Memento Vivere - Lembre-se de Viver escrita por Shalashaska


Capítulo 4
Canção de Ninar




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A base da IMA era imensa, com muitos níveis subterrâneos e ao menos três andares acima do térreo. Namor tivera tempo para conferir as dimensões de corredores e salas, pois acompanhou Monica em algumas de suas tarefas enquanto ela tentava envolvê-lo gradativamente em suas ideias. O príncipe não era tolo, notava quando a cientista dava ênfase na ordem e eficiência de sua organização, manipulando-o sutilmente a concordar com seus termos nada éticos na questão de como salvariam o universo. A cor vítrea de seus olhos azuis estava bem marcada em sua mente no momento que debateram mais sobre o Cubo Cósmico:

Ele contribuiu com algumas informações, poucas, para que Monica ficasse satisfeita. A mulher, por sua vez, explicou como o Cubo era poderoso, embora não totalmente onipotente. Existiam efeitos colaterais, consequências imprevisíveis… E um custo ao seu portador. E quem seria mais perfeito do que um guia nesse labirinto de possibilidades para usar o Cubo? Quem melhor do que a própria Cisne Negro? Uma refém útil, era tudo o que ela era.

De novo, ouviu a voz de Yabbat em sua mente ao encarar os olhos de Monica. Azul é doente.

Namor a alertou que a Cisne tinha certo desprezo pela vida e poderia não estar muito inclinada a colaborar se permanecesse presa. Foi então que ele conseguiu certa liberdade para sua aliada e assim levá-la para um tenso passeio no centro da base. O fato de um experimento com o Cubo ter aberto uma fenda para espaço no céu - mesmo que por míseros segundos - também foi o suficiente para ocupar o tempo da cientista nesse ínterim.

Lá havia um jardim, por assim dizer, uma variedade de plantas num ambiente de clima controlado que serviam para pesquisas, afinal, Monica Rappaccini era uma bioquímica especializada em toxinas. Havia uma abóbada de vidro no alto e alguns bancos no caminho, o que deixava o local o mais próximo de ser agradável. Yabbat levou sua bandeja de comida para um desses bancos, sentou-se e começou a comer sem muita cerimônia. Ele se acomodou à sua frente e murmurou:

— Você só come porcaria.

Yabbat engoliu a batata frita que havia posto na boca. De todas as opções que poderia ter pedido à IMA, ela apenas pediu um combo de fastfood. Na bandeja também havia um hambúrguer triplo e um copo de refrigerante de 700ml.

— E você se importa? — Ela franziu o cenho e soltou um riso curto, debochado. — É misericordioso oferecer uma bela ceia a um animal antes de seu sacrifício, não acha?

Não respondeu, não de imediato. Apenas pensou, horrorizado, o quanto ela tinha sido certeira em sua suposição e cogitava se a Cisne sabia de algo, talvez lendo a sua mente. No entanto, a expressão dela mudou. Primeiro, incredulidade. Estava só brincando, então? Pelo visto, sim. E depois, um brilho feroz em seus olhos.

— Antes que solte mais impropérios, Cisne… — Ele se apressou em dizer, olhando de soslaio para ver se estavam sozinhos. — Devo lembrá-la que somos convidados e não devemos ser rudes.

Em sua cabeça, alertava o perigo da situação. Ouvidos demais na base. Câmeras demais. Vigilância demais. Ouça o que eu não digo, foi o que pediu mentalmente. E Yabbat pareceu se acalmar ao tomar um gole de refrigerante, mas não evitou o comentário:

— Você estava me olhando como se visse um animal indo para o abate, perdoe a minha grosseria. — Então era, de fato, só uma brincadeira tola. — Estou cansada, príncipe. Nossos anfitriões tem um jeito estranhos de lidar com convidados… Só me deixe comer em paz, depois me conte as novidades.

Ele não disse mais nada enquanto Yabbat terminava sua porção de batatas e o hambúrguer. Depois, levaram a bandeja com o copo e os utensílios descartáveis até um funcionário da IMA, que por sua vez sumiu base adentro em silêncio. Yabbat e Namor voltaram a caminhar pelo jardim.

