A noite que eu nunca esqueceria: Reencontro escrita por Débora Chase


Capítulo 1
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Espero sinceramente que gostem de mais uma fic do meu ship preferido da saga!
Beijinhos repletos de Lumus! *-*



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Todos os integrantes da’ Toca corriam de um lado para o outro por conta dos preparativos do casamento de Gui Weasley e Fleur Delacour que seria nessa noite. Enquanto os homens armaram as tendas do lado de fora e lançavam feitiços de proteção pelo terreno, Gina e eu fazíamos o possível para ajudar Sra. Weasley que, àquela altura, estava a ponto de surtar. Perdera a paciência com os gêmeos logo cedo, embora não tivesse sido muito dura com Jorge por conta do acidente que sofrera anteriormente ao fazer parte da equipe junto a Ordem da Fênix para transportar Harry com segurança até ali. Ninguém comentava, mas ainda era perceptível o desconforto que todos sentiam ao se lembrar da morte de Alastor Moody naquela noite. Moody poderia ser muito ríspido, exigente e por diversas vezes visto como louco, mas era uma das figuras mais fortes que tínhamos do nosso lado. Lembrar que ele não estaria mais aqui trazia um peso enorme e também insegurança. Fazia-me lembrar de que, enquanto perdíamos mais um dos nossos, Você Sabe Quem se fortalecia cada vez mais em seus números.

A ideia do casamento parecia ser algo como uma distração também – além de uma forma de ter o tempo ao nosso favor. Cada dia que acordávamos com vida era um dia a ser comemorado, logo um casamento seria a melhor forma de também ser celebrado ainda que nesses tempos sombrios.

—- Mione, passa aquele lençol pra mim, por favor? – pediu Gina, do outro lado da cama na qual o casal Delacour iriam se hospedar.

Peguei o tecido branco dobrado e joguei para ela.

—- Mamãe está começando a me dar nos nervos.

—- Você já não tinha trocado a roupa de cama antes? – perguntei enquanto ajeitava os travesseiros.

—- Sim, eu havia! Mas quem disse que mamãe me deu ouvidos? Pra não piorar as coisas, resolvi trocar de novo os lençóis. Ela não precisa se aborrecer mais do que já está.

Concordei com um aceno de cabeça. Terminamos de ajeitar o quarto em poucos minutos, não deixando nem uma minúscula partícula de poeira visível aos olhos minuciosos da Sra. Weasley. Escutamos barulhos vindos da cozinha e vozes discutindo.

—- Espero que esse casamento valha mesmo a pena. – resmungou Gina quando saímos do quarto.

—- Valerá sim – tentei ser otimista. – A julgar por tantas pessoas que Gui e Fleur conhecem, deverá ser uma cerimônia bem lotada também.

Gina assentiu.

—- Pelo o que vi, há mais convidados da parte da Fleur, é claro. E, dentre eles, adivinha quem virá?

Ela tinha um sorriso no rosto como o de alguém que estava prestes a contar um segredo.

Dei de ombros.

—- Não faço ideia.

—- Fala sério, Mione, você tem que ter alguma ideia!

Acabei rindo da expressão de chocada que ela tinha no rosto. 

—- Krum! – ela disse de repente.

—- Como? – a notícia é como um golpe no meu estômago.

Dessa vez é Gina quem acaba rindo.

—- Krum, Vítor Krum, Hermione Granger! Ex-aluno da Durmstrang, jogador do time da Bulgária, aquele que dançou com você no Baile de Inverno, que te levou para os jardins da escola depois... – ela começou a enumerar.

—- Eu sei quem ele é, Gina! Mas, nossa, nunca imaginei que viesse.

Descíamos as escadas enquanto ouvíamos a Sra. Weasley ralhar com Rony mais uma vez, provavelmente a vigésima vez naquele dia.

—- Bom, ele não é bem amigo da Fleur, -- continua Gina. --, mas eles são próximos por conta do Torneio. Acho que se Cedrico estivesse vivo, ela também o teria chamado, afinal o Torneio Tribruxo tinha essa intenção, não é? Fazer amigos de todos os lugares do mundo.

