Colors escrita por winter


Capítulo 1
Colors


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoa. Tudo bem com vocês?
Então, eu estava em casa, na quarentena e decidi que iria escrever uma One Shot, ficou um pouco cumprida e até pensei em dividir em capítulos, mas postei logo tudo de uma vez.
A one é levemente inspirada na música 'Treacherous' da Taylor Swift e fortemente inspirada na música 'Red' da mesma cantora.
Espero que gostem e boa leitura ♥



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Colors

▬ Bella ▬

Era 2010 quando nos conhecemos, tínhamos 18 anos, foi na verdade um daqueles esbarrões que a vida te dá que te empurram direto para o seu destino. Bom, pelo menos é nisso que eu gosto de acreditar.

Era meu primeiro ano em Dartmouth, eu com certeza era a caloura mais animada desse campus. Meus pais estavam orgulhosos de mim, eu estava orgulhosa de mim mesma por ter conseguido, quero dizer, eu sonho com Dartmouth desde que eu me entendo por gente, estou na faculdade dos meus sonhos cursando o curso dos meus sonhos: literatura. Pode não ser grande coisa para alguns, mas para mim, era a pura realização de um sonho e só um pensamento expressa o que eu estou sentindo: PUTA QUE PARIU, EU ESTOU EM UMA UNIVERSIDADE DA IVY LEAGUE.

Nada tiraria minha empolgação, nem mesmo o fato de que eu cheguei na cidade há exatos dois dias antes do início das aulas e que eu não conhecia uma única pessoa aqui e que minha colega de quarto era uma insuportável. Lauren Mallory, tentei ser simpática, mas o santo não bateu e ela não fez questão nenhuma de tentar ser simpática, mas como eu disse, isso não tiraria meu bom humor. Estava animada olhando tudo ao redor do campus, animada o suficiente para não olhar por onde ando e esbarar em alguém fazendo com que eu fosse de encontro ao chão.

— Ouch, essa doeu – fiz uma careta levantando um lado do meu corpo para esfregar minha bunda.

— Você está bem? – a pessoa em quem esbarrei perguntou.

— Você não é daqui – foi a primeira coisa que notei ao ouvir seu forte e carregado sotaque.

— Oh, não eu cheguei na cidade tem duas semanas – explicou.

Apenas quando ele estendeu a mão para me ajudar a levantar que olhei para ele. ‘Puxa, como ele é alto’ foi a primeira coisa que observei nele. A segunda foi seu cabelo, era um estranho tom de cobre ou vermelho, não sei ao certo definir que cor é essa, mas se for definir de forma geral, ele é ruivo e incrivelmente branco, branco como papel. Me questiono se ele tem sangue circulando em seu corpo, mas o que realmente me chamou atenção foi seu rosto, ele é realmente bonito, mandíbula quadrada e bem definida, seu nariz é levemente torto, mas apenas serviu para lhe dar um charme a mais e ele com certeza tem os olhos mais verdes que eu já vi na minha vida.

Suspirei alto. Ele é bonito.

— Não, eu quero dizer desse país – disse aceitando sua mão como ajuda para me levantar.

— Observadora – ele riu meio de lado formando um sorriso torto.

Que sorriso encantador.

— É que eu vi muito Harry Potter, você fala que nem eles – dei de ombros.

— Faz sentido se considerar que eu sou inglês. Vim fazer faculdade aqui na América, estou meio perdido ainda.

— Eu também, mas eu sou daqui... não dessa cidade, na cidade eu estou pedida.

— Eu estou perdido com os costumes de vocês, é estranho. Eu passei muito tempo apenas para desvendar a data, vocês colocam o mês antes do dia, isso é estranho.

Franzi o cenho pra ele.

— Aqui neste país, o estranho é você – ri – Bom, de qualquer forma, me chamo Isabella, mas você pode me chamar de Bella, eu até prefiro.

— Eu sou o Edward – ele sorriu novamente – Mas por favor, não me chame de Ed ou de Eddie, eu realmente não gosto. Edward está bom. Eu vou cursar biologia, mas apenas para cumprir disciplinas obrigatórias para medicina, quando chegar a época, farei a prova para a escola de medicina, o que você vai cursar?

— Você é curioso né? – constatei com um sorriso – Literatura.

— Que legal, eu não gosto muito de ler, não ia me dar bem em um curso assim.

Acabamos conversando por bastante tempo e nem notei que estávamos andando juntos. Era fácil conversar com ele. Edward tinha uma personalidade extrovertida, uma pessoa de sorriso fácil e que facilmente te faz sorrir, diferente de mim que sou mais na minha, porém eu sou mais falante que ele.

Nossa amizade foi instantânea, no primeiro mês de aula, muita coisa aconteceu, a primeira delas foi o fato de que já éramos melhores amigos e quase inseparáveis, a segunda foi a enorme popularidade de Edward.

O garoto bonitinho que veio da Inglaterra, é educado como o inferno e engraçado, logo entrou para a equipe de futebol da universidade e que vai cursar medicina. Surpreendente, realmente chocante o motivo no qual ele é tão popular.

— Você devia ser líder de torcida, assim passaríamos mais tempo juntos – Edward soltou um dia enquanto almoçávamos.

Era meio do semestre, estávamos no campus debaixo de uma árvore. Eu comia animadamente meu sanduíche de atum e Edward comia... não sei, a comida dele é estranha, só sei que segundo ele, é o que os jogadores tem que comer para ‘manter o físico’. Eu desconfio que coloquem bomba na comida. Ele era magricela quando o conheci e agora já tem um corpo definido e musculoso, nada exagerado, mas seus músculos são evidentes. Não que eu tenha olhado, claro.

— Sim, eu ficaria um arraso de sainha curta mostrando a bunda e com a barriga de fora – ironizei – Todos iam adorar ver meus hashis.

— Hashis? – Edward me olhou com o cenho franzido – Tipo os de comida japonesa? Aqueles palitinhos que usamos pra comer?

— Sim. É que minha perna é fina – expliquei – Eu não ia servir, você sabe que eu sou desastrada e meus peitos são pequenos. Acho que é pré-requisito você ser peituda para entrar nessas coisas – dei de ombros – E para de olhar para os meus peitos – ralhei com ele ao notar para onde seus olhos desviaram.

— Ei, eu sou um cara, se você falar do tamanho dos seus peitos eu vou olhar – deu de ombros largando a vasilha onde estava sua comida e deitando de barriga pra cima na grama – E seus peitos tem um tamanho legal.

Peguei uma pedrinha que estava próxima a mim e taquei nele arrancando uma sonora e gostosa risada dele.

Eu me orgulhava muito de sempre poder encher a boca para dizer que nunca fui a um jogo de futebol, não era minha vibe, mesmo meu melhor amigo sendo o quarterback da equipe, ou seja lá o que isso significasse. Infelizmente, não pude me orgulhar disso por muito tempo, no final do semestre, no último jogo antes das férias de verão Edward literalmente me arrastou para assistir ao jogo.

Literalmente mesmo. Eu estava feliz na biblioteca com uma pilha de livros ao meu redor, feliz e plena no meu habitat natural quando ele, todo caracterizado como jogador de futebol, entrou lá indo até onde eu estava me pondo em seus ombros e me levando dali carregada.

— Hoje você assiste ao meu jogo, Swan – foi sua justificativa.

Por onde passávamos, atraíamos olhares. Claro, o quarterback da equipe da universidade estava com uma garota bunda pra cima em seu ombro. Isso é o tipo de coisa que chama a atenção das pessoas.

— Se você me pôr no chão, eu juro que não fujo – prometi – Juro de dedinho se você quiser.

— Ok – concordou.

Edward me colocou no chão e estendeu sua mão fechada com apenas o dedo mindinho erguido. Respirei fundo e enlacei meu dedo mindinho com o seu. E foi assim que eu vim parar aqui, numa arquibancada na primeira fila próxima ao campo, onde haviam várias garotas loucas gritando tentando atrair a atenção dos meninos da equipe e eu não estava entendo bulhufas do jogo. O que é um ‘touchdown’ meu deus?

— Oi, eu sou Rosalie – ouvi uma voz gritando por sobre a voz da multidão para ter sua voz ouvida por mim – Como é seu nome?

Me virei para responder e quase paralisei. Uau, ela é linda, aquelas loiras de parar o trânsito e que faz você se sentir mal consigo mesma por ter genes ruins.

— É Bella – respondi meio sem jeito – Desculpa, por que você está falando comigo? Não quero soar mal educada, mas é que você é tão bonita, não parece ser do tipo que fala com alguém tipo... eu – apontei para mim.

Não é por nada, mas eu estava usando uma calça capri, uma blusa de flanela quadriculada por cima de uma regata preta, tênis, óculos de armação preta talvez um pouco grandes para mim e meu cabelo estava solto e bagunçado, eu estava uma confusão.

— Não sei, você parece legal e perdida – ela sorriu educada – Eu estou no quinto período de literatura, o que você cursa?

— Literatura, mas eu sou caloura – sorri animada por conhecer algum dos meus veteranos.

— Que legal, bom Bella, você pode me chamar de Rose, vamos ser amigas, gostei de você.

Sorri animada. Quase final do período e eu já tenho 5 amigos, três que fazem aulas comigo, Edward e agora Rosalie, eu estou muito popular.

Fui arrastada para uma festa após o jogo para comemorar o fato de que a equipe da casa foi a equipe vencedora. Interessante, mas não fascinante. Eu estava completamente deslocada. Rosalie pelo que percebi era popular e conhecia muita gente, assim como Edward. Eles tentavam me incluir e me fazer interagir com o pessoal, eu só queria ir embora e assistir orgulho e preconceito para elogiar o filme e depois apontar o que poderiam ter feito de melhor e terminar apontando os defeitos pois iria comparar demais ao livro.

— Você tem que sair da sua concha Bells – Edward apareceu do nada me assustando e passando o braço ao redor do meu ombro em um abraço de lado – Você está a noite inteira com esse copo de cerveja que eu te dei quando chegamos e eu vi que você não tomou um gole sequer. Se anima pequeno cisne, estou tentando te embebedar, você deve ser hilária bêbada – ele riu alto demais.

Ele com certeza já estava bêbado. Suspirei fundo. Me recuso a cuidar de bêbado, mesmo que seja meu melhor amigo. Antes que eu pudesse protestar, senti os lábios de Edward em minha bochecha e em seguida, ele passou os dois braços ao meu redor me dando um abraço completo.       

Essa foi a primeira vez que senti meu coração acelerar perto dele e por algum motivo, ainda sentia seus lábios queimando em minha bochecha enquanto ele me abraçava. Fechei os olhos e me permiti me aconchegar em seus braços. Era uma sensação boa. Estranha, mas boa.

[...]

No natal, dei a Rosalie uma camisa branca com uma estampa de livros como presente e ela me deu um livro, Moby Dick, ainda não tinha lido esse. Ela iria para sua casa em Denver, no colorado passar o fim de ano, eu iria para Forks com meus pais e Edward iria para Londres. Eu estava mais triste do que deveria por passar o natal longe dele, estávamos sempre juntos, era estranho ficar longe dele.

— Eu tenho um presente para você – ele falou quando lhe deixei no portão de embarque do aeroporto e seu voo fora anunciado.

Edward tirou do bolso uma caixinha prateada e colocou em minhas mãos. Olhei desconfiada para ele, mas ele me incentivou a abrir. Era um cordão de corrente dourada e delicada, mas o que chamou atenção foi o pingente, era um cisne. Não pode deixar de sorrir ao ver a peça, era bonita.

— Achei sua cara – Edward falou sem jeito.

— Eu gostei, é bonito, obrigada – joguei meus braços ao seu redor em um abraço.

O abracei tão abruptamente que se não fosse pelo incrível equilíbrio de Edward, provavelmente teríamos caído. Ele retribuiu meu abraço com a mesma animação que eu o abraçava e posso jurar que senti ele inalando o cheiro do meu cabelo, mas provavelmente é coisa da minha cabeça e deixei pra lá.

— Oh, eu também tenho um presente pra você – me afastei dele o empurrando.

Peguei minha mochila que estava em minhas costas a abrindo com rapidez e tirei o embrulho retangular de lá.

— É um livro, não é? – um grande sorriso surgiu em seus lábios.

— Sim, eu quero te doutrinar na cultura da leitura, é legal, eu juro – prometi sorrindo de volta – É meu livro favorito, eu até fiz uma dedicatória pra você, aproveita que são mais de 12h de viagem no avião e lê. Quando você voltar, eu vou te perguntar hein e não adianta ler o resumo na internet, eu vou saber se você fizer isso.

— Sim senhora, qual o nome do livro?

— Quando você abrir vai saber, agora vai que já é a terceira vez que chamam seu voo.

Me despedi de Edward novamente e uma enorme tristeza se apossou de mim quando ele acenou de longe passando pelo portão de embarque e saindo do meu campo de visão. Suspirei fundo e engoli a vontade de chorar. Em seguida, fui para o meu próprio portão de embarque, meu voo decolaria daqui duas horas e eu não podia estar mais entediada.

Apesar de ter um oceano nos separando, literalmente, Edward e eu não deixamos de nos comunicar um dia sequer. Estávamos sempre conversando seja por mensagem, ligação ou por Skype, não vou dizer que a comunicação foi fácil, Londres estava oito horas a frente de Forks, então, nossos horários eram complicados, mas intercalávamos entre quem ficaria acordado pela madrugada para conversar, as vezes era ele, mas as vezes era eu e nossa dinâmica funcionava.

