Amarelo- Lírio e Fogo Azul escrita por Ash Albiorix


Capítulo 17
Capítulo 17- Zero


Notas iniciais do capítulo

Olá! Então, explicando aqui pra ninguém ficar perdido: os próximos dois capítulos eram pra ser um cap só, mas eu meio que me afobei e ficou muito grande, então resolvi dividir. ENTRETANTO, achei que a experiência ficaria melhor se eu postasse os dois de uma vez, que aí quem quiser ler direto, pode ler logo.
Obrigada a Olhos de Venus, littlelinha e heywtll pelos comentários aaaa ♥ ♥
Enfim, espero que gostem da surpresa de uma att dupla ♥
Boa leitura!



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Zero

Eu fiz muitos planos do que poderia fazer no hospital para não ficar entediado.

Eros sair correndo do meu quarto segurando o choro definitivamente não era um deles.

No fundo, eu acho que sabia que aquele momento chegaria.

Era difícil não desconfiar dos sentimentos de Eros por mim. Eu não sabia bem se eles haviam começado quando saímos juntos no planetário - no encontro que eu fingi não perceber que era um encontro- ou antes. Ou talvez depois. Mas eles estavam lá, e eu sabia. Sabia pelo jeito que nos olhávamos e pelo jeito que segurávamos as mãos.

Eu deveria ter cortado. Deveria ter falado "Eros, isso precisa parar. Não podemos ser mais do que amigos. " Mas eu deixei acontecer.

Deixei acontecer porque não sabia se "só amigos" era exatamente o que eu queria.

Deixei acontecer porque, não importava o quão confuso eu estava sobre meus próprios sentimentos, não importava o quanto eu achasse que Eros era um sonho adolescente, uma paixão impossível.

Não importava o quanto eu achasse que aquilo - que nós dois- nunca poderíamos acontecer, porque Eros era magnético, e quanto mais próximo ele chegava, mais eu tinha dificuldade de soltar.

Mas eu ainda não sabia o que sentia por ele. Mesmo depois de todo esse tempo, Eros ainda parecia... inalcançável. Bom demais para mim.

Por isso, quando ele me falou que estava apaixonado - quando usou uma palavra tão forte quanto apaixonado — minha primeira reação foi entrar em pânico.

E aí eu travei.

A forma agressiva com a qual imediatamente soltei a mão dele não fez nada para me ajudar.

Eros se afastou, olhando diretamente nos meus olhos, mas encolhido como se tivesse acabado de levar um soco.

Ficamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. Eros parecia apenas observar a cena, como se, a qualquer segundo, eu fosse finalmente processar o que ele havia me dito.

—Então... — Eros cedeu — você não vai falar nada?

Eu continuei o olhando, em silêncio. Não sabia o que dizer.

Eu não poderia o dizer que estava apaixonado também. Não poderia fazer tal afirmação sem ter certeza e, mesmo que tivesse, não saberia se conseguiria. Mas eu também não poderia dizer que deveríamos ignorar aquilo e apenas continuar com nossa amizade.

Eu não queria ignorar aquilo.

Mas...

—Eu não sei o que dizer — murmurei, tão baixo que pensei que talvez ele nem tivesse ouvido.

—Eu não estou pedindo para você dizer que corresponde, porque, a esse ponto, acho que consegui perceber que esse não é o caso — Eros embolou, um traço de raiva em sua voz, como se tivesse perdendo a paciência. — Eu só estou pedindo para você falar qualquer coisa.

Ao som do meu silêncio novamente, Eros abaixou o olhar, soltou uma risada amarga, e virou o rosto para o outro lado.

—Eros... — sussurrei, depois de alguns segundos, mas o garoto parecia ter desistido.

Deixa para lá.

Seu tom agressivo teria me deixado atordoado o suficiente, mas a expressão que Eros fez, a forma como me olhou, um segundo antes de murmurar que estava tarde e precisava ir embora, foi o que me surpreendeu.

Seus olhos estavam cansados, as sobrancelhas juntas e o maxilar travado, como se estivesse se segurando para não chorar. Como se estivesse se segurando para não explodir.

Às vezes, Eros era tão intenso que eu sentia que não conseguia respirar perto dele.

E aí ele saiu. E eu ainda sentia que não conseguia respirar.

Não nos falamos depois daquilo. Eros precisava assistir às aulas, então eu sabia que não iria voltar lá. Peguei meu telefone, e disquei seu número assim que ele saiu de lá, mas não tive coragem de ligar, ou de mandar mensagem.

Parecia que tudo que havíamos construído estava se despedaçando.

