Immortality escrita por lisa gautier


Capítulo 10
Capítulo Nove


Notas iniciais do capítulo

Que alegria postar um novo capítulo!
Leitores, eu peço perdão, pois prometi que tentaria atualizar semanalmente. Fui surpreendida por uma má administração do tempo e uma grande falta de satisfação com os capítulos que já estavam apurados. E, infelizmente, quando bate a infelicidade com minhas escolhas de escrita, o que resta é reescrever até que eu tenha a confiança de postar. Desculpem, de verdade.
Espero que gostem desse capítulo.
Boa leitura!



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CAPÍTULO NOVE

 

Destino (in)completo

 

1922

 

— Veja, não é nada demais — a mulher loira sorriu, estalando os dedos ricos em anéis de ouro: faíscas voaram pelo ar, eletricidade arrepiando o homem de barba curta. Ele piscou, incrédulo: certamente, aquilo era efeito do uísque. Aquele maldito uísque do Nebraska! Ele mexeu a cabeça incrédulo e ela repetiu o truque, gargalhando conforme vermelhidão e descrença pincelavam o rosto dele. 

— Kate — a outra loira, sentada próxima a lareira da cabana, ralhou. — Pare de se exibir. 

— Pare de ser chata, Irina — Kate revirou os olhos. — Ele está bêbado, não se lembrará amanhã. 

— Por favor — o homem agarrou as mãos de Kate. Ela o olhou, surpresa. — Faça de novo. 

— É claro, querido — ela sorriu com gentileza, deslizando um dedo pela mandíbula barbada. Instantaneamente, ele suspirou em afeto. Kate mordeu o lábio inferior: adorava os pequenos prazeres humanos, a sensibilidade imensa daqueles corpos quentes. Mudou de ideia, correndo duas mãos pelo rosto do homem antes de puxá-lo para um beijo pouco decente. Ele gemeu, feliz e satisfeito de servir àquela succubus. 

Irina desviou o olhar da irmã, tornando a observar o rapaz ao seu lado. Joe, ele se chamava Joe. Era uma boa companhia, senão o melhor humano naquela cabana, mas estava muito cansado. Ele tentava permanecer acordado, piscando com força; a noitada, é claro, havia esgotado suas energias. 

— Talvez você queira dormir — ela sugeriu, tocando-lhe o braço. 

Eles estavam próximos do fogo, sentados em um tapete felpudo. 

— Estou bem. — mentiu ele, ajeitando a coluna. 

No sofá mais ao fundo, perto dos animais empalhados pendurados na parede, a terceira loira, de cabelos cacheados, se inclinava sobre o pescoço de uma mulher morena, sussurrando-lhe libertinagens ao pé da orelha. A humana tinha a pele bronzeada, ainda tendo o cheiro das praias californianas. Tanya aspirou aquele perfume, sentindo-se mais perto do sol do que estivera em 900 anos. Com um homem perdido nos lábios de Kate e o outro dormitando, Tanya afundou-se na mulher: segurou-lhe o queixo com firmeza antes de beijar-lhe a boca, fundindo calor e frio em uma sincronia perfeita. A humana respirava com dificuldade, altercando-se em seus próprios pensamentos. Queria tanto se aproximar mais daquela loira de olhos dourados, abraçá-la até o fim dos tempos se possível. Mas ela era dura e manteve a postura, conduzindo o contato. 

Um estouro seguiu-se de um líquido gelado. Uma garrafa de uísque caiu no chão enquanto Kate apertava o rapaz contra a mesa rudimentar, logo agarrando-o pela gravata e o puxando até o quartinho anexado. A cama rangeu levemente com a pressão surpresa de dois corpos. Irina encostou-se em Joe, aproveitando-se da quentura e das batidas suaves daquele coração: o rapaz cochilava já, a cabeça pendendo. 

Tanya esticou um braço, penetrando a saia da mulher em seu colo. 

E a porta de madeira grossa abriu-se sem gentilezas. Uma corrente de ar frio entrou assobiando enquanto neve pingava do casaco de pele do vampiro de cabelos pretos. Irina semicerrou os olhos. Kate, lentamente, deixou o homem no quarto e retornou à sala, ajeitando-se em um roupão de seda. Tanya parou qualquer movimento e se levantou, o olhar desconfiado. Nem todo o prazer do mundo apagaria o fato de que ela era a matriarca daquele clã.