No dia 24 de dezembro, as quatro da tarde Edward me ligou por Skype me desejando feliz natal, pois em Londres, já era meia noite. Nos falamos por horas e Edward me apresentou seu cachorro que ele não pôde levar para a faculdade, o nome dele era Dog, muito criativo da parte dele. Quando deu meia noite em Forks, liguei para Edward por Skype e ele atendeu com a cara amassada e a voz rouca de sono, o que me rendeu boas risadas. Em Londres era oito da manhã e apesar do seu cansaço e vontade de dormir, conversamos por muitos minutos, até minha presença ser exigida por meus pais e eu ter que desligar.

No ano seguinte, soube que eu teria uma nova colega de quarto pois Lauren exigiu ser trocada por não aguentava mais olhar para minha ‘cara de peixe morto’. Honestamente eu não reclamo. Minha nova colega de quarto era Alice, uma estudante de moda, baixinha e elétrica demais, porém muito mais simpática e amigável que a tal Lauren. Não demorou muito para Alice e eu sermos melhores amigas e logo éramos Alice, eu e Rose, nossa amizade funcionava bem e eu gostava disso.

Alice namorava com Jasper, um estudante de medicina que era veterano de Edward, já Rosalie estava decidida e colocou na cabeça que namoraria com Emmett, um colega de equipe de Edward e este prometeu a ajudar, bom, não sem antes Rosalie ameaçar arrancar suas bolas.

Óbvio que ele conseguiu e algumas semanas depois, Emmett pediu Rosalie em namoro. Ela era dois anos mais velha que ele, mas isso não parecia ser um problema para eles. Logo nós seis nos tornamos inseparáveis e não vou negar que estava começando a ver Edward com outros olhos. Às vezes, pela forma como ele me olhava ou como ele me abraçava ou parecia extremamente cuidadoso e protetor comigo me fazia pensar que ele sentia o mesmo por mim, mas outras vezes eu apenas me convencia que era tudo coisa da minha cabeça.

Em setembro, pouco depois do meu aniversário eu decidi que queria mudar meu visual, estava cansada da mesma Bella de cabelos castanhos e comuns de sempre, Alice e Rosalie me ajudaram com isso. Durante todo o processo, questionaram-me se eu estava certa do que faria e eu apenas confirmava. Era uma mudança brusca, eu sei, mas era o que eu queria. Após o resultado final ter me agradado e Alice e Rosalie terem ficado orgulhosas do resultado, liguei para Edward perguntando se ele estava em casa e quando ele confirmou que estava e que não sairia, falei para ele me esperar que estava indo pois queria lhe mostrar uma coisa.

— SANTA MERDA – Edward exclamou quando me viu parada em sua porta.

Seus olhos estavam arregalados e logo um sorriso enorme surgiu em seu rosto.

— O que achou? É uma mudança brusca, mas eu estava enjoada de olhar pra minha cara tão comum sempre, quis mudar – como estava insegura, estava falando sem parar – Eu não sei se ficou bom, quero dizer, eu não sou o tipo de garota que combina com esse tipo de coisa e eu meio que pens...

— Oh, cale a boca, Bella – Edward me interrompeu – Você ficou incrível, embora eu tenha que admitir que quando você disse que queria mudar, eu imaginei que ia cortar o cabelo, não que ia pintar de azul.

Um belo dia eu acordei e decidi que pintaria meu cabelo de azul. Não era um azul claro ou chamativo, eu não sou tão ousada assim, é um azul escuro, mas que combina com meu tom de pele e não ficou tão chamativo assim.

— Você ficou linda com esse cabelo, eu provavelmente não te reconheceria na faculdade se te visse de longe. Seu cabelo tá enorme, tá batendo na sua bunda, o azul foi a cereja do bolo.

— Isso foi um elogio? Eu fiquei na dúvida.

— Sim, foi um elogio.

— Então obrigada.

— Entra, vamos assistir filmes – antes que eu pudesse responder, Edward já estava me puxando para dentro.

Ele não morava em um dormitório na faculdade, pelo contrário, ele morava em um apartamento só pra ele e a maior parte do tempo, eu invejava sua privacidade. Quando ele fechou a porta atrás de mim, esse foi o momento em que eu notei que Edward usava apenas uma calça de moletom cinza e estava sem camisa exibindo seu corpo perfeitamente moldado graças ao futebol. Engoli em seco e olhei para o outro lado tentando não deixar evidente que eu estava o devorando com os olhos, mas foi difícil não olhar quando ele se virou e as duas covinhas no final de sua costa ficaram evidentes. Suspirei alto.

— Eu tenho pipoca de micro-ondas, você quer ou está divertido olhar pra minha bunda? – assustei-me ao ouvir sua voz.

— Ei, eu não estava olhando.

— Se você precisa dizer isso pra se sentir melhor – ele deu de ombros.

— Você não pode falar nada, você só vive olhando pros meus peitos e outro dia você deu um tapa na minha bunda, no meio da biblioteca, foi constrangedor – me defendi – E sim, eu quero pipoca, tem de manteiga?

— Seus peitos são bonitos de olhar e eu só olho quando você fala deles – Edward me deu um daqueles meio sorrisos dele que são encantadores e deu uma piscadela que fez meu oxigênio evaporar – E sim, tem de manteiga.

— Vou querer.

Decidi por fim no assunto ‘quem olha pro corpo de quem’. Era mais saudável assim.

Edward fez as pipocas para nós e para beber, ele abriu uma garrafa de um vinho barato que ele tinha. Estranhei, mas ele disse que vinho e pipoca combinavam sim. Por insistência minha, assistimos Harry Potter, o fiz assistir os três primeiros filmes, era sábado e amanhã não acordaríamos cedo. Já estava na metade do quarto filme e com certeza já era bem tarde, se considerar que eu vim para cá quase cinco da tarde. Eu dormiria aqui, era comum entre nós quando eu ficava até tarde assistindo filme com ele, eu sempre dormia aqui pois ficava tarde para voltar e Edward se recusava a me deixar voltar sozinha para casa.

— Para de me olhar, assiste o filme – falei sem desviar os olhos da televisão.

No final do segundo filme, o sofá estava desconfortável então estendemos alguns lençóis no chão e espalhamos travesseiros e almofadas em nossa cama improvisada para ficar mais confortável. Na metade do terceiro filme, Edward achou uma boa ideia ele ficar abraçado em mim pois segundo ele, estava longe de casa e precisando de um abraço. Achei a maior das desculpas furadas, mas como eu queria o abraçar e era normal entre nós esse tipo de intimidade e contato, não reclamei.

— Eu gosto de te olhar, mas ficou mais legal agora que seu cabelo está azul – falou apoiando o queixo no meu ombro – Ficou sexy.

— Quem sabe agora eu não consigo uma vaga como líder de torcida? Esse ano estou mais disposta a ir mostrar minha bunda na frente da universidade inteira – zombei.

A garrafa de vinho que esvaziamos me ajudou a ficar desinibida o suficiente para falar um negócio desses.

— Eu não ia reclamar de você sendo líder de torcida, embora fosse reclamar de você mostrando a bunda para os outros – ele fez uma careta – Pensando melhor, vamos cancelar a ideia de você ser líder de torcida.

— Ótima ideia – concordei.

— Sabe, eu estava aqui pensando...

— Você faz isso é? Chocante – brinquei.

— Para de me interromper bluebird...

— Bluebird? – o interrompi novamente, estranhando o apelido – Deixei de ser o pequeno cisne?

— Sim, agora que seu cabelo é azul, você é a bluebird, enfim, como eu estava falando, quando foi a última vez que você beijou alguém?

— Com certeza há mais tempo que você, que semana passada estava com a língua enfiada na garganta de alguém em uma festa aleatória qualquer.

— Isso não responde minha pergunta.

Suspirei alto.

— Sei lá, faz tanto tempo que eu não beijo alguém que eu acho até que voltei a ser boca virgem, na verdade, eu acho que voltei a ser virgem por inteiro, meu lacre já deve até ter voltado e intacto de novo.

Minha resposta fez Edward gargalhar alto.

— Isso é biologicamente impossível e você sabe que de anatomia humana eu entendo.

— Se você diz – dei de ombros voltando a prestar atenção no filme – Ei, você já percebeu que esse Cedric do filme parece com você?

Edward desviou os olhos para a TV avaliando o ator e logo voltou seus grandes olhos verdes para mim.

— Eu sou mais bonito.

— Convencido – revirei os olhos.

— Eu acho que a gente devia se beijar – falou subitamente.

Olhei para ele completamente sem palavras. Minha boca se abriu e fechou umas três vezes, mas nada saía. Eu ainda estava esperando-o rir e dizer que era brincadeira, ou que era efeito do vinho que tomamos, mas ele não disse, permaneceu me olhando esperando minha resposta.

— Quanto de vinho você tomou? Os baques que você leva no futebol afetaram sua cabeça?

— Pensa comigo...

— Hum?

— Não sei, não tenho motivo nenhum para justificar, mas eu acho mesmo que nós deveríamos nos beijar.

— Sim, poderíamos até transar aqui mesmo, aí você aproveita e comprova minha teoria de se eu ainda estou ou não com o lacre – ironizei.

— Você está pondo ideias na minha cabeça – um sorriso safado moldou seus lábios – De qualquer forma, por que não? Somos jovens, estamos na faculdade, é uma época de experiências, você pintou seu cabelo de azul, eu quero te beijar.

— Por que eu pintei o cabelo de azul?

— Não exatamente, eu já queria te beijar antes, mas você de cabelo azul só despertou mais a vontade.

Mais uma vez minha boca abriu e nada saiu. Eu nem sei porque eu estava fazendo tanto alarde sobre isso. Quer dizer, não é como se eu nunca tivesse pensado sobre nós dois se beijando, eu já pensei isso algumas vezes, mas era surreal ele dizer que queria me beijar. Somos melhores amigos, isso pode deixar as coisas estranhas entre nós.

— Você pensa demais, bluebird, só senta aqui e vamos nos beijar. Prometo que vai ser bom.

Só quando ele falou que eu notei que estava em pé, andando de um lado para o outro na sala. Ia reclamar e argumentar, mas desisti. Respirei fundo algumas vezes para me dar coragem.

— Quer saber? Foda-se, vamos nos beijar – concordei.

Por um segundo, eu fiquei preocupada pois Edward sorria tão abertamente que eu tinha certeza que seu rosto ia rasgar. Voltei para onde estávamos e quando ia sentar ao seu lado, Edward me segurou pelo pulso me fazendo sentar em seu colo. Foi nesse momento em que me dei conta do que estávamos fazendo.

Uma coisa era eu pensando em beijar meu melhor amigo, outra totalmente diferente era isso acontecendo de verdade. Parece que a consciência disso pairou sobre nós dois pois notei que Edward subitamente ficou nervoso, mas ele não parecia que ia recuar, então eu também não recuei.

Por um momento, eu apenas ouvia o som das nossas respirações, se a TV ainda estava ligada ou se ele havia pausado o filme, não sei ao certo dizer. Estávamos extremamente próximos, nunca tivemos tanta proximidade assim antes e o máximo que ele fazia era beijar meu rosto, mas agora seus lábios estavam perto demais dos meus. Nossos lábios não se tocavam, tudo estava fora de foco, mas nós olhávamos nos olhos um do outro.

Nenhum dos dois desviou o olhar, se eu fosse um pouco mais esperta, teria parado com essa loucura agora, o problema é que eu não era esperta e nesse momento, eu sentia que ele era como areia movediça e eu estava afundando nele, mas eu não fazia questão de tentar sair. Uma de suas mãos pousou em minha cintura e a outra tocou minha bochecha, seu polegar fazendo uma carícia gostosa em minha face. Fechei os olhos respirando fundo aproveitando essa sensação.

Seus lábios tocaram os meus, era só um encostar de bocas, nada além disso, mas ainda assim era a melhor sensação que eu já senti na vida. Sua boca pressionou na minha com mais força e sua língua tocou meu lábio inferior pedindo passagem, entreabri a boca permitindo com que sua língua invadisse minha boca.

Edward tinha um gosto doce misturado com o vinho barato que tomamos, seus lábios eram macios e quentes contra os meus. Eu já estava aqui fazendo isso e decidi me entregar de vez ao momento, passei os braços ao redor do seu pescoço o puxando mais para perto, minha mão agarrou seu cabelo com força, ele gemeu, não sei se de dor, de prazer ou dos dois. Sua mão desceu do meu rosto e com a ponta dos dedos tocou meu pescoço deslizando a mão por minha pele causando arrepios onde quer que ele encostasse.

Era apenas um beijo, mas meu corpo inteiro estava em brasas e ia de brasas a chamas onde quer que sua mão tocasse. Fiquei impressionada com o quão bem nossas bocas se encaixavam, era como se fossem feitas uma para a outra.

Não contive o gemido que escapava por minha garganta toda vez que sentia sua língua enroscava com a minha. Nosso beijo era doce, era suave, era selvagem, era calmaria e era tempestade, eu sentia tudo e de tudo, suas mãos passeando por meu corpo e agora apertando minha coxa com força e firmeza me faziam querer arrancar minhas roupas.