E eu sabia que dependia de mim consertar. Não importava se era para dizer que nós dois ficarmos juntos não aconteceria ou se era para me declarar de volta, eu sabia que tinha que partir de mim. Mas eu prometi para mim mesmo que só falaria quando tivesse certeza- e ter certeza de algo quando se trata dos meus sentimentos não era bem minha especialidade. Além disso, quando voltei para o Instituto, tinha tanta coisa para fazer e tanta coisa para botar em dia que nunca havia tempo para pensar nos meus próprios sentimentos.

O que não significava que não havia tempo para pensar em Eros. Não, eu pensava nele o tempo todo.

Mas não realmente falei com ele. Toda vez que arrumávamos a cama em silêncio e íamos para lados diferentes do corredor, eu sentia que ia chorar.

O sentimento continuava durante o dia. Desde a parada cardíaca, prestar atenção nas aulas estava ficando cada vez mais difícil, e minha memória, uma das únicas coisas que eu conseguia confiar, estava me deixando na mão.

Não conseguia manter o foco nem na coisa que eu mais amava no mundo- física. Não por muito tempo, de qualquer forma.

O médico falou que era normal, que eu estava me recuperando. Mas as provas e trabalhos e responsabilidades simplesmente não sentam e esperam eu me recuperar.

Diana estava temporariamente liderando nosso projeto, e fiquei um pouco feliz de não estar lá, porque seria impossível evitar Eros.

Não contei a ninguém o que aconteceu, nem o acidente de carro, nem a parada cardíaca, mas Eros aparentemente havia falado a Diana, porque ela veio conversar sobre comigo no final da aula.

—Você deveria ter me contado! É por isso que sumiu essas semanas? É por isso que você se afastou do projeto?

Dei de ombros.

—É. Mas não foi nada demais. Eu estou bem.

Ela parecia genuinamente irritada.

—É impossível ser sua amiga, Zero! É sério. Eu sei que você é fechado, e eu tento te dar o maior espaço que eu consigo, mas você parece simplesmente não se importar às vezes. Não passou pela sua cabeça que eu ia ficar preocupada se você não aparecesse na aula por semanas e eu não conseguisse te achar em lugar nenhum?

Não. Não havia passado pela minha cabeça.

Eu não estava familiarizado com a ideia de que as pessoas realmente se preocupavam comigo.

Abaixei a cabeça na carteira e murmurei:

—Desculpa.

—E, aliás — continuou — você não parece nada bem.

Obrigado.

—Eu só quis dizer que eu não me importo com o quanto você acha que é um tipo de super gênio que consegue fazer tudo sozinho, eu ainda estou aqui para te ajudar se você precisar de ajuda.

—Você já está fazendo demais por mim no projeto. E eu não acho que sou um gênio — corrigi.

—Então a outra parte é verdade?

Suspirei.

—Eu vou pedir sua ajuda se precisar, Dia. Obrigado — me forcei a dizer.

Olhei para o lado e ela ainda parecia chateada, de braços cruzados. Então abriu a mochila e tirou uma caixa.

—Eu fiz isso aqui para você — falou, e eu me ajeitei na cadeira, confuso. — Não me olha assim. Foi ideia do Eros, eu só executei. Com ajuda do irmão dele, Erick. Eros deu a ideia, eu programei, Erick construiu.

—Eros? — perguntei.

—É. Eu não faço ideia do que aconteceu entre vocês esses dias, mas, independentemente disso, ele ajudou. Só abre que eu te explico o que é.

Era um relógio preto, um pouco largo, mas não muito chamativo. Reparei que os ponteiros não se mexiam, e não parecia ter nenhuma forma de configurá-los. Olhei para os botões, e testei meu palpite.

—Uma pulseira alarme? Tipo para idosos?

Diana revirou os olhos.

—Tipo para gente que o coração para do nada.

—Justo.

Ela pegou e me mostrou os botões um por um.

—Enfermaria do Instituto. Emergência.

Antes que ela continuasse, olhei para a caixa e vi outra pulseira.

—Um receptor? — perguntei.

—É impossível explicar as coisas para você. É, um receptor. Embora Eros tenha dito que você não daria a outra pulseira para ninguém. Ele também disse que você não usaria se realmente parecesse com uma, por isso a gente tentou fazer em formato de relógio. Mas aí não conseguimos fazer o relógio funcionar.

Eu estava... impressionado. Eu poderia simplesmente pegar meu telefone e ligar para alguém em uma situação de emergência, mas eles também haviam conseguido conectar à enfermaria do Instituto e a um outro receptor. E eu só precisaria apertar um botão. Era, no mínimo, prático.

—E vocês fizeram isso?

Ela concordou. Eu não sabia como agradecer, mas agradeci. Esperava não precisar, mas prometi que usaria. Diana saiu e eu continuei na sala, pensando.

Eros havia dado a ideia. Diana ajudou a montar aquilo para mim e eu não havia nem me dado o trabalho de avisar a ela que estava no hospital.

De repente, eu estava triste novamente.

