Abusivo: A história que ninguém conta escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 18
Capítulo 17




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Estava exausta.... Deitada no chão ao pé da porta, minhas mãos doloridas e com calos por socar tantas vezes aquela maldita porta. Vou até a janela do quarto, mas está cadeada, algo que não havia percebido até aquele momento. A mesma coisa encontrei no banheiro. O cômodo que até então era um quarto se tornou uma prisão. Minha garganta estava doendo por eu gritar por um longo tempo até desistir.

Escuto passos de Jean do lado de fora, a porta da frente bateu tantas vezes me dando esperança de ele vir me soltar. Havia até me esquecido qual foi o motivo de eu estar merecendo aquele castigo e não sei mais o que dizer para Jean me soltar. Eu acabo adormecendo no chão por estar sentindo fraqueza e dor no estomago com fome. Finalmente a porta do quarto se abre, deixando que a luz do corredor toque o meu rosto, me acordando. Uma mão fria toca o meu rosto, as mesmas mãos se afastam e pegam meu corpo no colo. Sinto ser levada para algum lugar e com muita dificuldade abro meus olhos.

A sala e a cozinha estavam acesas a luz de velas, rosas vermelha em alguns vasos de plantas que antes ali não estavam e tinha pétalas de rosas por todo o chão. Olho para Jean que me coloca sentada no sofá e sorri para mim.

— Boa noite, Leãozinho. – Fala Jean beijando meu rosto em seguida.

Ele estava de terno, seus cabelos úmidos e exalando o seu perfume que era uma marca de sua presença. Eu estava extremamente confusa, não conseguia dizer nada com tudo que estava vendo: a mesa de jantar arrumada com velas e com a minha garrafa de vinho preferida, o cheiro da comida exalando por todo o ambiente e Jean na minha frente sorrindo.

— Como está se sentindo? – pergunta se ajoelhando a minha frente, ao mesmo tempo em que segura meu pulso como se conferisse minha pressão.

Solto um leve gemido de dor e puxo minha mão. Ele tenta tocar em meu pescoço e eu me afasto de seu toque. Então ele respira fundo, levanta e se afasta.

—  Vamos comer, meu amor? Eu comprei nosso jantar naquele restaurante que serve os caldos que você ama. Sei que passou muito tempo sem comer, então precisa se alimentar. – Comenta Jean indo para a mesa pegando o prato que emana fumaça de calor.

— Jean... – Sussurro fazendo com que olhe para mim.

Ele senta ao meu lado novamente, com a colher mexe no caldo dentro do prato e ergue uma colher cheia.

—Coma e depois conversamos. – Responde Jean colocando a colher perto de meus lábios.

Não teria como eu negar, afinal estava faminta. Começo a comer conforme Jean oferece em silencio. Fico olhando para ele analisando e tentando entender como pode ser um doce de pessoa em um momento e no outro...parece terrível.  Só consigo me questionar com quem estou lidando, Jean sensato ou sincero?

Após acabar o caldo de meu prato, Jean levanta e coloca o prato na bancada da ilha e retorna para meu lado. Ele tentar pegar em minhas mãos, mas recuso retirando as minhas mãos das dele.

—Acho que devo desculpa pelo meu comportamento de hoje... Eu passei de todos os limites com você. – Ele passa as mãos em seus cabelos e se aproxima de mim e ele estava com um olhar aflito. —Porém, Catarina, precisa entender que é você quem me deixa assim... Não sei como dizer isso.

Jean levanta, anda de um lado para o outro mostrando sua agitação, respira fundo algumas vezes e senta novamente ao meu lado.

—Você me deixa louco, Catarina, já te disse isso.  Perco o controle de mim e acabo agindo assim por sua causa, meu amor. – explica Jean com lágrimas nos olhos. — Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, isso é fato. E todos sabem o quanto amo você e como sou louco por você. Você não tem ideia do quanto me mudou, o quanto você tem me feito o homem mais feliz desse mundo.

Meus olhos se enchem de lagrima, tento segurar as minhas emoções.  Aquele era o Jean por quem eu me apaixonei e finalmente estava a minha frente dizendo aquelas lindas palavras que me faziam derreter.

