! Assim ninguém vai rir de mim quando eu cair.

— Não seja boba.

Ele pegou os patins com os nossos números e eu mal conseguia me imaginar patinando com eles, mas mesmo assim ele mesmo fez questão de colocá-los nos meus pés, assim como o príncipe encantado fez com o sapatinho de cristal da Cinderela. Seria um momento bonitinho se não fosse tão aterrorizador.

— Você não tem muita experiência com patins, não é?

— Nenhuma. Nunca coloquei os pés em um.

— Então, hoje vou lhe guiar nessa aventura.

Seria uma grande aventura mesmo. Mal, ele me colocou de pé já senti o tremor e a insegurança me bater. Mas, ele procurava ser o mais doce e paciente possível comigo. Não tirava as mãos de mim e me dava confiança. Aos poucos até eu estava acreditando que eu podia mesmo patinar e ia me deixando levar por aquela dança perigosa, porém leve e gostosa. Ele me girou devagar e colocou a mão na minha cintura. À medida que eu sentia que ele estava mais próximo de mim, eu estremecia com o choque que parecia sair das suas mãos para o meu corpo e me sentia mais leve e queria até voar. Era assim que era a paixão? Uma sensação descontinua de leveza, emoção e insegurança? Eu me sentia próxima de pular nesse grande penhasco desconhecido, mas ao mesmo tempo um cordão me puxava para a realidade.

Olhei para Edward a procura de alguma coisa que pudesse comprovar o que ele sentia por mim e eu só encontrava um garoto feliz e levado. Naqueles olhos azuis eu só conseguia ver muita alegria, poderia até ser que ele estivesse se deixando levar por toda aquela sensação de escape e loucura. Parecia sincero, mas o que me garantia que aquilo era mesmo sério ou só diversão momentânea?

— Bella, eu nunca me senti assim antes.

— Nem eu.

— Tenho medo que isso seja só uma miragem e que logo você vai estar fugindo quando descobrir no que está se metendo.

— Eu não faria isso.

— Você não sabe de nada.

— Sim, eu realmente não sei, mas posso garantir que eu não sou tão covarde.

Ele me girou devagar novamente e depois uniu os nossos corpos num gesto sensual. Senti o coração estremecer e minha pele toda gelar. Eu queria gritar, chorar e rir, mas não sabia se era adequado.

— Mas só por essa noite eu quero esquecer quem eu sou e estar com você como se eu fosse um jovem perdido por uma garota bonita.

Eu ri levemente e ele inclinou-se para me beijar. Parei de respirar por alguns instantes. Senti as minhas pernas tremerem e se desequilibrarem até que eu caí de mau jeito no chão. Logo senti uma dor imensa vindo da minha perna direita, tão grande que eu mal podia mexer. Deus faça com que eu não a tenha quebrado!

— Bella? Você está bem?

— Eu estou sentindo uma dor horrível na minha perna.

Tentei me mexer, mas a dor piorou.

— Tenha cuidado.

Edward se aproximou de mim e tocou a minha perna e gemi de dor. Ele fez uma cara de culpa e tocou o meu rosto.

— Desculpa Bella.

— Não se desculpe. Não foi sua culpa.

— Bom, pelo menos acho que você não quebrou a perna.

— Como sabe? Não é médico!

— Já quebrei muitos ossos para saber disso. Mas vou levá-la para o hospital mesmo assim.

— Hospital não. Você deve ter razão, eu não devo ter quebrado.

— Seria um idiota se ouvisse você, Bella.

Ele cautelosamente me pegou nos braços, tentando não piorar a situação da minha perna e me levou para o carro. A todo o momento ele me avaliava para saber como eu estava.

— John, nos leve o mais rápido possível para o hospital mais próximo.

— Sim, alteza.

Edward me colocou cuidadosamente no banco de trás com as minhas pernas apoiadas nas dele. A dor era horrível, mas a embaraço era ainda maior. Como eu poderia ser tão estúpida? Mas também não era espanto nenhum, eu era mesmo um desastre em forma de gente!

— Bella, querida, não se preocupe. Logo chegaremos.

