verde é a cor mais quente escrita por Thales Murdock


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Se tiver comentários continuo, é isto.



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Dia primeiro  de setembro, 2017.

Albus correu para o seu novo dormitório, batendo a porta com força ao passar. 

Ele se jogou na cama, agarrando o travesseiro com as mãos trêmulas e começou a chorar. As lágrimas simplesmente começaram a sair sem que ele fizesse qualquer esforço, afinal estava às guardando desde que fora selecionada para a pior casa de Hogwarts. 

Pedira para ser enviado para a Grifinória, mas isso não bastou. Perdeu a primeira batalha de sua vida. Talvez um agouro para o seu futuro. Não estava destinado a ser grande como o pai fora um dia. 

Um Potter na sonserina….

Instantaneamente pensou no irmão mais velho. O que James dirá quando se encontrarem no corredor pela manhã? Provavelmente que sente vergonha. E o pior, o que pensara Harry e Gina ao descobrirem que o filho foi parar na casa das cobras?! Albus tremeu diante as possibilidades. 

Enfiou a cara no lençol e soltou um grito. Aquilo o ajudou. Pelo menos naquele momento. 

Ele deixou o corpo imóvel. 

Ficou assim pelo que lhe pareceu horas. Não ousou se mexer, nem mesmo quando o braço ficou dormente devido a posição ao qual se encontrava. Achou que se ficasse parado por bastante tempo iria começar a fazer parte da decoração do dormitório, não sendo nada além de uma mobília. A cadeira Albus ou o estofado Potter. Internamente torceu para que isso realmente acontecesse.

O barulho de passos no corredor o fez levantar a cabeça. Alguém abriu a porta, permitindo que uma fresta de luz entrasse no ambiente juntamente com o barulheira da festa que ocorria no salão comunal lá em baixo, e a fechou logo em seguida. O silêncio reinou no local novamente. 

O garotinho chamado Albus girou na cama, ficando deitado de barriga para cima.  Apoiou a cabeça nas mãos e por um momento observou a vida desaparecer na escuridão, no caos eminente que sua vida se tornará. 

Fungou com o pensamento.

Não conseguiu deixar de sentir raiva do chapéu seletor. Como ele ousara o colocar na casa das cobras? Na casa que abrigou o maior inimigo do mundo bruxo e os seus seguidores? Logo ele, filho do eleito que tinha uma reputação a manter. 

“Droga, droga, droga!” Se pegou dizendo em voz alta, e assustou-se com o tom fraco. “Que merda! Inferno!” Despejou novamente, sentindo-se mais aliviado. Não entendeu o porque, mas gostou da sensação. 

Chegou a abrir a boca para dizer mais uma porção de palavras feias quando o barulho de molas, semelhante a quando alguém senta em um colchão, chamou a sua atenção. 

Albus ficou estático, os olhos arregalados. Pela segunda vez no dia não conseguiu se mexer, o que não lhe surpreendeu. Não estava conseguindo fazer muitas coisas desde o começo do ano letivo, e olha que só fazia algumas horas que colocara o pé em Hogwarts pela primeira vez.  

“Você beija a sua mãe com essa boca suja?” Uma voz perguntou no escuro, tão de repente que ele se assustou.

Albus se encolheu de medo. Não tinha percebido que não estava mais sozinho. Ele puxou o coberto, cobrindo todo o corpo. Estava tentando esconder a sua vulnerabilidade. 

“Quem é?” Conseguiu perguntar depois de longos minutos de silêncio. 

“Por que está chorando?” Foi respondido com uma outra pergunta. Não gostou nada do garoto ao qual estava conversando. Ele não tinha tato? Não se deve falar essas coisas.

“Não estou chorando.” Naquele momento Albus se colocou na defensiva. O garoto cruzou os braços com força exagerada e respirou fundo. “Me deixe em paz.”

O silêncio pairou no ar novamente. O outro garoto provavelmente estava o obedecendo. Mas isso deixou Albus desconfortável. Ele mordiscou o lábio inferior. 