O príncipe não podia negar que sua aliada parecia realmente cansada, distraída. Mesmo com a gravidade da situação - as Incursões, o cárcere na IMA, os experimentos - o rosto dela era impassível, como se somente ignorasse uma música desagradável ao fundo. Tocava a ponta das folhas verdes de um planta mais próxima, encarou uma libélula vermelha. Namor nunca entendera a comparação que os humanos faziam entre elegância e cisnes, pois aves sempre lhe pareceram desajeitadas e com pés esquisitos. No entanto, conseguiu compreender a solidez de uma alma frente ao inevitável; uma ave que contém em si o conhecimento de vícios e horrores, mas que ainda assim exibe a graça de uma tranquilidade intocável.

É claro, no dia anterior ela foi irascível. Hoje, estava calma e no lugar dela, ele não seria capaz disso. Procurou marcas de agulhas, indícios que tinha sido dopada. Tentou não encarar muito a coleira elétrica. Encontrou furos pequenos em seu braço e não pode deixar de questionar, sua voz baixa:

— O que fizeram com você, Cisne?

— Eu não sei. Acordei já em meu… Quarto. Mas não dormi bem.

— Você nunca dorme bem. — Yabbat virou-se, olhando-o com mais atenção. Surpresa por ele ter notado, talvez. O príncipe sentiu que aquilo era importante demais para deixar de questionar: — Com o que sonha tanto?

Ela suspirou e, sem desviar o olhar, respondeu:

— Casa, príncipe. — Estava cansada até mesmo para suas respostas debochadas. — Ruínas. Não vai entender.

A garganta dele ficou seca. Ele queria dizer que entendia. Que a colônia atlante que visitou… Eram apenas ossos do que um dia já foi. Um cemitério. No entanto, não queria se expor, preocupado com o que IMA poderia ouvir. Já era um erro conversar tanto com ela agora, mesmo que tivesse que manter as aparências para Monica Rappaccini. Só não pode deixar de questionar qual era a relação desses pesadelos com seu lar e a tal chave… Pensamento que logo a Cisne captou com sua leve telepatia.

— Eu lhe contei sobre a Biblioteca de Mundos. — Yabbat explicou. — E eu perdi essa chave quando… Voltei para o meu planeta.

— Você voltou? Como? Não havia sido destruído?

Ela arregalou um pouco os olhos, ciente de que havia dito além do que pretendia.

— Não importa mais. A chave se foi e meu mundo também.

Chave, portas, lares destruídos. Namor estreitou os olhos, sua cabeça em um turbilhão amargo. A chave se foi, mas o caminho entre um lugar e outro não. Se descobrisse onde estava tal porta, tal passagem para a Atlantis que conhecia… Poderia voltar, sem ser por uma abertura perigosa no espaço pelo qual viera. Não ligava para trancas e chaves. Abriria tal porta apenas com seu ódio.

— Cisne. — Chamou sua atenção. — Como são as portas para a Biblioteca?

— Geralmente grandes. Ancestrais. Podem existir mais de uma por universo ou então só uma. — Deu de ombros. — Sempre ocultas. Inúteis para todos, exceto para as Grandes Damas.

As Cisnes Negros.

— E você é uma.

Yabbat sorriu de maneira fraca.

— Outro elogio? Ficarei mal acostumada. Agora me diga porque me trouxe aqui, príncipe. Não veio só para tecer comentários gentis sobre mim.

Mais uma vez, ele pediu que prestasse atenção no que pensava e Yabbat aquiesceu.

— Monica tem recursos.

“A IMA possui um Cubo Cósmico.”

— Os agentes querem ajudar. Podemos salvar o multiverso… E meu povo.

“Por um custo.”

— Mas eles precisam de auxílio também. Esperam que os testes com você os levem a respostas.

“Pretendem te usar.”

Yabbat nem piscou ao entender a situação em que estava.

— Então por que está preocupado? É tudo o que você queria.

Ele abriu a boca, mas sua voz não saiu. A maldita estava certa de novo. Era tudo o que ele poderia desejar de uma nova aliança, não? Acabar com as Incursões. Seu lar de volta. Se livrar de Yabbat. Ao fim, respondeu:

— Chame isso de prevenção.

