Drania escrita por Capitain


Capítulo 18
Magia


Notas iniciais do capítulo

enfim, acabou a espera!
desculpa a demora.
sério, desculpa mesmo.



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— Você parece distraída - Aurora disse, em um tom severo.

Eu demorei um pouco para responder. eu estava pensando no sonho que tivera na noite anterior. E me perguntando se, depois que tudo aquilo acabasse, Alice ficaria feliz em me ver. A bruxa balançou a cabeça em desaprovação e me encarou como se eu a tivesse ofendido.

— Drania, essa é uma questão de vida ou morte.

— eu sei, eu só...

— se é sobre Goroth, eu...

— Não, não é isso - eu expliquei - é só... tem uma pessoa que eu preciso muito ver. É o motivo pelo qual eu quero ir a Vralgongard, e com toda essa loucura que vem acontecendo, eu estava me perguntando se... se ela está bem.

— eu entendo - Aurora disse - mas o culto de Kraaz não vai desistir tão fácil, então, se você quiser vê-la de novo, você vai precisar passar por eles. E para isso você precisa se concentrar.

— eu sei.

— então me explique o que eu acabei de dizer sobre a magia.

— a magia... - eu hesitei. - é uma maneira de manipular a energia através de feitiços.

— mais ou menos. -ela me corrigiu - o que chamamos de magia são os métodos de manipulação de energia considerados “não naturais” pelos cientistas. Ou seja, manipulação direta e intencional de energia, utilizando sua força de vontade.

— então eu não preciso de feitiços para usar magia?

— no geral, não. - Aurora disse - feitiços são apenas um método inventado pelos humanos para simplificar, facilitar e, mais importante, tornar a magia mais segura e confiável.

— Não entendi.

— Teria entendido se não estivesse pensando na morte da bezerra - Aurora ralhou - há milhares, talvez milhões de anos, os elfos descobriram que seres com muita força de vontade podiam fazer coisas acontecerem. Ao estudar esse fenômeno, eles desenvolveram a teoria mágica da intenção. Aparentemente, seres vivos e conscientes conseguem manipular energia através da força de vontade.

— Certo.

— Porém, a magia era altamente imprevisível e volátil, variando em poder, causando efeitos colaterais indesejados. Demorou um pouco, mas eles descobriram que magia se tornava mais segura e previsível quanto menor a escala, e mais específicas fossem as instruções.

Eu assenti. Aquilo fazia sentido.

— é como atirar pedras num lago - Aurora foi até a beira do lago, e escolheu uma pequena pedra lisa. Com um movimento certeiro ela fez a pedra pular oito vezes na superfície cristalina do lago antes de afundar. - Agora, se eu tentar jogar um tijolo, não vai funcionar, certo?

— Então é como a diferença entre um peteleco e um soco - eu disse.

— Não é só uma diferença de força - Aurora disse - é uma diferença de complexidade, especificidade e vontade. Quanto mais vaga for a sua instrução, menos certeza você vai poder usar sua ordem. Se eu disser “pedra, voe”, eu tenho um milhão de dúvidas por trás dessa ordem. Quão alto? A que velocidade? Em que direção? Quando eu digo “voar”, eu quero dizer flutuar, disparar em uma direção ou criar asas? e assim por diante.

— Então, eu teria que dizer “pedra, flutue dez centímetros sobre a palma da minha mão” ou algo assim, certo?

— Isso também não iria funcionar. A energia que você está controlando quando usa magia não tem intenção, ou consciência ou nada do tipo. Então ela não entende seu conceito de acima ou abaixo. Nem o nome “pedra” nem o que significa flutuar.

— Então o que eu diria?

— não existe uma combinação de palavras, ou tempo suficiente numa vida humana para aprende-las, que seja capaz de descrever o nível de complexidade que sua instrução precisa ter - ela disse - se você for usar uma língua como a nossa, vai precisar proferir o equivalente a uma biblioteca inteira só para descrever uma pedra.

— Mas você consegue conjurar coisas e criar escudos com uma ou duas palavras.

— Bem observado. - Ela sorriu - e essas palavras são a essência dos feitiços, a Língua Absoluta, as Palavras de Poder.

— Palavras de poder?

— Elas foram a invenção de um humano - Aurora explicou - um sistema para aumentar a capacidade mágica de humanos e outros seres de vida curta. Um atalho, se preferir. A língua absoluta é um sistema de escrita em runas, e é a língua mais densa do mundo: uma única runa pode descrever o equivalente a bibliotecas de material escrito em outras línguas.

— Então você usa essa língua para dar instruções mais precisas.

— Certo. Porém, como você deve imaginar, não basta apenas ter um sistema capaz de guardar toda essa informação, você precisa aprender toda a informação primeiro, transcrever para a língua absoluta e só então poderá usa-la. - A bruxa fez um gesto amplo, apontando para a cidade ao redor - e é aí que entram os elfos. Durante milhares de anos, eles minunciosamente coletaram informações sobre tudo o que eles podiam. Catalogaram todas as plantas, pedras, animais, fenômenos climáticos e o curso das estrelas. Qualquer coisa que podia ser remotamente útil, eles esmiuçaram até os menores pedaços, e transcreveram tudo isso para a língua absoluta.

Aurora parecia radiante quando falava desse passado distante, com um olhar de desejo nos olhos. Era óbvio que ela preferia ter nascido nessa época do que nos dias de hoje.

