Bullseye escrita por scararmst


Capítulo 1
Pôr-do-Sol


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa
Então, surpresa @bishophawk rsrskhralkjealj
Eu falei que ia fazer né daí eu fiz
Daí aaaaa
Olha tá mega simplezinho e eu não sei nem se tá pareado com a sua visão do Apolo mas tá aí kkkk espero que goste ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788617/chapter/1

Thanos respirou fundo. Era fim de tarde, o céu estava alaranjado e o Sol começava a descer no horizonte. Apolo era muito bom musicista, e Thanos adquirira gosto por se recostar em uma cadeira na varanda no fim de tarde e ouvir o loiro, no chão ao seu lado, tocando a lira.

Ele bebeu um gole de seu vinho. Quando mais novo, iria ficar rapidamente bêbado com um copo, agora as coisas eram bem diferentes. Ele serviu o que era o quarto copo de vinho e bebeu um pouco, olhando para o lado.

Apolo devolveu o olhar. O loiro tinha um sorriso um pouco brincalhão no rosto, e Thanos não pode evitar sorrir em resposta. Ah, como estava apaixonado… eram coisas tão simples que faziam o soldado sentir seu coração aquecer… A forma suave e harmônica naqual os dedos dele se moviam sobre as cordas, a curva do sorriso em seu rosto, o brilho dos cabelos loiros sob a luz do Sol, tudo, tudo parecia ter sido esculpido por um deus. Thanos se perguntava, com grande frequência, como dera a sorte de esbarrar com ele em sua vida. Não devia ser o suficiente para um homem como Apolo.

Tudo bem, tinha salvo sua vida, mas a gratidão só iria até certo ponto, sabia disso. Já fazia um ano, porém, desse acontecimento, e Thanos convivera com homens suficientes para saber que por mais que gratidão pudesse fazer uma pessoa lhe dever algo pelo resto da vida, não poderia ser o único fator para o manter ao seu lado por tanto tempo.

A única explicação possível era Apolo querer estar ali. Ele sabia sobre Apolo ter muitos problemas com a família, isso explicava o motivo dele não querer estar em casa, mas ainda assim Thanos não conseguia entender porque ele fora o escolhido. Não se achava feio ou desinteressante, não, Thanos sabia ser um homem atraente, e também não achava que fosse irritante ou desagradável. Mas ainda assim, não se sentia bom o suficiente. Não sabia explicar. Parecia existir algo além sobre Apolo, algo o tornava… mais. Especial.

O Sol acabava de se pôr. Thanos observou Apolo estender o olhar para o céu por um instante, encarando a Lua por um curto período de tempo. Então ele colocou a lira de lado, puxou uma cadeira e se sentou ao lado de Thanos, servindo vinho para si também.

É uma noite quente, hoje — Apolo comentou, ainda olhando para o céu onde o Sol estava se pondo na linha do horizonte, sobre o mar.

Bem… é verão.

Sim…

A resposta de Apolo fora longa e distraída, e como acontecia muitas vezes, a mente dele parecia estar em algum lugar muito, muito distante. Thanos virou o corpo na cadeira, apoiando o braço no encosto e ficando de frente para o homem ao seu lado.

Pensando longe de novo?

Apolo suspirou. Thanos tinha essa sensação, com frequência, do homem carregar muito nas costas. O peso de quem vivera várias vidas. Tendo vivido em guerras, Thanos reconhecia aquele peso, o via em todos os homens com passados conturbados por batalhas. Pessoas que tinham vivido demais.

O loiro desviou o olhar do pôr-do-Sol para Thanos, carregando um brilho nos olhos de curiosidade e… saudade? Sim. Essa parecia ser a sensação. Ele pareceu pensar, por um instante, antes de fazer a pergunta seguinte.

Como você lida com arrependimentos?

A pergunta não foi o que Thanos esperava, engolindo em seco em seguida. Estaria Apolo arrependido de estar ali? Queria ir embora? Pensar nisso doeu, mas Thanos jamais insistiria para ele ficar. Nunca fora o tipo de homem de tentar pedir tanto das pessoas, e não era agora que iria ser. Mesmo com a possibilidade de doer.

Você se arrepende de algo?

Thanos não imaginava poder sentir um alívio tão grande quanto o que sentiu quando Apolo olhou para ele e riu, baixinho.

Não. Bem… não ainda ao menos, mas talvez eu me arrependa em breve, dependendo do resultado do que tenho em mente.

Aquela foi uma resposta curiosa. Thanos franziu a testa, pensando em como responder. Apolo o olhava como se esperasse algo dele, ou estivesse visualizando algo em sua frente. Thanos não sabia explicar. Havia uma ansiedade, e uma esperança, talvez? Ele viu o loiro mudar de posição na cadeira, cruzando as pernas para cima e se recostando de lado na cabeceira. Thanos não sabia o que dizer. Apolo parecia esperar algum tipo de resposta específica, e o soldado receou falar a coisa errada.

Eu não sei bem se sei te ajudar com isso, mas posso te dar minha própria experiência pessoal, embora eu ache que isso seria bem diferente de pessoa para pessoa.

Apolo abriu um sorriso pequeno.

Ok, eu aceito — comentou, se reclinando um pouco para frente sobre a cadeira. — Quais são suas… experiências?

