Depois da Ruína escrita por Bzllan


Capítulo 10
Borboletas de Olívia


Notas iniciais do capítulo

Tá aí queridos
TO TAO EMPOLGADA



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788838/chapter/10

— Estou vendo que seu irmão já contou tudo o que queria saber.

Depois da conversa com Ivan e Júlia, Alex fora levada por eles a uma sala no andar de cima. Luz natural entra pelas janelas com vidros sujos. 

Gabriel conversava com meia dúzia de pessoas, mas ao ouvir a porta abrir, mergulham-se todos em silêncio.

— E então? - Gabriel insiste na pergunta;

— Não tudo. - Ela responde.

Olha ao redor. Uma mesa dispõe-se no centro da sala, com cadeiras ao lado, mas ninguém sentado. Alex observa os outros integrantes do recinto e reconhece com desgosto o rosto familiar de Levi. Mais duas mulheres e outros três homens desconhecidos até então.

Ivan e Júlia permanecem na sala, e parece que uma conversa ainda mais intensa está para começar.

— O que está acontecendo aqui? - Ivan questiona. Os outros evitam encontrar seu olhar.

— Eu acabei de decidir a minha equipe para a Operação Busca, Ivan. - Gabriel se apoia na mesa e cruza as pernas. Está claro quem manda ali. - Não achou que fosse junto, não é? Mal consegue ficar em pé. Inclusive, puxe uma cadeira…

— Não quero sentar, obrigado. - Diz, fazendo birra como uma criança. Sinceramente, ainda não havia pensado sobre isso.

— E quanto a mim? - Júlia questiona. - Eu estou ótima! Eu… Eu sou a líder. - Essa última palavra sai quase como um cochicho. - Ninguém nunca foi lá para fora sem mim.

— E eu agradeço, Júlia. Você é quem eu mais confio para estar na liderança, inclusive. Por isso, preciso que fique aqui e me ajude. 

Ela fica boquiaberta, mas mantém a postura.

— Entendam, nunca fizemos isso. Nunca arriscamos nossa pele como vamos arriscar agora. Eu estou colocando o nosso na reta e enviando os meus melhores homens, portanto, não discutam. Tenho pensado muito. Inclusive, eu mesmo irei ficar.

A sala mergulha novamente no silêncio. Alex tenta montar as frases como em um quebra-cabeça, não chegando a lugar nenhum.

— Sabe porque está aqui, Alex? - Gabriel pergunta, mais rígido do que das outras vezes que falara com ela.

Os olhos da garota percorrem a sala inteira. Todos a olham.

— Não. Não faço ideia. Sei que precisam de mim.

— Precisamos. Seu irmão contou o que você perdeu nos últimos anos, suponho.

Ela concorda com a cabeça.

— Muito bem, prepare-se para ficar pior.

 

x

 

— Temos vivido bem aqui. Escondidos durante anos. Estamos a o que, dois quilômetros deles e continuam nos procurando a horas daqui, na cidade. 

“Bom, enfim. Tentamos conexão externa com outros lugares. Não conseguimos contatar nem a cidade mais próxima. As estradas estão fechadas, desabamentos de terra fecharam a serra e não temos como entrar ou sair para lugar nenhum. Da serra até o litoral, tudo nosso, mas sem nenhum contato com o mundo”.

— Perdão por interrompê-lo, mas não é arriscado tentarem se comunicar com outros? Se o governo conseguir interceptar a comunicação, vão saber exatamente…

— Não vão interceptar. - Um dos presentes na sala a corta. Um homem com o maxilar torto e a barba mal feita. - Conseguimos bloquear a linha deles, não conseguiriam nem se soubessem o que procurar.

— Bom, enfim, como eu dizia, - Gabriel continua - vivemos bem até agora, mas nossa consciência tem pesado há alguns anos quando começaram a supostamente tirá-los de lá de dentro. Nós temos família, as pessoas daqui estão enlouquecendo. Os parentes somem, fazemos funerais simbólicos. E tememos também outra guerra química. Não sobreviveríamos a mais uma, quer dizer… Somos o que, cento e sessenta e poucos escondidos aqui.

— Onde quer chegar?

— Bom… Há algum tempo, tomamos uma decisão. Decidimos que… Não queremos mais dormir com medo de não acordar mais, querida. Com medo de nossos familiares, filhos, sobrinhos, que seja, terem seus nomes sorteados e servirem para… eu sei lá. Não queremos mais ter medo.

Suas palavras saem firmes como rochas. É possível sentir a raiva em cada uma delas.

— Decidimos que vamos virar o jogo.

Alex dá uma risada debochada, mas se arrepende no mesmo instante. Ninguém ri.

— Como assim “virar o jogo”? Você mesmo disse, se somos sessenta e…

— Cento e sessenta. - Alguém a corrige. Um cabeludo, que aparentemente têm um gêmeo idêntico ali mesmo, na sala.