Suspirei. Alice apareceu na porta e eu murmurei:

—Ótimo. Mais uma pessoa para eu decepcionar.

—O quê?

—Nada.

Alice parecia séria. Claro que ela estaria, é a melhor amiga de Eros, no final das contas. Provavelmente sabe o quanto eu tenho sido um idiota com ele.

—Eu só... lembrei que precisa te entregar isso — falou, e colocou um bilhete na minha mesa.

Era o bilhete da pulseira de Davi, com os números. Assim que o olhei, eu sabia que havia visto em algum lugar, mas não conseguia me lembrar onde. Eu não estava acostumado a não lembrar das coisas.

—Alice? — chamei, enquanto ela se virava para sair. —Você acha que parece que eu não me importo com as coisas?

—Com as coisas? Não — respondeu. — Você se importa com muitas coisas. Física, majoritariamente. Agora... com as pessoas? Aí eu não sei.

Abaixei a cabeça na mesa novamente, e acho que Alice ficou com pena, porque hesitou antes de sair.

—Você precisa parar de afastar todo mundo — foi o que ela disse. — Principalmente o Eros. Porque um dia vai funcionar.

Eu tinha medo que já tivesse funcionado.

Mas, depois do bilhete, Alice havia me dado algo para pensar. Algo para pensar que não fosse o Eros, e eu estava feliz em ter uma nova obsessão. Uma que não fosse o quanto eu sou um idiota egoísta e em como estava ignorando a pessoa que mais eu mais queria estar perto.

Eu não era bom com pessoas, aquilo estava mais evidente do que nunca. Mas números? Bom, com números eu poderia trabalhar.

Joguei o papel fora assim que pude, confiando na minha memória pela última vez, mas não parei de o anotar pelos lugares. Não era nenhuma constante física ou sequência matemática conhecida. Não era uma equação. Eu não conseguia achar padrões não importava o quanto estendia as contas. Parecia não significar nada.

Mas eu sabia que já havia visto aquele número antes.

Foram dois dias em que eu estava quase começando a duvidar da minha sanidade mental- e aí eu lembrei.

Eu e Davi estudávamos juntos o tempo todo. Uma vez, ele foi me mostrar algumas de suas anotações, e abriu um site que hospedava imagens. Ele costumava tirar fotos dos seus cadernos e fazer upload lá. Cada imagem tinha um link, e só poderia ser acessada por ele.

Os links eram números de seis dígitos.

Só poderia ser aquilo.

Não era um site conhecido, e as imagens não mostravam quem havia feito upload. Era o local perfeito para guardar alguma informação que não poderia ser encontrada.

Eu não conseguiria mexer no celular no meio da aula, então esperei até o intervalo do almoço e fui correndo procurar Alice ou Eros. E quero dizer literalmente correndo- ou o máximo que eu conseguia correr-, o que foi, obviamente uma ideia estúpida.

Imaginei que ia encontrar Eros e Alice no refeitório, mas precisei parar no meio do caminho para recuperar o fôlego. O corredor no meio do horário de almoço não era o melhor lugar para desmaiar.

Do outro lado do corredor, Eros me viu antes que eu visse ele. Quando levantei o olhar, o garoto já estava me observando.

Eu estava acordando muito cedo, e voltando para o quarto tarde demais, o que significava que mal nos víamos quando os dois estavam acordados. Na verdade, eu sentia que era a primeira vez que o via em alguns dias.

Parecia exatamente com alguns meses atrás, quando tudo que fazíamos era nos encarar com ódio nos corredores.

Eros estava falando com quatro garotos, que riam alto como se não estivessem em um local público. Um dos garotos se inclinou para sussurrar algo no ouvido de Eros, que desviou o olhar de mim e sorriu.

Senti uma pontada de raiva. Ciúmes.

Eros falava tão alto quando não estava comigo. Claro, Eros era sempre agitado, mas ele mudava metade da sua personalidade em público. Ria mais alto, mudava a postura, levantava o rosto um pouco demais para parecer que ele, e só ele, estava no controle.

Era um pouco sexy.

Mas também era exagerado. Talvez ele parecesse mais feliz, mas eu sabia que estava se forçando. Sabia que fazia isso o tempo todo. Eros nunca relaxava perto de outras pessoas.

Bufei. Eu estava com saudade.

Eros me olhou novamente, o sorriso falso se desfazendo bem devagar, mas continuou falando.

Eu estava quase desistindo de falar com ele, quando Eros falou alguma coisa, piscou discretamente para o garoto do lado dele, e veio andando até minha direção.

Parou na minha frente e cruzou os braços, um sorriso cínico que eu conhecia muito bem, e odiava.

—O quê? — perguntou. — Ou só estava apreciando a vista?

Não havia nenhum traço de humor da voz de Eros. Era intimidador.