Tive que nos separar quando meu pulmão queimou pela falta de ar, eu não era coordenada o suficiente para beijar e respirar. Apesar disso, permaneci de olhos fechados, Edward me abraçou pela cintura e grudou sua testa na minha. Eu conseguia ouvir nossas respirações descompassadas, o clima da sala ao nosso redor não era tenso como eu achei que seria, mordi o lábio para conter a vontade de rir.

— Eu sempre soube que beijar você seria bom assim – sua voz rouca quebrou o silêncio entre nós.

— Caralho, eu ainda sei beijar, isso é surpreendente – soltei surpresa comigo mesma.

O silêncio pairou entre nós. Ele diz que me beijar é bom e eu digo que ainda sei beijar, uau, parabéns Bella, selo boca descontrolada de qualidade pra você. De repente, sua estrondosa gargalhada quebrou a tensão que surgiu após meu comentário.

— Você é muito aleatória, bluebird – falou me fazendo rir.

Claro que eu ri de nervoso, ele riu porque achou engraçado.

Essa noite que dormi na casa dele, passamos quase a madrugada inteira nos beijando no chão da sala dele, não fomos além, por mais que diversas vezes eu realmente tenha querido arrancar minhas roupas e as dele, mas sei que essa seria uma linha um pouco brusca demais para cruzar e ele pareceu entender isso também.

Nos meses que se passaram, nosso grupo de amigos pareceu entender que a dinâmica da minha amizade com Edward estava diferente, mas ninguém comentou nada.

Edward estava ocupado com os treinos para a final de algum campeonato da equipe de futebol dele e eu estava no meu lugar favorito no mundo: a biblioteca da faculdade. Eu não tinha mais nada para fazer, já tinha feito todos os trabalhos finais, todos os exames finais que eu deveria ter feito eu também já tinha feito os resumos pedido pelos professores, eu era a nerd perfeita, estava na biblioteca apenas pelo prazer de estar enquanto os demais estavam surtando com as provas finais.

— Oi – ergui o olhar para ver alguém falando comigo.

Franzi o cenho confusa, eu não o conheço.

— Olá? – quis cumprimentar, mas saiu como uma pergunta.

— A biblioteca está cheia, você se importa se eu sentar com você? – o rapaz perguntou meio sem jeito.

Olhei ao redor e realmente, as mesas estavam todas ocupadas com grupos de alunos estudando.

— Claro, sem problemas – sorri educada.

Eu estava sozinha em uma mesa, então ‘limpei’ uma parte do espaço para ele, já que os livros que eu lia estavam todos espalhados ao redor da mesa. Ele agradeceu e se sentou colocando as coisas dele no local que lhe ofereci.

— Eu sou Jacob, a propósito – esticou a mão para me cumprimentar – Jacob Black, mas pode me chamar de Jake.

— Bella – o cumprimentei de volta – Bella Swan.

— Nome legal. Você cursa o que?

Ninguém nunca falou pra ele que em uma biblioteca se faz silêncio?

— Literatura e você? – ok, a curiosidade foi maior que a vontade de fazer silêncio.  

— Relações públicas.

— Legal.

Apesar de eu não gostar de conversar na biblioteca, conversar com Jake foi realmente agradável, ele conversa bem, sabe as cosias certas a dizer e parece ser um cara bem legal. Acho que o curso que ele faz influencia nisso... ou ele simplesmente é bom nisso e decidiu investir. Também não vou negar, ele é muito bonito e tem olhos negros como a noite que são misteriosos e excitantes. Acabamos trocando telefone e marcando de nos encontrar outras vezes na biblioteca para estudarmos juntos.

[...]

— Eu tenho certeza absoluta que Jasper e eu vamos nos casar assim que eu me formar – Alice disse suspirante ao se jogar em sua casa.

Estávamos Rosalie, Alice e eu no quarto, era sábado e decidimos fazer uma ‘noite das garotas’.

— Eu tenho a mesma sensação sobre Emmett, mas claro que eu me formo antes, então só acontecerá quando ele se formar – Rosalie também estava pura animação – E você e o Edward, quando vão deixar essa amizade colorida estranha e se assumirem como namorados?

— Tá falando comigo? – perguntei confusa.

— Não, é com você Alice – a loira se virou para a baixinha que riu travessa – Quando você vai largar o Jasper e ficar de vez com Edward?

— Acho que hoje mesmo, vou até mandar uma mensagem pra ele dizendo que seremos namorados agora – Alice entrou na brincadeira de Rosalie.

— Deixa de ser tapada Bella, vocês estão nessa enrolação há muito tempo, quando vão perceber que são mais do que ‘amigos com benefícios’? Você gosta dele, não gosta? – assenti concordando – E eu vejo como ele olha pra você, é do mesmo jeito que Emmett me olha ou como Jasper olha pra Alice.

— Não sei se as coisas estão nesse nível, somos amigos e de vez em quando nos beijamos, mas é só, nós nunca nem transamos – respondi fazendo as duas abrirem a boca em surpresa.

— Meu Deus! – Alice exclamou – Vocês estão nessa desde 2012, já estamos em 2013 e nada de saírem dos beijos?

— Você não me engana, bluebird— Rosalie falou a última palavra em um tom diferente, imitando o jeito que Edward me chama – Você gosta dele e eu me arrisco a dizer que está apaixonada, ou até mesmo que o ama.

— Claro que amo, ele é meu melhor amigo – falei como se fosse óbvio, pois era óbvio.

— Sabe Bella, amar é muito mais do que uma palavra, são muitos sentimentos – Alice que estava deitada com as costas na cama, batucou os dedos na barriga olhando para cima enquanto falava – Amar é doce, é amargo, é maravilhoso e assustador, é tanta coisa junta e separada que não dá pra explicar, mas especialmente, o amor é como um arco-íris e cada cor representa algo do que você sente, já parou pra pensar em quais são as suas cores?

— Como assim?

— O amor é como um arco-íris, tem suas cores e cada cor é como uma emoção que você sente. Você não sabe identificar suas emoções ou suas cores?

— Não seja boba Alice, se ela soubesse identificar alguma coisa, seria o fato de que ela e Edward tem algo que vai muito além de uma simples amizade – Rosalie respondeu por mim.

Agradeci por isso, não sabia o que responder. Sobressaltei de susto ao ouvir meu celular apitando, olhei no visor e era uma mensagem de Edward. Ri ao ver o nome do contato, ele mesmo salvou desse jeito, eu apenas não mudei

Londrino gostosão      

22:03 pm

“vai ter uma festa daqui a pouco na casa do Tyler, um cara da equipe, vamos?”

Bluebird

22:03 pm

“Não estou muito afim, quem sabe outro dia? Divirta-se”

Londrino gostosão

22:05 pm

“seria mais divertido se vc viesse comigo, mas valeu divirta-se vc tbm :)”

Apenas ri e não respondi mais nada. Fiquei entretida demais pensando no que Alice quis dizer sobre cores e sobre o fato de que eu gosto de Edward, mas que posso estar apaixonada por ele. É insano demais pensar nisso, mais insano ainda que ele também esteja apaixonado por mim como Rosalie e Alice dizem. Pra mim, todos são insanos e eu sou a única sensata.

[...]

No final do ano, eu não iria para casa, estava com meu orçamento meio apertado e eu não queria ter que pedir dinheiro para os meus pais então passaria as festas de fim de ano em Hanover. Edward se ofereceu para comprar minha passagem, mas recusei, então ele decidiu que também não iria para Londres, ele iria ficar comigo para não me deixar passar a virada do ano sozinha já que todos nossos amigos foram para suas casas.

— Eu ainda acho que você é completamente insano – falei mais uma vez enquanto estávamos em seu apartamento – Você devia ter ido pra casa Edward, já deve ser difícil o suficiente estar em outro país e quando tem a chance de ver seus pais, você não vai. Me sinto mal com isso, sabia?

— Eu não me arrependo de nada e se você parar pra pensar, esse é o primeiro natal que iremos passar de fato juntos – ao contrário de mim, Edward estava super animado – Nos conhecemos desde 2010 e só agora, em 2013 que vamos ter nosso primeiro natal...- ele foi interrompido pelo som da campainha.

Eu não sabia cozinhar e Edward também não era nenhum mestre cuca, então optamos por pedir pizza e comprar sorvete, essa seria nossa ceia de natal. Pedimos duas pizzas, de pepperoni e de 4 queijos. Mais cedo, Edward já havia feito uma vídeo chamada com seus pais e me apresentou a eles, quando deu meia noite aqui, fiz uma vídeo chamada com meus pais e apresentei Edward a eles, o problema é que nós já estávamos meio bêbados, acabamos exagerando no vinho. Minha mãe o adorou, meu pai nem tanto, mas meu pai não gosta de nenhum homem que se aproxime de mim, então é normal.

Estávamos embolados no chão de sua sala vendo filmes clichês de natal e de vez em sempre roubávamos beijos um do outro. Nossos beijos estavam cada vez mais quentes e uma coisa foi levando a outra, quando dei por mim, estava apenas de rupa íntima sentada em seu colo enquanto Edward estava apenas com sua boxer.

Suas mãos foram para o fecho do meu sutiã abrindo-o, Edward vagarosamente deslizou a peça por meus braços deixando meus seios a mostra. Por um momento eu quase me senti constrangida, não que eu fosse virgem, mas eu também não era a pessoa mais experiente do mundo, fazia tempo desde que eu estivesse intimamente com alguém, mas a forma como ele me olhava me fazia sentir a pessoa mais importante, me fazia sentir única, seus olhos transbordavam devoção e eu gostava do que via quando olhava pra ele. Abafei um gemido quando seu polegar tocou meu mamilo.

— Eu sempre soube que você tinha esses seios perfeitos – sua mão se fechou em formato de concha ao redor do meu seio – E que eles seriam do tamanho ideal para minha mão.

Seu toque era simplesmente algo que eu não conseguia descrever e todas as palavras que eu tanto conheço se tornaram desconhecidas quando seus lábios cobriram meu seio. Nossa primeira vez foi no chão de sua sala e foi incrível. Nossos corpos suados chocando-se, o som dos nossos gemidos preenchendo o ambiente, minhas pernas ao seu redor, suas mãos experientes que pareciam conhecer tão bem cada ponto do meu corpo. Nosso encaixe era perfeito, único e foi apenas essa noite que eu verdadeiramente conheci o que era sentir prazer.

— O que foi? Você está com vergonha? – Edward questionou ao notar que eu tentava me cobrir por inteira, inclusive meu rosto.

Era meio ridículo estar com vergonha após três rodadas de sexo, termos nos visto completamente nus, eu ter posto a boca nele todo e ele ter feito o mesmo comigo e agora estarmos deitados comigo em seu peito, mas ainda assim, eu estava envergonhada. Minha resposta foi eu cobrir meu rosto com o lençol o fazendo rir.

— Bella, sou apenas eu, eu ainda sou Edward, seu melhor amigo, lembra? Você ainda é minha bluebird, por que tem vergonha?

— Porque é estranho, você não acha?

— Sinceramente, não. Pelo contrário, acho não poderia ser mais certo.

Aceitei deixar a vergonha de lado e olhar para ele. Ele tinha esse sorriso bobo no rosto que me fez sorrir de volta.

— Acho que precisamos conversar direito sobre isso... digo, sobre essa coisa que estamos fazendo – falei.

Isso fez com que o sorriso em seu rosto sumisse. Edward me olhou confuso, seu cenho estava franzido e ele não aprecia entender o que eu dizia.

— Sabe, essa nossa amizade colorida – expliquei – Precisamos estabelecer algumas regras para isso funcionar, não quero que afete nossa amizade, eu gosto demais de te ter como amigo para estragar isso.

— Regras?

— Sim. Por exemplo, somos amigos acima de tudo, então se em algum momento isso começar a abalar nossa amizade, nós paramos.

— Amigos?

— Sim – confirmei.

— Pra você, eu sou seu amigo? – Edward se remexeu parecendo desconfortável.

Isso fez com que eu levantasse do seu peito, a posição estava desconfortável para mim também e eu ter me sentado me deixou mais confortável. Edward sentou à minha frente também.

— Mais do que isso, você é meu melhor amigo no mundo inteiro, não me imagino sem você na minha vida – segurei sua mão, seu olhar acompanhou o movimento, mas ele ainda me olhava confuso e decidi continuar explicando – Não estou te cobrando exclusividade e nem nada, mas se algum dia você ou eu ficarmos sérios com alguém, isso entre nós também tem que acabar e daí seremos apenas amigos novamente, não mais amigos com benefícios.

— Amigos... claro – ele deu um sorriso que não chegou aos seus olhos.

— E nós sempre temos que usar camisinha, se não somos exclusivos é bom prevenir, além do fato de que...

— Acho que a questão de regras nós podemos estabelecer conforme for surgindo necessidade – ele me interrompeu – O principal já entendi, somos amigos, apenas amigos e nada além disso. Tem certeza que você quer ser apenas minha amiga?

— Claro, o que mais eu seria? – ri – Não seja bobo, Edward.

Edward parecia um pouco decepcionado, ou talvez só estivesse cansado, já eram quase quatro da manhã e até eu estava cansada, concordei com ele e encerramos a conversa por aí, adormeci logo em seguida pois não tinha nada a dizer.

[...]