—Meu amor, você faz isso comigo... E quando eu a vi indo em direção ao quarto e pegando a sua mochila... Deus! Eu só consegui imaginar que você estava saindo da minha vida. E eu não pude suportar isso , entendeu?  Por isso agi como eu agi. Eu nunca morei com ninguém antes e ainda mais alguém que eu ame. Eu me arrependo muito do que aconteceu e prometo não fazer novamente. – declara Jean me abraçando com força. — E eu te peço, Catarina que não me deixe fazer isso com você.

Hesito por um tempo, mas acabo me entregando ao seu abraço quente. Seu cheiro entra em minhas narinas. Como era bom sentir o calor de seu corpo, ouvir sua respiração de tão perto, seu coração estava na batida do meu e brincar com seu cabelo com as pontas de meus dedos.

Jean olha para mim e toma meus lábios, suas mãos avidas percorrem meu corpo, eu não precisava dizer mais nada. Seu corpo me deseja e meu corpo estava correspondendo ao dele. Ele me coloca em seu colo enquanto vou tirando aos poucos seu terno, sua blusa.  Nossos beijos estavam ardentes, era como se eu precisasse daquilo, precisasse dele como um vício.

Estava quase nua, seus beijos por minha pele me causavam arrepio, minha excitação aumentava cada vez mais e a dele era notável. Ele me deita no sofá, me olha admirando minha nudez e desta vez eu não estava envergonhada. Jean mergulha em meus seios com sua boca quente, me arrancando gemidos e suplicas. Seu olhar de predador me fazia sentir sua presa, eu queria ser a presa... Eu era a presa.

Jean se posiciona com seu quadril entre minhas pernas, rapidamente estava dentro de mim sem quebrar o contato visual, se move devagar. Minhas mãos percorrem os braços de Jean, o arranho conforme ele intensifica os movimentos. Nosso cheiro exalava por todo o ambiente, só se ouvia o atrito de nossas peles e nossos gemidos. Pela primeira vez eu tive uma sensação maravilhosa ao chegar no clímax. Jean desfalece em meu peito, sua respiração ofegante sincronizada com a minha.

—Isso foi incrível, Catarina. Bem que dizem que sexo de reconciliação é maravilhoso. – Comenta Jean saindo de cima de mim aos poucos e logo ficando em pé.

Enquanto Jean vai para o banheiro, eu visto sua camisa social observando   a cozinha que está toda decorada com flores e velas acesas. Estava tudo realmente lindo, um clima romântico que colocava um sorriso bobo em meu rosto, mas sentindo um misto de sentimentos dentro de mim. Ao mesmo tempo em que estava feliz por ter me resolvido com Jean, estava me questionando até quando duraria aquela felicidade? Como evitar de ter uma próxima briga?

         Caminho até o banheiro e fico olhando Jean tomar banho tranquilamente. Como pode esse homem me deixar tão confusa com o que sinto?  Horas me sinto a mulher mais amada do mundo e depois me sinto tão sozinha em um desespero dentro de um poça de lagrimas. Eu me sinto perdida, confesso, mas decido viver cada momento feliz que ele me proporciona. Afinal qual casal não briga?  Jean e eu não somos tão diferentes de outros casais por aí.

—  Está tudo bem? – Pergunta Jean encerrando o banho. Ele começa a secar oferecendo  um sorriso para mim.

— Sim, estava pensando no que me disse antes.

Jean se aproxima de mim na porta e eu me encosto no portal, o olhando nos olhos. Ele faz um carinho em meu rosto e me dá um beijo rápido nos lábios.

—Eu prometo que vou cuidar melhor de você. – Ele me abraça e beija minha testa. — Vou me controlar mais.... Eu não quero ser como meu pai. Ele agia dessa forma com a minha mãe... E eu não quero ser assim.

—  Eu acredito em você, meu amor. – respondo

Fazia muito sentido para mim agora o temperamento de Jean. Realmente havia me esquecido como era seu pai e seu relacionamento com ele. Talvez Jean seja estourado justamente por ter crescido com um pai  que era agressivo tanto com a mulher quanto com ele.

— Cat... – Ele segura meu rosto pelo queixo de maneira suave. — Eu preciso ir comer, você me deixou com fome. – finaliza  rindo.

Decido tomar um banho quente rapidamente, desta vez não estava sentido vergonha de meu corpo, eu conseguia olhar e sorrir. Ao tocar em minha pele, me fazia lembrar dos toques de Jean e o que aconteceu entre nós sem sentir nojo. Saio do banho, visto meu roupão e caminho para a sala, onde Jean estava comendo com o telefone ao seu lado. Porém, quando o som de notificação acontece, ele ignora o telefone completamente quando me vê e sorri.

