Trono de Sal escrita por psalexxs


Capítulo 1
Prólogo




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 So I've hatched upon a plan, a scheme of dervish wit, a plot light to guide me through the caverns of our despair.

Os sons ao seu redor se tornavam mais altos à medida que os ânimos se exaltavam. Rei Vladimir gostava de espetáculos e nada melhor que uma reunião como esta para espalhar suas asas. 

“Não estamos chegando a lugar algum.” A voz de Rosalie mal chegava a um murmúrio, mas ela sabia pela leve inclinação da cabeça de seu irmão que ele havia compreendido. Eles estavam perdendo um precioso tempo.

“Senhores!” Jasper ergueu as mãos em um gesto apaziguador. “Precisamos manter nosso foco --”

“Nosso? Ou o seu foco? Um bebê que mal saiu das fraldas e agora quer governar todas as nossas terras. Uma afronta, eu digo!” A interrupção de Vladimir fora tão abrupta que surpreendeu os demais nobres.

Seis monarcas e seus acompanhantes se dispunham na mesa retangular obedecendo uma ordem arcaica. Príncipe Hale, das terras fluviais, se sentava à cabeceira, já que havia convocado o conselho, com a Princesa Rosalie, sua irmã, ao seu lado direito. Ao lado dela estava o Príncipe Cullen, dos extensos bosques de Forks, representava o pai, Rei Carlisle, o qual a mulher estava lentamente padecendo da febre que assolou parte dos seus territórios semanas atrás. O Rei Eleazer, com seus cabelos brancos e suas terras cobertas de neve, sentava-se ao lado de Jasper. Um homem o qual os anos roubaram a capacidade de luta, mas sua mente permanecia afiada como uma navalha, passara o comando das tropas ao marido da filha, Garrett, visto que nunca teve filhos seus.

Riverland, Forks e White Coasts eram aliadas há séculos, permutando seus produtos e trazendo prosperidade para suas cidades. Rei Eleazer e Príncipe Edward conheceram os planos dos irmãos antes desta reunião acontecer, e, como uma unidade, estabeleceram um acordo. O continente, no entanto, era formado por seis reinos, e sem o apoio de pelo menos mais um deles o sucesso desta aliança seria impossível.

Os olhos de Rosalie faiscaram ao mirar o homem velho e fraco que detinha a região central do país. Suas terras não eram as mais férteis, nem as mais extensas, mas as estradas mais curtas perpassavam suas cidades, motivando-lhe a estufar o peito e esbanjar ajudas. Ele estava menos sujeito a ameaça que todos enfrentavam. 

“Porque você está fazendo um ótimo trabalho como governante, realmente.” Sarcasmo não é como lidamos com outros reis, Rose quase podia ouvir a voz de Jasper em sua cabeça, mas ela simplesmente não podia evitar. 

O orgulho e o poder do Rei Vladimir eram baseados em vitórias ancestrais, conquistas da era do estanho e batalhas as quais ele sequer participou em pessoa. Chamá-los de bebês era uma mensagem clara. Eles eram novos, sentavam-se no trono há menos de um ano, após a triste morte do Rei, mas isso não significava que eram inexperientes. 

Jasper assistira sua primeira batalha quando tinha onze anos e foi autorizado a participar aos catorze. Aos dezesseis, já comandava sua própria legião, mas ninguém nunca duvidou dele, era seu destino. Rosalie fora a verdadeira surpresa ao receber um treinamento que só era dado aos homens. Quando criança, seu pai percebeu, durante uma brincadeira, sua mira impecável e então a profecia fez sentido. Ela fora treinada como seu irmão, assistiu as mesmas batalhas que ele e quando chegou aos seus quinze anos, participou da vanguarda pela primeira vez. Um dos últimos atos militares de seu pai fora dar-lhe sua própria legião. Uma mulher, uma princesa, comandando tropas, a reação dos outros foi rir, mas apenas durou até a primeira batalha dos irmãos, juntos, comandantes dos seus próprios exércitos. 