“Esse é o pior dia da minha vida.” Anunciou por fim, sem aguentar todo aquele clima pesado. Não entendeu o porque, mas sentiu a necessidade de dizer alguma coisa, como que para amenizar a primeira má impressão. 

Albus escutou um barulho a sua direita e apertou os olhos, tentando enxergar no escuro. Tudo o que conseguiu ver foi uma silhueta se movendo lentamente na escuridão. Quase gritou quando percebeu que se movia na sua direção, mas conteve o impulso. 

O colchão se mexeu com o novo peso e isso fez com que Albus desequilibrasse e afundasse alguns centímetros no colchão. 

“Mas são só duas horas da manhã.” Anunciou o piadista. Albus apenas revirou os olhos. “Por que esse é o pior dia da sua vida?”

O Potter do meio chutou o ar, mas não respondeu de imediato. Apenas ficou em silêncio, ponderando a respeito. 

“Você quer os eventos por ordem cronológica ou alfabética?” Resmungou, irritado. Em geral ele não parava de falar mas, naquele momento, estava sendo uma criança de poucas palavras.  

“Você é sempre chato assim?” Mesmo sem ver, soube que foi a vez do garoto desconhecido revirar os olhos.  Foi ai que decidiu que deveria pegar mais leve. 

“Eu fui selecionado para a Sonserina.” Disse, como se só isso bastasse para odiar a sua vida. 

“E dai?” Foi a resposta que teve. 

Albus bufou novamente. 

“Sou um Potter. Um Potter sonserino.”

O garoto ao seu lado parou de se mexer, como se tivesse congelado. Albus sabia que ele teria aquela reação. Todos reagem assim quando conhecem um dos filhos do eleito. Uma droga. 

Ele fechou os olhos com força, desejando não ter se revelado tão cedo. Sabia que não seria bem recebido na casa das cobras. Estava destinado ao sofrimento eterno. Talvez devesse fugir do mundo mágico. 

Isso! Era exatamente o que iria fazer quando amanhecesse. Iria pra bem longe, aonde jamais pudessem o achar. Nem mesmo com o melhor dos feitiços. Se livraria do legado heróico do pai e começaria de novo, como um desconhecido trouxa. 

Havia estudado sobre o Brasil nas férias, e agora lhe ocorreu que seria o local ideal para se esconder. Talvez vivesse entre os índios naquela floresta grande e famosa, ou se juntasse a uma escola de samba para comemorar o Carnaval. 

“Você foi selecionado para a Sonserina Potter, grande coisa. Isso deveria te deixar feliz.” A voz o pegou de surpresa. Tinha se esquecido dele durante seus devaneios. “Não seja tão crianção. É só uma casa.”

“Eu não sou crianção!” Defendeu-se. 

“Então por que está chorando?” 

“Porque eu fui selecionado pra sonserina, a casa do maior inimigo do meu pai e….”

“Bla blá blá.” Lhe interrompeu o outro garoto, e um movimento no escuro indicou que ele havia se levantado. “Você não é o seu pai. Não precisa ser da mesma casa que ele, idiota. E não precisa se preocupar com o que os outros pensam, isso é patetico. Eu te achava legal quando lia os livros sobre a família Potter, agora tenho minhas dúvidas. “Ele soltou um som parecido com uma risada debochada. “Existe sonserinos bons, como a minha mãe. E meu pai.”

“Quem são seus pais?” Albus quis saber, ignorando a onda de xingamento. Sempre foi muito curioso, sem conseguir esconder isso. Suportaria um xingo ou outro se isso lhe trouxesse respostas.  

“Draco e Astoria Malfoy, é claro.” 

“Seu pai foi um comensal da morte.” Acusou de prontidão, sem conseguir controlar a lingua. 

Arqueou a sobrancelha, incrédulo. Aquele tal de Scorpius só podia ser louco se achava que o pai tinha sido uma boa pessoa. Tio Rony havia lhe contado tudo sobre o tipo de pessoa que os Malfoys costumavam ser. 

“Mas ele se arrependeu.” Scorpius respondeu como se aquilo fosse muito óbvio e Albus estivesse sendo estúpido. 

