A Princesa e o Guerreiro escrita por asthenia


Capítulo 1
O medo do esperado


Notas iniciais do capítulo

Há um tempo li Neil Gaiman, assisti o filme "Stardust" e li uma fanfic em inglês chamada "Catskin", que me inspiraram para essa história. Espero que gostem! ♥



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Em um vilarejo distante chamado Konoha, conhecido por suas montanhas verdes, as pessoas viviam sem grandes preocupações. Poucas delas dali saíam. O local era governado por um representante, Hiruzen Sarutobi, mas contava com a proteção de homens de confiança. O clã Uchiha era composto por homens guerreiros que protegiam o entorno do local. Homens treinados, especializados nas artes marciais, considerados os mais fortes.

Konoha tinha a vista de uma alta montanha e nela um gigantesco castelo, envolto por um jardim de bromélias e lavandas, que escondia mistérios que ninguém do vilarejo sabiam ser verdade ou não. O que sabiam era que ali viviam outra classe da alta sociedade: o clã Hyuuga. Nele, seus membros tinham olhos brancos opacos e cabelos escuros. Eram conhecidos por serem os guerreiros mais fortes que já se ouvira falar. Algumas pessoas do vilarejo relatam que, quando os viram, ficaram admirados pela beleza dos Hyuuga. Mas eles mal frequentavam a vila, tampouco conversavam com seus residentes. Ninguém, nenhum camponês ou alguém de classe superior, podia se aproximar do castelo por ordem de Hiruzen. Seus empregados pertenciam a uma classe inferior – mas ainda sim, Hyuuga. Mesmo que alguém realmente os conhecesse, eles não se atreviam a falar qualquer informação sobre os Hyuuga. A história era misteriosa, recheada de falácias.

Diziam também sobre a existência dos Otsutsuki, homens e mulheres de também olhos brancos e opacos. A diferença era que eles eram pálidos, quase como neve e viviam longe do entorno de Konoha. Existia uma lenda de que os dois clãs, Hyuuga e Otsutsuki eram originários da lua. Por isso a pele e olhos brancos. Que a luz do sol podia queimá-los e, portanto, viviam isolados.

Longe desses mitos a voz desafinada e estridente ressoava pelo quarto enquanto Sakura apertava o travesseiro em suas orelhas – o que não resolvia seu problema. Ela ainda conseguia ouvir o canto, sem ritmo algum pela janela. Já passava das onze da noite e tudo o que ela queria era dormir, sossegada, depois de um dia exaustivo de trabalho como uma das únicas médicas do local. Não aguentou e caminhou, impaciente, até a grande janela de seu quarto, abrindo com força. Ao olhar para baixo viu a conhecida cabeleira loira, que continuava na empolgação e desafinação.

— Naruto, vai embora! Eu tô tentando dormir!

— Sakura, flor mais linda de todos os bosques de Konoha! – Ele olhava, apaixonado, na direção de sua amada, ajoelhando-se. – Trouxe a você chocolates e flores como prova de meu amor!

Ela bufou.

— Você não podia esperar até amanhã de manhã?

Ele continuava sorrindo.

— Desça aqui e eu prometo que não irá se arrepender!

Sakura olhou em volta e ouviu alguns resmungos de seus vizinhos para que o barulho cessasse. Fechou sua janela e foi até a porta, a contragosto.

Encontrou o Uzumaki a esperando, olhando-a apaixonado.

— Olha, é para você! – Esticou os braços na direção de Sakura, oferecendo a ela uma cesta. – São chocolates e flores. E um convite!

Ela tirou o pano que cobria a cesta, encontrando bombons e um ramo de rosas.

— Obrigada, mas amanhã eu irei trabalhar e preciso dormir.

— Seu aniversário é daqui a dois dias, certo? – Ela concordou. – Estarei te esperando no gramado do bosque, para te dar seu presente!

