Noturno escrita por EsterNW


Capítulo 5
Rio de Janeiro




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Castiel se deitou sobre a areia da praia de Copacabana, pouco se importando do que seria de suas vestes pretas depois. Seus sapatos e o violão estavam abandonados à sua esquerda, enquanto Mirela, sentada e com o rosto sobre os joelhos, observava as ondas quebrarem na orla da praia.

Após risos e conversas ao caminharem pela cidade desde a casa de shows — naquela mesma rotina de saírem às escondidas e explorarem juntos a capital —, ambos se permitiram andarem descalços sobre a areia, sentindo os grãos por entre seus dedos, fofos e afundando conforme suas pegadas ficavam para trás, indicando todo o caminho que tomaram até ali.

Há alguns minutos, resolveram fazer o mesmo que alguns outros poucos presentes, sentando-se em um ponto qualquer e observando o mar. Isolados em suas próprias ilhas, em seus próprios assuntos, cada um com seus próprios pensamentos. O silêncio se fazia agradável. Pelo menos entre aqueles dois. Com os outros, não se importavam em saber.

— Eu vou sentir falta disso. — Mirela foi a primeira a dizer algo, percebendo que o guitarrista a encarou de canto de olho. — Amanhã poderia demorar pra chegar — soltou quase como um suspiro, seus olhos analisando como as ondas faziam o mesmo momento de vai e vem. Hipnotizavam.

— Eu não vejo a hora de chegar em casa — Castiel respondeu, sucinto como sempre. 

Da posição em que estava, a figura de Mirela poderia ser observada com perfeição por ele, de perfil. Finalmente pudera matar a vontade de contar algumas das sardas do rosto da moça, mesmo que apenas as de um lado. E mesmo que tivesse certeza que tivesse deixado de enxergar várias devido à noite.

Não estava escuro e a lua cheia no céu fazia questão de dissipar o máximo de escuridão que podia. Sua luz banhava o mar, o azul escuro tingindo-se com o prateado.

— E não vai sentir nem um pouco de falta do Rio? — Mirela questionou, deixando de observar as ondas para voltar olhar para quem estava ao seu lado. Os olhos tempestades de Castiel estavam sobre si e ambos os olhares se cruzaram, nenhum dos dois com temor do olho no olho.

— Vou voltar mais vezes — respondeu, tendo certeza que a Crowstorm ainda faria inúmeros shows pelo estado em um futuro não tão distante assim. A considerar o levar das coisas com a banda, que iam de vento em popa…

— Mas não vai ter alguém tão legal quanto eu pra te fazer companhia — Mirela provocou, fazendo o ruivo gargalhar. — Admite que você gostou do tour que a gente fez nos últimos dias.

Castiel parou de rir, encarando a baixista. Se ele gostou do tempo que passaram juntos? Amou seria a melhor palavra para descrever. Porém, é óbvio que não diria isso em voz alta.

— Foi legal — retrucou de forma lacônica, vendo o rosto da moça formar a expressão que ele aprendeu a gostar.

— Legal? — ela cuspiu a palavra, fingindo-se de indignada. — Só isso que você tem pra dizer? Que foi legal?

— E o que você queria que eu dissesse? — questionou e viu-a dar de ombros, escorregando aos poucos pela areia e deitando-se ao lado dele.

— Sei lá. — Estalou a língua, ponderando a resposta. — Legal parece que foi fraquinho demais.

— Pra mim, legal é um bom jeito pra descrever as coisas — respondeu, preferindo não usar a outra palavra que estava na ponta da língua. Não se faria de vulnerável assim.

— Admito que também foi legal esses dias com você, Castiel — ela confessou e virou o rosto para ver a expressão do ruivo, percebendo que ele a encarava com a sobrancelha erguida. Apenas soltou o ar pela boca, mirando o céu estrelado. Ou tão estrelado quanto possível numa cidade grande. — Você acha que vai voltar tão cedo pra cá? Tem muita coisa pra se explorar ainda.

— Provavelmente. — Ele percebeu quando Mirela virou o rosto para seu lado, estranhando um pouco vê-la tão de perto. Mas era bom, ver detalhes que ainda não pudera reparar antes.

— E por que tá desanimado assim? Se eu fosse você, ia amar vir pra praia de novo… 

— Não vai ser a mesma coisa das próximas vezes — respondeu com sinceridade, desviando o olhar do dela. Quando admitia algumas verdades como aquela, evitava olhar nos olhos. Sabia que algumas pessoas poderiam tentar lê-lo através deles. E estaria vulnerável. 