—Preciso falar com você — eu disse, baixo. Ele se encolheu um pouco. — E com a Alice — completei.

Ele enrugou a testa, sua expressão intimidadora dando lugar a uma leve chateação.

—Tá. Você vai chamar a Alice ou...?

—Em particular.

Ele entendeu.

—Sala de cinema, então. Horário de sempre.

"Horário de sempre" significava assim que todos fossem dormir, quando podíamos andar pelos corredores livremente.

Antes de sair, Eros falou:

—Já que estar no mesmo ambiente que eu é tão ruim para você, estou assumindo que é algo importante.

Ele estava ainda mais defensivo do que quando nos odiávamos puramente por odiar. E eu não o culpava.

—Eros, não é isso... — comecei a falar, mas ele já havia virado as costas.

Deixei para colocar a senha no site quando estivéssemos os três juntos, na sala de cinema abandonada. Da última vez que fiz algo assim, acabei encontrando aquelas mensagens levemente perturbadoras, então não queria estar sozinho dessa vez.

Mas, julgando pela atmosfera ameaçadora, talvez teria sido melhor se eu tivesse feito sozinho.

Eros não era do tipo de evitar olhares. Na verdade, ele estava fazendo o contrário: olhando para mim tão intensamente com raiva que eu mal conseguia abrir o site no meu celular de tanto constrangimento.

Alice fingia não estar percebendo.

—Conseguiu? — ela perguntou.

—Carregando — murmurei.

E então nós três ficamos em silêncio novamente.

Me distrai com o olhar de Eros, e só percebi que havia carregado quando Alice tomou o celular da minha mão.

—O quê...? — ela perguntou — O que é isso?

Entregou o celular a Eros, e eu tive que ir até ele para ver também. Ele não demonstrou ter prestado atenção em mim.

No site, uma imagem da folha de um caderno com a caligrafia de Davi, mas não fazia sentido. Não eram informações.

Eram.... nomes.

Uma lista de nomes.

Mais ou menos umas quinze pessoas.

Senti um calafrio passar pelo meu corpo, o pensamento inevitável de que aqueles nomes poderiam ou não ser de pessoas que foram mortas pela mesma pessoa que matou Davi.

Não falei em voz alta, e não sabia se eles haviam chegado à mesma conclusão que eu. De qualquer forma, eu não queria me precipitar e me desesperar antes da hora.

—Alice, você pode jogar esses nomes na internet? — perguntei.

Eros olhava para a lista fixamente.

Ele apontou para um dos nomes.

Melissa Torres.

—Essa menina é da minha turma — falou, mas repensou. — Era. Ela... — ele pareceu ter chegado a conclusão enquanto falava, porque eu consegui ver o horror em seu olhar — Ela saiu final do ano passado. E esse garoto. Aquele também.

Eros conhecia quase todo mundo. Quanto mais ele pensava, mais reconhecia pessoas da lista. Eu conseguia ver seu peito se movendo rápido como se ele estivesse prestes a ter uma crise de ansiedade.

Ele pareceu ter se esquecido que estávamos brigados, porque olhou diretamente para mim.

—Zero, todas essas pessoas estudaram daqui. E todas elas desistiram do curso no meio do semestre ou algo parecido, sem nenhum motivo aparente. Igual o Davi. Todas elas. Não... Isso é tão estúpido. Não pode ser. Certo?

Alice ainda procurava algo no celular.

—Aqui — falou, mostrando um artigo. — A taxa de evasão do Instituto Newton é conhecida por ser cinco vezes maior que de outras faculdades. Todo mundo sabe disso, certo? Qual foram as primeiras coisas que vocês ouviram sobre aqui?

—Que era a faculdade com maior número de contribuições para a ciência — falei, automaticamente, e então continuei. — Que muita gente desistia por ser tão difícil.

—Eu não acho que Davi seria morto por ter uma lista com nomes de gente que desistiu do colégio — Eros murmurou.

Ele parecia o mais horrorizado de nós três, talvez porque sabia quem eram as pessoas.

—Eros, o que você lembra sobre elas? — perguntei.

Ele desviou o olhar do meu e revirou os olhos, como se lembrasse que estava com raiva de mim. Respondeu minha pergunta olhando para Alice.

—Aquela garota, Melissa, lembra dela? — Alice negou. — Cabelos vermelhos. Sentava na última cadeira ano passado. Era bem quieta, acho que não tinha amigo nenhum. E aquele garoto ali — apontou para a lista —, eu o achei no banheiro uma vez chorando e a gente conversou por uns minutos. Pouco antes dele sair. Mas ele não me falou nada sobre desistir do Instituto. Todas essas pessoas... — Eros murmurou — vocês realmente não se lembram? De ninguém?

Eu e Alice negamos.

—Acho que esse é o ponto — ele concluiu. — Nenhuma dessas pessoas tinha muitos amigos, ou faziam muitas coisas perceptíveis.

