A Magia do Submundo escrita por Lorde Vallex


Capítulo 20
O Convite


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Como prometido, cá estou eu com mais um capítulo, continuando o primeiro Ato deste novo Arco.
Boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788746/chapter/20

 

Ele acordou tonto. Em seu quarto, não havia nenhuma iluminação, e ele próprio sequer se lembrava do que acontecera anteriormente. A única coisa que sabia era que precisava levantar.
Assim que o fez, sentiu-se estranho. Sentiu-se errado. Ele olhou ao redor, e não reconheceu o local onde dormia. Caminhou um pouco e olhou para um espelho de rosto que possuía sobre a escrivaninha. Por algum motivo, porém, não conseguiu reconhecer o rosto que via, pois sua visão captava apenas uma silhueta escura. Seus olhos brilhavam, mas ele também não saberia lembrar do nome da cor que via.
De repente, sentiu fome, muita fome. O medo e a confusão deram lugar a este sentimento. Estava faminto, como se não houvesse comido há milênios.
Ele saiu do quarto e desceu as escadas. Não emitia ruído, pois era apenas uma sombra. Ele então abriu a porta e sentiu o abafado ar noturno atingindo seu corpo. Não se lembrava de ter sentido isso nunca em toda a sua existência.
Sua curiosidade foi despertada com o cheiro que inundou suas narinas. Aquele cheiro tão prazeroso que deixava-o quase delirante, sem controle de seu próprio corpo.
Sangue.
Ele migrou de rua em rua, de sombra em sombra, como se estas fossem uma extensão de seu próprio corpo. Um demônio surgiu em seu caminho, mas ele entrou dentro da criatura e despedaçou-a por dentro, logo em seguida continuando a caçada.
Encontrou sua presa momentos depois. Uma garotinha distanciava-se da mãe naquela noite escura, aparentemente porque derrubara uma boneca na calçada. A mãe estava no celular, então se fosse rápido poderia alcançar a garotinha antes que a mãe percebesse e, assim, acabar com sua sede.
No momento em que saltou das sombras, sua forma começou a se alterar de uma silhueta negra para uma forma mais monstruosa. No meio da transformação, porém, uma figura saltou contra ele. A figura era uma humana, aparentemente, mas muito mais forte do que uma, e prendeu-o contra a parede. Ele, porém, conseguiu se soltar e tentou atacar, mas a humana bloqueou sua investida mais uma vez e imobilizou-o. Ele então mordeu o braço da humana, que reprimiu um grito.
Enquanto sentia o delicioso gosto do sangue banhando seus lábios, observou a menininha pegar a boneca e se afastar. A poderosa humana que o imobilizava o fazia de tal modo que assemelhava-se a um abraço carinhoso. Diante disso, ele se sentiu protegido, e começou a adormecer.
Escuridão.

*

Jason abriu os olhos com dificuldades. Não entendia ao certo o que acontecera, e levantou-se hesitante. Assim que se moveu, ouviu uma exclamação:

— Você acordou!

Quando olhou, viu Luna correndo em sua direção e abraçando-o. Jason soltou um gemido de dor, e a garota afastou-se, corada.

— D-desculpa. É que você tá dormindo faz uns três dias, então…

— Luna, devagar! Eu acabei de acordar. Espera, três dias?! O que aconteceu? O Mamon…?

— Mamon está morto — garantiu Luna. Após uma breve hesitação, acrescentou: — Nós todos o matamos. E o Culto Carmesim está acabado.

— Entendo. Mas… eu tive um sonho estranho. Nesse sonho, a mestra Lily…

— Não se preocupe! — interrompeu Luna, desesperadamente. — A Lily viajou para outra cidade depois da queda da Irmandade.

— Depois do quê?!

— Ah, sim. Três dias atrás uma bruxa amiga da sua mãe surgiu e nos contou que um mascarado e umas bruxas renegadas atacaram o Santuário. Noah traiu a Irmandade, matou a Anciã e muitas outras bruxas também morreram. Com isso, a balança se desequilibrou, e agora a Lily teve que viajar pra uma cidade em que precisavam mais dela.