— A mulher mais linda da minha vida. Sente aqui do meu lado. – Ele puxa a cadeira para mim ao seu lado e seu telefone toca.

Jean olha o visor e ignora a chamada deixando telefone na mesa com o visor para baixo.

— Não vai atender? Pode ser importante. – Digo

— Não, o mais importante agora é minha comida pois estou com fome e meu momento com você.  – Ele segura a minha mão fazendo carinho nela com seu polegar.

Realmente ele estava disposto a mudar por mim e aquilo era admirável. Quando o telefone toca novamente Jean decide desliga-lo. As atitudes assim  para mim, valem mais que as palavras e o  Jean estava fazendo as suas palavras valerem a pena provando não serem em vão. Ainda naquela noite, me fez massagem nos pés, nas minhas costas, passou pomada nas minhas mãos para melhorar os machucados que fiz mais cedo.

— Espero que isso alivie suas dores . – Ele beija as minhas mãos e sorri para mim.

— Eu estava pensando em seu pedido. – Digo , mas ele sela meus lábios com seu indicador.

— Não precisa, você estava fazendo demais, seu curso é importante também afinal é seu futuro. – Fala Jean deitando ao meu lado.

         Decido não falar mais nada para não causar atrito. Eu só queria ficar naquele momento para sempre, com Jean me dando carinho, me fazendo sentir amada e estar em seus braços me fazia me sentir segura. Desta vez dormimos abraçados, com ele fazendo carinho em meu cabelo e me fazendo adormecer em seus braços.

                                                  **************

Na manhã seguinte, sou acordada com beijos suaves por todo meu rosto. Sempre havia desejado ser acordada daquela maneira, com beijos e carinhos para o dia começar bem. Jean tinha preparado um café da manhã na cama para mim, acompanhado de uma rosa branca ao lado de meu prato.

— Bom dia, leãozinho. – Diz Jean dando mais alguns beijos em mim e em meus lábios.

—Bom dia, meu amor. – O abraço e depois pego a bandeja que está ao meu lado para tomar meu café da manhã.

—Fica ai quietinha com seu café da manhã delicioso, eu vou terminar de me arrumar. Preciso correr, estou cheio de compromisso com a formatura e... - Ele respira fundo soltando todo o ar do pulmão mostrando estar cansado só de pensar em tudo que tinha para fazer.

— Jean, eu decidi que vou continuar te ajudando. – Digo fazendo ele olhar para mim com um semblante surpreso.

— Olha Catarina, não precisa. Sei que tem seu curso e eu posso dar um jeito. – Ele sorri para mim, levanta da cama e dá uma olhada em seu visual no espelho.

—  Eu já estou praticamente reprovada. Seria inútil lutar contra o resultado final que será a minha reprovação. -Argumento.

Jean olha para mim surpreso, mas logo solta um sorriso e relaxa os ombros. Parecia que minhas palavras tiraram um peso de suas costas. Ele se aproxima de mim e me abraça forte.

—Obrigado Cat, eu não sei que homem eu seria sem você na minha vida. – Diz Jean fazendo um carinho no meu rosto. — Você é um anjo na minha vida, o meu leãozinho e eu amo você. – Ele me beija na boca me fazendo perde o folego, mas logo vai parando aos poucos.

Termino meu café da manhã, Jean termina de se arrumar e sai com o carro para ir para faculdade. Sei que tomei a decisão certa em abrir mão deste período que não tinha mais salvação e o jeito era aceitar reprovação. Como eu gosto de me sentir útil, ajudar Jean seria a melhor coisa no momento e o prazo era curto.

A minha manhã foi parecida com a de um telemarketing, uma ligação atrás da outra para resolver os últimos arranjos da formatura. Fora que haviam entregado no endereço errado algumas decorações, a concessionaria errou o modelo do carro, pelo menos o contrato chegou certo por e-mail e faltava apenas imprimir. Chamo um taxi decido surpreender Jean na faculdade e decido imprimir na biblioteca, pois sairia de graça.

Passo primeiro na biblioteca para imprimir o contrato, vejo Patrick sentado com Leticia em uma mesa com alguns livros. Pareciam estar estudando, mas ele segurava a mão dela, fico feliz por ele estar com alguém, mas ao mesmo tempo triste por perder a amizade dele daquela maneira. Vou atrás de Jean com o contrato impresso nas mãos.