— Oh, cautela de novo. Um tanto fora do seu personagem, devo admitir. Conte-me seu plano e eu lhe direi o quanto é tolo.

— Seguir com os experimentos da senhorita Rappaccini.

Pegar o Cubo e sumir daqui.”

A Cisne ergueu uma sobrancelha.

— Não é muito específico.

— Não tive tempo para pensar em detalhes, sua tonta. Não quando essa maldita roda continua girando.

— O que?

— Como você diz, Yabbat. Rabum Alal. — Foi a vez dele observar a outra engolir seco. — Ou melhor, Sidera Maris. Era azul e durou poucos segundos até a fenda do espaço se fechar de novo.

— Quando foi isso? — Ela deu um passo a frente. — Foi há pouco? Ou horas atrás?

— Há pouco. Digo, algumas horas só.

— Não, não, não! Foi exatamente quando… urgh.

Yabbat encarou o chão e segurou a cabeça com ambas as mãos. Sua face se fechou numa expressão de dor enquanto balbuciava em sua língua nativa, e ao abrir suas pálpebras… As íris da Cisne Negro não estavam nem negras, nem vermelhas como se tingiam igual a uma Incursão. Estavam azuis, cintilantes e doentias.

— Cisne?!

A sustentou pelos cotovelos, mas o pior não era vê-la assustada e com os olhos azuis. Era ver que o céu agora emitia uma cor parecida, um lume opaco que coloria todo o horizonte acima da abóbada de vidro: Uma nova fenda, uma nova janela para outro universo. Sidera Maris.

Um alarme soou agudo e incessante na base, os agentes de amarelo se movimentavam depressa. Namor tinha visto aquilo acontecer antes e mesmo preparado com esse tipo de situação, parecia mais grave que seus nervos podiam suportar. Presenciara o que vinha da Sidera Maris anteriormente, os Cartógrafos, e não era nada bom.

E era exatamente o que descia do céu, tais quais estrelas cadentes.

— Namor. — A voz dela era frágil e enfurecida. Yabbat observava o rosto do príncipe e seus braços iluminados pela cor que seus olhos derramavam. — O que eles fizeram comigo? O que eles…?!

— Não sei! Maldição, eu não sei!

Não houve tempo para debate, nem para decidir se enfrentavam a nova Incursão ou se deixavam a IMA lidar com os robôs voadores. Logo meia dúzia de agentes uniformizados em amarelo os conduziram para fora do jardim, percorrendo um longo caminho até um elevador que os levariam até níveis subterrâneos. O príncipe contou os andares, ainda com Yabbat bamba em seus braços. No estado em que ela se encontrava, não era má ideia ficar fora de combate. Estavam no terceiro e último, o mais seguro.

Chegaram a um cômodo de tamanho médio e os agentes ficaram para trás. Era um laboratório e somente algumas pessoas estavam lá. Havia o som de bipes das máquinas,no tremor da batalha lá fora. Quem os recebeu foi Monica e ela gentilmente ajudou Yabbat a se sentar.

Namor não se acalmou. Não quando viu o Cubo Cósmico no centro da sala, seu brilho envolvendo cada um dos presentes. Concluiu:

— Você testou o Cubo de novo.

— Sim. Ainda precisa de alguns ajustes… — Monica não desviou o olhar de Yabbat, que estava tão fraca que mal reagiu a ter seus cabelos acariciados pela cientista. — Realmente foi fora da magnitude que eu esperava, mas atingiu a direção que eu queria. Avanços, Namor. Progresso.

Ele estava prestes a arrancar a mão dela de cima da Cisne quando Yabbat franziu os cenhos de novo, o rosto torcido em ânsia. O azul dos olhos dela piscou até se tornar negro como de costume. Ela arfou, visivelmente enjoada, até voltar ao ritmo normal de sua respiração. Quando isso aconteceu, o alarme da base parou e, em sequência, Monica recebeu uma notificação em seu bracelete:

Fenda selada. Cartógrafos que vieram à atmosfera foram neutralizados.”

