A Herdeira do Oceano escrita por carlotakuy


Capítulo 11
Tristan




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Lia piscou duas vezes, aturdida, sentindo o corpo inteiro doer. Estava escuro e quente, mas o vento em seu rosto lhe indicava que estava em outro lugar que não a caverna. Flashes do que havia acontecido lá dentro passaram por sua cabeça e ela doeu como nunca antes.

Tentando se mexer a jovem sentiu uma dor lancinante no abdômen. Tocou automaticamente nele e sentiu folhas sobrepostas a sua pele melecadas em algo que a mesma não conseguiu identificar. Deslizando a mão para o pescoço sentiu o búzio em seu colar e suspirou dolorosamente. Onde estava? O que tinha acontecido?

— Você acordou.

A voz distante soou e os olhos semiabertos de Lia correram até o dono dela. Os cabelos negros a lembraram da batalha e os olhos azuis a fizeram ficar tonta. Tristan? O que ele estava fazendo ali?

— Achei que estava morta quando chegamos aqui – ele sentou num tronco seco apoiado ao lado de uma fogueira improvisada e Lia soube de onde vinha o calor acolhedor que ela sentia – mas você é forte.

Ele apoiou no chão diversas frutas dentro de uma folha grande.

— Como está se sentindo?

Lia o observou calada, sem saber como responder. Como ela se sentia? Péssima. Seu corpo doía e sua cabeça parecia rodar. As pontas de seus dedos estavam dormentes e nem mesmo falar ela tinha certeza de que conseguiria.

Um balbucio foi tudo que o garoto recebeu de volta.

Não.

Tristan riu, balançando a cabeça, e pegou uma das frutas.

Não me parece uma ótima resposta – ele apertou com cuidado a fruta dentro de uma tigela de coco – mas péssima para sua saúde.

Depois de apertar o máximo que podia a fruta e jogar todo seu líquido dentro do copo improvisado ele levantou e se agachou ao lado do corpo fragilizado de Lia, que o observou o mais atenta possível.

Ele ainda era um inimigo, sua consciência gritava. Mas ao mesmo tempo ela parecia concentrada demais nos músculos que saltavam no braço do garoto ou na forma que ele andava até ela.

Que droga você está pensando, Liana?

— Tome um pouco, vai ajudar seu estômago. Não consegui fazê-la tomar nada enquanto estava desacordada.

Delicadamente Tristan encostou a tigela nos lábios da jovem que com dificuldade sorveu o caldo da fruta, doce o suficiente para amenizar a dor que sentia ao engolir.

— Por que está fazendo isso? – se forçando Lia perguntou, tossindo em seguida.

Ele segurou-a pelos ombros até a tosse passar e sorriu, um sorriso que trazia tristeza, mas também alívio.

— Eu também não sei – ele limpou os cantos da boca dela melados pelo caldo – e essa também seria sua resposta se eu perguntasse por que me salvou, não é?

Os olhos de Lia caíram sobre os dele e ela quis respondê-lo, mas as palavras não saíram. Sim, ela não sabia porquê o havia salvado, mas naquele instante em que ela interceptou a lâmina certeira do tal Rei, ela não precisou de motivo. Seu corpo agiu no automático, mas ela ainda teria o defendido mesmo que seu corpo não mandasse.

E Lia ainda não sabia porquê.

— É, imaginei que fosse essa a resposta – ele riu baixo.

Ainda agachado ao lado da garota Tristan observou seu rosto pálido sob a luz amarelada da fogueira, porém mais vivo do que horas atrás quando ele fugira com ela da batalha, mole em seus braços, sangrando e desacordada.

Ele não teve qualquer dúvida ao tirá-la de lá, de salvá-la de Nagisa, de afastar o perigo da dona dos cabelos avermelhados. Mas ao seu lado, vendo-a se recuperar de uma ferida mortal, ele se sentia aliviado o suficiente para se questionar o que estivera fazendo desde então.

Esquecendo dele mesmo em detrimento de uma completa estranha. Não, não só uma estranha. Uma Deusa. O que estava acontecendo consigo? Por que a salvou?

Ele olhou mais intensamente dentro dos olhos esverdeados e semiabertos, que pareciam desesperadamente buscar respostas dentro dos seus.

Por que ela o salvou? Por que raios se arriscou tanto para salvar a vida de um completo desconhecido? Um anônimo, um...

