Drania escrita por Capitain


Capítulo 24
Ringue


Notas iniciais do capítulo

eu estava pensando em dividir esse, mas sinceramente, eu já estou atrasado, então vai assim mesmo.



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Logo após o fim da vila da penumbra, ao sul, ficava o ringue. Era próximo da muralha oeste, em uma área poco habitada, que marcava o fim da zona norte e o início do distrito comercial. Haviam ruínas de construções antigas naquela área, cerceadas por árvores e riachos, e em uma dessas ruínas, o ringue estava escondido. Nos restos de uma torre desmoronada havia uma rudimentar de pedra, aonde as lutas aconteciam.

Zhar tinha me apresentado àquele lugar, quando eu era pequena. Ele insistira para que usássemos rostos diferentes ao entrar. De todas as vezes que eu estivera naquele lugar desde então, aquela seria a primeira vez que veriam meu rosto verdadeiro. Não que importasse muito. Ninguém lá sabia quem eu era.

— Escute - eu disse para Alice em voz baixa, enquanto atalhávamos pelo mato - esse não é um lugar tão perigoso como o beco, pelo menos não do jeito que estamos vestidas. Mas tente não chamar muita atenção. Não deve ter tanta gente hoje, especialmente à tarde, então, quando entrarmos, vamos sentar em um canto e ficar por lá.

Alice assentiu, com o olhar de curiosidade estampado no rosto.

— E o que vamos fazer aqui?

— Eu venho aqui geralmente para apostar - eu disse - e, às vezes, para lutar. - Eu sorri - você já viu alguma luta antes?

— Bem... uma vez eu assisti um julgamento por combate - ela comentou - e nos festivais, tem duelos.

— Aqui é diferente - eu disse, erguendo os punhos - não são permitidas armas, mas na briga, vale tudo.

Alice parou um pouco.

— Não parece seu estilo - ela disse.

— E não é. Não realmente. - Eu concordei - mas eu tinha que aprender a me defender de algum jeito, e as apostas são uma tentação. Meu... um amigo meu me trouxe aqui quando eu era pequena.

— Hum. - Ela não tinha comprado a ideia tão bem quanto eu achei que iria.

— é sério, existem regras - eu disse - machucados sérios são bem raros.

— Porque estamos aqui, exatamente? -ela perguntou - achei que iriamos fazer algo divertido.

— Ah, nós vamos - eu disse - você vai apostar, e eu vou ganhar.

— Espere, o quê?

— Eu vou desafiar alguém grandão, pra concentrar apostas contra mim - Eu disse - e quando eu vencer, nós fugimos.

— Fugimos?

— Vamos ganhar as apostas, e alguém vai tentar nos roubar na saída. Por isso.

— Por Vraal, essa é a sua ideia de diversão?

— Eu já disse - rebati - eu não sou do tipo que vai a festas.

O interior da mini arena estava quase vazio, como esperado. haviam talvez umas vinte pessoas no ringue. Como sempre, Quorg vigiava as entradas.

— Quatro Kiras - disse ele, estendendo a mão. Eu paguei a quantia pedida, mantendo minha expressão neutra. - Primeira vez por aqui?

É claro, ele nunca havia visto esse rosto antes. Alice deve ter feito uma cara confusa atrás de mim. Opa.

— Ela sim - eu disse, apontando para Alice com o polegar - eu não. Já vim outras vezes, mas geralmente á noite.

E com outro rosto, pensei. Quorg era bem fechado, e tinha uma aparência ameaçadora, mas ele não era injusto. Ele costumava ser o encarregado de cobrar as entradas, mas nem sempre, especialmente á noite, já que ele também era um lutador. Ele deu de ombros e nos deixou entrar, após um olhar cortante e profundo. Quero que me garantam que seguirão as regras, o olhar dizia. Eu já estava acostumada com ele. Eu precisava. Já que eu quebrava as regras toda a vez.

Levei Alice até um canto, e encontrei um lugar para nos sentarmos. No centro das ruínas havia uma alcova, um buraco quadrado aonde aconteciam as lutas. À direita, havia a mesa de apostas, e ao redor, presas às paredes de pedra, estavam as arquibancadas improvisadas de madeira. Havia uma luta acontecendo quando entramos, mas ela não durou muito.

Os lutadores eram um homem de uns vinte e cinco anos e um garoto que devia ter uns dezoito. O homem venceu rapidamente com um gancho, nocauteando o garoto. Aquele seria um bom candidato a desafiar. Parecia ser um daqueles tipos que depende da força bruta. Eu nunca o havia visto antes, mas ele parecia bem confortável com o ambiente. Ao final da luta, Rui, o arbitro, anunciou o vencedor e perguntou se havia algum desafiante na plateia. Ninguém se apresentou.