— Eleazar? O que houve? — indagou Tanya.

— Desculpe interromper. — Eleazar sacudiu água dos cabelos negros. 

— Carmen está bem? — Kate franziu o cenho.

— Ah, sim. Não houve nada com nossa pequena família — ele tinha um leve sotaque espanhol, adicionando maior doçura e ritmo às suas palavras. — São os Cullen, eu receio. 

— Edward voltou. — disse Irina.

— Sim. — confirmou Eleazar. — Ele está sob controle, segundo Carlisle. Mas parece muito apático, escondido no quarto há mais de dias. 

— Um pouco de culpa nunca fez mal. — Tanya revirou os olhos, retornando ao sofá. Ela pousou uma mão no joelho da mulher. — Quem aqui nunca teve uma crise depressiva? Que exagero. Esse é o motivo da interrupção?

Tanya — Irina suspirou. — Seja mais empática, por favor.

— Não achamos que devamos ter essa conversa na frente deles — Eleazar murmurou. 

As irmãs se entreolharam, trocando expressões que variavam de preocupação à solidariedade e indiferença. Kate vestiu um longo casaco de couro, para disfarçar sua imunidade ao frio, e Tanya e Irina se cobriram de lã antes de alcançarem Eleazar no quintal da cabana. Neve caía em flocos finos. 

— Aparentemente, Edward rejeitou sangue humano. Expeliu tudo — comentou o homem hispânico. — Eu expliquei a eles que já vi isso acontecer antes. 

— Crises de moral são as piores. — concordou Irina.

Ela se lembrava da sensação. 

De quando se apaixonara por um jovem sul-africano, quando acreditava que o amor sem uma dieta ‘vegetariana’ seria o suficiente para manter o autocontrole. Eles estavam noivos e passavam os dias compartilhando toques cuidadosos. Ele ajeitava a vida para ser o companheiro eterno dela; preparava malas, dinheiro e arranjos para que seus pais, idosos, e irmã ficassem bem assistidos. E foi necessário apenas um ferimento superficial, um arranhão de uma faca enquanto cortava uma maçã, para que Irina lhe rasgasse a garganta. Ela memorava com rancor e vergonha do sabor doce do sangue, dele gritando de medo. E foi um frenesi. Ela não conseguiu largá-lo antes de sugar-lhe a vida inteira. Não houve como salvá-lo, apesar dela ter chorado muito do corpo e levado-o até as irmãs. 

E depois houve o expurgo. 

Irina não tolerou aquele sangue nem por uma hora antes de tremer em seus joelhos. Por dias, sentiu-se enjoada diante do cheiro da carne. Era um bloqueio mental, ela soubera depois. E, desde então, investira na caça de animais. Tanya e Irina, diante dos acontecimentos, a acompanharam naquela vida, encontrando o afeto carnal sem o sacrifício físico. 

— Mas Esme tem outras ideias — a voz de Eleazar despertou Irina de seu devaneio.

— A respeito da expurgação? É apenas uma depuração do corpo — disse Tanya. — Existe literatura a respeito disso. Sinceramente… 

— Edward tem uma esposa — interrompeu Eleazar. — Humana.

— Por que não transformá-la logo? — Kate arqueou as sobrancelhas. 

— Eles têm uma filha pequena — disse ele. — Vocês conheceram esse rapaz uma vez… Vocês sabem como ele tem esse guia moral. Ele achou mais apropriado se afastar e deixá-las terem uma vida normal. Porém, com uma dieta vegetariana, é possível se relacionar com humanos. Muito além das práticas de Carlisle, não é impossível confraternizar com os vivos…

— Transar? — Kate gargalhou. — Droga, Eleazar! Você quer dizer transar?

— Ele está tentando ser um cavalheiro — zombou Tanya.

— Porque você, Tanya, com certeza merece minhas cortesias — sibilou Eleazar. 

Tanya Denali sorriu de canto, mexendo os ombros.

— Depois você não entende porque a Carmen vive no meu quarto. 

— Tanya!

— Meu Deus do céu! 

Eleazar rosnou.

— Eu não compreendo, por tudo que há de mais sagrado, porque Tanya é a chefe desse clã — ele disse em fúria. — Ela age como se fosse adulta e depois parece uma criança incontrolável.

