POV Luisa

Conhecer as crianças foi uma experiência diferente pra mim. Acho que despertou o lado materno que minha mãe tinha me dado. Mas agora eles foram com os irmãos e eu não sei se eles vão querer me ver de novo depois que souberem o que a minha mãe fez. Comecei a me perguntar se devia continuar no acampamento. Era melhor ficar com lembranças ruins do que com pessoas que me odiavam. Ia ser sofrido voltar depois daqui, mas pelo menos teria meus amigos pra ajudar. Continuei perdida em pensamentos até que Annabeth se sentou ao meu lado.

— Oi- cumprimentou.

— Oi -retribui. Continuamos quietas. Era um silêncio bem constrangedor. Ela suspirou e disse:

— Olha eu sei que a gente não se fala faz um tempo, acho que por que eu não me dou bem com a sua mãe, mas isso não é motivo pra te evitar.

— Não Annabeth, tá tudo bem, é normal, já esperava isso. Agora você entende o por quê de eu não querer dizer pra todos quem era a minha mãe. Eu sei que ela é odiada, só queria ter uma chance de tentar fazer as pessoas verem quem eu sou sem pensar nela. Mas agora não faz muita diferença mesmo.

— É sério Luli. Eu acho que só fiquei com medo.- a olhei surpresa. Ela riu fraco da minha expressão- De verdade. Eu sempre fui boa em ler pessoas, em parte por causa de seus parentes divinos e irmãos. Mas desde que você chegou, me deixou confusa, quer dizer, nunca tinha visto ninguém como você. Aí quando eu descobri que você era filha de Hera isso, isso me abalou. Eu conhecia um lado da sua mãe e tive medo que você fosse igual. Por mais que vocês não se parecessem a ideia de ser enganada me assustava. Mas você é uma pessoa incrível,  super legal que se importa com os outros. Eu só queria ter percebido antes.

Suas palavras estavam cheias de sinceridade. Sabia o quão difícil era para uma filha de Atena admitir que estava errada. Dei um sorriso de lado e ela sorriu de volta. Então ouvimos um grande barulho de água misturado com os gritos de campistas vindo dos chalés. Nos viramos a tempo de ver uma onda gigante cruzar o acampamento. Dei uma risada.

— Eles não podem ficar um segundo sozinhos.

— Vou lá antes que eles causem mais estragos.- comentou Annie- Até mais.

— Até.

Fiquei um tempo lá, olhando o acampamento no por do sol. Um tempo depois alguém se juntou a mim. Era o James.

— Oi.

— Oi- ele respondeu.- Então como tá indo?

Ele parecia nervoso. Sorri.

— A você sabe. Tirando o fato de 99,9% desse acampamento me odiar tá tudo certo.

— Ei olha pelo lado bom. Eu, a Carol, a Annie ( eu vi ela saindo daqui), a Piper, a Hazel e as crianças não te odiamos . Com isso sobram 97% do acampamento. Já da um bom fanclub.- ri do seu senso de humor.- Mas falando sério, se você precisar de ajuda é só pedir ok?

— Obrigada.

Ficamos conversando até o jantar e aquele foi um ótimo fim pra minha tarde.

Duas semanas depois…

Já tinham algumas semanas desde a nossa chegada. Algumas pessoas ainda me olhavam feio, mas a maior parte já aceitava. No começo Jason e Percy ficaram com o pé atrás em relação a mim, mas logo começamos a nos dar bem. As crianças estavam se adaptando muito bem, Sam virou a mascote do chalé de Hermes e os ajudava com a maior parte das suas pegadinhas e Mateo ficava mais inteligente a cada dia que passava. Já a Hannah estava bem avançada nos estudos mágicos. Ela tinha se aproximado bastante de um tal de Luis. Eu acho que o Mateo ficou com ciúme.

Quanto às garotas, eu ficava a maior parte do tempo conversando com a Carol, a Annie, a Piper e a Hazel quando podia visitar. Mesmo com tudo isso a ideia de fugir era bem frequente nos meus pensamentos. Se eu fosse, teria que ir sozinha. As crianças estavam seguras e felizes, não podia tirar isso delas. Já a Carol, certeza de que ela iria se eu pedisse, mas ela tinha feito vários amigos, além de que ela estava bem próxima de um filho de Apolo, o Adam. Eu não podia forçar ela a se separar dele e do irmão. Naquele dia eu conversava com as garotas na beira da floresta.

— Então dona Luisa, como vai a sua vida?- perguntou Carol.

— Você pergunta como se não soubesse.- retruquei.

— E não sei mesmo! Você fica grudada com o James o dia todo!- disse indignada.

— Não fico não!- exclamei corando. - Somos próximos, mas não tanto assim. Além do mais, não é como se você estivesse carente. Você fica um tempão com o Adam que eu sei!- disse em uma tentativa desesperada de mudar de assunto. A Carol ficou quieta, mas ainda tinha mais três garotas para continuar o interrogatório.

— Sei sei, a gente finge que acredita.- comentou Piper para as outras duas.- Luli eu tenho uma pergunta pra te fazer. Você gosta do James?

Senti minha pele corar ainda mais.

— Não, claro que não!- exclamei- Quer dizer, é muito cedo.

— Ah, mas vocês são tão fofos juntos!- falou Hazel tendo o apoio das outras.

— É só que eu acho que eu não tô pronta pra outro relacionamento tão cedo.- disse olhando pro chão. Carol suspirou.

— Amiga, você vai ter que seguir em frente algum dia. Já faz muito tempo! E além disso ele parece uma pessoa boa.

Mordi o lábio receosa.

— Eu não sei, acho que ainda não consigo.- percebi que as outras três não tinham entendido nada. Annabeth foi a primeira que perguntou:

— Luli aconteceu alguma coisa?- ela parecia preocupada. Olhei para Carol pedindo apoio. Ela assentiu e resumiu em palavras o que já estava óbvio para todo mundo.

— Digamos que foi um babaca pelo qual ela se apaixonou, mas eles acabaram brigando e se separaram.- sorri fraco pra ela.

— Não Carol eu conto. Quando eu conheci ele, ele era um garoto incrível. Mas ele era um mortal. Ficamos juntos por quatro meses, até que brigamos por causa da minha mãe. Ele descobriu que eu era uma semideusa e me largou por causa disso. Isso foi a dois anos. Eu sofri bastante depois do término. Ainda não criei coragem pra gostar de ninguém de novo.

As garotas me olharam solidárias. Era difícil pra mim reviver o passado, mas botar aquilo pra fora me deu um alívio imenso.

— Olha Luli eu sei que foi difícil- falou Piper.- Mas nem todos os garotos são como ele. O James é um cara bem legal e ele parece gostar muito de você. Quer um conselho? se você gosta de verdade dele, não deixa passar. Dá uma chance.

— Obrigada, vou pensar depois- agradeci. Mas já estava na hora de tirar o foco de mim então continuei.- E você Carolina, como vai a sua relação com o Adam?

Ela corou de vergonha:

— Ah, sobre isso…..- disse devagar- …. estamos namorando!

O espanto foi coletivo.

— A quanto tempo?- questionou Hazel.

— Uma semana- respondeu baixo.

— E você não me contou? Parabéns!- exclamei animada.

E assim passou a tarde, por um momento pudemos ser só mais um grupo normal de garotas fofocando sobre meninos, sem termos que nos preocupar com monstros ou deuses.