Tentei em não pensar nada, mas nada conseguia me distrair. Por sorte, Belgravia não era assim tão grande ou o hospital era mesmo bem próximo por que a gente logo chegou. Edward me tirou com cuidado do carro e me levou para dentro. Nem pensei na confusão que isso causaria ao verem o príncipe herdeiro com uma garota desconhecida nos braços. Iria dar muito pano para manga com certeza. Mas ele parecia não pensar nisso no momento, me levou direto para a emergência e pediu para que eu fosse atendida com urgência. Não sei se havia poucas pessoas ali naquele horário ou se a influencia de Edward colaborou, mas logo fui levada para onde o médico estava.

O médico que estava de plantão de prontidão veio me atender. Ouviu o que Edward tinha a dizer e examinou a minha perna. Tentei disfarçar a minha vontade de chorar, o motivo eu não sabia se era por conta da dor horrível ou pela vergonha mesmo.

— Bom, acredito que seja apenas uma torção, mas por via das dúvidas vou encaminhá-la para a sala de raio X agora.

Permaneci em silencio enquanto me levavam na maca para a sala de raio X, enquanto Edward me seguia, porém ele foi impedido de entrar comigo. Rezei para que ele não se lembrasse de comunicar a alguém da minha família ou Ângela do acontecido. Eu queria evitar explicações e preocupações desnecessárias.

Após tirarem o meu raio X, me levaram para um quarto próximo a sala de espera. Fiquei alguns minutos sozinha e tudo que tinha acontecido nessa noite veio como um turbilhão na minha mente. Meu Deus eu quase fui beijada por Edward! Se eu não tivesse sido tão idiota, eu nem sei como estaríamos nesse exato momento. Eu nem conseguia prever o que poderia ter acontecido. Eu estava emocionada e boba, mas eu sabia que isso significava muito mais. Mas será que as coisas poderiam ficar assim tão sérias ou seria apenas diversão momentânea?

Lembrei de como eu fiquei insegura quando entrei no avião para vir morar em Belgonia. Eu tinha tomado essa decisão meio que com um impulso de coragem, mas eu sabia que por dentro eu era meio covarde. Enquanto estava a metros do chão, eu pensava em como seria a minha vida a partir dali. Será que eu iria me acostumar? Será que eu iria gostar? Será que eu iria sobreviver a tantas mudanças? Claro que o meu pai me ajudou muito a deixar as coisas mais confortáveis, porém quando fui morar no campus eu passei por todos esses sentimentos novamente. Eu era insegura por natureza! Eu tinha dificuldades para confiar nos outros, essa era a verdade! A minha vida com a minha mãe me deixara com muitas responsabilidades e me fez ter uma segurança muito grande em torno de mim mesma e não nos outros. Eu não queria ser como ela. Sonhar de mais e sofrer quando as coisas não saíssem como planejadas.

Minha situação com Edward era muito semelhante a essa que passei quando joguei a toalha e resolvi ser adulta pra valer. Eu tinha que saber como lidar com as minhas inseguranças para poder lidar com o mundo turbulento de Edward. Mas ao mesmo tempo eu não tinha certeza de muita coisa com relação às reais intenções dele comigo. Lembrei-me mais uma vez da conversa que tivemos no restaurante. Eu não queria ter que arriscar tudo, me apaixonar e ser abandonada de repente com um coração partido. Eu queria que tudo estivesse preto no branco definitivamente.

Edward entrou no quarto com uma terrível cara de preocupação. Me avaliou uns instantes e sentou-se ao meu lado.

— Bella, eu fui um estúpido! Eu devia ter ouvido você e não ter lhe arrastado para aquele campo de patinação idiota.

— Edward não foi sua culpa, já lhe disse isso.

— Não. Eu estou me sentindo horrível por ter deixado você passar por isso. Emmett tem mesmo razão, eu sou um desastre!

Peguei na mão dele com força e fiz com que ele me olhasse.

— Edward sabe o que estou vendo agora? Um jovenzinho perdido, inseguro e que escuta demais o que as pessoas têm a dizer sobre ele, especialmente as bobagens vindas do irmão.