— Você está sugerindo um impeachment? — a sobrancelha direita de Tanya se envergou. — Uma destituição? Você realmente acha, Eleazar, que nossa moradia em Denali seria tão apaziguada se comprássemos qualquer conflito tolo? Me perdoe, meu querido, se eu não acho grave os dramas de um vampiro adolescente. 

— Claro, Tanya — ele disse com deboche. — Temos paz porque somos insensíveis, não porque mantemos relações boas com outros clãs. 

— Criança, você é uma criança, Eleazar — ela fechou os braços ao redor do suéter que usava. — Eu não vou desperdiçar mais um minuto nessa discussão. Eu não me importo se vocês querem consolar o garoto Cullen, mas essa história acabou para mim. Se sintam à vontade.

E Tanya retornou à cabana.

— Ignore Tanya, por favor — pediu Kate. 

— Esme, eu assumo, quer ajudar Edward a se reunir com a esposa? — Irina passou os dedos entre os cabelos.

— Ela acredita que com a ajuda de vocês será uma transição tranquila — disse Eleazar. — Ela teme que ele passe a eternidade sozinho.

— Se ela é a verdadeira companheira dele, a alma-gêmea… Se eles forem... — Irina fitou Eleazar com o cenho franzido. — Ela ainda deve sentir a ligação. O sofrimento que essa mulher deve estar enfrentando… 

E Irina compreendia, novamente.

Ela sabia o que era um destino interrompido, ela sentia aquela ardência no peito. Ela encontrava alguma tranquilidade nos braços de outros homens ou mulheres, mas se deparava com uma dificuldade imensa em sentir-se verdadeiramente conectada ao mundo. Era como uma dose de álcool, usado para um consolo momentâneo. 

— É debatível a existência de companheiros eternos — murmurou Kate.

— Não, não é — retrucou Irina. — Você sabe como eu me sinto.

— Sinto muito, sestra

— Onde eles estão, Eleazar? — Irina deu um passo forte.

 

[...]



Naquela noite abafada, Bella sonhou com Edward. 

Os olhos verdes, o toque cálido, a risada doce. Era uma lembrança distante, de quando eles se beijaram pela primeira vez. Ainda era a época de cortejo, com tantas formalidades e os olhos atentos das famílias; eles roubavam alguns toques, muito discretamente, quando dividiam o sofá. O roçar dos dedos, o acidental encostar de braços. Olhares sórdidos enquanto Bella preparava o chá. Sempre houvera uma tensão, um desespero mútuo. E, no final daquele verão, eles tiveram a liberdade de experimentar um momento “privado”: uma caminhada na praia sem a supervisão parental, mas sob o escrutínio do povo comum de Chicago. Ela andava pela areia, os sapatos nas mãos, e ele ia ao lado, usando uma daquelas belas camisetas pólo. Eles conversaram sobre amenidades, assuntos que realmente não importavam, mas que serviam para distrair da fome que compartilhavam: falaram sobre o clima, sobre golfe, sobre música clássica. Em meio a tantas distrações, tanto desconforto escondido, Edward planejou presentear Bella, no Natal, com um exemplar de Mansfield Park; ela amava Jane Austen. Eles descansaram no fundo da praia, longe das pessoas, perto da grama e rochas, quando a morena apresentou cansaço: a pele avermelhada, em brasas. Ele amava vê-la ruborizada e não pôde resistir senão pedir por um beijo. Ela aceitou sem titubear. E foi uma linda confusão de lábios, mãos e suspiros, o primeiro aprendizado de amantes. E também foi o início de um vício, de uma emoção única. Eles eram cárceres daquelas sensações e a saciedade, a honestidade do toque, vinha apenas deles

Bella acordou em uma perturbação: estava ofegante de saudade e mágoa, tocando com a ponta dos dedos no lado frio da cama. Ela se encolheu em sua própria solidão, engolindo a vontade de derramar algumas lágrimas. A evolução não era constante, ela sabia, mas não suportava aquele desejo de chorar até morrer. Ela não tinha direito aquele luxo, não quando tinha Nessie. Invés de encarar a própria tempestade, Bella escondeu-a no fundo do peito e se levantou. Tomou um banho. Abriu as janelas. Varreu a casa. Esquentou água. Tomou um café amargo. Acordou a filha. Preparou o desjejum. 

A babá chegou perto das 8 horas. Era uma moça franco-canadense, de meia-idade, que adorava crianças. Bella despediu-se, deixando o pagamento do dia e as refeições prontas, sabendo que a filha estava segura nas mãos da doce Terèse (que, sem dúvidas, seria menos crítica com Nessie que Renée e sua obsessão por peso). Rumou para o Hospital, usando um vestido verde. No serviço, colocou o novo uniforme branco. 