2014 começou se mostrando um ano bastante agitado. Rosalie se formou no semestre passado, mas sua colação de grau seria apenas este mês, eu me formaria esse ano e Edward estava uma pilha de nervos pois faria a prova para a escola de medicina e se fosse aprovado, ele seria um residente no hospital central de Hanover, eu estava empolgada, animada e nervosa por ele, passava muitas noites o ajudando e acompanhei de perto seu surto com essa prova e nem após fazer a prova ele relaxou.

A cerimônia de colação de grau de Rosalie foi linda, eu mal podia esperar pela minha vez. Saímos todos juntos para comemorar, não que em Hanover houvessem muitas opções, então deixamos para sair no dia seguinte, hoje seria ela e a família dela.

— Finalmente me formei nesse caralho, eu não aguentava mais – ela praticamente gritou na pizzaria em que estávamos – É um prazer pra mim não ter mais que olhar na cara dos meus colegas de turma, eu odiava todos.

— Essa é minha ursinha – Emmett brincou – Um poço de simpatia sempre.

— Parabéns Rose – Edward parecia cabisbaixo e todos notamos isso.

— Ainda não saiu o resultado da escola de medicina? – Jasper perguntou.

Jazz havia feito essa mesma prova no final de 2012 e tinha sido aprovado, ele já era residente do hospital e logo terminaria sua residência e se formaria ainda esse ano. O clima na mesa ficou tenso, Edward cutucava sua pizza sem sequer levantar os olhos.

— O resultado já saiu sim – sua voz era um sussurro.

Todos sabíamos o quanto essa prova era difícil, muitos faziam e poucos eram aprovados. Meu coração quase saiu pela boca, Edward era um aluno extremamente esforçado, o melhor de sua turma, sempre passava com as melhores notas e eu sei o quanto ele amava sua futura profissão, mas a ideia de ele não ser aprovado e ter que tentar a prova novamente no próximo ano me partia o coração.

— Fala logo esse caralho desse resultado, filho da puta – Rosalie não aguentou o silêncio – Eu tô pra parir um filho de ansiedade. Responde, porra.

— Eu passei nessa merda, EU VOU SER RESIDENTE NESSE CARALHO – gritou a última frase.

Meu corpo inteiro relaxou na cadeira em que eu estava, parecia que eu estava fraca e meu corpo virou gelatina, não acredito que ele me assustou dessa forma. Quando o estado de letargia passou, pulei da cadeira me jogando nele em um abraço apertado.

— Parabéns Edward, eu sempre soube que você iria conseguir, você merece, parabéns, parabéns, parabéns – disse empolgada enchendo seu rosto de beijos.

— Obrigado bluebird, você foi minha principal motivação – sua mão se infiltrou em meu cabelo e em seguida seus lábios estavam nos meus.

Correspondi seu beijo com a mesma intensidade. Era como se não tivesse ninguém além de nós dois, mas tinha e a risadinha de Alice e o “sexy” que Emmett sussurrou nos trouxeram de volta a realidade.

Nossos amigos sabiam que Edward e eu éramos uma espécie de amigos com benefícios, mas nós nunca fizemos nenhuma demonstração pública de afeto, pelo menos não dessa forma. Me afastei dele voltando para minha cadeira e senti meu rosto inteiro pegar fogo, diferente de mim, Edward tinha um sorriso orgulhoso no rosto.

Olhei para Alice e ela sibilou para mim sem emitir sons um ‘quais as suas cores?’. Decidi ignorar, como eu digo, ela é louca e eu sou a sensata.

[...]

Jake e eu estávamos cada vez mais próximos, nós conversávamos todos os dias, ele estava visivelmente interessado em mim e eu tinha sim uma leve queda por ele também e de certa forma, percebi como Edward parecia aborrecido com isso, especialmente por ontem eu ter cancelado almoçar com ele para almoçar com Jake.

O resultado disso foi ele me ignorar o resto do dia, o que era uma merda pois na noite anterior passamos a noite em claro explorando o corpo um do outro e no dia seguinte, ele se quer falou comigo após eu dizer que almoçaria com Jake.

Às vezes, eu tenho a impressão que essa história de ‘amigos com benefícios’ mais atrapalha do que ajuda, mas eu era fraca demais para dar um fim a isso. Era sempre maravilhoso estar nos braços de Edward, eu me sentia como se estivesse no lugar certo e era meu lugar favorito no mundo, mas não vou negar que em momentos como esse é torturante e me faz questionar se devemos seguir em frente com isso.

Jake havia me chamado para sair com ele em um encontro, fiquei relutante em aceitar, Edward ainda parecia aborrecido e eu não queria dar mais nenhum motivo para ele ficar distante, então fui atrás dele pelo campus, ele provavelmente estaria pelo departamento de medicina já que ele agora tinha aulas lá.

Edward estava cada vez mais popular e sua popularidade só aumentou quando saiu a lista dos aprovados na escola de medicina, ser o quarterback do time o ajudava sua popularidade, porém, até hoje eu não sei o que é um quarterback, Edward me explicou um milhão de vezes, mas eu sempre esqueço, sei que é uma posição importante.

O caminho do departamento de letras até o de medicina era longo e eu andei pra caramba, era do outro lado da universidade. Difícil foi chegar aqui, mas acha-lo foi ridiculamente fácil, especialmente por ele estar em um banco com a língua enfiada na garganta de uma loira morango que eu não pude ver o rosto pois ela estava de costas para mim.

O ar me faltou no exato momento em que vi a cena, fiquei de longe apenas olhando. Eu sabia que Edward era popular, que muitas garotas se insinuavam para ele e que nas festas ele sempre ficava com alguma, mas isso nunca aconteceu no campus e foi especialmente difícil para mim presenciar a cena. Não consegui dar meia volta e ir embora, estava paralisada no lugar e quando Edward e a garota que beijava se separaram, ele sorriu para ela, era o mesmo sorriso que ele dava para mim quando nós nos beijávamos. Era a mesma droga de sorriso torto e eram os mesmos olhos verdes brilhantes que me olhavam que agora olhavam para ela.  

Seus olhos desviaram dela e encontraram com os meus. O sorriso sumiu de seu rosto, ele pareceu tenso. Se virou de novo para a loira e falou alguma coisa para ela, foi nesse momento que eu despertei do transe que estava e me virei para sair dali. Senti uma lágrima escorrendo por meu olho e tratei de a enxugar, eu não tenho porque chorar. Ambos somos livres para nos relacionar com quem quisermos, esse sempre foi nosso acordo, não posso agir como se não soubesse disso.

— Ei, Bella – Edward me alcançou segurando meu braço fazendo com que eu parasse de andar – O que faz aqui?

— Vim te procurar para almoçarmos já que você não me atende, mas pelo visto você está ocupado – minha voz soou mais irônica do que eu gostaria.

— Por que você está irritada? Não somos exclusivos, lembra bluebird?

Suas palavras me atingiram mais do que eu gostaria de admitir e o apelido que eu tanto gostava nunca me irritou tanto quanto estava irritando agora.

— Lembro perfeitamente – soltei meu braço do seu aperto.

— Então, por que queria almoçar comigo? Jake te dispensou?

— Pelo contrário, ele me convidou para um encontro e eu disse sim – menti.

Seria mentira dizer que eu não sei porque eu disse isso, eu queria o fazer sentir péssimo, assim como eu estava me sentindo péssima agora.

— Ótimo, sinal que não precisa de mim – Edward cruzou os braços no peito, seu olhar intenso sobre mim como se olhasse minha alma – O que chega a ser até irônico pois outro dia passamos a noite fodendo em meu apartamento e agora você vai sair com ele.

— E o que tem de irônico nisso? Não somos exclusivos, lembra? – repeti sua frase.

— Como eu esqueceria do que você faz questão de lembrar? O tempo todo— sua voz também era pura ironia – Mas você vai mesmo sair com Jake? Sério? Como se ele fosse se interessar por você.

Minha boca se abriu em surpresa. Ele estava mesmo dizendo que alguém não seria capaz de se interessar por mim ou que eu não era suficiente para alguém?

— Você é um babaca Edward, vá se foder – bradei irritada lhe dando as costas.

Apesar da vontade de chorar e gritar que me acometeu, eu me recusava a fazer isso perto o suficiente para que ele visse o quanto eu fiquei magoada com suas palavras.

— Não, espera – ele me segurou novamente – Desculpa, eu não quis dizer que ele era demais pra você, eu quis dizer que você era demais pra ele.

— Você tem um jeito muito escroto de dizer isso sabia?

— Qual é Bella, você é interessante demais para ele – Edward me olhava com seus olhos suplicantes – Nem em um milhão de anos ele saberia te apreciar da maneira correta, você é areia demais pra ele, bluebird. Não saia com ele, você já me tem, não precisa dele.

— Você continua sendo um babaca.

Puxei meu braço com força e praticamente corri dali. Eu estava tão irritada com Edward e com o apelido carinhoso idiota que ele me dera. Puxei o celular do bolso e a primeira coisa que fiz foi ligar para Jake aceitando seu convite, ele ficou incrivelmente feliz com isso e ficou de me pegar amanhã às oito. A segunda coisa que fiz foi ligar para Alice. Mudaria meu cabelo e precisava dela para me ajudar já que Rosalie não estava por aqui.

— Você tem um jeito estranho de querer muda, Bella – Alice fez uma careta ao olhar para a tinta rosa que eu havia comprado.

Devo concordar com ela, mas eu também não estava disposta a continuar sendo a Bella sem graça que veio para Hanover. Usaria meu período na faculdade para fazer qualquer coisa que eu quisesse com o cabelo pois quando me formasse e começasse a trabalhar, talvez meu cabelo colorido não fosse bem aceito.

— Você acha que consegue pintar? – perguntei nervosa – O azul do meu cabelo já está tão desbotado que acho que vai ser fácil descolorir.

— O que Alice Brandon não consegue fazer, minha querida? – ela disse exibida – Mas por que a mudança súbita?

— Vou a um encontro com Jake, quis mudar.

Essa era uma grande de uma meia verdade. Eu realmente ia a um encontro com Jake e realmente queria mudar, mas o motivo da mudança é Edward. Estou com tanta raiva dele que quero apagar qualquer motivo no qual o faça me chamar de bluebird e sei que ele me chama assim pelo meu cabelo azul. Alice fez uma careta e parecia descontente.

— Jake? Jacob Black? – assenti concordando – Edward sabe disso? Ele concordou?

— Por que ele deveria concordar? Não somos namorados Alice.

— Tem razão, não são, são dois idiotas.

— Alice, meu cabelo, sim?

Apesar dos protestos dela, Alice concordou.

Foi trabalhoso e levou o dia inteiro, meu cabelo estava pouco acima da minha bunda e isso deu ainda mais trabalho, mas ela conseguiu fazer um bom trabalho. Agora eu tinha o cabelo rosa e queria mudar ainda mais. Arrastei Alice por Hanover e quando paramos em frente a um estúdio de tatuagem, ela se desesperou achando que eu queria fazer uma tatuagem, mas na verdade, eu só queria colocar um piercing.

Coloquei um no umbigo, fiz mais dois furos em cada orelha minha e também fiz um piercing Helix na orelha. Nunca me senti tão hipster em toda minha vida e nem sei se os hipsters realmente são assim, mas é como eu me sentia.

— Apesar de tudo, esse estilo estranho ficou bom em você, sabia? – Alice comentou quando saímos do estúdio.

— Obrigada?

— Vem, vamos voltar pois eu estou exausta e só quero dormir.

Voltamos para nosso dormitório e ao chegar, eu queria muito ligar para Edward e ir até sua casa para lhe mostrar meu novo visual, mas eu não faria isso, ainda estava muito irritada com ele para fazer isso.

[...]

No dia seguinte, foi meu encontro com Jake. Apesar de sempre conversarmos e de termos sempre conversas animadas e interessantes, as coisas em nosso encontro foram estranhas, parecia que não tínhamos assunto e foi bem silencioso também.

Eu só conseguia pensar em Edward e se ele estava pensando em meu encontro com Jake. Depois afastei esse pensamento, ele deveria estar se esfregando com a loira do outro dia, não poderia se importar menos com quem eu saía. Não falava com ele desde aquele dia e era estranho pois nunca ficamos tanto tempo sem nos falar.

No final da noite, Jake me levou para meu dormitório e nos beijamos. Era um beijo bom, não nego, mas não eu não sentia metade das coisas que sentia quando beijava Edward. Com Edward eram fogos de artifício explodindo, com Jake era apenas duas bocas se encostando, era bom, mas não era lá tudo aquilo.

Depois disso, Jake e eu tivemos mais alguns encontros, ele não comentou nada sobre a mudança no meu cabelo e isso me deixou decepcionada. Qual é, não era uma mudança sutil, era uma mudança brusca, meu cabelo era azul e agora estava rosa. Não é possível que ele não tenha notado isso.

O mês se passou e não falei mais com Edward ou o vi, agora que ele estava no departamento de medicina, ficou ainda mais difícil nos vermos ou falarmos com frequência e ficaria mais difícil com as provas finais chegando.

Eu estava na biblioteca lendo alguns livros, meus óculos estavam em meu rosto e meu cabelo formava uma cortina sobre meu rosto. Era engraçado pois parece que as pessoas sabiam que este era o meu lugar, especialmente a bibliotecária já que ela nunca deixava ninguém além de mim sentar aqui.