“Já chega!” As mãos ossudas do Rei bateram contra o tampo de madeira, fazendo as taças saltarem. Seu rosto estava vermelho de raiva e vergonha. “Morda sua língua antes de falar comigo, princesinha.” O tom de desprezo em sua voz a colocou de pé em um segundo.

Ela percebeu, pela visão periférica, que Jasper também estava sobre seus pés, os punhos fechados como os dela. A sintonia deles era absoluta, a maior razão pelas quais eles não perderam uma batalha sequer – até agora.

Uma risada quase animalesca interrompeu o contato visual e todos os olhos se focaram no enorme homem sentado ao lado de Garrett e seu pequenino tradutor. Emmett, o Senhor das planícies, como ele ficou conhecido mesmo desprezando títulos, riu abertamente ao receber a tradução dos últimos acontecimentos. Os Mactus tinham uma cultura particular, diziam ser descendentes do deus Macturr, domadores de feras, possuidores da natureza. Sua língua era a mais antiga e não sofreu variação ao longo das décadas, sendo composta com ruídos e grunhidos ocasionais além de palavras. 

Ao observar todos os olhos nele, Emmett simplesmente gesticulou para que a conversa fosse continuada, embora seus lábios sob a barba ainda estivessem repuxados em um sorriso. Sua aparência era rude, não havia outra palavra para descrevê-lo. Em contraste com os outros reis vestidos em ricos tecidos e cores vibrantes, ele parecia cru em seu colete de couro e calça grosseira. Suas cicatrizes de batalha transpareciam mesmo a distância, mostrando a superioridade dos Mactus na pele. Ele gesticulou mais enfaticamente uma vez, assustando o recluso Rei Amun.

Amun era o menos interessado em qualquer coisa que envolvesse contato. Seu reino cobria parte da costa e, afora por trocas comerciais, não fazia questão de interagir com os demais. Suas forças militares terrestres eram mínimas, mas ele criava guerreiros especialistas, homens com habilidades únicas e discrição sem iguais, podiam entrar e sair dos reinos, deixando uma carnificina pra trás sem sequer serem reconhecidos. Em uma guerra, onde se precisava de grandes quantidades, Amun não era o mais fundamental, mas ainda sim, seu apoio seria útil.

“Seria prudente fazermos uma pausa.” Rei Eleazer anunciou, já se levantando e quando os demais seguiram seu caminho, Jasper ofereceu o braço à irmã.

A reunião e também tentativa de formação de um conselho estava acontecendo em um castelo menor, na divisa entre três diferentes reinos, um terreno razoavelmente neutro. O homem era vassalo de Carlisle, pai de Edward e um rei leal até os ossos, alguém o qual ninguém, nem mesmo Vladimir, ousaria questionar. 

Rosalie escorregou em uma das grandes almofadas no momento em que a porta do aposento foi fechada, preparando-se para toda a comoção que aconteceria logo. Uma união como aquela nunca tinha sido vista, nunca sequer havia sido proposta e havia uma razão para tal: nenhum rei gosta de se submeter. Os domínios de um rei não deveriam ser questionados por ações políticas, ela aprendera na infância, mas agora qualquer ameaça continental seria ridícula se comparada aos invasores que chegaram à costa semanas atrás. 

Ela fechou seus olhos quando os representantes dos três reinos aliados se acomodaram e a chuva de possibilidades e indagações começou. 

“Rei Vladimir não vai se render, ele gosta do joguinho de poder, sempre gostou.” Garrett reclamou, ela podia ouvir a bebida ser despejada em uma taça, o cheiro doce do vinho se espalhando.