Eu avistei o responsável pelas apostas, Shed, um homenzinho magricelo com um olhar afiado. Fiz um sinal para ele.

— Quando Shed aparecer, eu quero que aposte em mim - eu entreguei à Alice o marco de ferro que havia recebido de Greg mais cedo - eu já volto.

— Mas... - Alice parecia um pouco intimidada pelo ambiente.

— Não se preocupe - eu disse - vai dar tudo certo.

Então eu desci até a borda do retângulo, me colocando em frente a Rui.

— Eu desafio o Sujeito aí - eu falei, mantendo minha voz altiva e divertida, com um toque de escárnio.

A maior parte do público era composta de homens jovens, com muito mais músculos do que eu. E graças à minha forma atual, eles não me levaram muito a sério. Uma sonora gargalhada se espalhou entre as fileiras de expectadores, e o lutador abriu um sorriso. Mesmo assim, eu pulei dentro do retângulo, mantendo o sorriso desafiador no meu rosto. Rui não estava feliz.

— Escute, menina, - Rui falou - nós não temos tempo para brincar agora.

O homem que eu havia desafiado riu, aproximando-se do centro do ringue. Debochadamente, ele inclinou-se na minha direção, oferecendo o lado direito do seu rosto.

— Vamos, eu deixo você me acertar - ele deu um tapa na própria bochecha - aí você pode se gabar aos seus amigos que pelo menos acertou um golpe.

Eu encarei Rui.

— Posso considerar isso um sim? - eu perguntei - a luta está valendo?

O Arbitro deu de ombros. Bom o suficiente. Eu me coloquei em posição, erguendo os punhos na frente do rosto, e encenei um longo e exagerado gancho de direita. Porém no meio do movimento, eu usei o impulso para girar, plantando meu pé direito no chão, saltando no ar e usando meu calcanhar esquerdo para acertar a bochecha exposta do homem. Pego de surpresa, ele cambaleou para trás, segurando a mandíbula.

— Você disse para te acertar - eu falei - mas nunca falou que precisava ser um soco.

Olhei para Rui, incisivamente. O juiz pareceu surpreso por uns momentos, e então deu de ombros novamente.

— Qual o nome da desafiante?

— Drania.

— Caleb, aceita o desafio?

Caleb, o lutador, assentiu, ainda massageando a mandíbula.

— As regras são simples: vale tudo. Vence quem nocautear ou imobilizar o oponente - Rui parecia dividido, mas mesmo assim, ergueu o braço direito e o baixou, sinalizando o início da luta - Comecem!

Caleb e eu começamos a nos mover em círculos, estudando os movimentos um do outro, tentando prever quem lançaria o primeiro ataque.

— Ah, eu esqueci de falar - provoquei - se pegar leve comigo, vai acabar se machucando.

A plateia voltou a rir, e eu dei uma olhada rápida na direção de Alice. Ela conversava com Shed. Bom. O sujeito que eu acertara se colocou em posição de ataque, parecendo bem irritado. Ótimo. Agora eu só precisava ganhar a luta.

Caleb atacou, o punho esquerdo protegendo seu rosto, o direito endereçado ao meu rosto. Eu desviei, com um passo para o lado. Ele estava pronto para isso, usando o próprio soco para girar o corpo e me acertar com o cotovelo esquerdo, errando meu nariz por centímetros. Ele era bem rápido. Hora de trapacear.

Saltando para longe, eu respirei fundo e me concentrei. A primeira coisa que tinha que fazer era melhorar meus reflexos. Foquei minha mente, deixando de lado a plateia e minhas provocações bobas. Caleb não iria se segurar agora, não com o orgulho ferido desse jeito. Calculei que Alice não teria problemas com todos olhando para a luta, então ativei meus poderes. Caleb atacou novamente, e eu não desviei dessa vez.

A segunda coisa que tinha que fazer era tocá-lo. Eu dei um passo para trás, o obrigando a dar um golpe mais aberto, e vi minha abertura. Com o soco, ele havia perdido o equilíbrio levemente. Eu me movi por instinto, saltando para o lado e agarrando seu pulso. Assim que toquei sua pele, comecei a sentir. E, aproveitando a falta de equilíbrio dele, girei meu corpo, empurrando-o na direção que seu pulso seguia. Ele cambaleou naquela direção por exatos dois passos, antes de recuperar o equilíbrio e voltar a me encarar.