Ele me olhou assustado e se afastou de mim. Eu tinha conseguido chegar num lugar profundo demais e que provavelmente poucos haviam chegado.

— Não vou me desculpar por dizer isso.

— É engraçado... Quando eu penso que você está assustada comigo, você vem e vira o jogo.

— Edward, eu não gostaria de ter que dizer coisas que você provavelmente não quer ouvir e ainda mais saído da boca de uma pessoa que mal o conhece, como eu, mas realmente não posso deixá-lo se culpar por absolutamente tudo. Minha perna, meu futuro, os meus sentimentos, a opinião e o passado de sua família tudo isso já se resolveu ou vai ficar tudo bem.

Eu sabia que as minhas palavras estavam entrando nele como um tiro à queima roupa. Nem eu mesma estava conseguido falar tudo isso assim, sem o mínimo de controle. Porém, eu queria ser sincera com ele assim como eu queria que ele fosse comigo.

— Já que estamos deixando as evasivas de lado – começou. – Bella, eu queria te dizer que eu realmente estou gostando de você e eu não quero que se machuque por minha causa.

Então tive a resposta que eu procurava: ele realmente estava gostando de mim. O que eu tinha de tão especial, eu não sabia, mas de alguma forma eu o tinha atraído até mim. Estendi os braços e ele veio me dar um abraço demorado. Cheirei os cabelos dele e senti um aroma tão gostoso! De repente, eu senti uma sensação tão boa! Eu definitivamente não queria sair dali. Ele desfez o nosso abraço e ficou me observando.

— Vamos devagar, ok? – pedi e ele assentiu.

O médico entrou na sala com o meu exame, nos cumprimentou e colocou o raio X na maquininha próximo a minha cama.

— Bom, pelo visto não há nenhuma fratura.

— Que maravilha! – falei.

— O que você teve foi uma torção no tornozelo. Vou ter que imobilizar a sua perna e preciso que fique de repouso por alguns dias e também nada de ficar andando demais ou fazendo exercícios, ok mocinha? – o médico falou com um sorrisinho.

— Ok doutor. Eu vou garantir que ela não faça nenhuma estripulia. – Edward falou e o médico lançou-lhe um olhar meio desconfiado.

— Não precisa Edward, eu vou seguir as orientações do doutor direitinho.

— Realmente espero que sim. – o médico falou enquanto me imobilizava.

Após o procedimento o médico me receitou um remédio para a dor e mais uma vez me advertiu que eu descansasse. Eu já estava pensando em como iria ser, pois eu precisava trabalhar e não queria nem pensar na hipótese de me atrasar nos estudos.

Mesmo com a minha insistência em dizer a Edward que eu estava bem, ele providenciou uma cadeira de rodas para que eu pudesse sair do Hospital. Eu sentia que ele iria estar irritantemente protetor nesses próximos dias.

No carro, eu tentava não pensar em nada sobre o que tinha acontecido nessa noite e nas conseqüências dela. Mas o cheiro gostoso de Edward e suas constantes perguntas sobre como eu estava não dava para ignorá-lo da minha mente. De repente, eu me lembrei do quanto essa nossa visita poderia custar a Edward. Será que iria sair logo no jornal? Será que os pais dele iriam recriminá-lo por isso? Eu realmente não queria que nada pudesse prejudicá-lo.

— Edward, você já se perguntou o que as pessoas podem pensar depois de nos verem juntos essa noite no hospital?

— Não pense nisso, Bella.

— Tenho como não pensar?

— Eu sei que isso pode significar muita coisa pra você, Bella, mas caso você esteja preocupada em ser vista comigo pelas conseqüências que isso possa ter, eu darei um jeito de que a nossa ida ao hospital não vaze...

— Não é isso Edward. Eu não tenho vergonha de você.

Edward abaixou o rosto meio triste. Eu sabia que ele era muito inseguro, mas agora eu tinha certeza que ele realmente achava que não era digno da posição que ele estava e eu não queria que ele alimentasse essas bobagens na cabeça dele. Toquei o rosto dele e o forcei a olhar bem nos meus olhos.