—Então quando achamos que Davi havia sido morto porque ele era imperceptível... — falei — porque passava abaixo do radar.... Você acha que é isso?

Tem que ser — Alice respondeu. Ela ainda estava no celular — Nenhum deles tem postado nada nas redes sociais ultimamente.

—Tem alguém no Instituto matando alunos e fingindo que eles apenas saíram do curso— Eros resumiu nossas conclusões. — Mas por que? E como Davi sabia?

—Vamos focar no que a gente sabe — Alice falou.

—Bom, agora a gente sabe que, quem quer que seja, está diretamente ligado ao Instituto — falei. — Isso explica o fácil acesso ao nosso quarto. E a posição de poder. Qualquer pessoa com um cargo alto aqui consegue facilmente subornar qualquer tipo de autoridade.

—Vamos investigar o diretor e os coordenadores, então — Alice sugeriu — A gente começa com tudo que é de conhecimento público, tudo que pudemos achar na internet, e aí depois pensamos sobre o próximo passo.

—Parece um plano.

Eros estava em silêncio por tempo demais e ele ainda estava respirando forte.

Eu quis poder consolá-lo, mas, com a raiva que ele estava de mim, eu provavelmente pioraria a situação.

Era sexta-feira, e durante os sábados e domingos todos os estudantes tinham permissão para sair e entrar livremente, então combinamos de pegar o computador que Eros havia deixado na casa da Alice.

Mesmo assim, não poderíamos entrar no Instituto com computadores de fora mesmo que fosse final de semana. De qualquer forma, depois do que descobrimos... o Instituto parecia ser o lugar menos seguro possível.

—Eu sei um lugar em que podemos ficar sozinhos — Eros falou. —Meus pais compraram um apartamento aqui perto uns anos atrás. Eu acho que está inutilizado, mas a gente pode ir até lá.

—Simplesmente invadir um apartamento? — perguntei.

—Você ainda não se acostumou com a família do Eros, né? — Alice falou. — Quando ele disse que os pais dele compraram o apartamento... era o prédio, não era?

—Seus pais têm um prédio? — perguntei.

—Muitos deles — Alice respondeu. Eros parecia um pouco envergonhado — Eles são os piores. Aquele condomínio que eles moram? Do pai dele. Eu odeio gente rica.

—Eu adoro falar mal da minha família — Eros interrompeu — mas vamos voltar ao que importa? — ele ajeitou a postura, então olhou para mim e perguntou, com raiva. — Você vai?

Pelo seu tom de voz, era como se ele quisesse que eu respondesse não.

—Não sei — falei, confuso. — Se você não quiser que eu vá...

—Ótimo. Não quero.

Não — Alice interrompeu — A gente precisa do Zero, ele é o melhor de nós com computadores.

—Então vão só vocês dois.

—Eros, o prédio é do seu pai.

Me irritei e perguntei:

—Por que você está fazendo isso?

Ele riu.

—Por que eu estou fazendo isso? Porque você tá?

—Fazendo o quê?

—Me ignorando! — gritou, finalmente perdendo a paciência. — Como você ousa ser tão sonso? Eu não aguento passar mais um segundo perto de você! Isso não é tortura o suficiente? — falou, apontando para as coisas ao redor — Eu ter que dormir e acordar do seu lado enquanto você anda por aí como se nunca tivesse me conhecido não é tortura o suficiente?

Ele havia levantado para gritar comigo, mas, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Eros jogou a chave da porta para Alice e saiu andando.

Eros era rápido demais para eu alcançar com minha cadeira de rodas, então apenas deixei ele ir na frente.

Planejei o que ia falar quando chegasse no quarto. Não dava mais para fingir que aquilo não estava acontecendo.

Entretanto, quando cheguei e acendi a luz, Eros estava enrolado na coberta, tampado até a cabeça, e pela forma que respirava, poderia muito bem estar tendo um ataque de pânico. Desde que havíamos visto aquela lista, ele tinha estado visivelmente ansioso. Eu não sabia como chegar perto, e não queria tornar a situação pior.

—Eros? — chamei, baixo. Ele ignorou.

Olhei para a porta do meu guarda-roupa aberta e reparei que o casaco de Eros não estava mais lá.

Ele havia pegado o casaco de volta.

Era exatamente como a Alice tinha falado. Eu havia o afastado demais, e agora talvez fosse muito tarde para voltar atrás.

Não consegui dormir. Sentia que ia vomitar a qualquer momento, e não saberia bem dizer se eu estava doente ou apenas nervoso. Minha mente passava por Eros, e depois por Davi, pelos nomes na lista, minha mãe, e depois por Eros de novo. Pelos segundos antes da parada cardíaca e os dias depois dela, quando eu achei que ia morrer. Eu ainda me sentia meio morto, como se uma parte de mim houvesse sumido. Como se eu pudesse morrer a cada segundo.