— Cento e sessenta. Eles são milhares… Não se pode vencê-los.

— Talvez possamos, sim. Com uma ajudinha do nosso povo.

— O que querem dizer?

— Quero dizer que cada pessoa que teve sua vida tomada lá dentro estará do nosso lado quando contarmos tudo a elas. E você vai ajudar a convencê-las, porque você já esteve lá. Você está aqui.

O coração de Alex parece sair pela boca.

— E como pretendem fazer isso?

Gabriel sorri, vê que tem sua atenção.

— Sua mãe era muito influente, Alex. Não sei se soube. Ela era uma grande amiga de Amélia. Quando descobriu sua traição, eles a… a executaram, sinto muito. A ela e a seu pai. Encurralaram em casa, quando tentavam fugir. Não pudemos fazer nada.

Ela já perdera a esperança de rever os pais assim que não os encontrara lá.

— O que isso tem a ver?

— Tem a ver que sua mãe… sabia muito. Talvez por isso a tenham matado, também. Nós vasculhamos sua casa quando tivemos a oportunidade de ir a cidade, está tudo virado do avesso. Achamos que o governo sabe de algo que ela escondeu, logo antes de ser morta.

— Acham?

— Sim, achamos. É um tiro no escuro. Tenho também… isso.

Ele dá a volta na escrivaninha e, em uma gaveta, pega um caderno. De dentro, na contracapa, um pequeno pedaço de papel amassado que ele guarda com todo o cuidado.

Entrega nas mãos de Alex, que reconhece a ortografia.

— É a letra dela.

 

Estarei com vocês em breve. Preciso esconder o plano B, caso tudo vá por água abaixo. Se eu e Thiago não voltarmos, pergunte a pequena Alexandra sobre as borboletas de Olívia. Ela tem as respostas.”.

 

Alex sente o peso do mundo em seus ombros.

— Onde encontrou isso?

— Estava no bolso de minha jaqueta. Quando ela e seu pai não voltaram, fomos atrás deles e encontramos os corpos… Sinto muito.

— E então? - O tal Levi pergunta. Não dá espaço para que ela processe toda a informação que lhe é dada. - O que são as borboletas de Olivia?

— Eu… Eu não faço ideia.

Sua resposta claramente decepciona a todos.

— Pois é, perfeito. Nós arriscamos nossos traseiros para tirar ela de lá e nada. Agora eles sabem que estamos por aí, e não vão parar até nos achar. E olhem, ela não faz ideia! Perfeito! - O loiro diz.

— Cale a boca, Levi. - Uma garota morena, até então em silêncio, a defende. - Tirá-la de lá também foi um tiro no escuro.

— Sinto muito. - Ela leva as mãos na nuca, o que faz quando está nervosa. Fecha os olhos e tenta se lembrar de sua infância. Borboletas de Olivia, o nome não a remete a absolutamente nada.

Todos voltam à estaca zero. A esperança lhes é tirada das mãos.

— Ainda temos uma… pequena chance. - Outra garota, com traços orientais, comenta. Estava tão imóvel que passou facilmente despercebida. 

Todos estão em silêncio para ouvi-la.

— Gabe montou a equipe de busca para que pudéssemos saber exatamente o que procurar ou onde procurar, e que nossa viagem até o ninho de cobras não fosse em vão. Certo?

— Certo. - Gabe concorda com a cabeça.

— Bom, talvez ela precise refrescar a memória. Vamos levá-la.

 

x

 

— Não vamos levar peso morto nenhum. - Diz o loiro.

— Cale a boca, seu merda, essa não é uma decisão sua! - A garota retruca.

— Não, vocês não vão levá-la até lá! - Ivan se intromete na discussão, quieto até então. - Eu já fui para aquela merda, e não sei se se lembram, mas nós perdemos Lucas aquele dia. Ele era um soldado e tanto. Nós treinamos para isso desde que chegamos aqui, nós sabíamos que teríamos que nos proteger e estávamos prontos. Ainda assim perdemos Lucas. Alex não está pronta.

— Foi o que eu disse, é um peso morto.

Estão todos em silêncio. Ivan prefere não defender a irmã. Teme que se assim fizer, Gabriel decida enviá-la com a operação.

— Não é uma má ideia. - Ele diz, por fim.

Ivan se apoia na parede e leva as mãos à cabeça.

— Vão matá-la. Vão matar minha irmã.

— Ela já estaria morta se não tivéssemos nos arriscado, Ivan. - Diz a morena baixinha. - Sinto muito, mas é verdade. Se temos uma chance, vamos mergulhar de cabeça.

— Por que ninguém pergunta a opinião dela? - O outro gêmeo pergunta, se pronunciando finalmente.

Novamente, todos olham para Alex. Ela sente a pressão em seus ombros a afundar no chão. Tenta ser forte, o mais forte que pode.

— Vou com vocês. Quando?

— O quanto antes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Depois da Ruína" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.