Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá people! Primeiro capítulo da história que por algum milagre finalmente vai sair do computador/celular, espero que gostem.

Boa leitura.



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PRÓLOGO  

 A brisa fraca sopra-lhe no rosto e num ato já automático, Kambriel fecha os olhos de forma a apreciar a boa sensação que ganhara a pouco. Essa mesma brisa leve, logo torna-se um vento mais notável e forte, soprando com força o cheiro conhecido e simplório que vinha das tantas árvores que rodeavam a cidade como um muro criado pela natureza e claro, trazendo consigo a poluição. Um odor característico causado pela raça humana a qual ele ainda não se acostumara totalmente.  

 Seus olhos claros fitam o pôr do sol a acontecer, a grande estrela de luz própria aos poucos se escondendo por entre as nuvens grossas para que a noite enfim viesse e saudasse aquela parte da terra. Os raios grosseiros e forte de sua luz ainda conseguiam rasgar um pouco da escuridão que se aproximava, como se lutasse contra o manto negro que poucos instantes estaria a dominar todo o céu. 

Do ponto mais alto das montanhas que cercavam a pequena cidade, o Arcanjo obtinha uma visão quase completa do lugar e de sua estranha beleza, o vento outra vez havia soprado mais forte quando a noite vencera a batalha secreta contra o sol e o escondeu totalmente. A noite enfim chegara e todos os onze mil e trezentos moradores que ali viviam, logo se preparariam para jantar e depois dormiriam em suas camas aconchegantes e quentes. Vencendo mais um dia.   

  E descansando de suas vidas humanas.

  — Está pronto, meu irmão? — A voz potente de Joshuah e o bater forte de suas asas praticamente o tirou do momento breve que tinha para admiração da Criação Dele. Kambriel sequer precisou virar-se para saber que o Serafim se fazia presente logo atrás de si. 

  Sua presença sempre tão forte era quase impossível de ser ignorada e mesmo que estivesse em um de seus momentos de admiração, não conseguiria ignorá-lo com facilidade. Não apenas por sua presença, mas por ser Joshuah ali com ele, seu irmão mais próximo.   

  O Arcanjo retirou-se da pedra alta onde sentava-se para obter a visão da obra feita pelo Criador, olhou uma última vez para a cidade a ser coberta pela noite antes de direcionar os olhos para o irmão. Em sua postura sempre ereta e firme o Serafim mantinha apenas o rosto descoberto enquanto aproximava-se de onde o Arcanjo estava, suas quatro asas ainda escondiam o restante de sua glória.  

  Como se temesse que algum ser mortal o visse dali. 

 O que mentalmente Kambriel achava impossível, pois nenhum humano se atrevia a rodear aquela parte alta da cidade; especialmente por causa do horário. 

  Joshuah, um dos Serafins — adorador do Senhor — o encarava com expressão neutra. Seus olhos negros como a noite possuíam certa calmaria que, para o Arcanjo veio como uma sensação bem-vinda e agradável. Pois desde que soubera de sua missão, estava precisando de um pouco de calmaria que somente o irmão lhe trazia.  

Kambriel estava acompanhando os últimos acontecimentos na cidade abaixo por quase dois meses e, acabou por carregar consigo a aflição de todo um lugar e de seus moradores. O intenso medo que todos sentiam quando o jornal local anunciava mais uma estranha morte sem explicação tornou-se um tipo de fardo pesado para si.  

— Sim, eu estou. — Fez uma pausa rápida, voltando o rosto em direção à cidade. — Mas ainda temo pelo que encontrarei quando descer para essa cidade, meu irmão.  

O Serafim anuiu lentamente a cabeça de forma positiva, caminhado para perto do Arcanjo com a leveza de seus passos e a firmeza de sua presença. Ambos agora parados como duas estátuas perfeitas na beirada da alta montanha, observando a cidade do alto da pedra. O silêncio formado pelo curto tempo entre os dois fora o suficiente para que Joshuah compreendesse todo o temor do outro. Mesmo que não a sentisse.

  — Bem sabemos que os homens são falhos e autodestrutivos para si mesmos, mas o que têm passado por lá nesses últimos meses...  — Kambriel apontou para baixo, direcionando o dedo para a pequena cidade aonde iria muito em breve. — Está mais do que claro que isso não se trata de uma obra feita por mãos humanas.  

  O Arcanjo suspirou com peso antes de continuar a falar. 

 — Tenho acompanhado de perto a aflição desse povo, ouço em suas orações constantes e murmurações o que sentem quando um novo inocente morre... Não são apenas mortes decorrentes ao acaso. — Sua fala carregava a entonação de preocupação, obras contrárias como as que vinham a acontecerem não eram comuns e, os dois Seres Celestiais sabiam muito bem disso.   

Principalmente quem poderia estar causando aquilo.  