— O que… — A boca de Yabbat tremeu. Tanto ela quanto Namor puderam compreender que havia alguma relação entre a Sidera Maris, os experimentos e a estranha alteração da cor dos olhos da Cisne. — O que fez comigo?

— Só alguns testes. Não dói mais, não é? Agora seus olhos… Seus olhos foram um resultado inesperado.

— Eu não lembro de nada.

— Ah, querida. — Ela segurou seu rosto com doçura. — É melhor não lembrar.

Yabbat lhe mostrou os dentes, mas Monica só se afastou e sorriu.

— Não, não. — Repreendeu-a. — Seria péssimo ativar a coleira de novo, não acha?

— Seria. Mas não seria tempo o suficiente para me impedir de quebrar sua traquéia.

A cientista inclinou o rosto, sem deixar de sorrir.

— Nem parece a mesma pessoa doce quando inconsciente.

Antes que a tensão explodisse numa briga violenta, Namor puxou Mônica com firmeza pelo antebraço esquerdo. Lançou um olhar de esguelha para a Cisne, ainda sentada na cadeira mais próxima, e voltou sua atenção a cientista. Não a convenceria pelo carisma, nem pela moral. Apenas argumentos a atingiriam.

— Você está forçando Incursões de acontecerem com o Cubo. Isso não é boa coisa. Pode complicar mais questão.

— Preciso observar os eventos para entendê-los, Namor. Algo muito comum na ciência.

— O Cubo tem custos, você mesma disse isso. E também variáveis imprevisíveis.

— Estou ciente. O objetivo é compreender como essas aberturas no universo ocorrem, essas Incursões… Para então forçá-las no sentido inverso. Fechá-las a cada vez que abrirem.

Yabbat gargalhou ao fundo.

— Não há como fugir da roda! Tudo vai morrer, senhorita Rappaccini. Pode me abrir inteira e me revirar do avesso, mas não vai encontrar nada que sirva. Nenhuma esperança. Mesmo a moral e o ego de Reed Richards foram capazes de admitir que não havia inteligência o suficiente para evitar o fim de tudo. Somos escravos da morte.

O cômodo ficou silencioso. Namor estava razoavelmente acostumado com os discursos fatalistas da Cisne Negro e sua adoração ao fim de todas as coisas, no entanto viu um brilho perigoso na cientista. Ela ajeitou sua própria postura e se aproximou devagar de Yabbat.

— Reed Richards e sua grande moral, huh?

— Um tolo nobre.

— Oh. Eu sabia que sua pequena ave rara iria piar algo interessante. — Ela se afastou e encarou o atlante por um breve segundo, antes de se voltar de novo à Cisne, sua cobaia. — Sabe, eu conheci um Reed Richards aqui no meu universo. Bem parecido com o seu. Inteligente, moral e tolo. Um obstáculo. E não deixo obstáculo algum me impedir, muito menos um recurso como você.

Com um só toque na tela de seu bracelete, a eletricidade na coleira de Yabbat foi acionada. Ela gritou e arranhou a superfície lisa do objeto sem sucesso, até que caiu com um espasmo. Do outro lado do cômodo, a porta automática se abriu e mais agentes uniformizados entraram para imobilizar a Cisne e levá-la para outro lugar.

Monica não usou a munição tranquilizante, sempre em sua cintura. Não. Ela queria que doesse em Yabbat.

— É bom que nem Reed, nem o resto de sua família estejam aqui pra complicar as coisas. O resto que sobrou dos Vingadores já me deu trabalho demais. Só deveria ser mais cauteloso em suas companhias, Namor. Foi um golpe de sorte todos do Quarteto terem desaparecido por causa de Thanos e não preciso de uma aliada deles pra atrapalhar tudo.

Namor não reagiu ao ver o corpo inconsciente de Yabbat ser carregado embora. Não reagiu ao ouvir palavras ácidas da cientista. Reagir o colocaria em uma posição pior para tentar salvar sua aliada. Parte dele o chamava de covarde. A outra parte se questionava se deveria salvá-la ou não. Nenhum átomo dele gostou de presenciar tal cena.

Monica, por sua vez, deu um aperto amigável em seu ombro.