Entramos na cozinha ao som de panelas e gritos de raiva. Antes que a tensão piorasse no lugar, Gina e eu nos adiantamos em ajudar a Sra. Weasley, que já estava com vários fios de cabelo fora do coque que havia feito, o suor marcando seu rosto rosado pela raiva e manejava avidamente a varinha para as panelas que emanava um cheiro apetitoso das refeições.

—- Mamãe, já arrumamos os lençóis de novo, gostaria que ajudássemos em mais...? – Gina mal teve tempo de terminar a frase. Uma tigela gigante com cenouras e rabanetes foi posta diante de nós.

—- Obrigada, meninas – Sra. Weasley agradeceu de forma automática enquanto continuava a fazer movimentos ágeis com a varinha diante das panelas do fogão.

—- Ai, por que fui perguntar – bufou Gina.

—- Ela vai ficar mais calma, ao longo do dia – tranquilizei no mesmo instante que várias tampas de panela caíram estrondosamente no chão e Sra. Weasley disparava milhares de palavras que nunca imaginei que as escutaria saindo de sua boca um dia. – Depois do casamento, eu espero.

—- Todos nós esperamos.

Para evitar que tais palavras grosseiras da mãe de Gina pudessem se voltar contra nós, evitamos conversar durante todo o processo de cortar os alimentos. Enquanto minhas mãos trabalhavam, minha mente parecia estar ainda mais a mil por hora, como se cada assunto passasse como um breve trailer de filme: dali a alguns dias, Harry, Rony e eu estaríamos em busca das horcruxes, um trabalho especialmente designado pelo próprio Dumbledore antes de sua morte. Por mais assustadora que aquela viagem fosse, nada mais me frustrava a não ser o fato de termos tão poucas informações – para não dizer nada. Horcruxes poderiam ser quaisquer objetos e ligá-los até Voldemort seria uma tarefa extremamente difícil. Não era como se Dumbledore tivesse deixado descrito quais ou como elas seriam, ou nos dado breves pistas. Suspeitava que, talvez, nem ele mesmo saberia quais eram esses objetos, e por ser um grande número, sete ao todo, tornava ainda mais enevoada a localização. Mas pensar que destruindo-as significava que estaríamos cada vez mais perto de acabar com o Lorde das Trevas, me dava esperança e até mesmo motivação de seguir com os planos. Até aquele momento, não havíamos contado para ninguém, nem mesmo para Gina, embora esta volta e meia tentava jogar verde pra que disséssemos algo. No fundo, ela sabia que hora ou outra nós iríamos começar a jornada.

Por outro lado, a notícia de que Vitor estaria no casamento de Gui e Fleur fez meu coração dar um solavanco. Ainda que por um breve momento após os acontecimentos do Torneio Tribruxo nós mantivéssemos contato, as inúmeras consequências negativas após o retorno de Você-Sabe-Quem tornaram nossas conversas cada vez mais escassas ao ponto de deixarmos de escrever um para o outro. Até a última vez que conversamos, ele havia dito que estava bem e que mal esperava para que pudéssemos nos reencontrar novamente, ainda que estivesse ocupado em viagens pela Europa.

Não podia deixar de pensar em como tudo estava diferente depois da última vez que nos vimos. Na época do Baile de Inverno, nenhum de nós imaginaria as coisas que aconteceriam depois da terceira tarefa. Naquela noite, por um breve instante, eu quis aproveitar a companhia dele. Vítor era mais do que um jogador de quadribol famoso e músculos: era alguém gentil, educado, interessante, alguém que estaria disposto a passar horas conversando com você e que o assunto não ficaria chato, ou deixaria você estudar, como era o meu caso, sem interromper. Se não fosse ele sendo tão atencioso comigo após minha discussão com Rony, a minha noite teria acabado ali, no hall do castelo em meio à lágrimas. 