— Minha mãe…?

— Ela foi procurar o esconderijo do criminoso, enquanto a Alice e a Amanda, a bruxa nova, cuidam de Fairyshall.

— Minha mãe foi sozinha?!

— Ela é uma Torre altamente capacitada — argumentou Luna. — Além disso, é só uma missão de busca. Ela não vai simplesmente entrar caminhando no esconderijo inimigo. Isso se esse esconderijo existir…

Os dois ficaram em um silêncio que logo tornou-se constrangedor. Para quebrá-lo, Jason fez um comentário.

— Eu tive outro sonho estranho. Eu levantei e saí da casa, então eu matei um demônio. Eu lembro que eu continuei procurando, até achar uma criança. Eu tive… vontade de matá-la, mas você apareceu e me impediu. Foi bizarro.

Jason viu que Luna ficou subitamente desconfortável, e a mestiça desviou os olhos. Jason viu que ela ia levantar, então segurou a mão da garota.

— Luna, você está escondendo alguma coisa. Diga pra mim.

Um arrepio estranho percorreu o corpo de Luna, e sua força de vontade fraquejou.

— Não foi um sonho — murmurou ela.

— Quê?!

— Não foi um sonho. Você realmente fez isso…

— Eu… machuquei você? — indagou Jason, começando a sentir o peito apertar.

— Não se preocupa! Eu sou parte demônio, e usei raiz de amedina. Não fiquei com marcas, nem você me machucou muito.

— Como eu teria feito isso?!

— Bem, Sujeito Anônimo, eu tenho uma teoria.

— Qual?

— Eu tenho muitos motivos para crer que você possui sangue de demônio.

Jason ficou por um momento em silêncio, tentando processar o que havia sido dito. Então, perguntou em um sussurro:

— Como?

— E-eu não sei. Acho que só a sua mãe saberia responder.

— E o que isso significa?! — rosnou Jason, subitamente furioso. — Que agora tenho que comer carne humana?

A garota baixou a cabeça, e Jason entendeu o que isso significava. Jason deixou as lágrimas começarem a escorrer. Luna, vendo isso, aproximou-se e abraçou-o. Os dois ficaram naquela posição por um longo momento.

— Mas como?! Eu fui normal, pelo menos um bruxo normal, até agora! Como isso aconteceu?!

— Eu não sei. Talvez os eventos com o Mamon tenham ativado seus genes adormecidos, ou talvez tenha sido algo diferente.

— O que vai acontecer comigo? — perguntou ele, após mais um período silencioso.

— Os seus sentidos vão se tornar mais apurados, você poderá ver no escuro, será mais rápido, forte e resistente que qualquer humano ou bruxa. Suas capacidades mais especiais, como a minha criação de armas, eu não sei dizer. Mas eu posso chutar um. Você consegue subjugar a vontade de outros demônios.

— Como sabe disso?

— Porque agora há pouco você fez isso comigo. E já o fez outras vezes. É bem desconfortável estar à sua mercê, sabia?

— F-foi mal.

Luna levantou e puxou Jason para cima, e os dois ficaram de pé.

— Também não se engane achando que será fácil. Existem muitos problemas, mesmo entre mestiços. O primeiro é justamente que somos mestiços, e isso nos torna inferiores aos olhos da maioria das pessoas. Além disso, o sol, embora não queime ou machuque, será extremamente incômodo nos primeiros dias. — Luna rodopiou aleatoriamente e prosseguiu enquanto saíam do quarto e desciam as escadas. — A comida humana não irá te sustentar, e você sentirá o desejo de acabar com todos ao seu redor.

— Isso me parece ruim.

— Ah, sim. E nós vamos para a escola.

— Hein?!

Luna cutucou Jason e sorriu animada.

— Que jeito melhor de se acostumar do que na prática? Eu vou ficar sempre ao seu lado.

— Sempre ao meu lado? — perguntou Jason, sarcástico. Luna corou.

