Harry Potter, no final do seu segundo ano na escola de Hogwarts, atravessou o corredor rapidamente, sem correr para não ser repreendido por um fantasma mal humorado ou por um quadro dorminhoco, mas também não foi caminhando, pois estava atrasado – e a professora Minerva McGonagall odiava atrasos.

Assim que dobrou uma esquina, trombou com alguém, batendo sua cabeça e caindo com força no chão e derrubando seus cadernos e seu pergaminho contendo o trabalho que deveria entregar na hora certa.

— Desculpe – Pediu acariciando sua testa com a certeza de que um galo sairia naquele local.

— Potter?

Harry levantou os olhos sob os óculos tortos e encarou a figura que se erguia após a batida: Draco Malfoy, com os cabelos loiros sempre impecavelmente penteados para trás e com a recorrente expressão de desgosto.

— Oi, Draco – Cumprimentou arrumando as lentes no rosto antes que caíssem – Desculpe, não vi você.

— Estava correndo na escola? – Fez uma careta de desaprovação.

— Não exatamente – Comentou reorganizando a pilha de folhas e cadernos que levava consigo – Estou atrasado.

— Humpf – Draco deu de ombros ainda olhando feio para o garoto, mas se abaixou e começou a ajudar Harry na organização dos materiais.

— Obrigado – Se surpreendeu. Assim que estava tudo no lugar se levantou rapidamente apoiando a pilha no peito – Tenho que ir.

— E eu lá disse que ligo? – Rosnou batendo a sujeira do chão dos joelhos. Harry sorriu com a provocação, pois a achou extremamente contraditória, dado que ele estava o ajudando segundos antes, mas não falou nada para não ferir o orgulho do loiro, e apenas se apressou mais uma vez para sua aula.

***

Nos últimos dias do ano letivo, na biblioteca, o menino mais famoso do mundo bruxo buscava pelas prateleiras abarrotadas de livros e pó algum exemplar que pudesse ajudar ele, Hermione e Ron a fazer um trabalho cansativo e chato sobre a história das poções e suas utilidades para os bruxos antigos e blablabla.

Enquanto analisava distraidamente os títulos das obras, sentiu que seus pés pisavam algo que não era o chão e olhou para baixo instintivamente, encontrando um sapato preto polido. Seus olhos verdes foram subindo pelo uniforme da escola até encontrar o cachecol da sonserina ao redor do pescoço branco de Draco.

— Você não olha por onde vai? – Indagou, provavelmente recordando sua batida no corredor do outro dia.

— Desculpe – Estava virando um hábito pedir desculpas para aquele sonserino arrogante? – Eu estou procurando um livro.

— Notei. Já que você está na biblioteca lendo títulos.

— Eu estava distraído – Falou mais uma vez tentando se justificar.

— O que está procurando? – Ignorou as desculpas e desviou o olhar, passando a encarar as capas grossas dos livros – Quanta velharia...

Harry sorriu, mas não disse nada quanto à sua ajuda, mas gostou da proximidade.

— Algo sobre a história das poções.

— Está fazendo o trabalho da aula de poções?

— Sim – Se alegrou percebendo que estavam estabelecendo uma conversa.

— Arg, acho esses trabalhos um saco.

— São, não é mesmo? – Concordou – Por isso a Mione sempre fica nos nossos grupos, ela se diverte muito estudando e nos ajuda pra caramba nisso.

— Mione? – Olhou para o garoto com confusão.

— Hermione – Explicou – Granger.

— Ah, sim. Sua amiga sangue ruim.

— Não chame ela assim – Puxou o braço magro, olhando nos olhos frios de Draco e repreendendo-o com raiva. Notou que o garoto se surpreendeu.

— Me desculpe – Baixou a cabeça envergonhado – Força do hábito.

— Pois deixe esse hábito de lado – Harry continuou ralhando – Que é uma coisa horrível de se dizer. Eu não sou de brigar, mas se eu ouvir você falando da minha amiga assim mais uma vez eu vou te dar uma surra.

Draco deixou escapar um risinho abafado por entre seus lábios.

