Cordeiro em pele de Lobo escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Dualidade




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A luz piscava, nada que incomodasse ou, de fato, tirasse sua concentração. Os olhos mantinham-se atentos à figura mais alta pouco a sua frente. Os olhos de um predador, preso sob camadas quase impenetráveis de uma reles presa. 

—  Legosi, se vai mesmo ficar para me ajudar, fique e me ajude! —  Louis tinha o típico tom de quem vivia a vida desafiando quem quer que fosse, colocando-se em primeiro lugar, deixando todos os outros em, no mínimo, terceiro. Quase uma supremacia de sua espécie, mas não dela como um todo, e sim ele. Os passos ainda traziam certo estímulo de dor, mas ignorava-os, tal como fazia com a maldita luz piscante pouco acima de suas cabeças. Fazia a sombra de sua galhada parecer quase fantasmagórica em meio ao palco de madeira polida e um tanto manchado pelo suor recente. 

Louis olhou novamente, seus olhos transmitiam mais frieza que os do lobo, era curioso. Às vezes era como se tivessem errado, os corpos não pertenciam a quem realmente deveriam pertencer. Louis era muito mais predador do que presa, enquanto Legosi firmava-se como incapaz de ferir quem quer que seja, colocando-se abaixo em toda situação, não agindo como carnívoro. Teria rido, se isso fizesse o feitio de Louis, risadas não eram seu forte, que não em meio à atuação, fora isso, não. 

Apenas Louis se movia sobre o palco, como se Legosi entrasse em transe, ou como se a luz o mantivesse cego aos demais detalhes de tudo aquilo. Ainda empunhando a espada de madeira, Louis aproximou-se, dois passos e uma breve e quase indelével careta de dor. O tornozelo ainda doía, claro que sim, as talas para mantê-lo o mais firme possível ainda não eram o bastante, tampouco os analgésicos que estava tomando como se fossem água. Foi ali que o lobo o olhou, não como um predador à espreita da caça, mas livre do transe que sempre o prendia quando a dualidade entre ser uma fera e não ser o tomava de súbito, fosse pelo aroma doce de sangue, ou o suor que delimitava a pele daquele a sua frente. O aroma também o atraía, mas naquele instante fora a breve feição de dor. 

Não tardou a se aproximar, abaixar-se e olhar o tornozelo inchado, sentindo as pontas dos dedos de Louis em seu ombro, um misto entre segurar-se e afastá-lo, optou pelo primeiro. A pele era quente, irradiava por sua pele e parecia tomar-lhe além. 

—  Quem diria, você é mesmo um cordeiro em pele de lobo, Legosi. —  Olhava-o de cima, austero à sua posição, orgulhoso pelo feito. — Usou essa máscara por tanto tempo que sequer sabe como se desprender da encenação. Um excelente ator, deveria tomar cuidado com você nas próximas peças. 

As mãos corriam, não só pelo tornozelo, seguiam um pouco acima, na panturrilha e então próximas à curvatura do joelho, fazendo com que Louis fraquejasse, não de medo, apertando um pouco mais seus dedos ao redor do ombro de Legosi. Engoliu em seco, queria perguntar o que ele achava que estava fazendo, mas evitava qualquer gesto que pudesse ser interpretado como medo, mantinha seu orgulho intacto, afinal. 

Sentia os pelos eriçarem pelo contato das mãos subindo por sua perna, levantando a perna da calça, acelerando os batimentos de seu coração. Mantinha os olhos nele, no modo que os lábios eram lambidos, e então no modo como aquele par de olhos o encarava, era, naquele momento, o caçador encarando a caça. 

—  Melhor? —  Legosi perguntou ainda de joelhos no assoalho, as mãos firmes à pele alheia. Enfim, dando a Louis a chance de notar que ele havia apertado um pouco mais a atadura, tornando a mobilidade mais firme, porém, muito mais confortável à quem tem dor. 

—  Um pouco. 