Ergui meus olhos para a janela da cozinha por onde se via os rapazes finalizando o trabalho com as tendas. Rony parecia estar se divertindo junto aos gêmeos Weasley, que hora ou outra arremessavam os poucos gnomos que ainda restavam no jardim por sobre a cerca. Parando para observá-lo, percebi que não sabia ao certo ainda o que sentia por Rony. Por vezes minha vontade era de agredi-lo até que deixasse de agir como um idiota , mas em outras só pensava em como eu realmente gostava dele. Desde o envenenamento na sala do Slughorn no ano anterior, quando, inconscientemente, ele dissera meu nome na cama da ala hospitalar, não conseguia parar de pensar em nós dois. Claro que já pensava antes, antes mesmo dele estar com sua ex-namorada, Lilá Brown, mas sempre que os via - ou ouvia, infelizmente na maioria dos casos -, procurava ocupar minha mente com mais disciplinas ou em algo que ajudasse Harry. 

—- … Hermione? -- a voz de Gina ecoou na minha mente, que voltou a realidade assim que ela estalou os dedos diante dos meus olhos.

—- Oi? O que houve?

—- Nada, ué, só que você não desgrudou os olhos do meu irmão.

Ela deu uma risadinha.

—- Estava pensando nos preparativos do casamento -- procurei desconversar enquanto retornava minha atenção às cenouras. Não tinham mais cenouras para descascar na tigela?

—- Ah, claro, e eu tô preocupada em qual roupa Gabrielle Delacour vestir hoje à noite. Fala sério, Mione, você ainda sente algo pelo meu irmão. É bem perceptível. 

—- Shhhh, por favor, Gina, não fale alto. Além do mais, não seja boba, eu e Rony somos só bons amigos.

—- Sei. Vai me dizer que não sente nem um resquício nesse coraçãozinho?

—- Somos só bons amigos, Gina, você sabe.

—- Tipo eu em relação ao Harry?

Revirei os olhos.

—- Rony nem se lembra de ter falado meu nome na ala hospitalar naquela vez, ele não me enxerga da mesma forma que… bom, de toda forma, preciso ocupar minha mente com outras coisas.

Gina deu de ombros, com um ar de riso, murmurando algo como “Ou com outras pessoas”. Não havia me escapado bem da desconfiança dela, mas pelo menos o assunto não dera continuidade. Continuei focada nos legumes enquanto torcia para que a noite chegasse o mais rápido possível.

                                                                   ***

O dia realmente passara voando. Entre refeições e milhares de tarefas, mal havíamos notado que já estava anoitecendo e logo mais a cerimônia iria acontecer. 

Saí do banheiro apressadamente em direção ao quarto. Gina não estava lá, mas era possível escutá-la tomando banho no banheiro do outro andar. Ao longe era possível escutar também a música ecoando pela tenda principal, os primeiros acordes. Fui até a janela para espiar por entre a cortina. As tendas irradiavam gloriosamente, flores ornamentavam as estruturas de forma esplêndida. Estava tudo tão incrível lá fora que percebi que toda a correria ao longo do dia valeu a pena. Tudo bem que os estresses da Sra. Weasley não estavam incluídos nessa recompensa, mas…

Voltei minha atenção para o vestido pendurado na porta do armário. Era simples, de um vermelho carmim com alguns babados. Comecei a desembaraçar o cabelo quando a porta abriu de repente e Gina adentrou no quarto, furiosa, o rosto rosado como o robe que vestia.

—- Como é possível? Ronald não consegue me deixar em paz! 

Ela sentou-se à penteadeira e começou a escovar os longos cabelos ruivos furiosamente.

—- Ei, ei, calma, Gina. -- Ela inspirou tão profundamente que se fosse possível uma pessoa acabar com o oxigênio do ambiente apenas com uma fungada, ela teria conseguido. -- Aqui, deixa eu escovar pra você.

—- Eu estava no banho, usando todos os sais possíveis para essa noite e ele simplesmente esmurrou a porta para que eu o ajudasse com a gravata! Pode isso, Mione? 

Abafei um riso, torcendo para que ela não percebesse.

—- Se ele for seu marido futuramente, por favor, ensine-o a usar uma.

O sorriso sumiu do meu rosto.

—- Não sei o que quer dizer com isso. 

Agora era ela quem tinha um sorriso malicioso no rosto.