— Quem é você? – ele sussurrou ao seu lado, deslizando a tigela vazia entre suas mãos.

Ainda fraca Lia sorriu o suficiente para ser notada.

— E quem é você?

A voz dela saiu arranhada e sôfrega, mas Tristan sorriu com a repetição de seu dialogo na caverna. A jovem ainda estava fraca e precisava​ de descanso. Não era momento de conversarem e tocando suavemente nas pálpebras dela o garoto fechou seus olhos.

— Descanse, você ainda está fraca.

Ainda de olhos fechados Lia balançou sem força a cabeça em concordância.

— Onde estão os outros?

Houve silêncio e ainda com a mão sobre os olhos da garota Tristan segurou a expressão de pesar que cruzou seu rosto.

— Eles estão bem.

— Tem certeza?

A voz de Lia anuiu, fraca, e Tristan insistiu que ela deveria descansar.

— Depois conversamos sobre isso. Primeiro você, certo?

A mão da jovem, a única sem machucados e dores, correu até a do tritão sobre seu rosto. Tristan se assustou com o toque inesperado, mas ele era quente e o aperto comunicou o desespero sobre aquele assunto.

A voz de Tristan foi firme o suficiente para fazer as lágrimas que já surgiam no rosto de Lia serem controladas. A garota já conseguia visualizar todos mortos dentro da caverna, todos aqueles que lutaram por ela caídos e ensanguentados, sem vida.

Ela havia causado aquilo. Aquela armadilha era para ela, não para eles. Pierre não merecia tal destino, tão pouco Kevin e aqueles homens. Pierre só queria ter sua vida de volta e agora podia ter perdido até mesmo isso.

Lia soluçou e sentiu a dor lancinante em seu abdômen correr todo seu corpo. Tristan se alarmou ao ver sangue sair do curativo improvisado e apertou de volta a mão dela, afastando-a de seu rosto que permanecia com os olhos fechados e uma careta de dor.

Mas era culpa dela, sua consciência dizia. Se ela tivesse fugido, se ela ao menos tivesse pensado em Ana ao invés dela tudo poderia ser diferente. Ana, Cadu, Pierre, Kevin.

As lágrimas que haviam sido controladas desceram teimosas e quentes por seu rosto e Lia sentiu a outra mão do garoto ao seu lado tocar em sua bochecha, tentando chamar sua atenção.

Entretanto a dor era lancinante e Lia não conseguia compreender. Seus sentidos falhavam e seu corpo insistia em negar-lhe controle. Seu corpo doía e sua alma também.

Ela estava perdida.

— Por favor – Tristan insistiu, tentando fazê-la olhá-lo – se acalme.

Lia soluçou mais uma vez e sangue saiu de sua boca.

— É minha culpa – ela conseguiu dizer arrastada e dolorosamente – eles...

— Eles estão vivos – Tristan reforço​u e a jovem piscou, voltando a realidade – eles estão​ bem.

Os olhos esverdeados caíram dentro dos do garoto e Lia soube que era verdade, como se pudesse lê-lo com maestria.

Lentamente seu coração se acalmou e a dor insuportável foi gradualmente diminuindo, enquanto ele lançava olhares da ferida para seus olhos, se certificando de que a jovem estava seguindo suas palavras.

— Isso, se acalme. Sua ferida vai piorar se continuar assim.

As mãos de ambos ainda estavam juntas e por meio delas Lia o chamou com um aperto. Quando os olhos novamente se chocaram Tristan soube exatamente o que ela estava querendo saber.

— Sim, eles estão bem. Confie em mim.

Com uma careta, controlando o choro agora de alívio, Lia assentiu com dificuldade. Tristan sorriu com a expressão engraçada em seu rosto e com a mão que pairava sobre a bochecha dela acariciou-a.

— Agora descanse, você precisa se recuperar. Ou nada do que fiz por você vai valer a pena, Deusa.

Lia soltou lentamente a mão dele.

— Lia – sussurrou e Tristan sorriu.

— Descanse então, Lia. Vou cuidar de você.

Com o olhar dela sobre si o tritão reformulou a frase, envergonhado.

— Seu ferimento, vou cuidar do seu ferimento.

Lia sorriu com a reação, um sorriso débil, e vagarosamente sentiu os olhos fecharem.