Passo em sua sala e noto que sua aula terminou há algum tempo.  Decido procurar no estacionamento, onde ele estava encostado no carro conversando com Sergio que estava na sua frente abraçado com uma nova garota. Porém, ao lado do meu namorado estava aquela caloura loira do Sucão. Ela passava a mão no braço de Jean e meu ciúme foi subindo ao ver ela tocando nele... agora estava passando uma das mãos no cabelo de Jean como se tivesse intimidade com ele.

— Jean. – Chamo quando chego perto deles.

A conversa para na hora, todos olhavam para mim e Jean estava surpreso com a minha chegada. A loira para de tocar em Jean e se afasta um pouco dele.

—Catarina? O que faz aqui? – Questiona Jean que se afasta de todos. Ele se aproxima de mim e segura meu braço fortemente, me guiando para longe do grupo que volta a conversar.

— Eu vim imprimir seu contrato e queria fazer uma surpresa. – responde o encarando a loira enquanto entregava o contrato para Jean, mas as vezes a loira dava uma olhada para nossa direção. —  O que ela faz aqui?

— Quem? – Questiona Jean lendo o contrato.

— A loira do Sucão.

— Ah , a Jaque... Estava me pedindo dicas para as provas dela e queria até algumas provas antigas... – responde folheando o contrato.

—Ela parece ser afim de você e não para de olhar para cá. – Digo irritada com a situação.

—  Não comece, Catarina. – Ele pega uma caneta no bolso e assina o contrato. — Ela é só uma caloura, até pode estar afim de mim, mas é só por causa da minha fama e nada mais que isso.

Nós voltamos para perto deles, a loira nem disfarçava estar afim de Jean, sorriu de orelha a orelha com a volta dele mesmo segurando em minha mão.

— Jeanzinho, já vou. – fala  a loira que se aproxima de Jean e dá um beijo no rosto dele bem perto da boca dele. — Obrigada por tudo. Até mais.

—Até mais. – Diz Jean para ela.

A garotava que estava agarrada em Sergio se despede também da mesma maneira em Sergio e sai andando com a outra rebolando.

Entro no carro sem dizer nada, tentando não mostrar que estava com ciúmes, mas era muito evidente isso. Eles entram no carro conversando sobre qualquer coisa que não me interessa no momento, só consigo pensar na maldita loira que estava nitidamente afim do meu namorado.

— O que foi Catarina? Está emburrada com o que? – Questiona Sergio no banco de trás.

— Ela está com ciúmes da caloura. – Responde Jean rindo.

—AAAAhh! Catarina não esquenta com isso não. O que mais tem é caloura querendo dar para gente, aquelas ali são duas piranhas. Pelo menos vou estar servido na noite de formatura. – Comenta Sergio dando gargalhada.

— E tem mais. – Continua Sergio. —  O Presidente só quer você, então ignora essas piranhas e sinta-se sortuda por ser a Primeira Dama. Elas têm é inveja de você e morreriam para estar em seu lugar.

— Também não é para tanto Sergio. Somos populares, mas não tanto a esse ponto. – Interrompe Jean.

Eles voltam a rir e Sergio começa a falar que já preparou um plano para transar com a caloura que ele convidou. Não sei como aquele comentário do Sergio poderia me deixa tranquila, pelo contrário me deixou mais irritada.

*****

Dediquei-me de corpo e alma em todos os assuntos que envolviam o Jean. Tomei para mim todas as responsabilidades, mesmo aqueles que ele não me pediu explicitamente, tudo para deixá-lo o mais tranquilo possível. Justamente porque quanto mais tranquilo o Jean ficava, mais amoroso ele era comigo e eu estava amando cada momento que estávamos vivendo.

Porém, pois sempre há um porém, eu sabia que tudo aquilo iria acabar. Assim que terminasse a formatura, meu namorado iria para sua residência e quanto a mim... Não tenho a menor ideia. Decidi que era mais do que a hora de eu procurar um emprego porque sinto que o Jean não será capaz de manter tanto o apartamento de São Paulo quanto o daqui e também não é justo deixa-lo que o faça sozinho.  Abro os sites e várias vagas disponíveis, mas eu não tinha experiência em quase nenhum cargo. Na verdade, não possuo experiência para nada, já que minha mãe sempre fez questão que eu me dedicasse 100% aos estudos, agora sofro com as consequências. Não posso fazer estágio, pois reprovei o primeiro período, logo não tenho carga horária o suficiente.