Tenho me sentido assim esses dias mais do que nunca. Aquela parada cardíaca havia me lembrado exatamente o motivo pelo qual eu não poderia, e não conseguiria, deixar ninguém entrar na minha vida.

De manhã, ouvi Eros saindo para encontrar Alice. Ele não me chamou, não estava blefando quando disse que não queria que eu fosse.

Saí da cama quase ao mesmo tempo que ele saía pela porta. Meu plano era ir até a biblioteca e continuar estudando. Mas eu sabia onde Eros deixava a chave da sala de cinema e me senti tentado a ir lá. Na primeira vez que eu e Eros nos demos bem, estávamos lá, no depósito secreto dentro daquela sala.

Sorri lembrando que ele havia jogado sua jaqueta jeans em mim ao ver que eu estava com frio. Ironicamente, a mesma jaqueta que ele havia tirado do meu guarda-roupa ontem.

Eu queria me lembrar daquilo. Dos momentos bons.

Eu me sentia um ex-namorado. Um ex- melhor amigo ou ex qualquer coisa. O que quer que havia acontecido entre eu e Eros havia começado e acabado sem que eu entendesse o que realmente éramos.

Peguei a chave da gaveta de Eros e fui até lá. O Instituto ficava quase vazio aos sábados, então não precisei me preocupar com ninguém vendo enquanto eu abria a porta. Mesmo em dias movimentados, quase ninguém passava por aquele bloco.

Fui até o espaço apertado da sala menor, lembrando em como eu tinha que deixar minha cadeira do lado de fora para que coubéssemos os dois ali- e Eros sempre acabava tendo que me ajudar a levantar. De como sempre ríamos todas as vezes.

Não chegamos perto da sala menor ontem, então fazia um tempo desde que eu e Eros vínhamos até aqui sozinhos, e sentávamos no chão para conversar como se não houvesse mundo lá fora.

Olhei para um dos armários com as coisas empilhadas, e queria ter dito que estava exatamente como eu lembrava, mas... não estava.

Alguns livros velhos pareciam fora do lugar, fora da ordem. Não que eles tivessem exatamente uma ordem, mas eu me lembrava claramente da forma que eles se amontoavam, e não era aquela. Parecia que haviam sido derrubados e depois colocados de volta.

Poderia ter sido o Eros, mas...

Mas poderia não ter sido. Outra pessoa poderia ter estado ali.

Empurrei minha cadeira até a parte de dentro com alguma dificuldade, e comecei a mexer nos livros. Não havia mais poeira neles, então certamente alguém havia os movido.

Olhei para o chão, no cantinho onde eu e Eros costumávamos sentar. O armário onde os livros estavam empilhados costumava ficar um pouco mais para o lado. E um pouco menos torto.

Tentei abri-lo, mas estava trancado.

Eu não me lembro de aquilo ter estado trancado. Na verdade, me lembro da porta balançando vez ou outra.

Felizmente, eu sabia abrir portas trancadas.

Infelizmente, dentro do armário havia uma escuta ligada.

Eu precisava sair dali. Imediatamente. Se quem quer que seja que está do outro lado daquela escuta ouvisse os barulhos de que eu estava aqui, eu não conseguiria fugir.

Merda.

Eu estava ali havia, pelo menos, 10 minutos. E jogar os livros no chão havia feito barulho suficiente. Se alguém fosse vir, provavelmente já estaria aqui.

E, se não tivesse ouvido, então minha melhor chance era sair de lá fazendo o menor barulho possível- que foi o que eu fiz.

Tentei controlar o desespero, e parei na área que tinham mais estudantes, uma das salas de convivência.

Se havia alguém ouvindo, então tudo que falamos ontem...

A pessoa não só sabia que tínhamos a lista de Davi, mas de todo o resto.

E Eros e Alice haviam falado exatamente onde iam e o horário. Era a oportunidade perfeita.

—Não... — murmurei, pegando o telefone e ligando para Eros — Não, não, não. Atende. Pelo amor de Deus, atende.

Ele desligou. De propósito.

Lutar com a teimosia de Eros era inútil, então liguei para Alice.

Quem me atendeu foi, na verdade, o próprio Eros.

—Você quer tanto falar comigo assim, é?

—Eros, sem tempo para briga. Me escuta. Onde você está?

—Por que você quer saber?

—Eros, é importante. Acho que você e a Alice estão correndo perigo — falei, imediatamente, antes que ele continuasse com a pirraça. — Onde vocês estão? —Acabamos de entrar num Uber.

—Vocês precisam voltar — avisei.

Um edifício completamente vazio era o pior lugar para eles irem agora.

—Por quê?

Confia em mim.