A terceira coisa que eu tinha que fazer era distraí-lo, por tempo suficiente para analisar o que havia sentido. Essa era a parte mais difícil. Caleb atacou mais uma vez, agora com os pés bem posicionados, sem espaço para desvios. Eu bloqueei o soco com meu braço, e me arrependi. O soco foi bem mais forte do que eu antecipei, e o peso do meu oponente tinha mais influência do que eu previra. Ok, hora de mais um pouco de trapaça.

Concentrando minha energia nos braços e nas pernas, eu incentivei meus músculos a se fortalecerem. Em um instante, eu tinha o dobro da massa muscular. Era um truque que eu não podia repetir muitas vezes, entretanto, ou as pessoas começariam a notar que meus braços estavam mais musculosos do que antes. Embora eu achasse difícil alguém perceber um aumento tão pequeno, ainda mais com minhas roupas largas. Eu foquei a maior parte do reforço muscular nas minhas pernas, uma coisa que eu havia aprendido assistindo Zhar brigar: para reforçar meus socos eu teria que alagar meus ombros, e alguém definitivamente iria perceber. Era bem mais difícil, no entanto, perceber a expansão muscular nas minhas pernas. Era hora do show.

Caleb não descansava, atacando sem parar, enquanto eu desviava da maior parte dos golpes e bloqueava alguns. Era crucial que eu parecesse fraca para a plateia, então toda a vez que eu bloqueava um golpe, eu transparecia um pouco mais dor e desequilíbrio do que realmente sentia. Felizmente, os golpes de Caleb eram majoritariamente socos. Dava para ver que ele estava acostumado com ataques altos, priorizando o rosto usando apenas os punhos, o que era uma boa notícia para mim.

 Haviam se passado poucos segundos desde o início da luta, e eu havia começado a decifrar Caleb. O toque mais cedo me dera as informações que eu precisava, mas eu ainda tinha que processá-las. Caleb tinha 32 anos. Era saudável. Bebia muito pouco álcool para a sua idade. A imagem que recebi de seus músculos era bastante densa. E... havia algo estranho. Quando entendi o problema, meu estômago se retorceu. Caleb era transmorfo.

O corpo de um transmorfo era diferente do corpo de um humano normal. Os nervos são mais numerosos, e os ossos mais densos. Caleb parecia também estar ativamente usando seus poderes para melhorar sua coordenação... ou mudar a aparência. O que significava que ele havia percebido meu toque. Ele sabia que eu também era transmorfa. Encarei seus olhos por um breve instante, e ele sorriu. droga.

Eu tinha que ganhar aquela luta rápido, antes que que ele conseguisse me acertar ou me prender. Se ele conseguisse me segurar, eu não poderia me soltar, não sem levantar suspeitas, enquanto ele, poderia simplesmente aumentar sua força muscular quase sem mudar a aparência, já que era visivelmente musculoso. Então ataquei. Meu primeiro golpe foi endereçado ao seu joelho, uma rasteira reforçada. Ele desviou, e eu rolei para longe, aproveitando para aumentar a densidade dos ossos nas minhas canelas. Eu iria precisar.

Outra razão pela qual precisaria terminar a luta depressa era energia: quanto mais modificações eu fizesse, mais energia eu gastaria. Depois de consumir minha última refeição, eu começaria a queimar gordura, e acabaria me desidratando bem rápido. Mesmo assim, achei que seria uma boa ideia reforçar os ossos do meu rosto. Foi bom eu ter pensado nisso, porque Caleb acertou um soco na minha bochecha esquerda pouco depois. eu fui lançada para trás com o impacto, e senti que estivera bem perto de perder a consciência.

Cambaleando para trás, eu rapidamente cancelei parte da dor no meu rosto. A dor ficaria para depois. subitamente, percebi que eu estava de costas contra um dos cantos do ringue, e formulei um plano. Caleb avançava, em guarda, pronto para tentar me prender contra a parede. Ele deu um passo. Eu procurei um ponto de apoio na parede, tentando disfarçar meus movimentos, parecer atordoada. Ele caiu na minha atuação e avançou. Eu agarrei uma fresta na parede e plantei ambos os meus pés na pedra atrás de mim. Quando Caleb percebeu o que eu estava tentando fazer, ele imediatamente deu um passo apara trás, mas já era tarde. Com os dois pés firmemente apoiados em uma das paredes, eu soltei os braços e saltei, colocando mais força nas minhas pernas, na direção do rosto do meu rival.