 O que me resta são vagas menos exigentes, mas que ainda sejam de meio período. Estou me cadastrando na vaga de telemarketing, quando escuto o barulho da fechadura da sala. Conto dez segundos e o barulho da porta se abrindo me confirma que é o Jean. Tento terminar o cadastro o mais rápido possível , então sinto a mão tocar o meu pescoço, o massageando levemente. Então seu rosto se posiciona próximo ao meu encarando a tela do computador:

— O que é isso? – pergunta Jean sem qualquer rodeio.

— Estou me cadastrando a uma vaga de emprego. – respondo com a mesma cortesia.

— Por quê? – questiona Jean passando seu braço em volta do meu pescoço e então alisa meu ombro.

— Porque eu preciso de um. – respondo finalizando o meu cadastro. Desligo o computador  e beijo sua bochecha — Vou esquentar seu almoço – finalizo me levantando da bancada.

Ele segura minha mão e me puxa contra seu corpo. Segura meu rosto para que possa olhar dentro dos meus olhos.

— Por que você precisa de um emprego? – questiona, sério. — Está lhe faltando alguma coisa? Está precisando de algo?  Você estourou o cartão?

— Não! – respondo enérgica — Não é nada disso!

— Então o que é? – pergunta Jean me abraçando — Diga e eu resolvo.

— Não é nada que você possa resolver – respondo me afastando e caminhando em direção ao cooktop. Mexo nas panelas pensando na melhor forma de abordar o assunto sem tirar o Jean do sério. A última coisa que desejo agora é entrarmos em discussão . — Eu estive pensando... Como você estará em São Paulo em breve, acho que está na hora de eu começar a trabalhar. Sabe, para ajudar nos gastos do apartamento.

— Você não precisa ajudar nos gastos do apartamento. Ele é minha responsabilidade – rebate Jean mudando sua expressão para uma que me deixa apreensiva.

—Amor, eu sei que você sente que é sua responsabilidade... Porém,  você terá muitos mais gastos em São Paulo. Sei lá, isso pode vir a ser uma pressão que você não precisa ter agora. – explico desligando as panelas. Pego um dos pratos e sirvo a comida que fiz para meu namorado que continua com o semblante sério Colo o prato em sua frente e vou atrás dos talheres já pensando nas minhas próximas palavras — Além disso, acho que está na hora de eu tomar as rédeas da minha vida financeira. Tornar-me independente financeiramente.

Ajeito os talheres ao lado do prato de Jean e então pego o guardanapo estendendo em sua direção. Ele segura em meu pulso firmemente e então diz:

— Pegue sua bolsa.

— O que? Por que? – questiono sem entender.

— Nós vamos a um lugar e tem de ser agora – responde Jean enigmático colocando o guardanapo sobre seu prato. — Pegue sua bolsa, Catarina. Agora.

Jean solta meu pulso e então caminho em direção ao quarto pegando minha bolsa sem entender o motivo. 

— Vamos – chama Jean da sala.

Saímos apressados  do apartamento  para o destino que só o Jean tinha em mente. Decido não perguntar, pois sei que cheguei próxima ao limite  da última briga e não desejo repetí-la , ainda mais agora vendo o quanto esse assunto era desnecessário. Arrependo-me de termos entrado nesse assunto e até me questiono mentalmente onde eu estava com a cabeça para falar sobre isso.  Finalmente ele entra em um dos edifícios comerciais da cidade, estacionando seu veículo no subsolo. Entramos no elevador e então percebo que estamos a caminho de uma agência bancária. Não era qualquer agência bancária , era a dele.

Assim que as portas do elevador se abrem, um homem de bigodes sobressalentes ,  de não mais de cinquenta anos pelos seus cabelos grisalhos  nos recepciona. Ou melhor, recepciona o Jean como se ele fosse um astro de televisão, ou alguém muito famoso. Então me recordo, sim ele é famoso. Sua família é famosa, um detalhe que tenho hábito de esquecer.

— Sr.  Vasconcelos – cumprimenta o homem estendendo a mão em direção a Jean que retribui — Bem vindo, devo admitir que estou surpreso com sua visita...

— Olá, Ivan. Acredite, estou tão surpreso quanto você  – responde Jean segurando em minha mão e assim atraindo atenção de Ivan. — Catarina, esse é o Ivan, o meu gerente de contas . Ivan, essa é a Catarina Araújo Freitas , minha namorada.