“Ele não pode lutar sozinho, pai.” Khai comentou, a voz estranha. O filho de Garrett e Kate estava naquela fase onde as famosas mudanças acontecem. Seu rosto tinha pelos crescendo em tamanhos irregulares e lugares aleatórios, ele crescera quinze centímetros pelo menos desde a última vez que Rosalie o tinha visto e agora estava espichado. Eleazer queria deixá-lo preparado para assumir as tropas quando seu pai precisasse ser rei.

“Ele não tem a intenção de lutar. Em sua cabeça, está protegido dos nórdicos, lutaremos com eles antes que acessem suas terras.” Eleazer esclareceu pacientemente. 

“Bom --” O garoto remoeu por um tempo. “ele parece fazer sentido pra mim.”

“E faz.” Edward falou pela primeira vez. “Mas não se sustenta um reino sozinho. Ele precisa de comida, metais, artigos de vestuário e maquinário. Vladimir é teimoso, mas não é estúpido, sabe que precisa de alianças mínimas.”

A loira teve que conter um bufo, considerava Vladimir muito estúpido sim, e adoraria transpassar uma flecha no corpo molenga dele.

“Sem uma aliança sólida estaremos expostos.” A preocupação na voz de Jasper a fez abrir os olhos. O peso da coroa cobrava seu preço, sempre.

“Rei Vladimir não recusaria uma proposta de casamento.” Garrett sugeriu divertidamente e os gêmeos franziram a testa.

Nenhuma das esposas de Vladimir tinha durado mais de uma década e, até então, ele havia tido quatro. A última lhe dera filhos mirrados que não resistiram ao primeiro ano, sangrando até a morte em sua cama durante o último parto. 

Edward recostou no espaldar de madeira, erguendo suas sobrancelhas para Rosalie. “Então ele é um melhor partido que eu?”

A pergunta dele a fez revirar os olhos, mas instalou um clima de extroversão, ao menos. Rosalie tinha sido prometida a Edward quando bebê, uma tentativa permanente de união entre reinos tão próximos, mas ao chegar à adolescência ficou claro que eles se irritariam mutuamente até a exaustão. O casamento foi desfeito em um jantar, entre risadas e muitas tentativas de ambos os reis de fazer seus filhos mudarem de ideia.

“Essa não é uma opção.” A voz de Jasper ecoou enfaticamente. “Preciso da minha irmã aqui enquanto puder mantê-la.”

“E você, Ed? Pronto pra ceder seus dotes a uma das filhas do Vladimir?” Garrett balançou suas sobrancelhas de um jeito francamente pervertido e Edward quase ficou verde de repulsa.

Até mesmo Eleazer, que tentava permanecer sério, balançou a cabeça na negativa com um sorriso. Naquele momento, quase não parecia que o futuro de três reinos dependia das decisões feitas naquela sala. 

Uma batida na porta interrompeu a próxima rodada de possibilidades e Emmett abriu caminho para dentro, seguido de perto por seu tradutor. O pequeno homem de cabelos arruivados e pele clara mal chegava a altura do ombro de seu contratante, mas não parecia compartilhar o receio que se espalhava por todos os outros frente ao líder dos Mactus. 

“Em que posso servi-lo?” Jasper tomou a frente, pousando seu cálice de vinho intocado e cruzando o cômodo na direção do recém-chegado. 

“Meus homens viram barcos, muitos barcos olhando. Estão preparando um ataque.” A voz de Emmett era como um trovão, reverberando nas paredes e fazendo todos os pelos de seu corpo se eriçarem. Rosalie sequer sabia que ele podia falar algumas palavras do idioma comum com clareza. 

“Quando isso aconteceu?” Eleazar tomou a frente, recebendo um mapa das mãos ágeis de Edward e o abrindo sobre a mesa. 

Ela se moveu junto, segurando uma das pontas do mapa rabiscado para mantê-lo aberto. As linhas eram malfeitas e imprecisas, contornos de territórios e limites feitos da melhor forma possível. 