— O que foi? Está achando graça de mim? – Sentiu o rosto ficando vermelho com a fúria.

— Não, não mesmo – Abanou as mãos na frente do corpo – Eu só... Achei legal como você defendeu sua amiga.

Harry estreitou os olhos verdes ainda suspeitando da situação.

— Eu tenho certeza que nenhum dos meus amigos faria isso por mim – Falou e o outro sentiu uma pontada de tristeza ao ouvir aquilo.

— Talvez você esteja fazendo amizade com as pessoas erradas de Hogwarts – Sugeriu dando de ombros, ainda sem dispensar a expressão carrancuda.

— Pode ser... Bom, eu tenho que ir – Se apressou em dizer – E o livro que procura é este ai.

Apontou para uma capa fina de couro com os escritos em preto e saiu, tão repentinamente que Harry só conseguiu ver as cores verde e prata dando adeus.

***

— Temos que parar de nos encontrar assim – Harry disse no primeiro dia de aula no terceiro ano na escola quando esbarrou em Draco enquanto saia do banheiro dos alunos.

— Seria ótimo – Sorriu – Meus pés e cabeça agradeceriam.

— Ei, você que fica parado nos lugares – Reclamou com humor, vendo que Malfoy estava agradável aquele dia.

— Não, não fico. Você que está sempre com pressa ou distraído.

— Culpa dos dois, então – Sugeriu o meio termo.

— Cabeça de vento – Murmurou.

— Ei – Protestou rindo. Ia sair do caminho para voltar ao dormitório quando Draco segurou sua manga, ainda parado no mesmo lugar em que se esbarraram.

— Na verdade, Potter... Eu queria te entregar uma coisa, desde nosso “encontro” no corredor – Sua cabeça estava baixa, como se tivesse vergonha de olhar para Harry – Por isso eu estava sempre por perto, eu te seguia para tentar te dar isso, mas acabava perdendo a coragem.

— Como assim?

Draco Malfoy buscou algo nos bolsos de sua calça preta, alcançando um pedaço de pergaminho amassado e entregou a Harry.

— Ah, e obrigada por ter me corrigido sobre chamar as pessoas de sangue ruim – Agradeceu e virou as costas, caminhando para longe antes que Harry pudesse abrir o pergaminho. Com rapidez, desembolou a folha amassada para então ler e sentir o chão fugindo de seus pés.

No centro do pequeno pedaço de pergaminho, lia-se “HP+DM” com a letra de Harry. Draco devia ter pego aquilo no dia em que se esbarraram no corredor e ele o ajudara a empilhar seus cadernos.

“Sonserino duas caras” pensou com um sorriso e correu atrás do garoto.

— DRACO! EI! ESPERA – Gritou finalmente alcançando ele – O que é isso?

— Foi você quem escreveu – Deu de ombros.

— Eu sei, eu era uma criança, deixa disso – Pediu temeroso que a amizade breve que nascia entre eles fosse apagada por aquela bobagem.

O garoto suspirou, metendo mais uma vez a mão no bolso e estendendo um papel a Harry, igualmente amassado.

— Na verdade, era esse que eu tinha que dar – Seus dedos pálidos tremiam levemente quando o grifinório apanhou e leu o novo achado.

“Draco ♥ Harry”

Um sorriso foi surgindo nos lábios do moreno, que piscou os olhos verdes algumas vezes tentando entender.

— Então...?

— Puxa, você é mesmo um cabeça de vento – Draco acusou antes que o outro desse um passo em sua direção.

— Quando você escreveu isso?

O loiro revirou os olhos e mordeu os lábios, sem ter certeza se conseguia responder, pois mais uma vez estava sendo tomado pela covardia que o atacava cada vez que se aproximava de Harry, mas finalmente puxou uma golfada de ar e resmungou.

— Logo após ler o seu pergaminho...

Ainda sorrindo, Harry Potter segurou a mão de Draco, puxando-o para perto de si.

— Você é maluco, Malfoy – Falou fazendo o garoto rir antes de selar seus lábios com um beijo tímido.