Naruto sorriu, mais aberto. Sakura respirou fundo. Os dois se conheciam há alguns anos. Chegaram a ser alfabetizados juntos. Porém ainda havia um abismo entre eles que o dividia – os sentimentos de amor que ele nutria por ela. O loiro já havia se declarado, dado todos os tipos de presentes possíveis e ela odiava acabar com as esperanças dele.

— Não sei se é uma boa ideia. – Ela encarou o chão. – Sasuke disse-

— Esquece esse cara, Sakura-chan! – O humor dele mudou, assim que o nome do Uchiha foi citado. – Ele não é para você, só fica se exibindo por fazer parte da guarda.

Sakura o olhou, impaciente.

— Ainda assim ele faz parte de alguma coisa. Ao contrário de você que continua sendo o menino que carrega as lenhas. – Ele abaixou a cabeça. – Eu tenho que dormir. Obrigada pelo presente.

Sakura virou as costas a ele, entrando em sua casa. Naruto não hesitou e começou a gritar:

— Eu vou voltar amanhã! Vou te convencer que eu sou a melhor opção!

O olhar de Naruto continuou esperançoso mesmo após a porta ser fechada.

O caminho de volta a sua casa era curto. Ele olhava a lua, no alto, desejando internamente que seus desejos fossem cumpridos. Encarou a lua uma última vez e desceu a ladeira em direção ao fim da rua. Entrou, sem demora, na casa de aparência humilde e pequena. As velas acesas iluminavam o cômodo apertado. Se surpreendeu ao encontrar seu padrinho sentado, com uma pena em mãos.

— Sensei! – Sorriu a Jiraya, que continuava atento aos seus escritos. – Achei que ia aproveitar a noite.

O mais velho pousou a pena no tinteiro.

— Hoje não é dia de pesquisas, mas sim de anotações para meu livro!

A expressão sarcástica em Naruto denunciava que ele não acreditava em seu padrinho.

— Passar a noite em bordéis é pesquisa agora.

O Uzumaki terminou de desamarrar as botas.

— Isso, são apenas pesquisas! – Jiraya sorriu, triunfante. – E você, onde estava? Atrás da rosada raivosa de novo?

— Ei, não fala assim dela! – Naruto se sentou à pequena mesa, junto a Jiraya. – Hoje eu levei alguns chocolates e flores para ela. Daqui a dois dias é o aniversário dela e eu já guardei dinheiro para comprar as entradas do baile, vou fazer o convite para ir comigo!

Jiraya bufou alto.

— Você gasta o pouco dinheiro que tem para ela ficar te dando o fora?

— Eu vou conquistar a Sakura-chan, sensei! Acredita em mim!

— Pense bem se é isso o que quer. – Olhou profundamente ao seu pupilo. – Ou você ainda está tentando ganhar do Uchiha?

Naruto enrugou a testa, fechando os punhos em seguida.

— Ele é um perdedor e eu vou provar para todo mundo que eu sou o melhor! – Fez-se uma expressão de pidão. – Se eu pelo menos tivesse uma ajuda...

Jiraya pensou por um momento. Conhecia aquele olhar vindo de Naruto e sabia que devia uma resposta ao seu afilhado. O loiro pedia, sem trégua, que fosse treinado para virar, também, um guerreiro.

— Está bem. – O mais novo sorriu. – Eu te ajudo a se tornar um lutador, me dê alguns dias. Mas com uma condição: o motivo para você ser mais forte não deve ser por causa de uma garota e nem por rivalidade. Deve ser muito maior que isso.

— Mas você sabe que é por isso que quero ser o mais forte!

Jiraya riu, levantando-se, e Naruto continuou o olhando, sem entender.

— Acredite garoto, - Colocou uma mão no ombro do mais novo – você só vai conseguir passar por esse treinamento com motivos maiores que esse. Boa noite.

Naruto foi deixado sozinho no cômodo. Ele estava determinado a ser um grande guerreiro mesmo sem realmente compreender as palavras de seu sensei.

