Drania escrita por Capitain


Capítulo 50
Plano


Notas iniciais do capítulo

malz aí pela demora, eu estava resolvendo grandes buracos no plot.
sim, dois capítulos em um dia.
não eu não estou louco. eu acho.



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Goroth investiu em um piscar de olhos, seu salto arrancando trechos de líquen e musgo do pesado tronco onde ele estivera sentado apenas alguns minutos antes. Eu tentei sair da frente, apoiando meu pouco peso na minha perna esquerda e tentando pular para fora do caminho. O punho de Goroth descreveu um arco perfeito sobre a minha cabeça, e eu posicionei meu cotovelo direito para atingi-lo nas costelas.

Meu pé afundou no chão, inclinando meu corpo para a esquerda, e me fazendo perder o equilíbrio. A próxima coisa que eu vi foi a luz desaparecendo completamente quando minha cabeça desceu sob a terra. Droga. Aquilo era muito mais difícil do que eu esperava. Sacudindo a cabeça, eu flutuei para fora do chão.

— É fácil assim esquecer como andar quando você aprende a voar? – Aurora estava recostada contra uma árvore próxima, exibindo o seu característico sorriso relaxado. Era o meu segundo dia de treinamento com Goroth, e ela decidira se juntar a nós, fazendo uma pausa na sua pesquisa. Rasth resolvera ignorar completamente o irmão, e saíra mais cedo após entregar a Goroth o embrulho que eu havia pedido a ele.

Eu não respondi. Não havia realmente esquecido como caminhar, mas agora que eu atravessava qualquer superfície ao invés de interagir com ela, eu precisava de muito mais trabalho mental para me manter em pé. Para que eu pudesse tocar o chão, eu precisava transformar uma camada dele em matéria escura, usando um processo que eu ainda não entendia completamente.

— O orc que eu copiei tem um problema no joelho direito, então eu não posso confiar muito nessa perna. Além disso, se eu ainda tivesse um corpo físico, eu não teria problema nenhum – eu falei – eu meio que esqueço que vou atravessar as coisas quando tento andar. Flutuar é bem mais prático.

— Imagino - ela sorriu - alguma outra informação importante sobre o... qual o nome dele mesmo?

— Chefe Sedlek - Goroth disse completou.

— Não muita - eu respondi - ele é velho, e tem um par de costelas quebradas que se curaram um pouco tortas, no lado direito. As informações ficam confusas depois disso, por causa da transformação em matéria escura.

— Mesmo assim, é muito melhor do que nós conseguiríamos reunir em tão pouco tempo. - Goroth falou - Aurora?

— Decorei - a bruxa falou, após um segundo encarando o vazio. - eu acho que esse é o último que vou conseguir decorar por enquanto.

Eu não entendia como ela era capaz de guardar tanta informação em tão pouco tempo de maneira tão perfeita. Por ser transmorfa, minha memória é naturalmente bem melhor do que um ser humano comum, mas ela não é perfeita. Talvez esse fosse outro dos “feitiços úteis” dos quais ela parecia ter um suprimento infinito. Minhas lições em magia haviam retornado também, e Aurora havia me entregado mais e mais runas para decorar, embora eu ainda não conseguisse lançar o mais simples dos feitiços ou compreender as “óbvias” relações entre o intrincado padrão das runas e o conceito que elas representavam.

Quando eu contei à Aurora sobre minha segunda descida ao vazio, e o jeito bizarro que eu havia descoberto de acessar minhas reservas de energia escura, queimando minha carne, ela dissera “bom, você está começando a entender” e se recusara a explicar mais sobre como essa energia funcionava, ao invés disso focando em me dar runas para decorar.