—- Ah, mas é claro que não sabe, pois sabe quem está chegando? O nosso búlgaro preferido! 

Deslizei a escova uma última vez pelos cabelos ruivos de Gina, e virei meu rosto antes que ela percebesse o quão corada eu estava. Ela nem chegou a falar o nome dele, e nem precisava. Sentia meu coração palpitar com a expectativa de reencontrá-lo.

—- Melhor nos arrumarmos logo, Gina, ou pode ser que seu irmão apareça aqui para que você o ajude a colocar a meia nele.

Gina franziu o rosto com nojo e começou a se arrumar. Uma ajudando a outra, não demorou muito para ficarmos prontas. Como ela seria dama de honra ao lado de Gabrielle, seu vestido e maquiagem eram mais elaborados que os meus. Ajudei-a a fazer o penteado também, e logo seus lindos cabelos alaranjados estavam presos de forma esplendorosa no alto da cabeça. Gina sorria para seu reflexo no espelho enquanto se admirava rodopiando com o vestido.

—- Você está realmente incrível, e não digo isso apenas por que fui eu quem a arrumou. -- falei, orgulhosa. -- Arrisco dizer que está mais linda que a noiva.

—- Mas que absurde me comparrar con a noiva no dia dela. -- ela imitou os gestos que Fleur fazia quando estava dando uma bronca em alguém e caímos na gargalhada. O sorriso foi esvaindo de seu rosto quando ela perguntou: -- Acha que ele repararia, Mione? Você sabe…

Parei diante dela e disse com toda a sinceridade:

—- Olha, eu e Harry somos amigos há muito tempo, e uma coisa que sei é que ele gosta muito de você. Ele era uma outra pessoa quando vocês namoraram ano passado, era possível perceber isso. Não foi nem um pouco fácil, tanto pra ele quanto pra você, de desistir do que estavam vivendo. Então, não pense que Harry não notaria você, e outra, se ele não reparar, tudo bem, quem perde é ele mesmo. Você é uma mulher incrível! 

Ela veio em minha direção e me abraçou. Não consegui ver se haviam lágrimas em seus olhos, mas isso não importava. Afaguei sua cabeça cuidadosamente para não desmanchar seu penteado. 

—- Obrigada por ser minha amiga, Mione, e… olha, eu sei que você, meu irmão e Harry pretendem sair em missão, pode ser amanhã, ou depois, não sei, mas quero que cuidem um do outro. Nem consigo pensar em perder…

—- Ei, ei, ninguém vai perder ninguém, te dou minha palavra. -- falei, enxugando suas lágrimas com as pontas dos dedos. Ela assentiu, tentando ajeitar o rímel que acabou manchando um pouco seus olhos. 

—- Tudo bem, é melhor irmos, ou mamãe vai nos arrastar pelos cabelos se atrasarmos a cerimônia. 

Concordei com um aceno. A última coisa que queríamos ver agora era Sra. Weasley estressadas por nossa causa. 

Deixei Gina ir à frente até que eu saísse. Peguei minha bolsinha de contas, dando mais uma olhada em seu interior. Há semanas que vinha guardando o que fosse necessário nela para alguma situação de emergência, mas, depois da promessa que fizera, algo me dizia que eu deveria levá-la comigo dessa vez. Poderia - e eu esperaria - que não fosse necessário, mas por via das dúvidas, era uma bolsinha que passaria despercebida pelos outros também, então não causaria desconfiança para ninguém.

Conforme descia as escadas, a música ia se tornando gradativamente alta, mas não o suficiente para abafar a agitação no cômodo do andar de cima onde Fleur se arrumava. Era possível imaginar a Sra. Delacour e a Sra. Weasley não parando um segundo até que a noiva estivesse perfeita, além da tia de Rony, Muriel. Provavelmente Gui já estaria na tenda, na qual Fred e Jorge se ocuparam ficando na entrada. Não havia nenhum sinal de Harry e Rony perto da entrada ou no caminho até lá, mas eles não deveriam demorar a aparecer. 