Eles ficaram em silêncio novamente, mas dessa vez foi um silêncio agradável. Lhes caiu bem. 

Scorpius retirou a varinha do bolso interno das vestes e murmurou um feitiço baixo, algo que Albus entendeu como “lumos” ou coisa parecida. 

Uma luz saiu da ponta da varinha, iluminando todo o local. Albus encarou o garoto pela primeira vez, o olhar demorando nos cabelos louros platinados e os olhos azuis. Ele era bem apessoado e parecia saber muito bem disso, porque o sorriso arrogante o entregava. 

O Potter desviou os olhos, afundando ainda mais no colchão. Além de estar na sonserina, estivera conversando com um Malfoy. James sem dúvidas ira o infernizar pelo resto da vida. 

Scorpius, por outro lado, parecia completamente confortável. Largou a varinha em cima da cama e saiu pelo quarto, fuçando em tudo que estava ao seu alcance. Não se importava se os pertences eram seus ou dos outros colegas que ainda estavam curtindo a festa de boas vindas no salão comunal. 

Albus, por sua vez, fungou na manga da camiseta, limpando o nariz discretamente. Havia parado de chorar, mas ainda sentia-se péssimo. Scorpius deve ter percebido isso, porque naquele momento ligou o rádio bruxo. 

Uma música começou a ecoar pelo quarto e Albus fez uma careta. Não gostava daquele cantor, mesmo que não conhecesse. 

“Que som horrível é esse?!" Disse. 

Scorpius deu de ombros. 

“A música se chama O’Children. Papai adora.” Ele sorriu, como se aquilo lhe trouxesse boas lembranças.  “Vem, você precisa se animar. Não vou ser amigo de uma pessoa depressiva e babaca.” 

Albus abriu a boca, tendo quase certeza que formou um ‘o’ ,tamanha a surpresa. 

“Não somos amigos. Nos conhecemos a dez minutos.” Observou ele. 

“Eu sou um Malfoy. Você vai querer ser meu amigo.” Acusou o outro. 

Houve uma pausa. 

Scorpius se aproximou do novo amigo, estendendo a mão sem maiores cerimônias. Albus hesitou, mas acabou aceitando o convite. Deixou que o  loiro o puxasse para fora da cama, mesmo sabendo que iria se arrepender daquilo mais tarde.

Eles ficaram se encarando por alguns segundos, duas crianças inseguras que se sentiam solitárias de alguma maneira.  

Malfoy não havia dito, mas sentia tanto medo quanto o Potter. Medo de não ser aceito, de não conseguir fazer amigos, de sofrer pela péssima reputação do pai. Ele precisava de Albus naquele momento tanto quanto Albus precisava dele, apenas não admitia. 

“Hey, little train! Wait for me!” Foi Scorpius que começou a cantarolar primeiro, assim como foi ele que deus os primeiros passos. 

Ele se moveu no ritmo da música. Primeiro rapido, depois aumentou a velocidade. Forçou que Albus se mexesse também. Este que estava receoso, mas que aos poucos permitiu-se. 

Ficou óbvio que ele não tinha coordenação motora, mas isso não impediu de tentar. Balançou de um lado para o outro, tentando imitar o que o amigo fazia, enquanto ria no processo. Ele ficou nas pontas do pé, passando pelos braços de Scorpius em um rodopio estranho. 

“I once was blind but now I see!.” Scorpius continuou, agora com mais força. Albus balançou a cabeça, bagunçando os cabelos negros. Ainda não havia soltado a mão de Scorpius e não pretendia o fazer. Eram duas crianças se divertindo. 

“O’Children.” O Potter cantou junto porque mesmo que não conhecesse a música, já havia decorado essa parte. 

Ele balançou o braço, dando voltas em círculos, o que lhe fazia dar risada. Nem se lembrava que a pouco estava chorando. Não se lembrou também do problema que enfrentaria quando encontrasse com James pela primeira vez no corredor, ou da insegurança que sentia. 

Talvez a sonserina realmente fosse o seu lugar, ao lado de Scorpius. Seu novo melhor amigo. 


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