Fora uma manhã internamente silenciosa, preenchida pelo trabalho. Ela organizou as planilhas de atendimento dos pacientes, visitou os enfermos e supervisionou enquanto as estagiárias tiravam sangue. Aplicou alguns medicamentos. Conversou com o paciente terminal no final do corredor, ouvindo suas divagações sobre a morte. Almoçou rapidamente no meio-dia, mal engolindo enquanto um garoto chegava no Hospital após cair do cavalo. A equipe toda mobilizou-se, se empenhando no que seria o caso mais grave do dia. Era 16 horas quando Bella saiu do trabalho, tendo trabalhado 1h extra. 

— Parece que eu tenho uma guardiã agora — Bella afirmou enquanto atravessava a calçada do Hospital e encontrava Alice Brandon em um belíssimo conjunto vermelho. Alice sorriu de orelha a orelha e deslizou para o lado da amiga, enganchando o braço no dela.

Elas caminhavam juntas.

— Vi por aí que você estaria um pouco desanimada hoje — ela disse. — E quem, senão eu, para animar uma festa? 

Bella riu baixo. 

— Você não tem um marido para cuidar? 

— Ah, ele está ocupado — há poucos dias, Alice contara para Bella sobre o famoso loiro. Um caubói, com um sotaque sulista, e mais pose e sarcasmo que qualquer mulher pudesse resistir. Eles ainda se casariam, disse a baixinha, e Bella seria a madrinha, mas ainda havia muito para se desenvolver. Ele precisava conhecê-la, dissera Alice; ela já conhecia ele há meses.

— Onde você pretende morar depois do casamento? — elas atravessaram a faixa de pedestres. — Em um rancho no Texas? Como vamos nos comunicar assim?

— Sua bobinha — ela deu um tapinha no ar. — Eu nunca abandonaria você e muito menos as belezas de Chicago por gado e insetos. 

— Um homem do campo na cidade grande, então? 

— Eu realizo milagres, querida — ela fez um biquinho convencido.

— Não posso negar — anuiu Bella. — Como foi o trabalho hoje?

— Sem movimento, como eu havia previsto — ela disse. — O seu paciente vai ficar bem, aliás. O garoto que caiu do alazão. Ele deve ter cuidado com obstruções intestinais, contudo. 

Bella arregalou os olhos.

— Alice!

— Eu sou quase onipresente.

— Estou notando.

— Enfim — ela deu uma piscadela. — O que você acha de ir ao teatro? Srta. Veronica & Sua Fabulosa Banda ainda estão na cidade.

— Não sou muito de apresentações burlescas — admitiu Bella.

— Eles são ótimos, eu prometo! — ela vibrou. — O ouverture, o primeiro ato é fantástico. Os vestidos, ah Bella, você precisa assistir! É tanto brilho, tanto ouro que eu… 

Como se fosse uma máquina travando, Alice congelou no meio da calçada. Parou de funcionar. Bella tropeçou, sentindo o impacto daquele braço de ferro junto ao seu, e virou-se assustada, encontrando uma Alice confusa, com pálpebras tremendo:

Algo estava acontecendo.

Além do mundo concreto, a mulher de cabelos curtos via as decisões sendo tomadas. Primeiro, ela viu neve. Uma nevasca violenta e casacos de pele, um clã misto conversando. Mulheres louras entrando em um carro, um moreno na direção. E depois ela viu Bella Swan. Não a física, mas o que deveria ser dela. O futuro. Cabelos compridos, relaxada com as mãos nos bolsos da calça, olhos cor de mel. E ao lado, um vampiro de cabelos acobreados, sorrindo. 

— Alice? — Bella estava alarmada, a voz desesperada. — Você está bem?

Alice piscou com força.

— Desculpe, Bella — ela examinou o braço da amiga. — Você está machucada?

— Não, não — ela mexeu a cabeça. — Não foi nada demais, apenas estou preocupada com você.

— Ah! Não fique — Alice sorriu. —  Eu estou ótima. 

E logo você estará também


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Notas finais do capítulo

Apesar de eu adorar a Tanya, não resisti a ideia de tentar promover um arco de redenção para a Irina. O que vocês acharam?
Lisa x



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