Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A Viagem escrita por Shirley Santos


Capítulo 11
CAPÍTULO 2 parte 4




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Ao abrir a porta, o gato insiste em querer sair comigo. Fica miando e todas às vezes que coloco para dentro, ele consegue ser mais rápido, saindo de casa antes que eu feche a porta. Minha velha começa a rir da situação:

— Deixe-o ir com você. Talvez ele só queira dar uma passeada e fazer suas necessidades na rua.

— Mas e se ele se perder? Ou ser atropelado? – pego meu skate.

— Não acho que vá acontecer nada dessas coisas com ele. Deixe-o ir.

Por fim, sigo para a escola ouvindo "End of All Days" do grupo 30 Seconds to Mars com a companhia de uma garoa fina e o felino que é bem ligeiro, muito mais do que imaginei ser. 

 

Vídeo da música

 

Ao chegar perto da escola, vejo que o portão já se encontra aberto. Júlio está andando de um lado para o outro, parece nervoso. Ele está usando uma roupa parecida com a minha, incluindo a blusa com o capuz. Tiro meu headfone assim que me aproximo:

— O que aconteceu? Pensei que não vinha hoje. – fala franzindo o cenho – Por que está tão branca? Está se sentindo mal?

— Oi primeiro, né?! – digo pegando meu skate.

— Me desculpa. Bom dia. – ele tira meu capuz – Mas, me fala, você está bem?

— Sim. – coloco o capuz de volta.

Qual é o problema dele? Nem minha mãe ficou tão preocupada assim. Rylo dá um miado chamando nossa atenção:

— Ah! Olha o meu novo amigo. Ele não quis ficar em casa e foi muito ligeiro me seguindo até aqui. – pego o felino no colo.

— Eu ainda não pensei num nome para ele. – murmura fazendo carinho no bichano que parece não gostar do cafuné, pois rosna encarando o Júlio – Ei! O que ele tem?

— Acho que não gostou de você. De qualquer forma, já arrumei um nome para ele. – devolvo o gato ao chão, depois volto meu olhar para o moreno – Vamos entrar?

— Sim. Vamos. – pega minha mão livre – Você vai deixá-lo aí?

— Vou. – olho para a mão dele grudada na minha, em seguida encaro os olhos dele com cara de poucos amigos – Será que dá para soltar minha mão?

— Tá. – ele me solta e franze o cenho – Está brava comigo?

— Não. Só não gosto que me toquem. – declaro me encaminhando para dentro do prédio. 

 

(***)

 

Júlio permanece as três primeiras aulas sem falar nenhuma palavra comigo. Será que fui muito grossa? É que não estou acostumada com isso. Só minha mãe faz carinho em mim. Nunca ninguém foi sequer atencioso comigo em palavras, ainda mais com gestos, pior ainda essa pessoa sendo um garoto. Pensando bem, nesses três dias de escola nova, só o Júlio e seus amigos me dirigiram a palavra. Mais ninguém quis conversar comigo, igualzinho como nas outras escolas. Por que eles são tão gentis comigo?

Durante esse período que Júlio fica sem falar comigo, troco palavras com a Alessandra e o Gustavo. Perguntam sobre o conteúdo que os professores passaram ontem e comentam sobre os trabalhos que temos que entregar na próxima semana. No entanto, percebi em alguns momentos os olhares de Júlio nos observando. Na hora do intervalo, sigo direto para o banco de concreto que está sentado para conversar com ele:

— Oi. – murmuro ao me sentar ao lado dele.

— Oi. – responde meio sem vontade, olhando para o prédio do refeitório.

— Qual o problema?

— Nenhum, por quê? – responde ainda sem olhar para mim.

— Depois que nós entramos, você não conversou mais comigo. Falei alguma coisa que você não gostou?

Júlio dá um longo suspiro antes de responder, em seguida encara meus olhos como se estivesse vendo minha alma.

— Não foi nada. Você disse que já escolheu um nome para o gato, qual vai ser?

— Sim. – você é igual a minha velha, quando não quer falar algo desconversa e muda de assunto – Vai ser Rylo.

— Rylo? – ele franze o cenho como se algo o perturbasse – De onde você tirou esse nome?

— Minha mãe que falou. – dou de ombro – E parece que ele gostou.

— Sua mãe? – questiona com a mesma expressão.

— Sim. Qual o problema?

— Nada. Você já comeu? O lanche de hoje está bem nutritivo. – desvia seu olhar para o prédio do refeitório.

Caramba! Novamente muda de assunto. Qual é o problema desse garoto?

— Não comi, mas não estou com fome. Você deve pensar que passo fome em casa para dizer isso! – me levanto, porém ele segura meu braço direito com as duas mãos.