— Não se preocupe, eu ouvi a conversa no jardim através do áudio das câmeras. — O sorriso dela era sincero. — A IMA vai salvar o multiverso e o seu povo, qualquer que seja. Acho que até teremos que conversar mais sobre isso, não acha, príncipe? Como você mesmo disse, só precisamos seguir com os experimentos. — Ela aproximou a boca do comunicador e ordenou para seus agentes: — Executem a terceira parte.

Ela suspirou e voltou sua atenção ao Cubo Cósmico.

— Não vou dizer que o mundo conheceu a felicidade depois que todos se foram… Mas definitivamente as pessoas se viraram melhor sem as burocracias de governos corruptos. — Estalou a língua. — Vamos resolver isso. Trazer as pessoas de volta, depois que selarmos o universo no lugar que deve. Não serão todas. O suficiente para trazer paz. Vamos resolver aquilo que os Vingadores não puderam… E de um jeito que será melhor do que jamais fariam.

Namor conteve o nojo.

— Então faz isso pelo bem da sua organização, por utopia? Numa afronta aos heróis?

— Bem, por que não? Não se pode dizer que não atingi o bem comum. Só quero que o mundo afinal evolua. Os heróis defendem o status quo. Da última vez, não conseguiram. Agora a IMA vai ser mais do que uma simples divisão de tecnologia. Vamos ser o futuro.

— E Yabbat?

— Ela fala tanto sobre a morte de tudo… — Deu de ombros. — Talvez seja seu destino encontrar o próprio fim. A ironia é salvar todo resto.

Namor sentia o amargor dessas palavras por muitas e muitas horas depois de sair do terceiro andar subterrâneo da base. Já era tarde quando afinal foi dormir e notou que seu quarto era na área de contenção, um cômodo ao lado de Yabbat. Ele sabia que Monica não confiava inteiramente nele, mas confiava em seu desespero de manter seu povo, mesmo que em outro planeta, a salvo.

E ela estava certa. Estupidamente certa.

Ele era um príncipe. Seus deveres estavam além de seus desejos e sua moral. Por isso explodiu tantos outros mundos antes. Por isso criou a Cabal. Para mantê-los vivos.

No entanto, se não fosse contra isso - toda a ideia de sacrificar pessoas e a moral pelo bem comum -  por Yabbat, seria pelo povo em si e pelo futuro dos universos que a IMA desejava ditar. Lembrou-se de seus amigos, de seus amigos de verdade, ainda na outra Terra. Steve. Jim Hammond, há muito tempo falecido. Eles não aprovariam o que a IMA fazia e nem o que Namor estava se tornando: um homem sem honra.

Enquanto pensava sobre o Cubo Cósmico, Incursões e portas de uma antiga Biblioteca de Mundos, o príncipe atlante escutou a porta automática do quarto ao lado se abrir. Seus ouvidos tinham audição apurada e ele pôde distinguir mais de uma pessoa no cômodo, talvez uma equipe trazendo a Cisne para seu leito. Passos duros. Impacto de um corpo na cama.

E teve a certeza de ouvi-la chorar baixinho depois que os agentes se foram.

Ele engoliu seco. Estava sentado na sua cama, com as costas apoiadas na parede enquanto pensava no escuro. Soltou um suspiro e inclinou a cabeça para cima, encarando o teto. Yabbat tinha dificuldades para dormir e, quando dormia, tinha pesadelos. Novamente lhe veio aquela faísca tola de compaixão e ele soltou um grunhido um tanto irritado. Não sabia como a telepatia dela funcionava e se era tão apurada que poderia atravessar a grossa parede que os separavam. E também não saberia ao certo o que dizer.

Namor apenas começou a pensar no mar. No cheiro salgado das espumas que quebravam na praia e a sensação da areias sob os pés. O vento. A temperatura da água. A forma que a luz do sol penetrava o oceano. Casa. Ruínas. Os minutos e o desespero de Yabbat escorreram conforme as lembranças de Namor desciam a zonas abissais do mar. Ele já não a escutava chorar quando cantarolou suaves e antigas canções atlantes. Esperava que enfim ela tivesse caído no sono.


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Notas finais do capítulo

Oh-ho, parece que alguém se importa mais do que deixa transparecer.



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