— V-você entendeu o que eu quis dizer!

Jason sorriu. Por dentro, no entanto, estava aterrorizado. Sua vida acabara de mudar drasticamente.

*

Selena ajeitou mais uma vez seu manto de tom roxo desbotado, limpou os olhos e olhou para o local.
Havia três dias, Selena iniciou sua procura pela localização do traidor Noah, e do mascarado que descobrira se chamar Savan, um mercenário conhecido no submundo por “nunca falhar”. A Torre abandonou Fairyshall para buscar pelo criminoso, o que levou-a até uma cidade costeira onde “pessoas estavam desaparecendo”. Ela então foi atrás de um contrabandista e este, após uma ameaça e um espinho no pé, revelou à Torre que veículos iam e vinham da cidade até algum lugar a oeste.
Selena agora olhava o local. Tratava-se de um lago no meio de um amontoado de rochas disformes que possuíam o formato de dentes retorcidos apontando para cima. Era possível ver rastros, aparentemente feitos por caminhões, que iam até o lago e então desapareciam nas águas. Não parecia especialmente bem guardado, mas ela podia sentir claramente a assinatura mágica. Definitivamente, precisava ver mais de perto.
Assim que tomou coragem, Selena avançou. Estava preparada para uma emboscada, mas esta não veio. A mulher continuou caminhando até chegar ao lago. De início, não viu nada suspeito nele, além da forte presença mágica que o mesmo possuía. Hesitante, Selena entrou na água.
Houve o silêncio e, então, o vazio.

*

Jason olhou para a entrada do colégio e finalmente se deu conta de que sumira por três dias. Robert e Bianca deviam estar preocupados, e qual seria a desculpa que ele daria?
Quando comentou o assunto com Luna, a garota sugeriu:

— Podemos dizer que você foi sequestrado pela máfia russa! Ou abduzido por extraterrestres.

— Eu não sei por que ainda te peço uma opinião…

Jason cumprimentou o porteiro e entrou no colégio. Percebera que chegara atrasado.

— Ir andando é uma merda — comentou Luna.

Ignorando-a, Jason saiu correndo, passando por escadarias e corredores até chegar à sua sala. Quando entrou ofegante, seguido por Luna, todos olharam para eles. A professora Marie parecia com tédio.

— Entrem e sentem-se.

Quando foi ao seu lugar, Jason percebeu que Robb e Bia pareciam querer conversar, então ele apenas gesticulou “depois”.
Realmente, após as primeiras aulas, durante o intervalo, ele sequer teve tempo de sair da sala direito sem que Robb e Bia surgissem na frente dele.

— Foi sequestrado? — zombou Bia. — Você nem respondeu as mensagens!

— Eu estava doente — disse Jason, evasivamente. Aquilo poderia ser considerado mentira?

— É engraçado como você e a Luna ficaram doentes juntos — comentou Robb.

— Eu não fiquei doente — negou Luna. — Eu fiquei cuidando desse animal. E nem me venha com esse olharzinho, garoto! E-eu e ele ficamos na mesma casa, eu já disse. Meu pai não passa muito tempo comigo, então a Selena e o J… — Luna forçou uma tosse. — Sujeito Anônimo, me deixam ficar por lá.

— Falando nisso — comentou Jason —, vocês nunca mais passaram lá em casa.

— Talvez amanhã — sugeriu Bia, e Jason e Robb assentiram.

— Talvez amanhã — concordou Luna, um pouco desanimada.

*

Selena abriu os olhos rapidamente e tentou entender o que aconteceu. Sentia-se tonta, e percebera que o lago era algum tipo de teleportal.
Quando se levantou, percebera que estava em um pátio e, olhando mais atentamente, percebera que estava no interior das muralhas um castelo. O pátio era quase vazio, a exceção de um pequeno fosso próximo a Selena.
A fortaleza cinzenta erguia-se imponente diante de si, e havia algo naquele castelo que despertou um calafrio na Torre. Seria ele mágico também?

— Precisamente — concordou uma voz atrás dela.