Ainda no ar, eu estiquei meus braços para agarrar o cabelo do brutamontes, rapidamente fechando minhas pernas ao redor de seus ombros quando fiz contato. Com o embalo do meu salto, eu sobrepujei o peso dele fiz com que ele perdesse o equilíbrio, caindo para trás. Porém, se eu não o soltasse, eu iria cair de cara no chão também. Assim que soube que ele iria cair, eu soltei o cabelo e me joguei para frente, caindo e rolando, enquanto Caleb despencava de costas no chão. Quando eu tentei me levantar, porém, ele agarrou me calcanhar, e derrubando também.

Eu me virei e tentei chutar, mas ele não soltou. Através da pele dele, em contato com a minha, eu senti que ele estava usando bem mais força do qe um humano normal para segurar meu calcanhar. Usei meu outro pé para chutar sua mão, e mesmo com um dedo indicador torcido e fraturado, ele não soltou. Caleb começou a se levantar segurando meu calcanhar para impedirem de fugir.

Comecei a sentir os efeitos da queima rápida de energia. Eu havia consumido meu café da manhã e meu almoço, e agora estava queimando gorduras. Logo começaria a suar e minha temperatura corporal iria subir. Se eu não parasse de fortalecer minha musculatura e meus ossos, eu iria começar a ficar febril, e em seguida começaria a sentir os efeitos da desidratação. Eu comecei a tentar me levantar, me colocando de quatro, e pensando furiosamente em um plano. Se eu não agisse naquele exato momento, Caleb me prenderia ao chão e ganharia por imobilização.

Então eu tentei mais um plano desesperado. Reforçando meus braços e a perna direita, que estava livre, eu tomei impulso e me joguei de costas contra o meu oponente, tentando acertá-lo no rosto com o cotovelo, enquanto tentava libertar meu tornozelo o obrigando a torcer a mão. o movimento funcionou parcialmente: eu libertei meu tornozelo. Porém, com minhas costas na direção dele, Caleb rapidamente tomou vantagem da sua posição, colocando um braço ao redor do meu pescoço, e tentando me imobilizar com o outro braço.

Eu estava em desvantagem. Se eu não me soltasse em trinta segundos, ele venceria. Para piorar a situação, eu comecei a suar profusamente, sinal de que estava esquentando meu corpo além do limite para manter toda aquela força extra. Rolando no chão para se posicionar melhor, Caleb pressionou meu pescoço com o antebraço, puxando minha cabeça mais próxima de seu queixo.

— Até que você lutou bem, - ele cochichou para mim - mas você não tem como vencer sem revelar seu segredinho.

Comecei a sentir calafrios pelo corpo, outro alerta de que a febre iria piorar. Deixei que meus braços retornassem ao normal, e diminuí o reforço nos ossos das canelas. Não tem como sair dessa, pensei, assim que ele me agarrar com o outro braço... Espera, por que ele não estava usando o outro braço? Mover a minha cabeça era impossível, mas consegui captar um vislumbre do braço direito dele com o indicador torcido em um ângulo estranho e uma marca rocha ao redor do polegar. Caleb provavelmente não estava sentindo a dor na sua mão, então porquê... ah, é claro. Ele também não podia deixar o público saber que ele era um transmorfo. Ele tinha que agir como se a dor importasse. O que significava...

Ao invés de desistir, eu tentei uma nova estratégia. Foquei minha energia nos músculos das minhas costas e pescoço.

— Sabe, eu não sou a única guardando segredos - sussurrei. - E ninguém consegue enxergar sob a pele.

Endureci os ossos do meu crânio, e joguei minha cabeça contra o nariz de Caleb com toda a minha força. Senti o nariz dele quebrar, e não sofri quase nenhum dano com minha cabeça dura e pescoço reforçado. Ele não me soltou. Então eu cabeceei de novo, acertando o nariz já quebrado, ouvindo um som terrível de esmagamento e o estalar da cartilagem saindo odo lugar. Caleb grunhiu de dor, provavelmente um grunhido falso. Mas não soltou. Eu comecei a sentir pontadas de dor no peito e barriga. Meus órgãos, que estavam trabalhando dobrado para sustentar o aumento de força, estavam começando a protestar. Eu dei mais uma cabeçada. Caleb não soltou.

Ok, vamos aos golpes baixos. Aproveitando a liberdade de movimento que ainda tinha na parte inferior do meu corpo, eu plantei meus pés firmemente no chão e me empurrei para longe do aperto dele, arqueando minha coluna com esforço. Uma fisgada no peito. Mau sinal.eu redirecionei minha atenção para os músculos nas minhas costas e coxas, reforçando minha tentativa de me livrar do aperto, mas o braço ao redor do meu pescoço não se moveu. Eu cabeceei de novo. nada. Então ergui meu pé direito, transferindo a maior parte da força que eu tinha para essa perna, e baixei-o com força na direção que eu estimava que meu alvo estaria, entre as pernas dele.