— Eu confio em você, Tristan. Por favor, cuide de mim.

Houve um ruído que passou despercebido pela jovem, mas o garoto sorriu às palavras dela vendo-a lentamente adormecer sem forças.

Olhando para a mão que segurou tão firmemente a dela ele sussurrou:

— Você é realmente estranha.

•••

No dia seguinte Lia acordou com a luz do sol pairando suave sobre ela e notou, ao abrir os olhos, que a copa da árvore a protegia do excesso solar.

Ela percebeu, assim que recuperou os sentidos, que estava numa parte da floresta próxima a uma cachoeira, com espaço suficiente para o céu se alongar livremente​ sobre sua cabeça. O acampamento improvisado tinha uma fogueira e além da cama de folhas que ela estava deitada havia uma outra, mais distante.

Esse espaço estranhamente íntimo ficava mais próximo às árvores do que da água e Lia percebeu que era por isso que o som estridente da queda d’água da cachoeira não havia chegado até ela na noite anterior.

Lia tentou sentar, mas seu abdômen doeu com intensidade e tudo que a jovem conseguiu foi guinchar permanecendo deitada.

O som não passou despercebido por Tristan, que estava logo ao lado pegando água na cachoeira, e ele chegou correndo até o corpo de Lia.

— Como está se sentindo?

Lia piscou diversas vezes antes de conseguir focar no garoto a sua frente e foi a primeira vez que o viu de verdade. Ele tinha os cabelos negros rebeldes alcançando sem dificuldade suas orelhas e olhos de um azul ciano que se mesclavam​ com o céu. Tinha uma cicatriz fina em seu maxilar e uma covinha muito característica no canto da boca.

Por alguns segundos ela permaneceu assim, olhando para o rosto dele, e identificando suas nuances. E pensando, em segundo plano, em como ele era ridiculamente bonito.

— Você está bem?

A mão dele tocou na testa de Lia e ela saiu de seus devaneios com um sorriso constrangido.

— Estou. Melhor do que ontem, com certeza.

Ele suspirou aliviado deixando-a curiosa com sua reação.

— Passei a noite inteira limpando essa ferida – ajeitou o curativo – e você sangrou muito. Achei que talvez...

A fala de Tristan pairou no ar.

— Eu não fosse sobreviver?

O garoto assentiu evitando olhar para ela.

— Sim, mas você é forte. Seus poderes estão ajudando com a recuperação então aguente mais um pouco e logo vai estar bem melhor.

O sorriso de Tristan fez Lia retribui-lo automaticamente. Por mais alguns segundos ela o observou, em silêncio, e todo o caos que ainda jorrava dentro dela exigiu respostas. Respostas sobre Pierre, sobre sua mãe, sobre o que aconteceu depois que ela foi atingida.

Mas tudo que Lia conseguiu falar, num sussurro, foi obrigada. Tristan olhou surpreso para ela, mas sorriu em resposta, afastando as mãos do ferimento e ficando de pé.

— Certo, vou procurar comida pra gente. Não vou longe, então se precisar de alguma coisa é só gritar.

Ele indicou a cachoeira logo atrás.

— O som da água deste lado é quase nulo e o eco aqui é ótimo para pedidos de socorro.

Lia riu com dificuldade.

— Você parece conhecer bem esse lugar.

Uma sombra passou nos olhos azulados, mas Tristan sorriu mais abertamente, assentindo.

— Sim, conheço. Já volto.

Lia acompanhou Tristan se afastar e quando ele saiu de seu campo de visão focou nas folhas que balançavam sobre a sua cabeça. Pensamentos se lançavam um sobre o outro em sua cabeça e não poder se mexer só intensificava o caos dentro de si.

Mas a presença do garoto era estranha. Lhe confortava e lhe deixava segura. E apesar da confusa sequência de acontecimentos que os levaram a acabar ali Lia sentia que era certo.

Lentamente ela fechou os olhos e em poucos segundos adormeceu, ainda fraca, e a brisa da floresta a acalentou sussurrando que ela logo iria melhorar.

•••

Lia dormiu e acordou durante vários dias seguidos. Durante o período da noite Tristan sempre estava ao seu lado, fosse preparando algum tipo de comida ou reabastecendo a fogueira. Ele sorria automaticamente para ela quando a ouvia acordar e falava sem parar sobre assuntos banais, desde suas desventuras dentro da floresta com galhos altos e quebradiços à animais selvagens irritantes.