Quando saí pela porta principal da’Toca em direção ao caminho traçado até a tenda onde seria realizada a cerimônia, escutei galhos de alguns arbustos rangerem, o que era estranho, pois não havia vento. Dei de ombros, tocando levemente a varinha guardada em um bolso escondido do vestido. Deveria ser algum gnomo de jardim voltando do outro lado da cerca. Ainda assim, peguei a varinha e a mantive empunhada. Avancei mais alguns passos, passando por algumas primas veelas de Fleur que estavam estonteantemente lindas em longos vestidos acinzentados de cetim. Elas davam risinhos entre si enquanto observavam e apontavam para Fred e Jorge logo à entrada. 

—- Psiu! -- escutei alguém me chamar. Virei-me, mas não havia ninguém atrás de mim. Voltei a caminhar, mas antes que desse um passo, escutei novamente. 

—- Psiu!

—- Honestamente, Rony, não tem graça. -- falei de forma que minha voz não saísse trêmula para a escuridão. -- Se você ou Harry estiver aí atrás do arbusto tentando pregar uma peça, eu juro…

Um enorme vulto surgiu de trás dos arbustos de repente. Reprimi um grito no momento em que mentalizei o feitiço estupefaça, mas antes que a pessoa fosse atingida, o desconhecido desviou com uma agilidade acima do comum.  

—- Acho que merreci isso pelo susto -- a desculpa veio em um tom de voz grave que há muitos anos que não ouvia, porém jamais esqueceria. 

Aos poucos, um homem alto saiu das sombras. Ele estava na verdade muito mais alto desde a última vez que nos vimos, e mais musculoso também. Trajava vestes escuras e elegantes, o que, ao meu ver, o deixava ainda mais bonito. Os cabelos estavam um pouco maiores do que quando era mais novo, e a expressão carrancuda dissolveu em um sorriso que aquecia meu coração por completo. 

—- Vítor! 

Corri em sua direção ao mesmo tempo em que ele estendeu os braços para me abraçar. No instante em que sinto seu aperto ao meu redor, uma sensação maravilhosa tomou conta de mim, irradiando do meu peito.

—- Que surpresa maravilhosa! -- exclamei quando nos separamos.

Ele concordou com um aceno.

—- Fleur é uma amiga de muito tempo, não poderria deixar de parabenizá-la pelo casamento. Sem contarr que erra a oportunidade perfeita parra te ver, Hermioni-ni. Você está incrrível essa noite, como quando na última festa em que estivemos juntos.

Se era possível um rosto queimar por estar corado, esse era o meu agora. 

—- Estou muito feliz em ver você, de verdade! 

—- Eu também. Da última vez em que nos vimos, as coisas estavam bem… diferrentes. Não havia nenhum bruxo das trevas causando medo no mundo, não é?

—- Acho que, por hora, temos que fazer nossa parte e não deixar de lutar contra Você-Sabe-Quem. Do contrário, estaremos vulneráveis -- mantive a confiança na voz, como se uma esperança falasse através de mim. 

Vítor estendeu a mão e afagou meu rosto gentilmente. Era possível sentir os calos devido aos anos dedicados ao quadribol, mas o gesto foi tão delicado que cheguei a fechar meus olhos durante a carícia. Meu coração parecia dar um solavanco a cada passo que ele dava em minha direção. 

A música ecoava mais ao fundo como naquela noite. Agora eu não fazia ideia se alguém passava ali por nós, mas se fizessem, não nos incomodaram. 

—- Que tal uma brreve valsa, como nos velhos tempos? -- sugeriu e concordei, empolgada. 

Vítor pegou minha mão sutilmente e me puxou pra si, pousando sua outra mão na base das minhas costas. Não deu pra evitar um arrepio percorrer pelo meu corpo. De repente, era como se estivéssemos novamente juntos no Baile de Inverno, com a diferença agora somente do lugar em que estávamos. Lentamente, começamos a dançar seguindo a melodia da canção que tocava na tenda. Ergui meu rosto para encará-lo. Acreditavam que ele era alguém frio e com um ego nas alturas devido à fama, mas quando estávamos juntos, ou quando escrevíamos um para o outro, eu conseguia enxergar o verdadeiro Vítor Krum, assim como podia ver em seus olhos naquele momento. 