—/-

O seu olhar, através da janela, passeava pelo jardim de tons violetas. Apertava seus dedos, inquieta, enquanto sua mente a levava para longe dali. Hinata havia visto a cavalaria chegar, alguns baús sendo retirados da carruagem pelos empregados. Os cavalos sendo levados até os estábulos. A Hyuuga apertou ainda mais as próprias mãos ao ver um belo cavalo branco, de porte, relinchar alto. Montado nele estava Toneri, em vestes finas com detalhes prateados. O homem desceu do cavalo, sem qualquer dificuldade, entregando-o a um dos empregados.

— Ouvi dizer que todos os cavalos dele são treinados.

A voz de Ayumi atrás de si assustou Hinata, fazendo a morena tirar os olhos da janela.

— Não me assuste assim, Ayumi!

— Estava admirando seu noivo, imagino.

A Hyuuga se sentou na poltrona, em frente à janela, olhando rapidamente e voltando sua atenção a empregada.

— O que acha de Toneri?

Ayumi sorriu, enquanto dobrava alguns panos sobre a cama do luxuoso quarto da Hyuuga.

— É um homem elegante, bonito. – A empregada sorriu a Hinata, travessa. – E parece ser bem rico também.

— Papai diz que ele é. – Hinata voltou a apertar os próprios dedos. – Diz que ele é o marido mais adequado para mim, que só ele pode manter a linhagem Hyuuga.

Hinata baixou os olhos, desanimada.

A empregada se aproximou, ajoelhando-se a frente da Hyuuga, segurando suas mãos. Ayumi era a responsável pelo quarto, armário, e as vestes de Hinata desde que era apenas uma menina. Atualmente, com quase dezoito anos, as duas trocavam confissões. Na maioria das vezes quem se confessava era a Hyuuga.

— Você será muito feliz, Hinata-sama. Tenho certeza.

Ela respirou, profundamente.

— Você acha que eu seria capaz de me apaixonar de verdade por Toneri? Como em um conto de príncipe de princesa?

Ayumi cruzou os braços, suspirando alto.

— Não deveria ter trazido escondido esses livros para você.

— O que acharia, Ayumi? – Hinata sorriu, abertamente. Suas bochechas coraram. – Um belo homem que a leva dançar a noite toda. Seus olhos brilham, apaixonados e vocês desejam que a noite nunca tenha fim.

Os risos de Ayumi fazem Hinata sorrir ainda mais.

— Eu ainda acho muito difícil a existência de algo assim, querida. E também acho que a senhorita deveria ser mais realista. – A empregada voltou sua atenção aos lençóis dobrados. – Primeiro que homens dificilmente gostam de dançar e são românticos assim. Segundo que seu pai mal deixa que a senhora frequente a cozinha, imagine só um baile!

— Você já esteve em um baile, Ayumi?

A Hyuuga parou ao lado da outra.

— Não, minha querida. Mas temo que os homens não sejam assim, como os livros de romance que você lê. Veja seu primo, Neji, eu não consigo vê-lo apreciando uma dança em um baile.

Hinata olhou para o teto, sonhadora.

— Neji parece gostar apenas de seus cavalos e suas espadas. – Colocou seu rosto entre suas mãos. – Se eu pudesse iria em todos os bailes possíveis em Konoha. Sairia daqui para conhecer os bosques e a cidade em volta.

— Não há nada para conhecer lá fora. – Ayumi pegou os lençóis, indo em direção a um gigantesco armário do outro lado do quarto. – Você mora no mais belo palácio da região. Não existe lugar mais bonito que esse.

Hinata apenas sorriu em resposta a sua amada Ayumi. Era verdade que onde morava era belo e gigantesco, mas ainda assim, por mais riqueza que tivesse a sua volta, a Hyuuga sonhava em uma vida além das paredes do palácio. Por vezes a encontravam na cozinha entre os empregados, ou então nos jardins, cuidando das flores. Não tinha o costume e nem as mesmas manias que as nobres. Gostava de aprender a fazer as tortas de frutas silvestres que comiam nas tardes de primavera, de mexer com a terra. Tudo para a primogênita Hyuuga não precisava de luxo – por mais que fosse rodeada dele.