— Várias academias de magia e instituições arcanas se juntaram a esse esforço, culminando no maior centro de conhecimento da história: A grande fortaleza de Shaagrin. O saber foi reunido pelos magos mais poderosos do mundo, que delegaram a si mesmos a função de protetores desse conhecimento. - Aurora fez uma pausa, seu rosto subitamente austero - e então, em um único dia, Shaagrin desapareceu em uma gigantesca bola de fogo, e todos nas quatro províncias sentiram a terra tremer.

— A Grande desgraça. - disse, baixinho.

— Até hoje, ninguém sabe o que a causou. - A bruxa sentou-se em uma pedra - e com Shaagrin, se perdeu a maior parte do conhecimento mágico. As poucas runas que sobraram, são as mais básicas, as runas introdutórias: magia elementar, magia de cura, e magia de combate.

— Então, quando você disse “maga de batalha”...

— Eu quis dizer que lhe ensinarei magia de combate, sim. - Aurora colocou três pedrinhas sobre uma rocha maior ao seu lado - Existem três tipos de magos: os magos elementares, que são os mais poderosos, utilizam runas para controlar a matéria até os seus menores detalhes. Os maiores entre eles poderiam até separar um rochedo em seus elementos básicos, extraindo da pedra qualquer metal ou liga que desejassem. A magia elementar também é conhecida como alquimia.

Ela derrubou a primeira pedrinha com um peteleco.

— Os magos de cura são geralmente encontrados em grandes cidades, embora se ache muitos curandeiros viajantes por aí hoje em dia. Como o nome já diz, eles se especializam nas runas que descrevem o corpo humano e suas funções, as doenças e os tratamentos. São o tipo mais fraco de mago, no geral.

ela derrubou a segunda pedrinha com outro peteleco, sorrindo como se tivesse lembrado de uma piada.

— E por fim, os magos de combate: são os magos mais versáteis, e ao contrário dos outros dois, nós somos generalistas. Estudamos todas as runas que podemos encontrar, e procuramos uma maneira de utilizá-las em ação. No geral, não conseguimos atingir o mesmo nível de poder que os magos especialistas, mas com certeza somos os mais perigosos em uma luta. O nosso objetivo maior é utilizar as runas da forma mais rápida, eficiente e prática.

— entendi. - eu concordei. era como no ringue. lutadores que usavam golpes bonitos e complicados geralmente acabavam perdendo para os movimentos mais simples e rápidos.

— Existem seis passos para aprender e usar um feitiço - Aurora continuou - vamos estudar um passo por dia, e a cada seis dias, eu vou mudar a ordem dos passos.

— Porque? - parecia um sistema complicado por nenhum motivo aparente.

— Porque você precisa aprender a ser versátil. - Aurora respondeu - eu levei dez anos para aprender o básico da magia, e mais vinte anos para chegar no nível que estou agora. Você vai ter alguns dias, talvez semanas, com sorte, antes da sua próxima luta. Por isso, temos que usar todos os atalhos que conseguirmos. Eu pedi para que você fosse dormir por essa razão: sua cabeça estava muito cheia de perguntas. Muitos dos atalhos que nós vamos tomar são perigosos. Então preciso que você se mantenha focada na magia de agora em diante.

— É inútil, eu já disse - Goroth estava parado, encostado em uma rocha, a alguns metros de distância. - Ela não vale a pena.

Aurora fechou a cara.

— Goroth, se você não vai ajudar, pelo menos não atrapalhe. - Ela disse, em tom incisivo - eu preciso que Drania aprenda, e vou...

— Você não pode confiar nela. - Goroth insistiu - depois de tudo o que aconteceu, de sermos atacados por causa dela. Pelo culto, e agora o clã. O meu clã, Aurora.

— E nós vamos dar um jeito - aurora falou - ela é diferente, Goroth.

— Você disse a mesma coisa da última vez! - Goroth exclamou - ela vai nos trair, nos envenenar e nos entregar aos orcs, que nem a outra fantasma em que você confiou!

Então foi isso o que aconteceu. Eu lembrei do que aurora havia dito na clareira. Os outros fantasmas que encontrei eram assassinos, tiranos ou loucos. Ela havia sido traída por um fantasma. Por isso Goroth não gostava de mim.

— Basta! - Aurora estava lívida. - Os verdadeiros inimigos estão lá fora agora, vasculhando a floresta atrás de nós. a sua desconfiança absurda só vai atrapalhar!

— Eu... - eu comecei. Eu entendia Goroth agora. Eu viera das ruas, onde traição era a regra, e eu era a exceção. Eu só confiara em duas pessoas a minha vida toda, e uma delas havia me traído. A outra era Alice.

— Não há nada que você diga que pode mudar a situação - Goroth me encarou - não tem como você provar que é confiável.

Aurora suspirou.

— Existe um jeito. - Ela falou, devagar - eu não queria fazer isso tão cedo, mas você não me deixa escolha.

O orc pareceu surpreso com isso.

— Como? - nós perguntamos ao mesmo tempo.

— Drania, lembra do contrato que você assinou? - Aurora me perguntou - ele foi escrito em comum, mas selado na Língua Absoluta, um contrato mágico.

— E o que isso prova? - Goroth interrompeu - ela vai ser obrigada a seguir o contrato até o fim, mas nada garante que ela não vá te matar. Te matar a deixará livre do contrato, é a forma mais fácil de resolver a situação.

— Me deixe terminar. - Aurora disse - eu incluí outra coisa nesse contrato, porque eu sabia que você não confiaria nela. - A bruxa fitou meus olhos seriamente - Drania, está na hora de você responder as três perguntas.


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Notas finais do capítulo

eis que fui demitido, portano choverão capítulos, hehe. talvez dê para terminar a história ainda esse ano :)



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