Ouvi uns murmurinhos, risadinhas e várias cabeças se virando em direção a entrada da biblioteca, mas minha curiosidade não era suficiente para me fazer olhar. Continuei com meus olhos no livro que eu lia. Não muito tempo depois, senti alguém atrás de mim, mas logo se afastou, levantei a cabeça para ver quem era. Era Edward.

— Ei quarterback – chamei sua atenção – Está perdido?

Ele virou a cabeça e ao me olhar, pareceu surpreso, em seguida confuso.

— Bella?

— Quem mais seria? – brinquei

— Isso que eu estava me perguntando, quem estava sentada no seu lugar – ele riu meio sem graça colocando as mãos nos bolsos – Você se importa se eu sentar com você?

— A biblioteca não é minha, Edward – revirei os olhos.

— Meio que é sim.

Ele sentou na cadeira em frente a mim, em seguida, fez uma careta, levantou e veio sentar ao meu lado. Edward deitou apoiando o rosto na mesa, seus olhos estavam fechados e quando abriu, notei que seus olhos verdes, cristalinos e sempre brilhantes, estavam opacos, sem brilho e tristes, incrivelmente tristes.

— Senti sua falta – ele foi o primeiro entre nós a falar – Me desculpe ser um idiota.

— Você é sempre um idiota, Edward – respirei fundo.

— Eu sei, me desculpe.

Levei minha mão ao seu cabelo, deslizei os dedos por seus fios acobreados/vermelhos me permitindo sentir a maciez destes e matar a saudade que eu sentia de o ter assim tão perto e tão... para mim.

— Desculpo, eu sempre vou te desculpar – respondi honesta.

— Seu cabelo ficou lindo, nunca imaginei você de rosa, mas vendo agora, combina muito com você. Quando você pintou?

— Quem disse que eu pintei? Essa é a cor natural do meu cabelo – essa foi a vez de Edward revirar os olhos – No início do mês, um dia antes do meu encontro com Jake.

— Não quero falar dele – Edward disse com sua voz firme, porém parecendo ressentido – Também estou um pouco decepcionado que você não foi me mostrar a nova cor do seu cabelo, toda vez que você retoca a cor vai me mostrar, não vou mentir que magoou, mas eu também te perdoo. Quer ir lá pra casa e nós assistimos alguns filmes?

Eu pensei em recusar, mas acabei aceitando. Saímos da biblioteca e Edward segurava minha mão se recusando a soltar, não vou mentir, isso me agradou.

— Qual filme você quer ver? – perguntou ligando sua TV.

— Qualquer um pra ser honesta.

— Então vamos assistir Harry Potter, eu sei que é seu filme favorito.

— Eu convivo bem com isso.

Soube que foi uma péssima ideia ter vindo quando no meio do filme, Edward passou o braço ao redor da minha cintura me puxando para um abraço. Meu corpo inteiro ficou tenso e eu fiquei em alerta, meu erro foi não ter saído dos seus braços.

O que começou como um abraço inocente, logo se transformou em seus lábios no meu pescoço. Era errado pois eu estava saindo com Jacob, mas por outro lado, não estávamos namorando, então eu não tinha obrigação nenhuma com ele.

— Você ficou sexy como o inferno com esses brincos na orelha – sussurrou em meu ouvido, com a voz baixa e grave.

— Eu também coloquei um piercing no umbigo – respondi.

Não sei porque disse isso, mas foi como se uma chama tivesse acendido entre nós. Edward segurou a barra da minha blusa a passando por minha cabeça e jogando-a longe.

— Eu estava enganado, isso é sexy como o inferno.

Edward se abaixou beijando minha barriga e brincando com a língua com meu piercing. Isso foi suficiente para me deixar molhada e sedenta por ele, eu desesperadamente senti sua falta e eu me preocuparia com o mundo depois, agora eu queria senti-lo dentro de mim.

Essa foi mais uma noite que não dormimos, o sexo entre nós estava diferente, mais intenso, tinha muito nas entrelinhas e muitas coisas não ditas, ou eu estava ficando completamente louca, era uma possibilidade. O jeito que nossos corpos se encaixavam, parecendo que nunca nos separamos, era incrível. Senti falta da sua boca, dos seus beijos e do sexo entre nós. Droga, eu sentia falta dele inteiro.

[...]

Quando o novo semestre começou, estávamos todos animados, Jasper e eu nos formaríamos ao final deste semestre, Edward começaria hoje como residente do Hospital Central de Hanover e Emmett se formaria no próximo semestre. Estávamos todos em pura felicidade e êxtase.

No entanto, as coisas entre Edward e eu estavam tensas, isso envolvia o fato de que continuávamos nos vendo, nos beijando e ainda passávamos muitas madrugadas em claro transando em seu apartamento, mas o que deixava as coisas explosivas de um jeito ruim entre nós é que eu também  ainda me encontrava com Jacob. Edward não reagiu bem quando lhe contei isso, na mesma semana, soube que ele estava saindo com a capitã das líderes de torcida Tanya Denali.

Essa era a mesma loira morango que o vi beijando meses atrás. Isso me deixava possessa com ele, mas não poderia fazer nada uma vez que eu fazia o mesmo o que me tornava uma grande hipócrita filha da puta.

Edward havia deixado o time de futebol, segundo ele, tinha que se dedicar exclusivamente ao hospital pois agora seria residente e não teria mais tempo para jogar, isso não diminuiu em nada sua popularidade e no meio do semestre, Edward já era o maior galinha da universidade. A lista de mulheres que passaram por sua cama já era quase quilométrica e infelizmente, eu estava nessa lista e isso meio que estava deixando as coisas estranhas entre nós. Mal nos falávamos e isso estava acabando comigo.

Como era meu último semestre, decidi que participaria mais das festas que aconteciam na universidade, Alice foi comigo, mas na verdade, ela meio que me abandonou assim que encontrou com Jasper. Dessa vez, Jacob não veio comigo e Edward pareceu muito feliz em me ver lá.

— Hey pinky, que surpresa te ver por aqui – falou alto para que eu ouvisse através do barulho que fazia.

Após mudar a cor do meu cabelo, Edward decidiu me chamar de pinky*, ele achou apropriado já que segundo ele eu sou ‘pequena’.

— Certo ruivinho, como se você já não estivesse acostumado com a minha presença nas festas – revirei os olhos – Me dá um gole – tomei a bebida de suas mãos provando um pouco – Uau, que forte – fiz uma careta ao sentir a bebida descer queimando.

— Vai com calma Pinky, isso é vodka – ele se inclinou para sussurrar em meu ouvido – Apesar de que eu adoraria ter você bêbada gemendo meu nome.

— Podemos arranjar isso – sorri travessa tomando mais um grande gole da bebida – Talvez esse fosse um bom jeito de te dar um xeque-mate.

— Isso seria apenas um xeque, pinky – piscou sedutor.

Eu estava na vibe de estar viciada em xadrez e Edward decidiu que tudo ao nosso redor se resumia a xeque ou xeque-mate. Até agora tivemos muitos xeques e nenhum xeque-mate.

Lá pelas 23h, estávamos no banheiro com as portas fechadas e transando na banheira de seja lá de quem for essa casa. Era desconfortável, mas ainda assim, era excitante como o inferno, especialmente porque meio bêbados, transamos duas vezes seguidas, uma na banheira e outra comigo escorada na pia. Era uma boa história de faculdade para se guardar quando eu me formasse.

Mais tarde, já passando da meia noite, fui procurar por Edward e ele estava atracado com Tanya, os dois se beijavam de forma obscena em um canto na cozinha. Eu sei que nenhum de nós somos exclusivos, mas ao menos sempre tivemos o acordo de nunca ficarmos com outras pessoas na frente do outro. Ou pelo menos eu achei que tivéssemos esse acordo. Me senti um lixo ao ver a cena, especialmente por termos transado apenas alguns minutos atrás.

Procurei por Alice e não a achei, provavelmente ela e Jasper deviam estar transando em algum lugar. Quis ir embora, mas na real, estava um pouco bêbada e isso me fazia tomar decisões idiotas, como por exemplo ficar aqui mais um pouco e esperar pela chance de ir o confrontar sobre ele estar praticamente fazendo sexo seco com Tanya na cozinha da casa de sabe Deus quem esteja dando essa festa.

A oportunidade surgiu uma da manhã, quando o vi com um grupo de amigos conversando animadamente.

— Ei Edward, posso falar com você? – o chamei.

Todos que estavam na rodinha se viraram para me olhar, reconheci que eram os amigos do hospital que eram residentes junto com ele. Edward entortou toda sua bebida de uma vez, mas antes que ele pudesse responder, um dos seus amigos falou primeiro.

— Sua amiga é? Qual o curso dela? – um homem alto e musculoso perguntou.

— Ela cursa literatura— Edward respondeu usando uma entonação diferente.

O jeito como ele falou foi esnobe, como se estivesse desmerecendo meu curso por não ser tão ‘glamuroso’ como era medicina.

— Ah é? – o mesmo que perguntou me olhou – Não conseguiu entrar em um curso melhor? Mas até que você é bonitinha, sabia?

— Ela diz que literatura é legal – Edward continuou falando – Mas ainda é literatura – deu de ombros.

— Nem todo mundo quer cursar medicina, direito ou engenharia, sabiam? – rebati.

— Claro – Edward ironizou rindo.

Um nó se formou em minha garganta. Esse definitivamente não era meu Edward, ao menos não o Edward que é o meu melhor amigo e sempre disse o quanto era incrível minha paixão por literatura, livros e romances.

— Ela fica horas enfurnada na biblioteca, só agora começou a frequentar as festas e a viver a vida – a cada palavra que ele dizia, eu só me sentia mais magoada e ressentida com ele – Não é mesmo, pinky? – todos seus amigos riram.

Não me dei ao trabalho de responder. Ele que enfie a porra do curso glamuroso dele no cu. Lhes dei as costas saindo dali apressada. Pensei que eu deveria ter ido para casa quando tive chance, mas também se eu tivesse ido, teria perdido a oportunidade de ver essa faceta de Edward, mas também não precisava ver mais nada. Acho que já entendi o tipo de pessoa que ele é.

[...]

Os dois meses que se sucederam foi comigo ignorando toda e qualquer tentativa de aproximação de Edward, ele tentava falar comigo, mas eu o cortava. Decidi que não valia a pena o ter por perto, não é esse tipo de gente que eu quero ter ao meu redor, não quando após aquela festa eu voltei para casa e passei a madrugada inteira chorando. Aceitei o pedido de namoro de Jacob e estávamos há um mês e meio juntos.

Evitei Edward em tudo que pude. O excluí do facebook, do instagram, do twitter e apaguei seu número e sempre que podia desviar meu caminho do dele, eu o fazia, até o dia que ele ficou em frente a minha sala me esperando.

— Bella, ei Isabella – me chamou quando passei reto por ele – Por favor, fala comigo.

— Que merda você quer que eu fale? – me virei irritada para olhar bem nos seus olhos – Eu sou só a aluna de literatura, não sou digna de andar com o grande Edward Cullen, o todo poderoso residente de medicina.

— Me desculpe. Desculpe tá legal, foi uma coisa idiota que eu falei quando estava bêbado...

— Não – o interrompi – Foi uma coisa que você pensa e soltou quando estava bêbado, é diferente. Odeio esses seus amigos, eles são idiotas e odeio mais ainda que você age como eles e se para se sentir aceito por eles você precisa me pôr para baixo e menosprezar minhas escolhas, então sinto muito Edward, você não serve para ser meu amigo.

— Me desculpa, por favor Bella. Eu fui idiota, sei que te magoei...-

— E muito – o interrompi novamente, estava com tudo isso preso na garganta por dois meses – Sabe o que é pior? É que eu te considerava meu melhor amigo e quando você agiu como eles, isso realmente magoou, eu fui pra casa e passeia droga da madrugada inteira chorando. Você era a pessoa que eu mais confiava pra que? Pra logo depois de transarmos você estar quase transando na cozinha com Tanya e depois me ridicularizar apenas para parecer legal na frente dos seus amigos? Parabéns, conseguiu, não sei o que pretendia, mas você conseguiu.

— Me desculpa Bella, de verdade eu não queria agir daquela forma, não queria que você se magoasse e não queria te fazer chorar – ele tentou tocar meu rosto, mas dei um passo para trás evitando seu toque – Me perdoa por ser um filho da puta, eu não mereço seu perdão, mas por favor me dá mais uma chance de te mostrar que eu não sou o babaca daquela noite. Podemos ser só eu e você, lembra como nós somos bons juntos? Podemos ser só nós dois, diga e eu serei seu, Bella.

— Tarde demais para isso, Edward – falei triste tentando impedir as lágrimas que queriam se formar – Até porque acho que meu namorado não iria gostar muito disso.

— Namorado? – seus ombros caíram e sua voz não passava de um sussurro – Você e Jacob estão namorando agora?

— Sim, há quase dois meses – respondi – Acho que estamos em uma fase das nossas vidas onde não há espaço para o outro. Você quer ser enturmado com seus novos amigos e eu seria apenas a garota da literatura que não conseguiu um curso melhor e você... você é o tipo de cara que eu não quero ter por perto, não se esse for o novo você.

— É isso que você quer? Me afastar da sua vida como se não fôssemos nada demais e não fôssemos partes importantes um na vida do outro?

— Não queria, mas foi você quem decidiu.