— Prazer, senhorita Freitas. – responde Ivan apenas curvando levemente  cabeça em minha direção — Em que posso ajuda-los.

— Ivan , quero abrir uma conta conjunta com esta senhorita – revela Jean para a surpresa de nós dois. Nós dois, sou e o Ivan, pois o Jean parece bem tranquilo com sua decisão.

— Algum motivo específico, Sr. Vansconcelos para tomar esse tipo de decisão – questiona o gerente ainda surpreso.

—  Como já lhe informei, mudarei para São Paulo, mas a Catarina ficará em meu apartamento aqui na cidade. Logo, terá que gerenciar os gastos do imóvel , além de outras coisas que possam vir a surgir. Então nada mais sensato que dar acesso a ela as minhas finanças. – responde Jean , animado.

— Uma ideia sensata... – repete Ivan tocando levemente na ponta do seu queixo — Bom, que tal nos sentarmos em minha mesa para analisarmos isso com calma, sim?

— Ótima ideia – responde Jean caminhando ao lado do homem.

Eu não consigo sair do lugar de imediato, pois ainda fico presa com a fala do Jean em querer dividir sua conta comigo.

— Venha, querida – fala Jean estendendo sua mão em minha direção.

Caminho ao seu lado até a mesa de Ivan que começa a mexer em seu computador rapidamente. O barulho dos dedos contra as teclas demonstra claramente sua insatisfação com a ideia , algo que também não me agrada:

— Jean, você não acha um pouco precipitado ? – questiono quase como em um sussurro — Eu não acho certo... Deve existir outras formas.

— E existem – fala Ivan invadindo nossa conversa — Ao invés de abrirmos uma conta conjunta... Que tal abrirmos uma conta para a mocinha e o senhor  – aponta em direção ao Jean — Realiza depósitos mensais de acordo com os gastos que ela venha a ter. O que acha?

Jean sorri levemente e então balança a cabeça negativamente.

— Ivan, abra a conta conjunta, por favor. – pede , sério.

— Amor, eu não me sinto confortável com isso – digo encarando o Jean — Não há necessidade de você abrir sua conta para mim.

— Claro que é. É extremamente necessário... Catarina, você escutou o que disse para mim ? Você quer trabalhar! Trabalhar para pagar contas da casa e suas.  Amor, você não precisa e nem deve trabalhar. Pelo menos não até se formar – responde Jean vendo minha cara de indignação, então segura em minhas — Catarina, quando eu te chamei para morar comigo foi para que você pudesse manter o seu futuro. Eu prometi a você que o seu futuro ficaria a salvo. E agora vou cumprir essa promessa. Você vai ter acesso a tudo o que é meu e assim não vai precisar se preocupar com valores, gastos... nada disso.

— Desculpe-me , mas assim o senhor ficará muito exposto – intervém Ivan preocupado com o rumo da conversa.

—O seu trabalho é me proteger – rebate Jean sério. — O que propõe? Sem ser aquela idiotice anterior.

— Podemos abrir a conta conjunta, mas acho mais seguro limitar certas movimentações.... Para a segurança dos dois. Dependendo do valor, será solicitada a autorização do titular principal. – responde Ivan com cautela.

— Jean... – digo nervosa com aquela situação.

— Shhh... eu sei o que estou fazendo – interrompe Jean  colocando seu dedo sobre os meus lábios. — Eu aceito.

— Está bem – responde Ivan pressionando os lábios , como se segurasse as palavras que realmente queria proferir para o seu cliente.

O gerente começa a redigir o contrato com tudo o que foi discutido, algumas coisas foram sendo acrescentadas pelo Jean, como cartão de crédito, cheques e margens em meu nome. Ele me deu acesso a movimentar uma certa quantia sem sua autorização, realizar saques e até fazer pequenos investimentos com o Ivan. Segundo o Jean, para que eu fique mais confortável , tiraria o extrato de movimentações do meu acesso, assim eu ficaria mais livre para fazer as minhas compras sem achar que estava gastando muito. Havia outras cláusulas, mas eu só conseguia pensar em quão generoso o Jean era comigo. O contrato ficou pronto e então começamos a assinar as folhas, até que na última Jean me encara dizendo:

— A partir de hoje, tudo o que é meu, será seu. Tudo.


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