Abusivo: A história que ninguém conta escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 28
Capítulo 28




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O mundo parece ter parado de girar, o ar sumiu da minha volta e eu estava apenas parada ali, olhando para Jean que estava sorrindo, ele começa a falar mas parecia ser sem som, apenas via seus lábios mexendo e eu estava paralisada.

 

— Catarina? Você está bem meu amor? - Questiona Jean que me segura com força pelos ombros.

— Sim… Sim estou bem. Jean nós precisamos conversar… - Digo mas logo vejo a minha sogra e a Ligia vindo em nossa direção com pressa.

— Finalmente ela chegou! Vamos Catarina temos muito o que fazer querida. - Diz Tereza.

Ela estava elegante, em um vestido de gala na cor marsala também, só agora percebo que as palavras de Jean eram verdadeiras, era um casamento e era o meu casamento.

Tereza me pega pelo braço e sai me arrastando para dentro do casarão sem me dar chances de argumentar alguma coisa com Jean. Uma equipe estava me aguardando no segundo andar da casa em um dos inúmeros quartos, eu me senti um fantoche sendo carregada para lá e pra cá. Enquanto alguém fazia meu cabelo, outras pessoas faziam as unhas da minha mão e pé. Para finalizar fizeram uma linda maquiagem em mim, meus olhos estavam bem marcados e meu cabelo estava preso em uma mistura de coque com trança embutida e uma franja na frente discreta. O luxo do cabelo estava na tiara que tinha diamantes, era discreta e pequena porém muito luxuosa. 

— Agora é a hora do vestido e do véu. - Diz Tereza segurando  um cabide com um vestido que estava no plástico da loja e era todo preto. 

Por dentro estava com uma ponta de esperança de ser o meu vestido, mas era mais do que previsível ainda mais vindo de Tereza...era o vestido que ela escolheu, todos na sala sorriram quando o vestido foi revelado,  ainda vinha acompanhado de um véu.

— Eu posso ficar sozinha por um momento? - Digo olhando para todos no quarto, eles apenas começam a sair um por um.

— Não quer ajuda para colocar o vestido? - Diz Tereza.

— Não, obrigada… eu só quero ficar sozinha por um tempo.

Para a minha surpresa, Tereza sai sem insistir novamente ou bater o pé para ficar.

Era apenas eu e o vestido da Tereza, eu toco no tecido da saia e um filme passa em minha cabeça. Lembro de como eu conheci Jean, como foi nosso primeiro beijo, a nossa primeira noite, o primeiro dia morando junto, a primeira briga, o pedido de casamento, como foram os últimos dias até aquele momento. Não era daquele jeito que eu idealizei o dia do meu casamento, parecia tudo rápido, eu não sentia que era eu mesma. Me olho no espelho e mesmo vendo que estava bonita, não seria essa maquiagem carregada que eu desejei. Eu encaro o vestido, coloco ele para tentar me sentir melhor, mas nada tira a agonia do meu peito. Me encaro no espelho agora com o vestido que realmente era muito lindo, mas não queria usá-lo, não era meu vestido e mesmo se fosse, eu não gostaria de usar naquele dia. Penso: “Eu preciso do Jean e eu vou ver o Jean”.

Saio do quarto segurando a saia do vestido, eu não sabia para que lado do corredor ir, nunca tinha vindo para essa casa na fazenda. Para a minha sorte, um garçom segurando uma bandeja e um copo de Whisky entra no corredor.

— Você sabe onde está Jean? - Pergunto para o rapaz que me encara assustado.

— Estou levando para ele senhora, no quarto ao fim do corredor. 

Acompanho o garçom até o quarto onde estava Jean, o rapaz abre a porta para mim e eu entro causando surpresa ao Jean.

— O que está fazendo aqui? Dá azar o noivo ver a noiva antes do casamento. - Diz Jean pegando o copo da bandeja do rapaz que logo sai nos deixando sozinhos.

— Nós precisamos conversar Jean. - Digo.