Emmett se aproximou, abrindo caminho com seu corpo enquanto todos literalmente saiam da sua frente. Ele escaneou o mapa por um longo momento, murmurando palavras rústicas consigo até parecer se dar por satisfeito e apontar um local no mar próximo ao limite de seus territórios, onde o sol queimava mais forte e os barcos sumiam no horizonte. 

“Dos semanas.” Respondeu, apertando o dedo no mapa para enfatizar.

“Duas, ele quis dizer duas.” Seu tradutor interveio, mas todos nós havíamos compreendido. 

“Isso é ruim, bem ruim.” Garrett verbalizou o óbvio, mas Rosalie já estava caminhando em linha reta para um lado e para o outro enquanto Jasper se afastava e encarava o exterior pela janela.

O silêncio se instalou no cômodo com um peso quase insuportável. O primeiro ataque havia acontecido há sete semanas e ter avistado outro grupo de barcos os alertava de duas possibilidades. A primeira e mais reconfortante era que eles não haviam ido embora depois de saquear as terras dos Cullen; a segunda e pior hipótese era que o que todos pensaram ser apenas um grupo de ataque na verdade se expande para vários, que podem ou não vir do mesmo lugar além dos mares. De qualquer forma, nenhuma das opções é amigável.

Involuntariamente, os passos dela levaram-na a Jasper e seus olhos se focaram no que ele assistia fora da janela. Uma chuva rala e não característica dessa época do ano caia lentamente, levantando o calor que se prendeu ao chão durante todo o dia e envolvendo o local em um mormaço agradável. Os dedos dele se prenderam aos dela imediatamente. 

Não era o que eles esperavam, com certeza. Uma ameaça desconhecida quando mal se estabeleceram propriamente como governantes, quando ainda havia tantas dúvidas sobre a capacidade deles de sentarem no trono juntos. Embora gêmeos, a coroa era de Jasper e sempre seria, mas ele decidira dividir seu peso com a irmã nos bastidores, apesar de sustentá-la sozinho em ocasiões como essa. 

Estavam esperando por ele, Rose sabia, por uma palavra daquele que detinha a convocação do conselho. Eles suspiraram em uníssono antes de virar para enfrentar os outros reis.

“Os Mactus são guerreiros formidáveis, mas não gostaríamos de deixá-lo enfrentar uma ameaça como esta, não sozinhos. O rei Eleazer, príncipe Edward e eu estaremos unidos em mútuo benefício e proteção e estaríamos honrados em estender esse acordo ao seu povo.”  

Naquele momento, Jasper soou como o seu pai, um rei que era igualmente temido e amado, que manteve seu legado ancestral prosperamente por décadas. Edward descruzou os braços, concordando com a cabeça uma vez ao receber o olhar de Emmett; ele tinha uma estranha facilidade em responder perguntas não feitas e por ser o reino mais próximo aos Mactus, realizavam muitas trocas comerciais.

O tradutor precisou repetir uma segunda vez a proposta de Jasper para que o grande homem tivesse certeza de suas nuances.

“Decisões das terras?” Emmett perguntou erguendo uma sobrancelha cheia e riscada.

“Inteiramente suas a menos que haja alguma invasão no seu reino ou em algum outro reino aliado, então as decisões quanto a ataques serão tomadas por um conselho no qual todos nós participaremos.” Eleazer esclareceu calmamente, sugando um gole de seu vinho. Ele parecia contente com a situação ao já prever seu desfecho. 

Os lábios dele se pressionaram, criando uma linha fina entre a barba e o bigode enquanto ele considerava suas vantagens e desvantagens. Não havia, de fato, tantas desvantagens assim além de ter que prestar contas a um conselho em caso de guerra e Rose acreditava que ele chegaria a esta conclusão.

“Sim.” Os olhos de Emmett estavam nela quando disse a palavra, queimando como dois carvões envoltos pelos cílios grossos e negros. 

 “Agora um banquete!” Garrett decretou unindo suas mãos com um clap.


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Notas finais do capítulo

Então?



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