— Porque não vai ter minha adorável presença pra te fazer companhia, não é mesmo? — ela provocou, fazendo-o voltar a encará-la e ver um sorriso dançando pelos seus lábios. Havia sardas no queixo também.

— Se acha menos, garota — ele retrucou, fazendo com que ela gargalhasse alto.

— Se vocês forem fazer show na minha cidade, eu faço questão de te esperar na saída pra te dar um tour por ela, satisfeito? — ela ofereceu e Castiel esperava que fosse verdade. Porque adoraria passar mais tempo junto dela.

Os comentários sarcásticos, as risadas, as provocações, o poder abaixar um pouco da guarda que aprendera a deixar erguida durante a vida na estrada.

— Se você me pagar uma cerveja, eu aceito. Você tá me devendo uma — ele brincou com um sorriso de canto, recebendo um empurrão com o ombro de volta.

— Ah, fala sério — Mirela reclamou e levantou o tronco da areia, ainda ria. Quando parou, encarou o guitarrista, vendo que ele a analisava toda à sua frente. — Nunca viu? — inquiriu de forma provocativa.

— Não pode olhar? — ele devolveu com aquele mesmo sorriso que Mirela havia percebido que era quase marca registrada. — Que é que você tá fazendo? — Surpreendeu-se quando, menos de um minuto depois, a moça começou a retirar a jaqueta e algumas das outras peças de roupa.

— Vai mesmo passar pelo Rio e não entrar no mar? — Ela abandonou as vestimentas ao lado dos sapatos na areia, pondo-se de pé. — Ou tem medo de água fria? 

Com uma última provocação, deixou-o para trás, encaminhando-se para o mar. Castiel apenas deu o seu sorriso para o vazio, retirando as próprias peças de roupa, pronto para entrar junto dela.

— Olha só, achei que o gatinho tivesse medo d'água — Mirela disse, assim que o ruivo entrou no mar, aproximando-se dela.

No passado, Castiel torceria o nariz ao ouvir "gatinho" sendo dirigido para ele. Naquele momento, pouco se importou. Era apenas passado. A pessoa à sua frente era totalmente diferente. Em momentos diferentes de sua vida. Ele também era uma pessoa totalmente diferente daquela época.

— Parece que é você que tá a fim de um banho de gato. Molhando só da cintura pra baixo. — Vendo aquela expressão que tanto apreciava passar pelo rosto da musicista, sorriu. Aquele mesmo que ela gostava. E que ele ainda não sabia. 

Sem temer as consequências, como costumava fazer em tempos passados, o ruivo mergulhou na água, fazendo Mirela encarar confusa o ponto em que ele estivera. Entretanto, não durou muito, pois logo sentiu um par de mãos em sua cintura, puxando-a para baixo. Sufocou um grito surpreso.

Castiel soltou-a assim que a fez afundar e logo a viu submergir, os cabelos rosa pingando água e grudando no rosto sardento. 

— Atrevido! — ela reclamou, vendo-o rir com gosto do que aprontara. 

— Você que queria aproveitar o mar — retrucou com um sorriso ladino. O rosto de Mirela contraiu-se naquela expressão.

— Sabe o que eu quero aproveitar também? — ela devolveu com uma pergunta, fazendo-o arquear as sobrancelhas, em um questionamento mudo.

Sua resposta também não teve palavras.

Mirela quebrou a pouca distância entre os dois, enquanto as ondas quebravam na praia. A luz da lua não tingia somente as águas. Aqueles dois também tomaram novas cores quando Mirela juntou seus lábios aos dele. Sua pele adquiriu novas sensações quando as mãos de Castiel alcançaram sua cintura e seus dedos sentiram novas texturas quando passou-os pelo cabelo dele. Era quente, enquanto a água fria os banhava por todos os lados. 

Ambos provaram o gosto que o outro tinha, explorando com mais avidez do que qualquer capital pela qual passaram juntos. 


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Notas finais do capítulo

Se você deu uns suspiros com esse capítulo, se junte a mim nos comentários, ai ai...
E sim, a turnê dos dois está acabando e a fic também ~coro de aaaaa Mas calma lá que ainda temos mais um capítulo e surpresa pra vocês!
Até mais, povo o/



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