— Nós vamos ter uma vida toda para conversar Catarina. - Diz Jean que dá um beijo em meu rosto e caminha em direção a janela.

 — Jean eu não sei de quem foi essa ideia de casamento surpresa, mas… Tudo está exatamente como sua mãe planejou e o vestido… Não é meu vestido.

— Não deu para pegar seu vestido e eu tentei. - Diz Jean bebendo um pouco do copo.

— Jean, não era assim que eu queria me casar, eu queria conversar, a minha mãe…

— Venha aqui , Catarina. 

Eu me aproximo de onde Jean está, ele abre a cortina um pouco mais para mim.

— Está vendo essas pessoas? Todos estão aqui para ver a nossa felicidade, a nossa vida ser comprometida um com o outro e todos estão aqui para celebrar esta união.

— Mas Jean… Não tem ninguém da minha família aqui, eu não queria que fosse desse jeito. 

Ele fecha a cortina e fica de frente pra mim. Jean segura meu queixo e pressiona com um pouco de força.

— A última coisa que a gente precisa neste casamento é sua família, um bêbado dando vergonha e suas primas invejosas sem modos aqui. Eu vi tudo que eu precisava ver e não quero aquela gentinha no meu casamento. - Diz Jean com os dentes cerrados e solta meu rosto.

— Eles são a minha família Jean. 

— Eu sou sua família agora e eles nem são tão próximos de você que eu reparei. - Jean solta o copo em cima de uma mesa de canto e segura meu rosto com as duas mãos. — Nem a sua mãe quer sua felicidade e eu to bem aqui Catarina, querendo te fazer a mulher mais feliz do mundo todos os dias da minha vida.

Eu precisava falar para ele da benção, eu não posso deixar Jean ganhar essa conversa, não dessa vez.

— A minha mãe vai dar a bênção com uma condição. - Disparo.

— Condição? Que condição? - Diz Jean que me solta e me encara sério.

— Esperar eu me formar, são só mais quatro anos e ai… 

— Não. - Interrompe Jean — Eu não vou esperar quatros anos, pra que eu vou esperar quatro anos se eu posso casar agora com você, daqui a quatro anos eu quero ter nosso primeiro filho - Ele segura meu rosto novamente. — Meu amor… Não vamos esperar mais tempo, por favor Catarina case comigo hoje e agora.

— Mas Jean…

Ele toma meu lábios me beijando de lingua e me deixando sem fôlego. Ele me encosta na parede e me pressiona contra ela.

— Catarina, a vida é muito curta para existir um depois, eu quero você hoje e agora.

Quando Jean ia volta a me beijar, a porta é aberta novamente chamando as nossas atenções. 

— Aí está você! - Diz Tereza segurando um buquê grande de flores, era as que ela escolheu para o casamento. - Estava te procurando por toda a parte, achei que tinha fugido e…. - Ela olha para nós dois e Jean se afasta arrumando sua roupa. — Deixem o que estavam quase fazendo para a lua de mel, quero meus netinhos logo.

Ela me entrega o buquê e arruma um fio do meu cabelo.

— Vamos descer meu filho? Está na hora de começar a cerimônia… Catarina querida o seu sogro vai vir te buscar e entrar com você.

Eles saem rapidamente do quarto me deixando sozinha, eu olho novamente pela janela, estava tudo realmente bonito, os convidados eram apenas os amigos da família do Jean e do trabalho. Só pessoas importantes e ricas. Ninguém da minha família, nenhuma menina da pensão, nenhum amigo de faculdade, parecia que eu era a convidada do casamento e não a noiva.

Escuto algumas batidas na porta, por algum motivo eu me arrumo e me posiciono no meio do quarto segurando o buquê. O meu sogro entra no quarto, me encara sério e está nitidamente sem jeito comigo. Só agora percebo que nunca conversamos de verdade.

— Podemos ir? — Ele me oferece o braço e permanece sério.

Eu apenas o acompanho, tento não mostrar meu nervosismo conforme a gente se aproxima do local. Ele para debaixo de um arco de flores e dali dava para ver o Jean no altar sorrindo, mais ao seu lado estava Sérgio e um outro rapaz.