Às vezes, durante a noite, Lia acordava sozinha e se ressentia com a falta de Tristan. Mas nunca o chamou como ele lhe havia ensinado, através do eco, e solitária ela novamente adormecia sentindo falta de sua voz para ocupar os pensamentos insistentes em sua cabeça.

Por volta do quinto dia Lia acordou no final da tarde e conseguiu se sentar. Animada com a novidade e com a falta de dor daquele movimento procurou Tristan com os olhos pelo acampamento improvisado.

O encontrou sentado, meio melancólico, próximo ao rio, molhando os pés na água fria. A visão apertou seu peito e pela primeira vez ela percebeu, no auge do seu egoísmo, que ele também devia estar travando batalhas internas.

Apoiando as costas na árvore Lia permaneceu observando-o e a imagem do garoto energético que cuidou dela durante todos aqueles dias de recuperação pareceram esvanecer. Ela não sabia nada sobre ele.

Foram longos minutos parada encarando aquela imagem até o estômago de Lia roncar e acabar chamando a atenção do moreno. Ele virou-se automaticamente para ela e a jovem sorriu constrangida roubando um sorriso e uma risada de Tristan, que levantou deixando para trás a imagem melancólica que Lia havia acompanhado.

Vendo-o caminhar até ela Lia engoliu a própria saliva, sem conseguir desviar a atenção da forma como o corpo dele lhe atraía. Imperceptivelmente ela suspirou e disfarçadamente se abanou. O que estava acontecendo com sua libido naqueles dias? Primeiro Kevin e agora o quê? Um soldado forte, bonito e sexy?

— Era mais fácil alimentar você quando só tomava o caldo das frutas. Agora que come sólidos parece que não está saciada nunca – Tristan brincou parando ao lado da fogueira já acessa.

Com uma careta de Lia ele separou um graveto com leguminosas o colocando sobre o fogo para assar.

— Muito engraçadinho – ela mudou as pernas de posição – e obrigada.

Os olhos dele foram curiosos sobre a mesma.

— Não precisa agradecer. Estamos no mesmo barco.

Lia assentiu.

— Na verdade você parece mais estar num barco prestes a naufragar, se me permite.

Lia atuou ofensa, o fazendo rir, e jogou em cima dele uma pedrinha próxima. Ela não o atingiu, mas o moreno riu ainda mais.

— Haha, muito engraçado da sua parte, senhor tritão.

A nomenclatura fez o sorriso no rosto de Tristan esvanecer e, às suas costas, Lia notou o movimento.

— Quem é você, Tristan?

A pergunta foi um murmúrio e em resposta ele suspirou, afastando o graveto do fogo e saindo de perto da fogueira para o lado de Lia.

O garoto sentou quase ao seu lado, longe o suficiente para não se tocarem, e estendeu o churrasco de legumes para ela.

— Meu nome é Tristan Knnegr. E eu era da guarda real de Nagisa.

As palavras pegaram a garota de surpresa e a mão que seguia em direção ao graveto pairou no ar, paralisada. Tristan sorriu a reação de espanto.

Ao longe o céu começava a se tornar negro.

— Era o general da terceira divisão marítima, para ser mais preciso – os olhos azuis se perderam na grama verde sob os pés de ambos.

Silêncio se estendeu por longos segundos até Lia pegar o graveto das mãos do garoto, retomando sua atenção.

— E quem era aquele loiro?

Tristan pareceu pensar.

— Rei, um companheiro de divisão.

Lia ergue a sobrancelha a afirmação e o garoto riu sem graça.

— Ou ao menos achei que era meu companheiro.

— Eles armaram uma emboscada para matar você em batalha e se livrar da culpa – ela comentou, mordendo sua janta – o que você fez para eles?

O Tristan deu de ombros.

— Eu não sei. Ele sempre me tratou normal. Éramos companheiros fazia muito tempo. Acho que sempre quis minha posição, pelo que parece.

Ele olhou do chão para a garota do seu lado incerto.

— Não tenho família no mar. Nasci e cresci treinando para a guarda real e ele sempre esteve comigo. Éramos amigos.

A palavra fez doer a garganta do tritão e Lia mastigou lentamente a comida sentindo o pesar daquele relato.

— Ao menos até ali – riu sem forças – agora acho que não tenho mais nada.