 

Somente nesse momento reparo que ele está sem o curativo que estava no braço no dia anterior. Não tinha percebido antes porque a blusa que está usando estava com as mangas abaixadas, mas agora que ele as puxou para cima, dá para ver que onde deveria ter um curativo não tem absolutamente nada, nem mesmo uma cicatriz.

— Não é nada disso. Estou preocupado por você ter passado mal dois dias seguidos.

— Como assim? Não disse nada que passei mal ontem. – tiro meu braço das mãos dele com força.

— Está na sua cara que passou mal ontem e nem tente dizer o contrário. – Júlio franze o cenho olhando para suas mãos.

— Minha vida não é da sua conta!

Deixo-o sozinho e volto para a sala de aula. Vasculho minha mochila atrás do meu headfone, coloco a música "Dead Girl Walking" do grupo KidneyThieves para tocar no celular, puxo meu capuz para cobrir minha cabeça, mudo de lugar sentando-me o mais longe possível do Júlio. 

 

Vídeo da música

 

Durante a quarta aula, fico ouvindo música ao mesmo tempo que transcrevo tudo o que a professora de geografia coloca no quadro negro. Na quinta aula, a Alessandra vem conversar comigo, me obrigando a desligar a música:

— Oi. Aconteceu alguma coisa entre você e o Júlio? Ele está estranho. – murmura baixo para que ninguém nos ouça.

— Ele quer se meter na minha vida, não gostei disso. Só minha mãe fala daquele jeito. Na verdade, mais ninguém fala comigo, por isso acho muito estranho vocês conversarem comigo. – também falo baixo perto do ouvido dela.

— Eu entendo você. Escola nova, pessoas que não conhece querendo ser seus amigos, mas você precisa entender o Júlio. Ele realmente quer ser seu amigo e, na verdade, acho que queira ser mais que isso. Nunca vi ele tão entusiasmado com alguém como está com você.

— E o que ele viu em mim? Não sou o tipo de garota que os meninos ficam querendo namorar.

— Por que diz isso? Para mim você é muito bonita. Seus olhos são lindos e seu cabelo também, justamente por ser diferente.

Dou uma gargalhada estridente fazendo com que todos me olhem, o professor de filosofia me repreende com o olhar e um leve aceno de cabeça. Por causa disso, sinto meu rosto queimar como brasa viva.

— Tá vendo. – ela sussurra bem perto de mim – Todos olham para você porque é diferentemente linda. Olha como fica vermelha como uma pimenta quando está com vergonha. Isso é tão fofo.

— Não acho graça nisso e os outros me olham porque me acham estranha, principalmente as meninas.

— Bom, eu posso dizer que algumas delas podem até falar isso de você porque sentem inveja. Quanto as outras e os meninos, você já parou para pensar que é você que afasta todo mundo por gostar de se isolar e por causa do seu jeito explosivo de ser. Eu vi quando você e o Júlio estavam conversando no intervalo, garanto que você não deu a mínima chance para ele. Simplesmente ficou nervosa e deixou ele falando sozinho.

— Foi ele que te mandou aqui?

— Não mesmo. O Júlio não precisa de ninguém para interceder por ele, mas ficou chateado, por isso vai ficar afastado um tempinho, porém tenho certeza que ele vai voltar a falar com você.

— Será? – levanto uma sobrancelha demonstrando minha incredulidade.

— Com certeza. Ele é teimoso, quando coloca uma coisa na cabeça dificilmente alguém consegue tirar, por isso acho que ele vai te procurar para conversar.

Alessandra e eu passamos as duas aulas conversando e descubro algumas curiosidades estranhas. Todos já completaram dezessete anos ou vão completar. Fernando e Bianca completaram em janeiro, Júlio em dezesseis de abril, exatamente no dia em que me mudei. Gustavo completa em julho e a Alessandra em setembro. Todos reprovaram o ano anterior por falta, mas ela não quis dar mais detalhes do motivo que fez eles faltarem tanto. Outra curiosidade é que Fernando, Bianca e Júlio estão sendo criados por suas mães, enquanto a Alessandra e o Gustavo estão sendo cuidados pelos pais.

Ao terminar as aulas, decido ir logo para casa. Encontro o Rylo sentado ao lado do portão como uma estátua guardião quando saio da escola. Afago ele por alguns instantes, ao mesmo tempo, noto que os cinco amigos saem da escola e seguem na direção contrária a que tenho de ir para casa.

Percebo o olhar do Júlio meio de soslaio para mim, em seguida ele segue seus amigos sem falar qualquer palavra comigo:

— É Rylo, acho que só você é meu amigo de verdade. – murmuro o mais baixo possível.

Depois, coloco meu skate no chão e sigo para casa ao som de "The Only" de Static-X acompanhada do meu felino e da garoa fina que voltou a cair.

Clip da música

 

 


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Notas finais do capítulo

Qual a opinião de vocês sobre a história? Digam tudo, não me escondam nada! rsrsrsrs 

Beijos e até o próximo capítulo.



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