Jean tinha seus padrinhos, mas eu não escolhi nenhuma madrinha, eu olho para o lado e onde deveriam estar as minhas madrinhas, vejo duas loiras. Uma eu reconheço, era que estava arrumando a gravata dele no hospital e a outra eu desconheço. Por instinto aperto com força o braço do meu sogro e respiro fundo.

— Está tudo bem menina? - Diz meu sogro.

— Sim só estou um pouco… nervosa. 

— Vai ficar tudo bem.

A cerimonialista aparece com um véu, coloca preso ao meu cabelo e joga sobre meu rosto, depois faz um sinal para os músicos e eles começam a tocar a marcha nupcial. Todos os convidados ficam de pé, para mim, uma daminha entra na frente jogando pétalas para eu entrar e um fotógrafo tira fotos minhas e da daminha. Os flashs quase me cegaram, mas eu tentava ficar olhando para Jean que não parava de sorrir.

Finalmente cheguei ao altar, meu sogro me entrega para o Jean que tira o meu véu do rosto e me dá um beijo na testa.

Quando eu olho para os convidados, dou um sorriso forçado, mas a minha vontade era gritar: está cancelado o casamento! Se eu fizesse isso, eu não ia apenas frustrar minha sogra, irritar meu noivo e deixar bravo meu sogro, mas eu ia deixar 200 pessoas decepcionadas comigo e isso seria uma humilhação enorme para Jean.

— Estamos aqui hoje para celebrar a união deste jovem casal….

Eu simplesmente me desligo das palavras do padre, Jean não parava de sorrir e olhar para mim. Minha sogra fazia sinal para eu continuar sorrindo, mas aqueles malditos flashes estavam me irritando.

— Sim. - Diz Jean me fazendo voltar para realidade e segurando as minhas mãos.

— Catarina Araújo Freitas é de sua livre e espontânea vontade se casar com Jean Vasconcelos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?

— Eu…

As palavras somem de minha boca, eu olho para ele que esta parando de sorrir, sua mãe esta gesticulando com os labios o “sim”, eu olho para os convidados que estão começando a cochichar um com os outros, o fotógrafo maldito tira uma foto bem de perto fazendo com que o flash deixe a minha visão turva, eu só sinto que estou andando para trás e quase caio quando Jean me puxa pela cintura, me segura com força e os convidados suspiram.

— Catarina, você está bem? - Diz Jean.

— Sim, são só os flashes que me deixaram tonta. 

O fotógrafo tira mais fotos de perto e eu cubro meu rosto.

— Dá para você se afastar, os flashes estão a deixando tonta. - Diz Jean para o fotógrafo. 

Nós voltamos a nossas posições, o padre torna a perguntar novamente. 

— Catarina Araújo Freitas é de sua livre e espontânea vontade se casar com Jean Vasconcelos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?

— Diz logo que sim. - Sussurra Jean sorrindo nervoso.

—  Sim. - Digo.

Sérgio entrega as alianças para Jean, ele coloca em meu dedo e beija a minha mão, ele me entrega a outra aliança e eu faço o mesmo.

— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e mulher! O noivo já pode beijar a noiva.

Todos os convidados ficam de pé, Jean passa a mão em minha cintura e me beija rapidamente.

— Viva os noivos! - Grita Sérgio.

— Viva! - Gritam os convidados.

Nós passamos pelos convidados que apenas aplaudiam, não teve chuva de arroz ou de pétalas. Não tinha nada do que eu havia planejado no meu casamento, nada... e esse vestido… Minha vontade era rasgar por estar me apertando e quase não conseguindo respirar direito.

— Vamos continuar o cronograma, agora os noivos precisam tirar fotos no jardim e após isso a primeira dança. - Diz Tereza pegando o tablet da mão da Lígia e lendo. - Vamos, vamos não temos muito tempo.