— Você é incrível Edward! Eu só perguntei isso por que eu tenho medo que isso possa te afetar de alguma forma e eu não quero que isso aconteça.

— Eu sei que eu não vou sair ileso, mas não poderia ter sido diferente. Eu fui culpado nessa história toda e eu também não tenho nenhuma vergonha de ser visto com uma mulher tão linda como você.

Ele beijou a minha testa e eu dei um sorriso maroto. Será que ele me achava tudo isso mesmo ou estava apenas sendo agradável?

— Não precisa me agradar só por que eu estou doente.

— Não estou tentando te agradar. Eu realmente te acho linda. Você é que não se vê da maneira correta.

— Então estamos quites.

— quites.

Cruzamos os nossos mindinhos em sinal de acordo. Chegamos ao campus e ele fez questão de me levar no colo até o meu dormitório. Dessa vez não gastei saliva pedindo a ele para que me deixasse ir sozinha, eu sabia que ele não ouviria, era teimoso demais para isso. Ângela já nos esperava no corredor com uma cara assustada. É claro que Edward tinha ligado pra ela.

— Bella, como você está?

— Estou bem Angela. Edward é que está sendo exagerado.

— Estou sendo prudente.

Entramos no nosso pequeno dormitório e Edward me deixou em cima da cama. Inclinou-se para ficar mais próximo a mim e falou baixinho:

— Apesar de tudo, eu quero lhe dizer que amei estar em sua companhia essa noite.

— Eu também.

— Espero que possamos repetir, caso você me perdoe um dia...

— Eu já lhe disse que não foi sua culpa e eu gostaria muito de poder sair com você novamente.

— Então assim que melhorar nós iremos. Prometo que da próxima vez não terá nada de perigoso. Serei mais cauteloso.

— Não sou assim tão quebrável.

— Eu sei, mas sua segurança é tudo para mim.

Edward chegou ainda mais perto de mim e segurei a respiração. Será que iria me beijar? Mas Angela estava tão perto! Mas ao vez disso, ele beijou na minha bochecha e levantou-se. Segurei o braço dele antes que ele saísse.

— Obrigada Edward.

— Eu que agradeço.

E foi-se. Angela esperou alguns minutos para ir em disparada para onde eu estava.

— O que foi isso menina?

— Um encontro meio desastroso.

— O que? Então quer dizer que finalmente vocês foram às vias de fato?

— Não sei o que você entende por vias de fato, mas sim, nós tivemos um encontro como todo mundo. Primeiro formos jantar e depois formos para uma pista de patinação que ele reservou só para nós e quando íamos nos beijar, eu desequilibrei e cai.

— Ual! Teve sorte em só ter tido uma torção no pé, pois se fosse eu, acho que teria quebrado tudo. Imagina! Quase beijar um príncipe!

De repente, o medo de que ela pudesse revelar tudo para todos me assustou. Segurei o braço dela apertado e disse:

— Ângela, me escute: você não pode contar isso para ninguém, entendeu?

— Eu sei Bella. Calma! – Ângela falou enquanto libertava o seu braço da minha mão apertada. – Eu nunca contaria nada a ninguém caso você não permitisse.

— Nós só estamos nos conhecendo no momento. Nada mais que isso.

— Me conta. Como é está com ele? Você queria que ele tivesse te beijado?

Suspirei profundamente. Eu queria que ele tivesse me beijado? Acho que nem eu sei responder.

— Ângela, eu acho que estou entrando no olho do furacão.

— Pelo fato de estar saindo com um príncipe ou por estar se apaixonando por ele?

— Não sei. Acho que os dois.

Ela sorriu e me abraçou.

— Tudo que tiver que fazer seja prudente Bella.

— Eu sei.

Devolvi o sorriso e me aconcheguei no meu travesseiro. Eu sabia que tinha aberto a caixa de pandora e o que viria pela frente seria apenas as conseqüências disso. Se seriam boas ou ruins isso só o tempo seria capaz de me dizer.


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