Lia se sentiu triste e culpada, e os legumes que pareceram tão saborosos minutos atrás desceram amargos em sua garganta. Ela não tinha culpa alguma sobre a emboscada para ele, mas porque seu coração pesava tanto?

— Nada?

O sussurro da garota fez os olhos de Tristan descerem sobre ela e um sorriso sem emoção surgiu em seu rosto ao lembrar do que fizera salvando-a.

— Nada. Depois de fugir com você quando deveria te entregar não posso nem mesmo voltar para o mar.

A realidade caiu como concreto sobre Lia.

Era.

Tristan assentiu para a percepção do tempo usado na frase dele sobre si. Era da guarda real. Era general. Agora ele não era mais nada. Desertor. A palavra ecoou nos pensamentos de Lia.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu – ela olhou para o chão abraçando o próprio corpo.

A ferida em seu abdômen doeu, mas ela permaneceu na mesma posição. Talvez a dor amenizasse a culpa que se encaixava perfeitamente em seu peito.

— Eu sei disso.

— Obrigada por ter me escolhido – Lia sussurrou, culpada.

Os olhos azulados do garoto caíram sobre Lia e ela não conseguiu encará-los, sentindo o peso que aquela escolha teve sobre ele. Sobre a vida dele. Mas não havia só pesar dentro daqueles olhos, ainda que ela não pudesse ver.

— Nagisa nunca vai me aceitar de volta – o tritão riu sem emoção – sou agora um desertor. Ou pior.

— E se você disser que eu controlei você?

Tristan piscou, confuso, e olhou novamente para ela e a cor daqueles olhos agitou seu corpo inteiro. Se controlando ela continuou sua ideia mirabolante.

— Se disser que eu controlei seu corpo para que você me tirasse dali? Ela sabe que tenho poderes e você seria isento da responsabilidade.

O garoto ponderou seriamente aquela ideia, mas negou com a cabeça.

— Não seria assim tão fácil. Eu seria rebaixado com certeza, e além do mais ser controlado me daria uma péssima posição.

— Mas você ainda teria para onde voltar, não teria?

O sorriso de Lia desarmou Tristan com seus argumentos em negação. Sim, ele seria rebaixado e até mesmo punido pela péssima performance em campo, mas o mar ainda seria sua casa. Sim, ele ainda teria para onde voltar.

— Eu tenho pessoas me esperando – Lia continuou olhando para o céu estrelado sobre sua cabeça, lembrando de Ana e Cadu – e sei como seria perder esse lugar.

Quando os olhos esverdeados novamente desceram e foram para os de Tristan o garoto se xingou por achá-la tão bonita. Como podia aquela jovem a sua frente ser tão parecida com Nagisa e ainda assim ser completamente diferente?

— Então pode me usar – ela tocou no braço dele e um arrepio correu o corpo do mesmo – e não desista do seu lar.

Absorvendo as palavras dela Tristan assentiu vagarosamente e sorriu, sendo retribuído em seguida. Algo tremulou entre eles, como eletricidade, correndo por seus corpos e vagarosamente evaporou.

— Mas então, com quantos anos entrou nessa guarda real?

Lia perguntou afastando sua mão e tentando afastar a sensação que se acumulou dentro de si ao ver o sorriso dele. Já não bastava Kevin agora iria ficar atraída por um tritão da guarda de sua mãe?

Um belo tritão, seu subconsciente sussurrou e ela o suprimiu, focando no garoto a sua frente e tentando evitar olhar para qualquer parte dele que a lembrasse disso. Falhando miseravelmente.

Tristan, por sua vez, sequer tentou evitar e se acomodou confortável ao lado da mesma, já não evitando o contato corporal e sentindo suavemente o calor dela chegar até ele pelo toque despropositado de suas pernas.

— Dois, eu acho.

A comida na boca de Lia quase saltou e ela se engasgou, fazendo o garoto ao seu lado rir audivelmente. Ela tossiu e o olhou em choque recebendo um dar de ombros do mesmo.

Quando retomou a compostura Lia o interrogou sobre sua experiência aos dois anos de idade entre soldados e enquanto Tristan ria de sua surpresa e incredulidade a enchia de informações, num diálogo engraçado e confortável, que durou boa parte daquela noite.


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Notas finais do capítulo

Foi por pouco, muito, hein?



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