— Se ele estiver por trás disso, caminharemos para uma guerra espiritual. — Joshuah completou a fala pelo irmão, unindo ambas as mãos na frente de seu corpo enquanto sua postura tornava-se mais ereta e firme; como alguém que estivesse adquirindo uma postura defensiva. Havia uma preocupação existente ali, mesmo que muito mínima e quase imperceptível. 

— Estamos constantemente em batalha, irmão. Desde o começo dos tempos. — Respondeu o outro com pesar. — Mas isso tomou proporções na quais julgo que, será necessário que o Céu interfira caso não exista uma forma de pará-lo... Gerando talvez, uma nova batalha.  

Dizendo isso, Joshuah soltou uma risada rápida, mas sem qualquer entonação de humor. Afastou-se do Arcanjo e caminhou pelo rochedo onde pisava, sentindo as pedras irregulares por debaixo de seus pés descalços.

 — Entendo que seja um Arcanjo, Kambriel, mas vocês Guerreiros do Senhor parecem estar sempre procurando por uma batalha e algum motivo para causá-las. — Apesar de agora existir uma pequena faísca de humor em seu tom firme de voz, havia também certa repreensão na fala do outro.   

Kambriel virou-se e encarou a figura do outro, como Arcanjo, estava à frente de Joshuah. Era ele quem repreendia e não quem era repreendido e, ouvir a bronca de alguém que estava abaixo de si em uma hierarquia não lhe agradou muito. 

— Não trate essa situação como apenas uma brincadeira, Joshuah! — Bradou autoritário, rumando para perto do Serafim com rapidez. — Há regras, todos sabemos disso e se o que está se passando nessa cidade for de fato, obra dele, o Céu terá de intervir. Tu sabes disso melhor que todos! 

Houve um silêncio ensurdecedor entre eles, até mesmo a natureza calou-se com a voz do Arcanjo. Deixando apenas os dois seres a conversarem entre si.  

— E a cidade, em meio a essa batalha será destruída, como aconteceu com Sodoma e Gomorra? — O questionou de repente, surpreendendo a si por sua ousadia e ao outro pelas palavras ditas de forma tão descuidada e duvidosa.  

Kambriel parou bruscamente ao ouvi-lo, seu rosto angelical ganhou uma nova expressão que não agradou ao Serafim que tinha os olhos negros fixos em si.  

 — O que houve em Sodoma e Gomorra foram por movidos e situações completamente diferentes! — O tom do Arcanjo mudou drasticamente, não mais falava com a mesma calmaria de antes e sim com a autoridade que lhe era dada devido à hierarquia de seus cargos distintos. — Tu sabes que não é a mesma situação de hoje!

  — Só disse que, havia pessoas inocentes lá também e todos foram mortos...   

— Está mesmo O questionando, irmão? Logo tu, Seu adorador? — Interrompeu a fala do outro, aproximando-se dele. Joshuah numa atitude imediata abaixou sua face, sua postura ereta pareceu curvar-se, tornando-o mais baixo do que realmente era. — Estávamos todos lá e presenciamos de perto tudo o que fizeram, faziam e tentaram fazer... Eles trouxeram sua própria destruição! 

  — Eu sei disso! Mas o que estou querendo dizer é que, batalhas assim causam destruição aonde ocorrem. E agora, estamos falando de uma cidade inteira! — O Serafim apontou em direção à cidade, dando ênfase a sua fala e o que ele tentava dizer ao Arcanjo. Ainda sem levantar o rosto. — Se pareceu que questionei a Ele e Sua decisão essa não foi a minha real intenção, mas estou preocupado com o rumo que isso pode tomar. Pelas pessoas que ali vivem.  

 Kambriel anuiu o rosto.  

 — Ele sabe disso e está preocupado também, apesar de serem pecadores e constantemente falhos são Sua criação. Seus filhos queridos que Ele ama. — Explicou, seu tom aos poucos voltando ao seu normal. — E é exatamente por esse mesmo motivo que estou descendo sozinho. Entraremos em batalha apenas se for realmente necessário. Ele não quer a destruição de todos. Apenas a salvação.    

As palavras de Kambriel pareceu confortar o Serafim. Apesar de parecer que o ser celestial relutava em demonstrar total confiança no outro e no que poderia acontecer após sua descida à terra era possível notar que falava a verdade.  

 — E o que vai fazer quando chegar lá? Vai sair em busca de quem quer que esteja causando todo esse caos? — Perguntou, usando um tom mais baixo e menos questionador dessa vez. Enfim erguendo o rosto para que conseguisse olhar o irmão. 

 — Tem um pastor que mora por lá, Jacob West, ele viu de perto uma das mortes e pode me ajudar a entender esse caso e tudo o que vem acontecendo nos últimos dois meses. — Contou, seu olhar agora encontrava-se fixo na escuridão do céu, aos poucos as estrelas começavam a aparecer, brilhando de forma tímida até enfim mostrarem seu poder.  

 — Vai pedir ajuda a um mortal sobre um assunto do Céu? — Perguntou com preocupação evidente, os olhos se arregalando devido a sua surpresa pela fala dita. 

