Amor, eterno amor escrita por Isa


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789144/chapter/1

Dias de chuva lembravam-me de minha adolescência, quando eu tinha de correr pela grama para não sujar meus sapatos de barro, quando ia à igreja. Gostava de ir aos cultos tanto quanto ir namorar, então revezava. Quando meus pais não iam, saia escondida de meus irmãos durante a oração e ia até o fundo da igreja, trocar palavras de amor com meu namoradinho da época. Não podia escrever, então a coragem de me declarar cara-a-cara era o que me ajudava.

Não tive muito tempo de curtir os romances da juventude, já que me foi encontrado um pretendente quando ainda tinha dezessete. Casei aos dezoito anos, e tive quatro filhos antes dos vinte e cinco. Minha vida era tranquila. Meu marido era bom, trabalhava e até me ajudava com as crianças, além de me encher de mimos. Nunca trabalhei fora, então cuidava da casa, das crianças e, quando tinha tempo, fazia crochê para vender às vizinhas e ganhar um dinheirinho para comprar esmaltes. A igreja não permitia, então usava apenas em casa.

Quando se tem filhos, o tempo corre. Vi meus homenzinhos e minha mocinha crescerem como num passe de mágica. Tive a sorte de ter condições para pagar-lhes estudos, e diferente de mim, minha menina pôde até arrumar uma profissão: dava aulas em uma ótima escola. Meus filhos viraram advogados.

Toda minha vida adulta foi uma calmaria só, diferente das moças do bairro, que tinham maridos violentos e que não gostavam de trabalhar. Fui abençoada em tudo; depois de ter uma difícil infância, tive paz.

O tempo parou seguir aos meus 53 anos, quando meu marido começou a ter problemas de saúde. Já tinha uma boa aposentadoria, mas não queríamos e nem possuíamos condições de pagar uma enfermeira ou deixa-lo em um asilo. Já tinha mais de 60 anos, e foram necessários 12 antes que ele fosse descansar no céu.

Fiquei sozinha, sentia-me desamparada. Meus filhos tinham suas vidas, e não tive, em nenhum momento, sequer coragem de pensar em pedir que abandonassem suas vidas para cuidar de mim. Ainda tinha 65 anos e, apesar de tudo, conseguia me virar sozinha.

Frequentava a igreja três vezes na semana. Tirando o crochê e as visitas semanais de meus netos, era meu passatempo preferido. Podia reencontrar sempre meus irmãos e amigos de juventude, que ainda apareciam nos cultos.

Minha maior surpresa veio ao encontrar Joaquim. Foi meu primeiro namoradinho de adolescência. Tinha cabelos louros, longos, e muitos dos irmãos da igreja o achavam inapropriado, pela aparência considerada descuidada e pela fala malandra. Mas eu adorava. Infelizmente não pudemos ter um longo romance, já que meus pais descobriram e levei um grande sermão – e quase uma surra.

Ter lhe reencontrado após tantos anos era motivo de muita alegria. Meus filhos e netos brincavam, chamando-o pelo nosso sobrenome. André até dizia que era ele o novo “vovô”.

Saíamos para cafeterias, bibliotecas e até para o circo, quando aparecia em nossa cidade. Eram momentos muito agradáveis e divertidos, e aos poucos fui me libertando da solidão.

Minha maior surpresa veio quando, após o culto, Joaquim decidiu pedir-me em casamento. Eva, minha filha, decidira convidar alguns irmãos para ir até a pizzaria de seu marido, e lá, tive o prazer de chorar pela segunda vez, em meu segundo pedido de casamento.

Já tinha 72 anos, e nunca imaginaria casar novamente depois de velha. Foi uma grande surpresa a todos, e fomos muito bem parabenizados. Ganhamos belos presentes, e até um grande casamento. Foi um dos momentos mais felizes de minha vida, que me fez acreditar ainda mais no amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor, eterno amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.