Dessa vez, o grito de dor foi real. Eu tive certeza de que esmaguei alguma coisa entre meu pé e o chão de pedra. Nada que ele não pudesse regenerar mais tarde. Acho. O braço de Caleb finalmente afrouxou o suficiente para eu me soltar, e eu rolei para o lado, enquanto ele tentava levantar. Eu não pensei duas vezes. agarrei o braço direito dele e coloquei entre as minhas pernas, forçando meu calcanhar esquerdo sobre a sua garganta, enquanto me apoderava sobre qualquer movimento que ele pudesse fazer. Ele tentou tirar minha perna do caminho, mas eu fortaleci minhas costas, agarrando o pulso dele e puxando comigo, enquanto continuava empurrando a garganta dele para baixo com a minha perna.

A plateia começou a contar. 30... eu me sentia tonta. 25... cada músculo no meu corpo doía. 22... eu havia estourado meu limite, e ainda estava forçando meu corpo depois disso. 18.. a minha febre aumentou, e minha visão começou a embaçar. 16... Caleb se debatia, tentando se soltar, me forçando a colocar mais e mais força nos meus músculos, piorando minha febre. 14... Minha garganta seca ardia com cada nova golfada de ar, e meus pulmões pareciam forrados de pregos. 10... eu nunca havia sentido tanta sede na vida. 9... haviam lágrimas nos meus olhos, por alguma razão. 8... eu me senti estranha, desconectada, livre, leve, como uma pluma. Será que eu estava morrendo? 7... Caleb estava colocando toda a sua força contra a minha perna, e eu senti os músculos da minha panturrilha rasgarem ao esticar além do limite. 6... a torcida ainda gritava, mas suas vozes haviam ficado mais baixas... 5... eu não tinha mais controle sobre a dor, mas não importava. A dor estava diminuindo, de alguma forma. 4... faltava pouco agora. Meu coração bateu forte, e eu ouvi a batida ressoar... 3... eu ouvia um som diferente, como ondas batendo na praia, e percebi, com um sorriso, que aquele era o som da minha respiração... 2. Eu não enxergava mais nada. Tudo o que eu sabia era que eu precisava segurar um pouquinho mais... só... um...

Quais são os seus limites?

De repente, eu não estava mais no ringue. Eu estava no Vazio Novamente. A escuridão completa não me assustava mais, como fizera da primeira vez. Dessa vez não haviam perguntas, nem lembranças, apenas um rosto. Eu flutuava no abismo, e o rosto flutuava comigo. Ao alcance do meu braço. O rosto de Alice.

Alice tinha uma expressão preocupada, e seus olhos fitavam, a minha alma. Qual o problema? Eu tentei perguntar. Eu venci a luta. Eu estava calma, feliz, e tudo me parecia sem importância. Até Alice falar.

— Drania.

Eu ignorei-a, tentando voltar á minha memória, ao meu sonho, á minha luta. Eu não queria acordar ainda. O sonho estava quase no fim.

— Drania! - A voz de Alice ricocheteou através da minha mente. - Acorde!

— Não! Eu quero voltar...

O rosto de Alice se deformou em uma expressão de pânico.

— Drania! - de repente a voz não era mais Alice, e sim a de Aurora. - Acorde!

— Aurora? - minha mente rodava, dividida entre voltar à lembrança e prestar atenção na voz. Havia algo mais, também. uma pergunta.

Quais são os seus limites?

Eu não sei, eu queria responder. Eu sabia quando estava viva. Eu descobri naquela luta.

— Drania!

Não. Eu quero voltar a sonhar.

— Drania!

Vá embora, eu tenho que responder à pergunta.

— Acorde!

Porque?

A voz mudou de tom, e preencheu-se de medo. Dessa vez, eu senti que ela não estava mais falando comigo. Aquela simples frase me atingiu, ainda grogue, entre o mundo dos sonhos e a dura realidade.

— Eles estão aqui.

 

 


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Notas finais do capítulo

eu qeria algo meio mangá, acabou parecendo uma graphic novel malfeita. Bem, é o meu terceiro desenho com a mesa digitalizadora, então não dava pra esperar muito...
O Ringue (CG):
https://i.imgur.com/yWmAou8.jpg



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