Novamente sou arrastada junto com o Jean para o jardim dessa vez, está bem iluminado, tem um balanço de madeira decorado com as flores.

— Jean… - Sussurro para Jean.

— Não é hora de conversa Catarina, preciso que foque nas fotos. - Diz Tereza.

 O fotógrafo dita as poses para a gente, não tinha nada de poses divertidas, parecia que éramos modelos para uma grife de roupas de casamento, eu apenas tinha que ficar sorrindo e me sentindo um cachorrinho adestrado que tinha que dar a pata quando mandasse.

Finalmente as fotos acabaram e Jean me guia para a pista de dança.

— Agora a dança dos noivos, por favor todos se direcionem para a pista de dança. - Diz a cerimonialista no microfone.

Jean me segura pela cintura, me deixando bem próxima dele, eu coloco a minha mão canhota em seu ombro e dou a destra a ele para ser guiada. Em nenhum momento ele olha para mim.

— Jean… - Sussurro.  

— O que foi Catarina? - Diz Jean irritado.

— Podemos pelo menos contar a minha mãe pessoalmente que nos casamos?

— Não. 

— Mas Jean a minha mãe vai ficar furiosa com a gente. 

— Vai atrapalhar os planos Catarina, não tem como a gente fazer uma viagem agora. - Diz Jean com os dentes cerrados e apertando com força a minha cintura.

— Planos? Que planos? A nossa lua de mel? Mas será apenas um dia da nossa lua de mel que vamos usar para falar com a minha mãe.

— Sobre a lua de mel… - Jean olha para mim e para de dançar. — Não vamos ter.

Jean me solta me deixando sem palavras e boquiaberta. Quando eu volto a consciência para questionar Jean, meus sogros entram na pista, Jean pega a mão dele para dançar e meu sogro me tira para dançar.

Minha cabeça estava rodopiando, eu só queria acordar desse pesadelo que se chama festa de casamento, não poderia ser real, não estava acontecendo isso comigo desse jeito.

Meu sogro para de dançar comigo, quando decido ir na direção do Jean para conversar, Sérgio me puxa e começa a dançar comigo.

— Cunhadinha! Parabéns pelo casório, você está muito linda. - Diz Sérgio me levando para longe de Jean, que agora está dançando com a loira.

— Eu preciso falar com o Jean. - Digo olhando para  direção do Jean, eles falavam alguma coisa e estavam rindo

— Calma cunhadinha, você vai ter uma vida toda para encher a cabeça do Jean. - Sérgio desce as mãos de minha cintura chegando perto da minha bunda. - Nossa você esta muito linda.

Eu empurro Sérgio para longe de mim, isso chama a atenção de todos até mesmo de Jean que estava rindo junto com a loira. Eles olham para mim, eu saio da pista de dança e vou andando para dentro do casarão. 

— Catarina! - Grita Jean.

Eu saio correndo, atravesso o hall e saio pela porta da frente, estava me sentindo sem ar, o mundo parecia menor e eu só queria sair dali. Só havia escuridão a minha frente, mas muito longe dava para ver carros passando.

— Aonde você pensa que vai. - Diz Jean me segurando pelo braço.

— Me solta! Eu to cansada desse circo. - Digo puxando meu braço da mão de Jean. - Você não olhou para mim, não me perguntou o que eu queria… Eu só queria conversar com você e… Eu.. - Sinto meu peito doer e a respiração ficar pesada.

—  Você oque, Catarina? - Questiona Jean irritado. —  Você quer um show? Pois é isso que você conseguiu, mais um show seu Catarina. - Diz Jean apontando em direção ao casarão.

Os convidados começam a surgir, eu não paro de andar de um lado para o outro, parece que o ar está me faltando, eu começo a tentar tirar meu vestido, mas parece ficar pior a minha respiração, a minha visão fica turva e parecia que eu estava tendo um ataque cardíaco.

— Catarina? O que você tem? - Diz Jean se aproximando de mim, mas ele estava turvo e sua voz parecia distante.

Simplesmente tudo ficou preto e eu só sentia uma dor no peito.


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