Frustrada com o estado atual das coisas, meu progresso, e mais dois dias desperdiçados sem encontrar uma pista sobre o Arauto ou Alice, eu usava o treino com Goroth para esfriar a cabeça. Talvez porque a perspectiva de recuperar total controle do meu corpo era algo mais concreto para mim, ou simplesmente porque me sentia mais útil numa luta do que mergulhada em uma pilha de papéis. Depois da nossa primeira “luta”, eu havia sugerido uma pequena mudança de planos, sem perceber que Goroth já havia pensado nisso.

— Então, será que… - nós começamos a falar ao mesmo tempo. Parei e deixei Goroth terminar.

— … você poderia ler alguns desses orcs para mim, por favor?

— Era exatamente o que eu ia sugerir – eu abri um sorriso – vou precisar me esgueirar um pouco, mas se me disser com eles se parecem, eu posso…

— ah, na verdade, eu pensei em algo um pouco diferente… – ele respondeu, deslizando os dedos pela lateral da cabeça, onde o fogo havia queimado seu cabelo. - pra que você não precise sair por aí se arriscando, eu e Rasth daremos um jeito de conseguir… algumas amostras. Eu presumo que você não vai ter problemas lendo mechas de cabelo ou coisas do tipo?

Para que você não precise sair por aí se arriscando. Por alguma razão, essa frase, dita de forma tão natural, foi estranha de ouvir. Goroth pensou não só em como eu podia ser útil, mas no que seria mais fácil para mim. Aquela realização mexeu comigo, de um jeito diferente de Aurora arriscando sua vida para me salvar. Tanto que eu completamente esqueci de responder a pergunta por uns dez segundos.

— hãã – eu pisquei algumas vezes procurando uma resposta - não exatamente, mas como vocês vão conseguir cabelo de um monte de orcs?

— Reuniões entre Orcs tendem a ter bastante contato físico - Goroth não percebeu minha hesitação – do tipo agressivo.

Em algumas horas, ele estava de volta com Aurora, e o primeiro tufo de cabelo, sorrindo como Alice quando ela falava da sua coleção de vestidos. Como eles podiam sorrir, era um mistério. Goroth quase morrera lutando contra Rasth sozinho, e agora ele tinha que encontrar uma forma de derrubar seis dos sete orcs mais fortes. Sete, já que ele tinha que vencer Rasth em uma revanche. E ainda assim, ele sorria. Aurora quase morrera duas vezes tentando proteger a mim e Goroth. E ainda assim, ela sorria de volta.

Não importava o tamanho do problema, aqueles dois sabiam que o outro estaria lá. Assim como eu e Zhar. A voz dele voltou, mais forte do que antes, clara em minha mente. Amigos morrem. E ainda assim, eles sorriam. Peguei-me pensando no que seria do outro, se um deles morresse de verdade. A forma como Goroth abandonara tudo e se jogara de cabeça contra uma cidade inteira… exatamente como Zhar. Seus olhos culpados perfuravam minha alma, mesmo depois de tanto tempo.

Talvez essa fosse a razão pela qual eu gostava tanto deles. Eles sorriam, mesmo quando o mundo caía ao seu redor. Como Zhar. Como Alice.

— Que cara é essa? - Aurora estivera me encarando a algum tempo e eu não havia percebido. - no que está pensando?

— Nada – eu sacudi minha cabeça e apaguei a preocupação do meu rosto. - eu…

— Nada? - ela falou - tem certeza?

Porquê eu estava escondendo minhas preocupações? Aqueles dois realmente se preocupavam comigo. Porquê eu precisava fingir que estava bem?

Porquê você não pode baixar a guarda, Zhar disse.

— só… - eu decidi ignorá-lo – pensando em Alice.

Aurora sorriu, obviamente.

— Vamos te ajudar a encontrar sua amiga – Ela falou – e vamos dar um jeito de salvá-la.

Eu acreditei nela. Mas mesmo o seu tom cheio de confiança não podia combater a voz da razão, na forma do meu amigo morto, bem baixinho no fundo da minha cabeça.

Se sobrevivermos”, Zhar falou. E dessa vez, não consegui ignorá-lo.

 

 

 


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