—Tá bom — concordou, e eu senti que havia cedido. — O que eu faço?

—Pede para o Uber voltar. Me deixa na linha — pedi. — Quando vocês estiverem voltando, eu explico.

Eros falou para o motorista mudar a rota e levarem eles de volta para o Instituto.

—Me esqueci de uma coisa importante — falou, arrumando uma desculpa instantaneamente.

—Bom — ouvi o motorista responder — eu não posso mudar a rota assim. Vocês podem voltar assim que chegarem lá.

Eros insistiu um pouco mais. Ele estava se estressando e eu não tinha certeza se havia reparado no quanto o motorista estava sendo estranhamente persistente para eles não voltarem.

Eros pediu para o motorista parar o carro e foi ignorado. Ele falou de novo, levantando a voz.

Conhecendo Eros, eu estava vendo a hora que o pânico falaria mais alto e ele mesmo daria um soco naquele motorista e pararia o carro.

Que foi exatamente o que ele ameaçou fazer um segundo depois do pensamento passar pela minha cabeça.

—Isso não seria educado, seria? — o motorista respondeu, estranhamente frio para as ameaças de Eros. — Vocês me chamaram para levar vocês a um lugar. E eu estou levando. Não tem mais volta, docinho.

—Zero? — ele sussurrou, como se perguntasse o que deveria fazer.

—Vocês precisam sair desse carro agora — foi o que falei. — Mas se você machucar o motorista e ele não tiver nada a ver com isso... — ponderei. — Pula — foi o que pedi para ele fazer.

—Tudo isso para não dar um soco no cara? — falou, baixinho.

—Eu falei para desligar essa merda de telefone agora! — o motorista gritou.

Eros, — o chamei — me escuta. Se você brigar com o motorista agora, os dois vão perder o controle do carro e pode acontecer um acidente maior. Você precisa ficar calmo e esperar algum sinal ou algo assim, e aí pular.

Ele suspirou, e eu soube que havia ignorado completamente a parte de "ficar calmo e esperar" porque ouvi o barulho da porta tentando ser aberta.

—Merda! — ouvi Alice reclamar.

—É, Zero — ele sussurrou— me desculpa, mas vai ter que ser no soco mesmo.

Apesar da declaração raivosa, Eros mudou completamente o tom de voz e começou a falar calmamente com o motorista.

—Meu amigo vai trazer a coisa que eu esqueci para mim. Já desliguei, vamos nos encontrar lá. Eu me estressei por nada, desculpa — falou, forçando um tom de voz inocentemente burro.

Estava tentando deixar o motorista despreocupado. Era mais fácil socar alguém que não estivesse esperando que você o socasse.

Ele esperou um minuto, até que o motorista se convencesse que eles não iam fugir.

Então tudo que consegui ouvir foi Eros falando, baixo: "Alice, eu vou segurar ele e você para o carro" e desligou a chamada.

Quis o xingar por ter desligado, mas, menos de um minuto depois, Eros me ligou novamente, ofegante.

—Saímos. Estamos voltando. Alice está comigo.

—Você está correndo? — perguntei, o garoto parecia estar ficando mais sem ar.

—Sim. Precisamos sair de vista antes que o motorista acorde.

Acorde? Você deixou o cara inconsciente?

Ele ofegou mais um pouco antes de responder.

—Precisei. Ele tinha uma arma.

—Ele tinha uma arma? Você percebeu isso antes ou depois de atacar um cara armado?

—Antes. A gente briga sobre isso daqui a pouco — falou e desligou o telefone.

Eu não estava seguro sobre Eros e Alice voltando sozinhos correndo. Mas nenhuma das outras opções também me parecia segura.

Fui para o lado de fora e olhei as ruas com atenção, esperando algum sinal deles dois.

Eles não pararam de correr nem quando me viram do final da rua. Na verdade, acho que os dois correram ainda mais. Eros e Alice estavam de mãos dadas, e me parecia que estavam se puxando, como se forçassem um ao outro a continuar correndo, e eu me perguntei quão perto eles realmente estavam quando começaram a correr.

Assim que chegaram, Alice se jogou para sentar no chão, no meio da calçada, e Eros se apoiou contra a parede para vomitar.

—Vocês vieram correndo de lá até aqui? — perguntei, assustado.

Eros levantou a palma da mão como se pedisse um tempo.

—Sim — respondeu, ofegante, olhando para Alice como se pensasse em sentar no chão também. — Acho que vou desmaiar. É assim que você se sente o tempo todo?

Eu ri, apesar do desespero.

—Provavelmente. O que aconteceu exatamente?

Eros apertou o ombro, então eu lembrei que ele havia o deslocado recentemente.

—Você se machucou? — insisti.

—Vamos entrar — Alice murmurou, e então fomos direto para os dormitórios.

Eros sugeriu que fossemos para a sala de cinema.