Apenas a resposta trouxe Legosi de volta a ficar de pé, a diferença de altura considerável entre eles quando tão perto um do outro. Louis pensou em um passo para trás, mas a perna falhou e foi para frente, soltando a espada de madeira que ainda tinha na outra mão, apoiando-a agora no tórax de Legosi, sentindo o subir e descer suave da respiração. Ansiou por mais, era algo discreto, ao tempo que indiscreto, visto que tocar os outros de tal forma necessitava permissão para tal. Subiu a mão mesmo assim, a blusa de botão permitia que alguns pelos resvalassem por suas falanges de modo quase a lhe trazer cócegas, trouxe-as em Legosi, sentiu o tremor no abdômen, prosseguiu ainda assim. 

A luz por fim apagou, e como num rompante, daqueles que poucos saberiam dizer como ou quando, nem mesmo o porquê; os lábios se prensaram. Não muito suaves, tirando dos lábios de Louis uma ou outra gotícula de sangue, trazendo frenesi ao âmago de Legosi em meio ao beijo, em meio à língua que envolvia-se à sua e lhe sugava de modo voraz e indecente. Às mãos que lhe puxavam pela camisa e pelas costas, as unhas que lhe arranhava a pele, lhe arrepiava e instigava a querer e fazer mais. Não demorou até que suas mãos envolvessem a cintura alheia, a nuca enquanto sentia a pelagem macia e viciante. Os lábios desceram então ao pescoço, sentiu o pulsar da veia, o sangue bombeando no ritmo acelerado do coração pulsante. Passou a língua naquele pescoço, sentia-se corajoso pela luz que faltava a denunciar suas ações, e as de Louis. Queria mordê-lo, sentir entre as presas a carne que parecia macia, o gosto do sangue que havia há pouco provado. 

Fraquejou, não teve como manter a boca naquele pescoço quando sentia a mão de Louis descer e lhe tocar por sobre a calça, arfou em desejo e agarrou-o ainda mais. Os beijos tornavam-se lascivos a medida que as línguas adentravam um pouco mais a boca alheia, sorvendo o deleitoso sabor do que parecia errado e proibido.

Quando a luz tornou a acender, separaram-se na mesma velocidade com a qual haviam unido os corpos, os corações em batidas aceleradas, o peito a subir e descer descompassado, as pupilas dilatadas e enfim, o vestígio da vergonha, não pelo o que fizeram, mas pelo o que sabiam que fariam se tivessem mais tempo. Dorso das mãos eram usados para tirar do canto dos lábios a saliva alheia, como se o simples ato pusesse fim ao ocorrido, às lembranças e sobretudo, aos desejos. 

—  Legosi, isso-

—  Hey, aí estão vocês! Quase fechamos tudo e deixamos vocês trancados aqui dentro, a luz tá com defeito, né? —  Jack apontou para cima enquanto aproximava-se dele, ainda na plateia. — Quando olhei antes parecia não ter ninguém, estavam ensaiando? —  olhou diretamente para as espadas de madeira ao chão, no momento passou inteiramente despercebido a ereção de um lobo, mas quem em sã consciência iria olhar naquela direção sem motivo aparente? 

—  Já estamos indo, Jack. —  Louis era o único em condições de falar, não que seu estado estivesse muito diferente do de Legosi, ele apenas sabia interpretar melhor, um ator nato. Esperou apenas o amigo do lobo cinza se afastar um pouco, para abaixar-se tomando as espadas em mãos, caminhando lado a lado com Legosi para deixá-las no canto do palco, pegarem as demais peças de roupa (no caso, Louis precisava pegar seu paletó de uniforme). —  Acho que, quando necessário, você não é tão cordeirinho assim, huh, Legosi? 

Se havia onde por a cara, acredite, Legosi a enfiaria naquele momento. Mas não negou o comichão que pareceu lhe tomar o peito e descer até a pelve e irradiar ali como uma fogueira recém acesa em brasa. 

—  Talvez seja mais interessante continuar treinando a sós com você, vou providenciar isso. —  Os caminhos depois dali foram mais distantes, mantendo-os afastado, talvez para sanidade do lobo que queimava em desejo, ou, quem sabe, do próprio Louis que parecia muito querer um pouco mais. 


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Notas finais do capítulo

Tentativa bem furrequinha de escrever algo sobre esse ship, psé, quarentena que fala.



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