Aos poucos, a música ficava mais e mais distante de meus ouvidos. Ele aninhou meu rosto com uma das mãos, inclinando o seu em minha direção no instante em que eu ficava na ponta do pé colocando meus lábios em sua disposição. 

Nossas bocas pareciam se encaixar perfeitamente, como se não tivéssemos passado tanto tempo desde que nos despedimos em Hogwarts. Puxei-o para mais perto de mim quando ele se afastou abruptamente.

—- Vamos parra um lugarr mais reservado?

Peguei-o pela mão instintivamente, indo em direção a antiga oficina do Sr. Weasley. Esperava que Gina distraísse os meninos pelo menos por um tempo até que sentissem minha ausência. A verdade era que eu não estava me reconhecendo, mas Vítor tinha esse efeito em mim. Com ele eu não era apenas a garota conhecida pela inteligência e superestimada por isso. Era eu, Hermione, uma garota de 17 anos que se sentia incrivelmente atraída por aquele rapaz que me seguia até o galpão. 

Entramos tomando todo cuidado para não esbarrarmos em nada. Vítor de repente me pressionou contra uma das paredes e retomamos ao nosso beijo de forma mais calorosa agora. Suas mãos percorreram minha pele por debaixo do xale, tomando cuidado com o meu vestido, mantendo nossos corpos colados. Seu cheiro era inebriante, algo amadeirado e fresco, como a floresta depois da chuva, cheiro esse que fazia com que eu caísse em uma vontade louca de ir além dos beijos.

Escutamos alguns barulhos de objetos caindo mais à frente, o que nos fez parar ao mesmo tempo. Não queria que fôssemos vistos por nenhum dos convidados, ainda mais pelos conhecidos de ambos. Felizmente, Krum era alguém discreto da mesma forma e pensou o mesmo. Saímos apressadamente enquanto ouvíamos risadinhas de casais que também optaram por uma privacidade.

Chegando perto da trilha principal em direção a tenda, ajeitei rapidamente meu vestido com um gesto da varinha. 

—- Querria que tivéssemos mais tempo juntos -- ele disse com um olhar pesaroso. 

—- Eu também, principalmente porque não sabemos os rumos que toda essa situação com o Lorde das Trevas vai dar no final. 

—- Depois da festa, você prretende fazer alguma coisa?

—- Se você pretende me convidar para algum lugar…

Ele sorriu. Havia uma tristeza ainda estampada em seu olhar, e por um instante minha bolsinha de contas pesou uma tonelada em meu pulso. Tentei não ligar pra isso no momento. 

—- Podemos dançar a noite toda também, como nos velhos tempos -- sugeri.

Vítor fez uma reverência.

—- O que você desejar, eu topo. 

Ele pegou minhas duas mãos, beijando ambas. O simples gesto me fez um arrepio percorrer meu corpo. 

Começamos a caminhar, quando uma ideia me ocorreu:

—- Vítor, podemos chegar separados na tenda e lá “fingirmos” que nos encontramos pela primeira vez? É que… acho que as pessoas podem… você sabe, questionar e…

Ele fez um gesto tranquilizador.

—- Não tem prroblema. Terremos a noite toda juntos, não é?

Concordei, dando um beijo rápido antes de seguirmos separados. Faltavam poucos convidados a entrar. Olhei para trás e um pouco distante estava Vítor, caminhando de forma tranquila e assumindo uma expressão séria. Tudo o que eu mais queria agora era passar a noite toda dançando com ele e, com sorte, relembrarmos os bons tempos. A possibilidade era como uma luz em meu coração irradiando em meio ao medo, incertezas e ansiedade. 

Passei pela entrada onde nem Fred ou Jorge se encontravam mais (e coincidentemente as duas primas veelas de Fleur também não), mas aquilo não importava. Avistei Gina logo à frente com alguns convidados. Ela virou pra mim dando uma piscadela. Talvez fosse óbvia a minha expressão e eu não me importava que percebessem. 

Aquela seria uma noite que eu nunca esqueceria.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e não deixem de comentar se possível!



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