— Somos amigos por quatro anos. A porra de quatro anos Isabella, não são 4 meses, nem 4 semanas ou 4 dias, você vai mesmo me afastar por uma coisa idiota que eu disse quando estava bêbado?

— Não Edward, você me afastou quando foi um idiota tentando se aparecer para seus amigos, eu só estou tentando me proteger – levantei os ombros como quem pede desculpa – Acho que agora, para nós, foi um xeque-mate.

— Não, isso foi apenas um xeque – respondeu.

Não lhe dei uma resposta, apenas sorri e lhe dei as costas saindo dali. Seria melhor assim.

[...]

— Parabéns minha abelhinha, eu estou tão orgulhoso de você – Charlie me abraçou enquanto Renée estava chorosa demais para falar algo – Nem acredito que você finalmente se formou.

— Minha bebê agora é uma adulta – minha mãe limpava uma lágrima do olho – Estou tão feliz por você.

— Obrigada mãe – agradeci.

Eu estava radiante. Rosalie veio para minha formatura, Alice estava aqui, Emmett também e como Jasper também havia se formado, estávamos todos juntos e sua família estava aqui junto com a minha. Jacob também estava.

— Cadê aquele seu amigo bonitão, o Edward? – Renée questionou.

O silêncio que se instaurou entre nós foi constrangedor. Nenhum dos meus amigos soube o que falar, o sorriso no meu rosto morreu e Jacob se mexeu desconfortável, ele não gostava de Edward e imagino que gostaria menos ainda se soubesse de tudo que já aconteceu entre nós. Especialmente do fato de que Edward e eu transávamos todas as noites, mesmo eu e Jacob nos encontrando e ficando ocasionalmente.

— Ele está de plantão no hospital – Jasper foi mais rápido em formular uma resposta e eu fiquei grata por isso. Não sei se eu teria uma resposta.

— Melhor assim, não sei se eu vou com a cara daquele garoto – Charlie falou mexendo seu espesso bigode fazendo Jacob abrir um largo sorriso.

Ao contrário de Edward, Charlie era apaixonado por Jacob e os dois já eram melhores amigos, viviam conversando por telefone e Skype.

Sussurrei um ‘obrigada’ para Jasper que respondeu com um ‘de nada’ igualmente silencioso.

A noite estava demais para mim. Eu estava muito feliz, porém sentia que faltava uma parte de mim e eu sabia bem que parte era essa. Edward faltava aqui. Ele foi a primeira pessoa que conheci, meu melhor amigo, a primeira pessoa que me apaixonei de verdade, por muito tempo, Edward foi meu ponto de paz e equilíbrio, mas agora nós sequer nos falávamos. Em todos os meus anos na Dartmouth, nunca imaginei que na minha formatura, não teria meu melhor amigo ao meu lado.

Pedi licença e disse que iria ao banheiro, mas na verdade fui para o lado de fora do anfiteatro onde ocorria a cerimônia de colação de grau dos formandos. Precisava pegar um pouco de ar.

Me sentei em um dos bancos externos que tinham ali. Eu gostava de Jacob, mas algumas coisas nele simplesmente me irritavam, como por exemplo ele nunca notar alguma mudança em mim. Eu tingi meu cabelo de vermelho e ele sequer notou. Tá, do rosa pro vermelho era uma mudança não exatamente drástica, mas ainda era uma mudança e eu cortei, agora ele está no meio das minhas costas e ele também não notou ou se notou, nada disse. Era irritante.

— Uma moeda por seus pensamentos? – ergui o olhar para a voz familiar.

Não acreditei quando vi Edward ali, parado em minha frente. Ele estava todo de branco, usando jaleco e o crachá do hospital. Jasper não estava mentindo apenas para ter uma desculpa, ele estava mesmo de plantão hoje.

— Não é anti-higiênico usar jaleco fora do hospital? – foi a única frase que meu cérebro conseguiu formular.

— Oh merda, é verdade – ele se apressou tirando o jaleco e dobrando=o de qualquer jeito – Eu saí apressado e esqueci que estava usando.

— O que faz aqui?

— Não achou que eu perderia sua formatura, achou? – um amplo sorriso moldava seus lábios – Não perderia isso por nada no mundo, ruiva – piscou pra mim – Parece que você estava certa quando dizia que tinha inveja do meu cabelo ruivo, hein?! – brincou.

Mordi o lábio contendo o riso. Mesmo estando a noite, a iluminação estando ruim, Edward notou meu cabelo, ele sempre nota.

— Eu quis parecer mais séria na minha formatura, não acho que o cabelo rosa ia ajudar com isso.

— Não, mas seria ótimo de se ver, aliás, por que você cortou seu cabelo?

Fiz uma careta frente a sua observação.

— Queria parecer mais velha, mas não adiantou muito, continuo parecendo ridiculamente nova. Só joguei fora meu cabelo.

— Continua linda como o inferno – a intensidade em sua entonação não me surpreendeu. Edward é sempre intenso, tudo com ele é mais intenso – Continua a garota mais linda dessa universidade inteira.

— Você não estava de plantão?

— Consegui uma hora de descanso... talvez eu tenha que cobrir o plantão de alguém por isso, mas vale a pena, não perderia sua noite por nada no mundo. Se eu estivesse em Londres inventaria o teletransporte se preciso fosse.   

Não me aguentei, joguei meus braços ao seu redor prendendo-o em um abraço. Eu senti tanta falta dele, sempre soube o quanto sua ausência me machucava, mas agora, com ele aqui, é como se tivesse jogado sal nas minhas feridas e eu estivesse bem consciente da dor.

— Me desculpe por ter sido um idiota, você é a pessoa mais importante da minha vida, foi uma merda te perder, eu não quero te ter fora da minha vida, nunca – ele falou enquanto afundava o rosto na curva do meu pescoço.

— Eu te desculpo, eu sempre desculpo – repeti o que digo a ele toda vez que ele faz uma besteira.

— Eu amo você Bella, amo de verdade, não saberia viver sem você.

Isso é o que eu sempre quis ouvir dele, mas sempre me recusei a admitir isso a mim mesma. O problema é que eu não sei se ele dizia isso como amigo ou como mais do que isso, mas do jeito que fosse, eu aceitava, pois, precisava disso.

— Eu também amo você, Edward. Por favor, não seja um idiota, eu não quero ficar longe de você de novo.

— Não serei – prometeu me abraçando mais forte me mantendo refém dos seus braços até me soltar novamente e segurar minha mão – Vamos? Acho que já deve ter começado a cerimônia.

— Ano que vem é você que se forma, 2015 será um ano produtivo – refleti.

Edward estendeu seu braço curado para mim e enganchei meu braço no dele. Entramos no anfiteatro assim, de braços dados. Alice foi a primeira a nos ver cutucando Rosalie, Emmett e Jasper. Os quatro abriram um sorrisinho, Jacob quando nos viu, fechou a cara, mas nada disse já que não gostava de fazer uma cena.

A cerimônia da colação de grau ocorreu como o previsto e quando chamaram meu nome para eu buscar meu diploma, minha família inteira aplaudiu, mas ninguém me aplaudiu como Edward. Não vou mentir, a presença dele aqui foi algo maravilhoso e tornou minha noite muito mais especial do que deveria ser. Minha mãe adorou Edward e meu pai foi abrigado a admitir que ele não era das piores pessoas, mas durou pouco pois ele teve que voltar para o hospital, mas as uma hora que ele pode ficar, foi com certeza a melhor hora da noite.

[...]

Eu esperei um semestre inteiro para conseguir ser aprovada no mestrado em literatura inglesa e isso aconteceu apenas no segundo semestre de 2015, mas quando fui aprovada, a primeira coisa que fiz foi correr para a casa de Edward, eu tinha que contar isso a ele pois ele estava tão ansioso quanto eu por esse resultado.

Bati na sua porta de forma frenética. Eu estava ansiosa demais para esperar.

— Mas que porra é... Bella? – Edward pareceu surpreso em me ver ali.

— Eu tenho uma novidade – falei animada entrando em seu apartamento.

— Que surpresa, eu não sabia que você viria – ele estava nervoso e olhava o tempo todo para a porta do seu quarto – Qual é a novidade?

— Saiu o resultado do mestrado, eu fui aprovada. Eu vou mesmo me especializar em literatura inglesa.

— Bella, isso é ótimo – seu rosto se iluminou – Parabéns ruiva, eu sempre soube que você conseguiria, isso é maravilhoso, você é maravilhosa – ele me abraçou me puxando para sentar em seu colo.

— Rosalie e eu fomos aprovadas, vamos fazer o mestrado juntas – falei me sentindo fraca por estar tão próxima dele.

Nesses últimos seis meses, a comunicação entre Edward e eu tem sido melhor, voltamos a ser amigos e eu consegui um emprego na biblioteca da universidade para ter com me sustentar enquanto esperava o resultado do mestrado. Jacob e eu ainda namorávamos, mas ele também estava bastante atarefado com a própria especialização dele e eu devia ter o procurado para ser a primeira pessoa para contar a novidade, mas ao invés disso, eu vim até aqui procurar por Edward e estava sentada em seu colo, com seus braços ao meu redor.

Fechei os olhos respirando fundo. Isso é errado, é um caminho imprudente e traiçoeiro, mas eu gosto. Gosto de ter seus braços ao meu redor, gosto de o ter assim tão perto, gosto da sensação de formigamento de quando ele beija meu rosto exatamente como está fazendo agora. Edward ecoa em minha mente e todas as lembranças de nós dois estão vívidas em minha mente.

Passeis meus braços ao redor do seu pescoço, me permitindo sentir seus lábios em minha face, mas sua boca foi descendo até chegar em meu pescoço, todos os pelos do meu corpo se eriçaram e eu deveria entrar em estado de alerta, mas ao invés disso, estava em estado de letargia, mesmo sabendo que o que fazíamos é errado.

— Edward... – falei fraca tentando recobrar o juízo.

Tinha que pensar em Jacob. Ele ainda é meu namorado, ele é um cara legal e merece respeito.

— Edward – uma voz feminina que não era minha chamou – Você não vai voltar pro quar... – ela se interrompeu ao me ver – Oi Bella, que surpresa super agradável te ter aqui – ironizou.

Minha boca se abriu em surpresa ao ver Tanya enrolada em um lençol, mas não qualquer lençol, o lençol que dei a Edward no dia de ação de graças pois tinha uma estampas do telefone vermelho que se encontram em Londres pois foi num mês que ele se queixava de estar com saudades de casa.

Levantei do colo dele num pulo e não tinha como me sentir mais idiota. Claro que ele estaria com Tanya, eles estavam há meses se encontrando mais frequentemente graças ao hospital. Tanya estuda enfermagem e estava residindo no mesmo hospital. Apesar de eles serem envolvidos há uns dois anos, ainda era surpresa para mim a ver aqui, com ele, na casa dele, dormindo na cama dele, na mesma cama onde passávamos madrugadas... balancei a cabeça para afastar essas lembranças.

— Querido, quando você vai voltar para a cama? Estava tão bom com você, estávamos nos divertindo tanto – falou se esfregando nele até sentar em seu colo – Vai ficar conosco, Bella?

— N-Não – gaguejei – Eu tenho que ir, foi bom falar com vocês.

— Poxa que pena – ela beijou Edward nos lábios – Te espero na cama amor, não demora.

Não fiquei para presenciar a cena, corri até a porta destrancando-a para sair dali.

— Ei, Bella – Edward veio atrás de mim no corredor que dava até o elevador – Tanya... nós...

— Você não precisa me explicar – o interrompi – Você é livre para estar com quem te faz feliz. Eu só quis dizer que fui aprovada e já disse, agora eu tenho que falar com a Rose e mais tarde vou me encontrar com Jacob, eu tenho que ir.

Não esperei por sua resposta, apenas saí dali o mais rápido que pude.

[...]

Pra mim já estava demais, eu estava no meu limite. A minha relação com Jacob estava indo cada vez pior, mal conversávamos e o sexo que entre nós que já não era grande coisa, estava cada vez pior e eu sabia o motivo. Eu ainda era perdidamente apaixonada por Edward e o fato de nossa amizade estar cada vez mais sólida não ajudava muito a minha situação. Então por isso, decidi terminar com Jacob.

Eu precisava fazer isso e precisava conversa com Edward, precisava saber se ele sente o mesmo por mim e mesmo que ele não sinta, ao menos eu falo como me sinto, isso está me sufocando e Rosalie tem razão, eu não posso mais guardar isso apenas para mim.

Fiz isso hoje, terminei com Jacob e não foi fácil, ele literalmente se ajoelhou e implorou para que eu não o deixasse pois ele me amava. A primeira vez que ele diz que me ama e foi numa situação dessa, mas não tinha jeito, eu já estava decidida.

A semana foi conturbada, mas o dia da colação de grau de Edward chegou, ele estava ocupado pois iria buscar os pais no aeroporto, eles viriam para prestigiar o filho. Edward teve um final de semestre conturbado, mas finalmente o dia de sua formatura chegou.

Edward me apresentou para seus pais e eles são incríveis, adorei conhece-los e foram super simpáticos comigo. Esme não parava de dizer o quanto ela tinha adorado finalmente me conhecer após anos de Edward falando sem parar sobre mim. Estava tudo muito agradável até Tanya chegar. Óbvio que ela viria pronta para chamar atenção usando um vestido vermelho justo o suficiente para se tornar impróprio para a ocasião e com um decote bem chamativo. O batom vermelho sangue em seus lábios combinavam com o vestido e eu me questionava como ela conseguia se equilibrar em saltos tão altos assim.