 — Estarei na terra transfigurado como um humano, não posso ir como um Arcanjo... Chamaria muita atenção. E não é isso o que Ele quer. — Explicou, foi então que Joshuah enfim notou que as vestimentas do Arcanjo não eram mais o manto branco de antes.  

 Eram... Roupas comuns. O tipo de vestimenta que os humanos usam em seu dia a dia.  

 — E esse pastor viu o que houve da última vez, a ajuda dele será necessária apenas momentaneamente. — Tornou a falar, seguindo com a mesma calma. — Não quero envolver nenhum humano nisso e nem mesmo posso fazer isso. Seria um ato perigoso para o Céu. 

 — E está correto em descer como um humano. — O Serafim voltou a sua atenção ao assunto que discutiam. — Se houver mesmo uma atividade demoníaca nessa cidade sua presença irá agitá-los ainda mais. Ficarão incontroláveis e claramente mais perigosos também.  

Kambriel concordou.  

 — Não se preocupe com isso, meu irmão. Não demorarei aqui na terra e acabarei com essa obra sem que mais um humano morra outra vez. — Novamente o Arcanjo se aproximou do Serafim, pousou ambas as mãos por seus ombros escondidos com suas asas. — Eu e os Arcanjos não queremos lutar... A menos que seja necessário, tenha isso em mente.    

Antes que qualquer outra palavra fosse dita, o silêncio formado entre os dois Seres Celestiais foi logo interrompido pelo som do relógio da cidade a tocar; anunciando o horário. Oito da noite.  

 — Está na minha hora. Preciso descer... — Avisou o Arcanjo, Joshuah encarou o irmão durante poucos segundos em silêncio.    

— Tenha cuidado em seu tempo na terra, ainda terá a sua glória como um Arcanjo Guerreiro do Senhor, mas estará num corpo humano. — Lembrou-o, tarefa esta que viria de Gabriel e não dele. — Não interaja com os humanos mais do que o necessário, nem se envolva com nenhum deles, lembre-se do que houve na primeira vez que nossos irmãos se envolveram com a humanidade.    

A lembrança do passado era muito fresca na mente de Kambriel, assim como o que viera depois. Na verdade, os dois recordavam-se muito bem disso e de tudo o que se seguiu após o ato monstruoso que seus outros irmãos fizeram.  

 — Eles não podem ver nossa Glória, Kambriel. Sempre se lembre disso. — Continuou o outro, dando outro rumo a conversa. Seus olhos negros o fitando com firmeza e pesar.    

De forma singela e disfarçada o outro esboçou um riso muito breve, percebendo que a preocupação do irmão parecia mais exagerada dessa vez. Aquela era não era sua primeira vez na terra, claro que as circunstâncias eram bem diferentes, mas ainda achava que o irmão se preocupar tanto assim com sua ida era exagero.  

 — Não é necessário que se preocupe com nada disso, meu irmão. — O tranquilizou, esboçando uma expressão mais tranquila na face ainda angelical. — Sua única preocupação é adorá-Lo, Gabriel e Miguel são quem deveriam se preocupar comigo.  

— Também sou seu irmão. — Respondeu, mostrando leve humor em sua voz. — Agora vá, quanto mais demora aqui, mais demorará na terra também.  

Kambriel assentiu com leveza, em seu rosto sua Glória fora trocada pela aparência e essência comum de uma pessoa. Algo que para Seres do Senhor como eles era uma notável mudança, pois o outro não mais parecia com o mesmo; era quase um humano.  

— Até mais, querido irmão. — O Arcanjo então se afastou do irmão e caminhou para a beirada da montanha onde estavam, parou assim que obteve uma visão total da altura; julgou ser um pouco mais de quinze metros. Uma sensação que ele sabia ser humana correu por sua espinha, ele sorriu discretamente.  

— Até mais Kambriel. — O Serafim despediu-se, o outro virou-se em sua direção ficando de costas para o horizonte e de frente para o irmão, encarando-o uma última vez antes de descer. — E tenha cuidado na terra, os homens não possuem poderem, mas ainda sim são seres igualmente perigosos.  

  Com um aceno breve com sua cabeça dando a entender que compreendera as palavras de seu irmão, despediu-se pela última vez e finalmente jogou o próprio corpo para trás em queda livre. Seus olhos foram se fechando quando sentiu os filetes ardentes de sua Glória a cortar seu corpo de dentro para fora; iniciando sua transfiguração para o corpo completamente humano enquanto caía.  A dor continuava a mesma de como se recordava, dessa vez, porém a sentia mais intensa que antes e até mesmo mais demorada.  

  Sua mente e seus sentidos foram aos poucos se desligando do corpo celestial, tornando tudo ao seu redor apenas borrões a passar numa velocidade alta até que Kambriel enfim estivesse completamente liberto de sua própria consciência enquanto descia para a terra como um humano completo.   

 


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