Sonhava com o que quer que tivesse através dos muros do castelo. Seu pai sempre lhe dizia que, seja lá o que tivesse, não seria bom para ela ou para sua irmã, Hanabi. As duas eram completamente diferentes. Hanabi passava as tardes nas áreas de treinamento com a sua espada, lutando esgrima, junto a Neji, seu primo – praticamente irmão – cavaleiro Hyuuga de mais alta confiança no palácio.

— Talvez você esteja enganada, Ayumi. O tio Hizashi fugiu do palácio e do clã. Talvez aqui não seja o melhor lugar de toda a região.

Ayumi a repreendeu com o olhar.

— Hinata-sama, sabe que não deve falar de seu tio. Seu pai a repreenderia. - Ayumi se aproximou dela. – Vamos, a senhorita deve se arrumar. Seu noivo deve estar lhe esperando.

Hinata levantou de sua poltrona, sem animação alguma, enquanto Ayumi lhe trazia um vestido esverdeado escuro.

—/-

O barulho alto de passos pelo salão e de talheres era o único som que reverberava por todo o cômodo. Empregados andavam de um lado para o outro, trazendo e levando os pratos servidos. Vez ou outra Hinata sentia o olhar de Toneri em sua direção. O olhar dele a incomodava. Entre os goles de vinho, ele a encarava e sorria de lado, sem pudor, com ar de superioridade, deixando-a extremamente constrangida. Agradeceu internamente quando seu primo começou um assunto qualquer, tirando a atenção dele sobre si mesma.

— A colheita de uvas foi excepcionalmente produtiva esse ano. – A voz de Neji era grossa e imponente. – Espero que aprecie os vinhos produzidos em nossas terras. Separamos os vinhos maturados há mais tempo para o casamento.

Toneri sorriu a Neji, que apenas o olhou. Em seguida seus olhos pararam em Hinata.

— Estou ansioso por esse momento.

Ao final do jantar a Hyuuga se despediu de todos sentados à mesa, inventando uma desculpa para se retirar, e foi em direção ao corredor que a levava a seus aposentos. Sentia-se enojada, atônita, incomodada. Toneri a olhou durante toda a noite deixando-a constrangida. Parou no corredor, por um momento, escorando-se a parede, aliviada em não estar mais no mesmo recinto que ele. Respirou aliviada e, ao mesmo tempo, ainda enojada. Porém isso durou poucos segundos. O rosto pálido de seu noivo aparecera em sua frente.

— Está se sentindo bem, Hinata-sama?

Ele a havia seguido até ali. Olhou para onde ele provavelmente viera, esperando alguém aparecer. Não era bem quisto estar sozinha na presença de um homem.

— Estou, Toneri-san, obrigada.

— Estou ansioso para nosso casamento. – Ele dera um passo em direção a ela. – Ansioso que seja minha esposa.

Hinata segurou o ar.

— Ainda temos uma semana até lá, senhor.

— Não vou mentir a senhorita. – Toneri abaixou seu olhar a ela. – Anseio pelo momento que fiquemos sozinhos. Especialmente por saber que esteve se guardando esse tempo todo para mim.

Ela sentiu medo. Medo do olhar dele, do sorriso, da aproximação. Entendia perfeitamente as palavras dele, a intenção por trás daquele discurso a deixava apavorada. Imaginar que ele poderia tocá-la, diminuir a distância entre os dois a aterrorizada.

— Hinata-sama. – Neji aparecera, olhando de forma suspeita a Toneri. – Está tudo bem? Precisa de alguma coisa?

— Não, obrigada, Neji. Já estou indo para meus aposentos. – Hinata reverenciou seu primo e Toneri. – Boa noite. Com licença.

Virou as costas aos dois, indo com pressa em direção ao seu quarto, sem olhar para trás. Perguntava-se a razão pela qual temia tanto aquele homem, ficando temerosa daquele casamento que aconteceria em poucos dias.


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