— Mãe, pai eu quero que vocês conheçam Tanya, a minha namorada – Edward falou abraçando Tanya pela cintura.

Toda minha animação e empolgação para essa noite foi embora no exato momento que ele abriu a boca para proferir essas palavras. Edward olhou para mim de canto de olho e percebeu que que fiquei triste de repente, mas tratei de pôr um sorriso no rosto.

Esme olhava para Tanya e deu um sorriso sem graça, Carlisle fez o mesmo, eles não pareciam nada animados com a escolha do filho e isso me deixou de certa forma feliz. Pedi licença e fui lá para fora tomar um ar.

Estava me sentindo exatamente como me senti no dia em que me formei, aquela sensação péssima de ter perdido Edward de vez, mas agora eu sentia que tinha mesmo o perdido. Tive que me controlar para não deixar a tristeza me dominar, não era justo ficar com os holofotes para mim em sua noite. Eu não era egoísta a este ponto.

— Uma moeda por seus pensamentos? – sorri ao ouvir a voz de Edward atrás de mim.

— Me sinto como no dia que me formei – confessei em voz baixa.

— Por que você está triste? – ele foi direto em perguntar.

Edward caminhou até o banco em que eu estava sentando-se ao meu lado. Permaneci olhando para baixo. Tinha tanta coisa que eu queria falar, mas nada disse. Não sei se eu tinha o direito de falar algo agora. Tudo entre nós sempre foi um grande desencontro, parece que nunca acertamos o timing certo, quando caminha pra um, para pro outro e isso está ficando cansativo e é mais cansativo ainda não saber se eu estou me iludindo sentindo tudo isso sozinha ou se ele sente o mesmo. É exaustivo.

— Bella? – ele segurou minha mão e a com a outra mão, ergueu meu queixo me fazendo olhá-lo – Por que você está triste?

— Eu terminei com Jacob essa semana – falei o que aconteceu e não o que estava me deixando triste – Eu nunca o amei, meu coração sempre foi de outra pessoa.

— Tá de brincadeira, não está? – perguntou sério – Por que não me contou isso antes? Bella, esse é o tipo de coisa que você devia ter me contado.   

— Por que? Que diferença faria?

— Toda diferença – ele correu a mão pelo cabelo nervosamente – Isso faria toda diferença, Bella. Eu pedi Tanya em namoro porque achei que tinha te perdido de vez, porque você parecia feliz com o imbecil do Jacob, porque eu achei que você não me amava, aliás, eu ainda não sei disso, mas não é possível que você não sinta algo por mim, não acredito que você tenha fingido tudo que vivemos – falou atônito.

Prendi a respiração ao ouvir suas palavras.

— Droga Bella, eu chamei Tanya para morar comigo porque eu já tinha aceitado a ideia de que eu jamais te teria para mim e agora você está solteira e eu... – Edward não continuou sua frase.

Soltou sua mão da minha e esfregou as duas mãos no rosto.

— Você a ama? – foi tudo o que eu consegui perguntar.

— Não Bella, eu amo você. Você. Quantas vezes mais eu preciso dizer que te amo pra você entender isso?

— Mas você gosta dela?

Sua boca abriu e fechou algumas vezes e nada saiu. Essa foi minha resposta.

— Você me ama, mas gosta dela. Isso é... não sei, mas é algo – balancei a cabeça – Eu amo você Edward, acho que sempre amei, não sei porque ficamos tanto tempo separados...

— Por sua culpa – acusou – Você me afastou todas as vezes que eu tentei em aproximar. Você sempre vinha com essa história de que éramos apenas amigos. Eu te perguntei milhões de vezes se você tinha certeza disso e você estava sempre tão certa disso e que queria ser apenas minha amiga. Eu não te forçaria a algo que não quer. Eu sou seu desde o momento em que você esbarrou em mim no primeiro dia de aula, lá em 2010. Eu sou seu desde o momento em que você caiu no chão e esfregou sua bunda dizendo ‘ouch, essa doeu’ – falou repetindo minha fala – Mas eu queria que você fosse minha por escolha própria, não porque eu influenciei qualquer uma das suas escolhas. Eu chamei Tanya para morar comigo pois eu estava cansado de esperar para que um dia você sentisse por mim o que eu sentia por você. Eu resolvi me dar a chance de viver e ser feliz, não tanto quanto seria se estivéssemos juntos, mas eu também merecia isso.

— Eu acho que eu sempre te amei, você nunca foi só meu melhor amigo, sempre foi mais do que isso, mas era difícil admitir isso – confessei – Acho que se eu pudesse voltar no tempo e dizer para a eu de 18 anos fazer algumas coisas diferentes, eu teria dito. Mas acho que agora é tarde – suspirei.

— Eu te amo Bella, mas não posso fazer isso com Tanya, ela acabou de se mudar para minha casa, eu a pedi em namoro está com três dias...-

— Você não precisa se explicar – o interrompi – Eu entendo, não seria justo com você e nem com ela, eu não sou mesquinha a esse ponto – sorri ficando de pé e estendendo meu braço sobrado para ele, assim como ele fez comigo em minha formatura – Acho que a cerimônia já vai começar, vamos?

Ele respirou fundo esfregando o rosto. Olhou para o outro lado, seu rosto estava vermelho e seus olhos estavam em uma profunda tristeza e refletia como eu me sentia, mas me recusava a desabar agora, era a noite dele e eu não arruinaria isso pra ele. Não mais do que já arruinei.

Após alguns minutos em silêncio, Edward aceitou meu braço que ainda estava erguido para ele, caminhamos em silêncio até o anfiteatro, nenhum de nós tinha mais nada a dizer, tudo já tinha sido dito.

A cerimônia foi linda e quando chamaram o nome dele para pegar seu diploma, o aplaudi de pé. Eu estive com ele durante o caminho e sei o quanto ele se esforçou para conseguir se formar, ele merece todo sucesso do mundo e todo o aplauso que está recebendo jamais será suficiente.

Ao final da cerimônia, decidi ir para casa, deixaria Edward e os pais dele aproveitaram o tempo deles, mesmo ele insistindo muito para que eu fosse com eles. Eu adoraria ter ido, mas não me sentia bem indo com Tanya lá. Ela é a namorada e agora companheira dele. Ele está certo, ele merece tentar ser feliz e eu não ficaria no caminho.

— Me desculpe – Edward sussurrou para mim.

Seus olhos se desviaram para onde Tanya estava ignorando os pais dele e extremamente preocupada em tirar boas selfies.

— Você não precisa se desculpar, você tinha razão, você tinha que se dar sua própria felicidade e nós ainda somos amigos, não somos?

— É a única coisa sólida na minha vida – ele sorriu tristemente e em seguida segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos – Por favor, não saia da minha vida, eu sempre falei sério quando disse que não saberia viver sem ter você.

— Você me tem Edward, sempre teve – sorri apertando nossas mãos juntas.

— Me desculpe, de novo.

— Não precisa se desculpar, mas se precisasse, saberia que eu iria desculpar – estiquei meus braços envolvendo-o em um abraço e sentindo ele retribuir – Eu sempre desculpo.   

Naquela noite, engolindo qualquer vontade de chorar que me acometesse e toda minha tristeza, sorri e me despedi dele e da sua família lhes desejando uma ótima estadia nos Estados Unidos. Apenas quando cheguei em casa que me permiti chorar tudo o que eu tinha para chorar.

Dentre tudo, o que mais me deixava miserável era saber que eu que sempre provoquei nosso distanciamento. Eu estive sempre tão preocupada em manter nossa amizade que afastei toda e qualquer chance que teríamos de termos sido felizes juntos por todos esses anos e constatar que eu fui a pessoa que o manteve longe quando ele queria estar perto... isso era dilacerante. Agora ele estava começando uma vida com outra pessoa quando devia ser eu.

Fechei os olhos me permitindo pôr pra fora toda a mágoa e ressentimento comigo mesma que eu estava sentindo. Eu espero que ele seja verdadeiramente feliz com ela, já que eu tive minha chance e pelo visto, sempre a joguei no lixo.  

Lembrei de uma vez em que brigamos e mais especificamente, lembrei do que ele me disse ‘Podemos ser só nós dois, diga e eu serei seu, Bella’. Tudo o que eu precisava era ter dito ‘seja meu’, mas na época eu era ingênua demais para entender que suas palavras sempre significaram mais. Acho que isso que está acontecendo agora, eu mereço e só tenho que me contentar com isso.

[...]

Eu acabei meu mestrado antes do prazo estipulado. Edward conseguiu fazer sua especialização também na Dartmouth, ele se especializava em cardiologia e estava animado com isso.

Apesar de termos prometido nos manter amigos, nosso distanciamento foi inevitável, a começar por mim que decidi seguir em frente e comecei a namorar um outro aluno de pós graduação, Mike Newton, ele e Edward não se davam muito bem e por conta disso, passamos a nos ver com menos frequência. Em seguida, Tanya também não parecia muito feliz com nossa amizade e por mais que Edward não falasse, eu sabia que ela o proibia de me ver.

Usei minha apatia e falta de ânimo como inspiração para a próxima cor do meu cabelo: preto. Agora meu cabelo não era mais castanho, não era azul, não era rosa e não era vermelho. Era preto, não dizem que preto é ausência de todas as cores? Isso reflete bem meu humor.

Estávamos em 2018 e nossas vidas foram se tornando cada vez mais ocupadas, eu estava no doutorado e Edward concluindo seu mestrado para poder ingressar no doutorado. Estávamos ocupados demais, com nossos estudos, nossas vidas particulares e cada vez menos tínhamos espaço um para o outro em nossas vidas, embora estivéssemos sempre em contato por mensagem. Éramos amigos e ele era alguém especial, especial o suficiente para eu me recusar a o ter fora da minha vida.

A última vez que falei com ele pessoalmente foi há duas semanas, fomos caminhar por Hanover e paramos em uma praça e nessa praça tinha uns tabuleiros de xadrez. Jogamos juntos e isso só me fez rir pois Edward aprendeu a jogar apenas porque eu gostei do jogo e ele queria me fazer companhia no jogo e acabou gostando. Surpreendentemente, ele ganhou a partida, mas o que me fez perder o ar foi o jeito que ele disse ‘xeque-mate, mas sendo honesto, eu diria que foi apenas xeque’. Era o termo comum para o jogo, mas de certa forma, eu senti como se houvesse algo mais. Algo que eu não estava sabendo identificar, mesmo que tudo apontasse para ser uma completa loucura pois ele e Tanya pareciam cada vez mais firmes, mesmo que você não visse amor entre os dois.

Agora mais madura e mais centrada, eu me recuso a simplesmente achar que isso é apenas mais uma coisa da minha cabeça. Ele realmente quis dizer algo, eu só não soube identificar o que era.

Alice sempre me perguntava sobre as minhas cores. Eu nunca tive resposta para ela, eu sempre a dizia que ainda não tinha conhecido o suficiente do amor para saber a resposta e ela sempre perguntava quando eu pararia de mentir para mim mesma.

Hoje é o dia que eu pararia de mentir para mim mesma, eu já conhecia o suficiente para saber que meu arco-íris não era completo, ele tinha quatro cores ao invés de sete. Como o azul e o anil são tons parecidos, vou substituir o anil pelo cinza.

 Não vou falar sobre Jacob ou sobre Mike, mas sim sobre Edward. Amá-lo foi rápido. Rápido como o vento, foi tão passional como o mais prazeroso dos pecados, mas tão rápido quando começou, rápido terminou... bom, não deixei de amá-lo, mas o que tivemos terminou tão rapidamente.

Próximo a cidade onde cresci, tem uma reserva indígena, os meninos da reserva tinham e ainda tem o costume de pular de um penhasco por diversão e é essa analogia que farei. Amar Edward é como pular desse penhasco, mas é como querer mudar de ideia e voltar atrás quando eu já estou em queda livre. Sim, amá-lo é intenso desta forma.

Quando eu finalmente percebi que o perdi de vez, esse foi o momento em que eu conheci o azul*. Eu nunca tinha notado como azul era uma cor triste até estar imersa em uma tristeza profunda. Era triste, sombrio e apesar de ser uma cor aparentemente 'viva', é uma cor tão gélida e foi assim que me senti ao constatar que jamais o teria para mim. Ao menos não do jeito que o queria.

Eu senti falta dele e de sua amizade todos os dias desde quando começamos a nos distanciar. Perceber que ele não era mais tão presente em minha vida e que estávamos constantemente sendo separados, seja por nossos parceiros ou pelos acontecimentos da vida fazia meu coração apertar. Essa foi a vez em que eu conheci o cinza. Sentir saudades de Edward era como um grande e sem graça cinza, escruto e triste. Não dá pra negar que não o ter por perto fazendo suas palhaçadas para me fazer rir, contando suas piadas ou apenas sendo ele mesmo era triste, era sem graça, assim como é o cinza. Quem fica feliz com o cinza? Ninguém pensa, 'nossa que cor bonita e animada, cinza vai ser minha cor favorita'. Ninguém faz isso, porque cinza é triste, cinza é sem vida, cinza não tem graça e é assim que são meus dias. Me sinto sozinha e triste mesmo quando estou com meu namorado pois Mike não é capaz de me fazer sentir do jeito que Edward faz.