Quando Selena se virou para encará-lo, viu que se tratava de um homem alto de mantos escuros, com uma máscara negra que impedia a visão de seu rosto. Entretanto, pelo tom de voz, Selena reconheceu que ele estava sorrindo. Sua presença era macabra.

— Você é Savan?

— Já ouviu falar de mim? Que fantástico! — Savan começou a se aproximar, e Selena apontou a mão para ele. Notando isso, o mercenário sorriu de canto. — Eu não tentaria isso se fosse você. Eu tenho um profundo vínculo com este castelo, sabe, e seria muito ruim se eu fosse… muito machucado.

Selena hesitou, e era o que Savan precisava. Com um pensamento, tirou água do fosso próximo e jogou-a contra Selena. A Torre foi atingida, e instantaneamente Savan resfriou a água, prendendo Selena dentro de uma camada de gelo.
O mascarado aproximou-se cantarolando de Selena.

— Você me ouve? Tsc, claro que ouve. Não se preocupe, Selena Godren, pois minha intenção não é matar você. Não, não, não. Você é minha isca, e me levará até a recompensa de maior valor: seu filho. Espero que ele seja mais útil após os… incidentes com Mamon.

Selena não conseguia se mexer, mas sua expressão parecia atormentada. Notando isso, o mascarado manipulou o gelo para fazê-lo flutuar e então ele adentrou o castelo, acompanhado do bloco de gelo flutuante que era Selena.

— Além disso — acrescentou ele, sorrindo cinicamente —, eu já imaginava que você me encontraria. Por isso, deixei uma surpresinha para o seu filho.


*

Quando Jason foi até sua casa, Luna estava abraçada em seu braço, quase arrastando-se.

— Me nego a andar mais — disse ela com preguiça. — Seja um bom cavalheiro e me carregue até a cama.

— Eu mal aguento ir sozinho até ela, imagina carregar você junto — retrucou Jason, arrastando-se como um zumbi até o sofá de sua casa.

Neste momento, Luna percebeu algo. Uma presença mágica minúscula. Entretanto, ela ainda estava ali.

— Cuidado! — gritou Luna, empurrando Jason para o lado bem a tempo de impedir o ataque da criatura. Entretanto, a própria Luna não pôde desviar do golpe que jogou-a contra a mesa de jantar, partindo a mesa ao meio.

Jason olhou para a criatura. Assemelhava-se a um camaleão de cinco cabeças. Ele rosnou, cuspiu uma carta e desapareceu novamente. O bruxo esforçou-se para entender o que havia acontecido, enquanto Luna levantava-se e gemia.

— Essa coisa vem, me dá um murro e some? — esbravejou ela. — Quero ver ter coragem de vir de frente!

— Hã… Você sabe que o demônio já foi embora, né?

— Quê? — Luna corou e pigarreou. — C-claro que sei. Só estava testando você.

Jason meneou a cabeça e olhou para a carta babada no chão. Pegou-a na mão, contraindo a face diante o aspecto pegajoso que ela agora possuía. Luna fingiu vomitar.

— Isso é nojento.

O bruxo concordou e abriu a carta. Então, leu o conteúdo em voz alta.

— "Se você não for Jason Godren, por favor, feche a carta e entregue para o real destinatário. Se for, olá, Jay" — disse ele. — “Eu venho te observando há muito tempo, e vejo que evoluiu o suficiente para nos encontrarmos. Apenas como uma curiosidade: estou com sua mãe como minha prisioneira. Se quiser saber mais, encontre-me no início das aulas de amanhã, na sala de música. Assinado, Savan, seu mais incrível conhecido.”

Jason e Luna se entreolharam. Era possível ver o medo nos olhos do jovem bruxo. Sua mãe era uma prisioneira, e aquele que aprisionou-a estaria em seu colégio.
Definitivamente, aquele não era o mais agradável dos cenários.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Jason encapetado, Selena aprisionada e o Savan totalmente pleno falando sobre prender a mãe dos outros. Cara super gente boa.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Magia do Submundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.