—Sobre isso... — comecei, e expliquei o porquê do meu desespero no telefone.

Também reparei que, se eu não tinha contado antes, aquilo significava que Eros confiou em mim o suficiente para se arriscar sem entender exatamente o porquê.

De repente, ele não parecia mais tão inalcançável assim. Talvez eu ainda tivesse tempo para consertar as coisas.

Fomos até o quarto, e Alice foi junto. Não havia exatamente uma regra que a impedia de entrar nos dormitórios masculinos nos finais de semana.

—Como vocês saíram do carro? — perguntei.

—Eu reparei que ele tinha uma arma — Eros contou. — Quando comecei a gritar, ele olhou diretamente para o quadril, como se precisasse se reafirmar que ela estaria lá caso ele precisasse. Daí eu fingi que não tinha percebido nada até ele relaxar, e, assim que ele relaxou, eu tirei a arma dele.

—E?

—E aí eu tinha uma arma. Não precisei fazer muito para convencê-lo a parar o carro.

Decidi não perguntar mais detalhes. Eros parecia envergonhado, e estava começando a tremer.

—Estamos fodidos — foi o que Alice disse. — O que a gente faz?

—Eu não estou com cabeça para pensar em nada disso agora — Eros sussurrou.

Alice revirou os olhos.

—Deveria estar! — era a primeira vez que eu a via levantando a voz para ele. — Não é como se tivéssemos escolha!

Alice levantou e saiu, embora Eros tenha falado para ela não ir sozinha. Reparei que ele não a seguiu e logo em seguida deitou na cama e se encolheu.

—Você se machucou, não foi? — perguntei.

—Não.

—Onde?

Ele suspirou, cedendo e, sem sair da cama, levantou a blusa para me mostrar um roxo na lateral de seu abdômen.

—Foi um soco bem dado — admitiu. — Foi o único soco que ele teve tempo de acertar, se isso serve de consolo. Mas acho que ferrei meu ombro de novo.

Cheguei perto de Eros, parando do lado da cama para o olhar de perto. Ele mal se mexeu.

—Você consegue mexer o braço?

Eros tentou, mas se encolheu logo em seguida.

—Sim. Mas dói.

—Quanto?

Muito.

Peguei analgésicos e água, e levei até ele. Eros sentou na cama, e tomou em silêncio.

—Eu ainda estou com raiva de você — murmurou, já um pouco dopado pelos remédios. — Só estou com dor demais para me importar.

—Agora isso é como eu me sinto o tempo todo.

Eros riu, e logo em seguida adormeceu. Eu queria ficar ali, do lado da cama dele o observando.

Algum tempo depois, Alice entrou no quarto, sem nem bater na porta.

Ele olhou para Eros dormindo, então para mim. Seus olhos estavam arregalados.

—Você pode acordar ele? — pediu.

—Não acho que é uma boa acordar ele — comentei. — Eros raramente dorme de verdade, e ele estava com bastante dor.

Ela suspirou, como se soubesse que eu estava certo, mas não quisesse ceder.

Não precisei o acordar, de qualquer forma, porque mesmo sob o efeito do remédio, Eros tinha sono leve e havia acordado com o barulho da porta abrindo.

—Fala — murmurou, ainda enrolado no cobertor.

—Eros... Eros, se a gente tivesse ido até o prédio do seu pai hoje... — ela abaixou a voz — estaríamos os dois mortos.

—O quê? O que aconteceu? — perguntou, como se finalmente estivesse acordado.

Olhei atentamente para Alice.

Ela sentou do meu lado da cama ao invés do dele. Estava tremendo.

—O prédio pegou fogo.

—O quê? — perguntei, como se não acreditasse.

—Pegou fogo — repetiu, tremendo. — Todo ele. Três pessoas morreram.

—Eu estava assistindo TV e... lá estava. Alguns minutos atrás. Disseram que foi um problema na circulação de gás. Eles ainda estão tentando apagar o fogo. Ainda está queimando.

Ela ficou em silêncio por uns segundos e então repetiu, como se estivesse em choque:

—Três pessoas morreram.

Em menos de 24 horas, o único lugar seguro que tínhamos estava sendo grampeado, Eros e Alice precisaram praticamente pular de um carro em movimento e agora pessoas haviam morrido.

Eu não conseguia deixar de lado a sensação que a culpa era nossa, e, pelo silêncio no quarto, eles também não.

Toda vez que pensávamos que estávamos chegando em algum lugar, coisas ruins aconteciam com as pessoas ao nosso redor. Nós sabíamos dos riscos, e nos arriscamos mesmo assim. Não havia mais espaço para arrependimento, ou para olhar para trás.

Me perguntei quando isso- quando essa caçada, ou o quer que fosse- acabaria. E se, quando acabasse, estaríamos todos vivos para presenciar o final.


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