Sabe aquela sensação que você tem de quando quer conhecer alguém que nunca conheceu antes? É meio desesperador, te deixa ansioso e você não sabe como agir ou o que falar. Você quer muito, mas não sabe como conseguir isso. Então, essa é a sensação que eu tive quando tentei o esquecer. Foi como se eu estivesse tentando conhecer alguém que eu nunca conheci. Talvez essa não seja minha melhor analogia, mas é a que melhor expressa como me senti.

A próxima cor que eu aceitei como minha era uma cor tão conhecida por mim: o verde. A primeira coisa na qual eu me apaixonei por Edward foi seus olhos. Eram o mais lindo, puro e único tom de verde. Seus olhos sempre foram muito cristalinos e brilhantes. Edward tem os olhos verdes mais únicos que já existiram e todo dia seus olhos me assombram pois eu lembro de como ele me olhava, da forma que seus olhos brilhavam após nos beijarmos, ao mesmo passo que transamos muitas vezes durante esses anos, também fizemos amor muitas outras vezes e toda vez que fazíamos amor, seus olhos tinham um brilho especial. Era o verde mais único e lindo e ninguém jamais teria a sorte de ter olhos tão lindos e únicos como os dele.

Como eu falei, meu arco-íris era composto por quatro cores. A quarta e última cor que eu conhecia e que eu aceitei como minha era o vermelho. O que falar sobre o vermelho? Vermelho é uma cor viva, intensa, vibrante. Vermelho é a cor da paixão e da raiva. Amar Edward era como o vermelho, intenso, vivo, vibrante e Edward era tudo isso, tudo nele era intenso, tudo com ele era intenso. Tudo que eu senti com ele era intensificado. Cada alegria, tristeza, raiva, amor, paixão, pena, compaixão, felicidade, amargura, tudo era mais intenso, tudo era vibrante, como o vermelho.

Eu não consigo pensar em uma cor que expresse melhor tudo o que eu sinto do que o vermelho. Acho que essa é a cor predominante no meu ‘arco-íris do amor’, como Alice gosta de chamar.  

Toda vez que fecho os olhos e lembro de Edward, as memórias e lembranças vem como doces e bem vindos flashbacks, como ecos em minha cabeça que repetem cada bom momento que eu tive com ele. Todas as vezes que ficamos nus deitados na cama fazendo planos para o futuro, cada vez que sua mão se entrelaçou com a minha e cada vez que ele me beijava, tão apaixonado e tão entregue.

Eu sempre digo a mim mesma que já é hora, preciso esquecer e seguir em frente, não posso ficar presa a um amor do passado que não tem futuro e que eu também preciso me dar uma chance de ser feliz sem esperar por algo que claramente não vai acontecer.

Contudo, seria uma grande mentira dita por mim a mim mesma dizer que amá-lo não foi o vermelho mais intenso que já conheci. Era um vermelho ardente, um tom difícil de esquecer. É por tudo que já vivemos, cada momento juntos, cada conversa, todas as vezes que dissemos 'eu te amo' sem realmente revelar o que essas palavras significavam, é pela amizade trêmula, errante e insegura que ainda temos e que lutamos tão arduamente para não ser esquecida, por cada mensagem que trocamos diariamente tentando se fazer presente um na vida do outro e por cada momento que desafiamos tudo e a desafiamos a ira dos nossos parceiros para nos vermos pessoalmente e é por lembrar de tudo, tudo estar tão vívido em minha mente que seguir em frente depois dele era impossível.

Como alguém consegue sentir em frente depois de conhecer o mais puro, errante e difícil amor? É algo que não acontece duas vezes na vida, é um amor que não vai embora, que não some e nem diminui, pelo contrário, a tendência é apenas crescer.

Mas ele sente o mesmo, seguir em frente pra ele depois de mim também é impossível, Edward sabe disso e é por saber disso que agora, em 2020, estamos em um sítio em Forks celebrando nosso casamento.

Edward estava no quarto ao lado do meu e agora, neste exato momento Alice, Rosalie e minha mãe estavam terminando de arrumar meu cabelo.

— Eu nunca conheci um casal tão devagar quanto vocês – Rosalie reclamava enquanto arrumava meu cabelo – Levaram 10 anos, 10 longos e torturantes anos para finalmente ficarem juntos, desses 10 só em 2 deles vocês ficaram efetivamente juntos como um casal e pra mim, vocês perderam 8 anos da vida de vocês por pura burrice, dos dois .

— Nisso eu tenho que concordar viu? – Renée concordou – Em 2018 eu já tinha desistido dos dois. Achei que já eram um caso perdido e abri mão.

— Eu também, mas a coisa mais engraça do mundo foi quando lá pra abril de 2018 Edward despirocou de vez das ideias e foi fazer escândalo na porta da Bella – Alice gargalhou – Ela achava que ele estava bêbado, mas ele estava sóbrio, ele não parava de gritar ‘eu nunca vou deixar de te amar, eu tentei te esquecer, mas não dá mais Bella, eu preciso saber, se você ainda me quiser eu serei seu, eu largo tudo, eu não me importo com nada, eu só quero você, fica comigo Bella, eu te imploro’.

— Ele já estava dentro do apartamento – Rosalie ria tanto que gargalhava – Era duas da manhã e ele estava gritando como se estivesse em um show e a música estivesse alta. Ninguém me avisou que ele não estava bêbado, então eu joguei água gelada na cara dele.

Ri com a recordação. No dia que Edward bateu em minha porta me implorando para ser sua, Rosalie e Alice estavam dormindo comigo em meu apartamento pois eu não queria ficar sozinha. Tomamos um susto com as batidas frenéticas em minha porta e ao ouvir sua voz, já que ele gritava pedindo para que eu abrisse a porta, chegamos a conclusão que ele estava bêbado. Coitado, ele só estava desesperado.

Ele não precisou falar duas vezes. No mesmo instante aceitei ser sua namorada. No dia seguinte, eu terminei com Mike e ele terminou com Tanya. Mike aceitou numa boa, bom, ele não ficou feliz e me falou algumas coisas desagradáveis, especialmente quando soube que eu estava terminando com ele para ficar com Edward, mas era tudo provocado pela raiva.

Tanya já não foi tão ‘tranquila’ quanto Mike. Ela avançou em cima de Edward o bateu, falou diversas coisas bem mais desagradáveis do que Mike me falara e ao descobrir que ele estava terminando com ela para ficar comigo, bom, aí que ela surtou de vez. Ela rasgou os documentos dele, o diploma dele, tacou fogo em suas roupas e deu uma boa de uma dor de cabeça para Edward, não com as roupas, mas com os documentos. Como ele é inglês, teve que voltar a Inglaterra para tirar tudo de novo. Por sorte, seu passaporte não estava ao alcance de Tanya para que ela o destruísse.

Desde então, temos sido inseparáveis, após um mês de namoro já estávamos morando juntos e foi como se nunca tivéssemos nos separado, como se nunca tivéssemos sofrido pelo distanciamento ou qualquer outra coisa. Tudo ficou no passado, na virada de 2019 para 2020 Edward me pediu em casamento.

Quando eu acabei meu doutorado e ele acabou o seu, alguns meses depois, nos mudamos para Seattle, Edward conseguiu um emprego como cardiologista no Hospital de Seattle e eu consegui um emprego como professora na Universidade de Washington lecionando literatura inglesa. Tive sorte, quando nos mudamos uma professora do departamento de letras se aposentou e abriram uma vaga. Eu não queria tentar pois estava com medo, mas Edward me incentivou e me apoiou e isso me deu confiança para me candidatar a vaga. Para minha surpresa, eu consegui.

Agora estávamos aqui, em Forks celebrando nosso casamento. É insano pensar as voltas que a vida dá.

— Ele foi fofo – falei por mim – Foi fofo da parte dele ir me procurar pois eu realmente já estava sufocada em guardar tudo para mim mesma.

— Descobriu suas cores? – Alice perguntou uma vez mais.

— Descobri quatro cores do meu arco-íris, uma delas eu substituí, mas teremos tempo para descobrir o que as outras cores significam – acariciei sua barriga de 7 meses – Mas você pelo visto já até transbordou em suas cores.

— Sim – concordou tocando sua barriga – Fique longe do violeta, ele significa filhos.

— Por favor, pule direto pro violeta – Renée pediu – Você já tem 28 e eu quero netos.

— Ok, ok, vamos logo pois tenho certeza que se demorarmos mais, Edward vai vir aqui bater na porta perguntando se a Bella desistiu de se casar com ele – Rose interrompeu.

— Vamos – concordei.

Levantei da cadeira em que estava sentada e fui até o espelho me olhar. Passei a mão por meu vestido e devo confessar que nunca me senti tão bonita ou radiante como estou me sentindo agora. Esperei uma década para que esse momento finalmente acontecesse. Esperei longos 8 anos para que Edward e eu finalmente ficássemos juntos, até hoje ainda tenho a impressão que estou sonhando e isso é surreal.

Respirei fundo e me apoiei em Charlie que me conduziria até o altar.

— Eu estou nervosa, não me deixe cair papai – pedi nervosa.

Charlie segurou meu braço com mais firmeza ao me dar um pequeno sorriso e beijar minha testa.

— Nunca filha, nunca.

Ver Edward parado no altar esperando por mim fez meu coração disparar. Ele estava ali, esperando por mim, começaríamos oficialmente nossa vida juntos, como deveria ter sido e como sempre foi pra ser. Dessa vez não tinha mais mal entendidos entre nós, não havia meias palavras, meias verdades. Era tudo claro como a água. Cada ‘eu te amo’ dito significava exatamente isso, dessa vez não ficava dúvidas. Era um ‘eu te amo’ de amigos e amantes.

Edward e eu ainda somos melhores amigos, mas também somos namorados, companheiros, amantes e daqui alguns minutos, marido e mulher. Isso sim era surpreendente.

— Você está sempre linda, mas puta que pariu, nesse exato momento você está tão linda que eu quero morrer – Edward sussurrou para mim quando meu pai me entregou a ele.

— Por favor não morra, eu quero minha lua de mel – sorri para ele.

Ficamos presos um no olhar do outro. Eu honestamente não ouvia o que o juiz de paz dizia. Apenas repeti o que ele me mandou repetir, Edward fez o mesmo e quando fizemos nossos votos, foi muito difícil segurar minhas lágrimas.

— É uma coisa extraordinária quando conhecemos alguém com quem podemos dividir a nossa alma. Quem nos aceita como somos. Eu esperei 10 anos para estar aqui vivendo esse momento com você, mas eu esperaria mais 10 se preciso fosse. Eu não tenho dúvidas que nascemos para ficarmos juntos. O tempo trouxe seu coração até mim e eu sei que começar algo novo pode ser assustador, mas não quando você está ao meu lado, então não tenha medo pois eu te amei quando coloquei meus olhos em você, te amei a cada segundo desses dez anos, mesmo quando estávamos longe, meu coração sempre foi seu e eu continuo te amando agora e vou te amar mais por mais mil anos. Nenhum espaço de tempo com você seria suficiente e é por isso que eu vou te amar para sempre, minha eterna bluebird – Edward fez seus votos.

Tenho certeza que agora minha maquiagem deve estar borrada.

Eu mal consegui fazer meus próprios votos, chorei tanto que gaguejei e parei pois não conseguia parar de corar, mas prometi lhe dizer mais tarde, quando estivesse mais calma. Quando o juiz de paz disse que poderíamos nos beijar, foi o melhor momento da minha vida.

Envolvi seu pescoço com meus braços e Edward me aconchegou em seu abraço. Eu sempre percebi como nossas bocas foram feitas para se encaixar. Na hora de colocar nossas alianças, Edward deslizou o anel beijando a joia em meu dedo em seguida.

— Então minha linda esposa, uma moeda por seus pensamentos? – Edward perguntou ao estender sua mão esquerda para que eu colocasse a aliança em seu dedo – Tem algo que queira dizer?

Pensei em tudo o que nos levou até esse momento e após muito pensar, tinha sim algo que eu queria dizer.

— Sim, tem algo que eu queria dizer e olha, eu acho que agora posso dizer que é oficial – falei segurando sua mão – Algo muito apropriado e que agora é pra valer. Envolve um pouco da nossa história e creio que nem você vai poder discordar de mim

— E o que seria?

Deslizei o anel por seu dedo vendo a peça brilhar simbolizando nossa união e em seguida, com um sorriso travesso no rosto olhei para ele.

— Xeque-mate.

F I M

 

*Pinky = mindinho, em inglês.

* Blue = em inglês, blue pode significar azul como também pode significar tristeza, então aqui (e na música original, red, o azul tem esses dois significados)


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Notas finais do capítulo

Não vou negar, as duas músicas que eu citei como inspiração meio que me dão essa vibe mais tristinha e de separação, mas ao mesmo tempo eu não conseguia ver meu casal longe, mesmo eles tendo sofrido separados.
Espero que tenham gostado.
Me digam nos comentários o que acharam, se o coração de vocês também se apertou e se vocês quiseram me bater por os deixar tanto tempo separados, rsrsrs.
Vocês também podem me acompanhar no twitter para saber quando vai me dar outro surto e eu vou escrever outra one ou acompanhar atualização das minhas outras histórias: @winterdxs
Bom, é isso, espero que tenham gostado ♥
09.04.2020