Eu tenho alguns arrependimentos, mas de todos eles, há uma constante. Os que doem mais são de coisas que eu não fiz. Algo que não disse à minha mãe, algo que não fiz com Icarus enquanto pude… eu sinto mais dor de possibilidades perdidas do que quando fiz algo e os resultados não foram os esperados. Ao menos, nesses casos, eu tentei.

Hm… interessante.

O olhar no rosto de Apolo se intensificou, Thanos diria até que seus olhos estavam iluminados. O loiro bebeu o resto da taça de uma vez, deixando-a no chão. Thanos observou, pensativo, Apolo tirar o copo em sua mão e também o colocar no chão, aproximando-se mais dele. Não achava que já tivesse estado tão perto de Apolo quanto agora, perto o suficiente para ver como havia um fino círculo marrom em torno da íris verdes dos olhos dele, ou como os cabelos dele continuavam levemente brilhantes mesmo na luz tênue da noite. Estava mesmerizado. Apolo levantou a mão, tocando o rosto de Thanos e brincando um pouco com um dos cachos castanhos.

Vamos torcer para que esteja certo, Thanos. Eu odiaria me arrepender disso a ponto de decidir que nunca deveria tê-lo feito.

Ter feito o quê?

Para Thanos, aconteceu em câmera lenta. Apolo se aproximou dele, inclinando-se para a frente. Por várias vezes, Thanos se pegou admirando Apolo, simplesmente porque ele parecia ser mais bonito que qualquer outro homem já visto. Não sabia dizer o motivo. Talvez fosse a forma como a pele e os cabelos loiros dele pareciam estar sempre reluzindo, brilhando bem pouquinho, refletindo o Sol que batia sobre ele em suaves reflexos dourados. Ou os olhos, os olhos verdes de Apolo, que quando vistos de perto daquela forma, iluminavam-se, refletindo em suas íris a luz de mil sóis.

A respiração de Thanos falhou, por um instante. Apolo levantou a mão, tocando o lado direito do rosto do outro. A mão dele era leve, e ele tinha dedos finos e um toque suave, o tipo que fazia Thanos lembrar do quão magro — e frágil — o outro parecia às vezes. A mão do soldado foi até a de Apolo, que tocava seu rosto, acariciando os dedos dele devagar. Conseguia ver o receio presente no outro, pensativo, e não queria dúvidas restantes na cabeça do homem naquele momento. Afinal, Thanos queria o mesmo. Ansiava. Sabia que Apolo tinha receio de sua reação, mas não precisava ter. Não quando aquilo era algo que Thanos desejava tanto.

Apolo puxou Thanos para perto pelo queixo. O caçador fechou os olhos, seu coração batia forte, martelando contra seu peito em ansiedade, em desejo e paixão. 

E então, os lábios de Apolo estavam sobre os seus. 

Era um toque suave, leve e ainda receoso. Apolo tinha lábios mornos como sua pele, finos, mas macios. Naquele instante, Thanos sentiu uma das coisas mais intensas e confusas de sua vida. Queria acalmar Apolo, deixar claro para ele o quanto queria aquilo, o quanto queria estar ali com ele. Queria o fazer sentir que não havia nada que Thanos preferiria estar fazendo naquele momento, e se entregar a um tempo com ele, quão longo esse tempo pudesse ser, era o único desejo de seu coração naquele momento.

Mas… Thanos tinha receios. Não sabia descrever o sentimento de humildade experimentada perto de Apolo. Sempre foi um homem simples, de desejos pequenos e sonhos alcançáveis. Querer Apolo lhe parecia algo tão distante da realidade, e agora que estava acontecendo, Thanos estava sendo assombrado pelo mais assustador dos receios: de não ser bom o bastante para ele.

Suas inseguranças, suas preocupações, tudo aflorou naquele instante. Um homem seguro em campo de batalha, com suas paixões sempre foi mais retraído, e tudo piorou depois da morte de Icarus. Não sabia descrever de outra forma a não ser o fato de se sentir indigno de Apolo, e incapaz de acreditar que o loiro, por sua vez, teria despertado em suas próprias vontades um interesse por ele. Em meio a toda a paixão sentida naquele instante, o pânico aflorou. A mão repousada sobre a cadeira se fechou, tensa, e no instante seguinte Apolo se afastou.

Thanos viu os olhos do loiro se desviarem para o gesto tenso e involuntário que acabara de fazer. Não passou despercebido aos olhos do homem.

Bem — Apolo comentou, a voz baixa, afastando-se de Thanos. — Talvez eu acabe me arrependendo, afinal.

Não! — Thanos respondeu, rápido, querendo impedir qualquer mal-entendido de acontecer. Se aquilo fosse dar errado, que fosse com todas as informações ao mundo. Não por coisas não ditas, ou não explicadas. — Não, não é isso…

As palavras se atropelaram um pouco, resultado do nervosismo de Thanos naquele momento. Não queria deixar Apolo pensar que não o amava, mas mesmo assim, mesmo em seu desespero para se explicar, ele não conseguia encontrar as palavras certas. Como, se perguntava, como iria explicar para Apolo sobre se sentir tão pequeno perto dele sem fazer isso soar como um choro de auto-piedade? Ou ainda, como uma justificativa para se separarem? Como uma desigualdade fundamental no possível relacionamento dos dois, algo que tornaria o relacionamento tão difícil de seguir em frente a ponto de nem deverem tentar?

Thanos hesitou por um longo tempo. Tão longo, pensando em sua fala, movendo os lábios em busca de palavras sem dizer nada, que Apolo acabou suspirando, e abrindo um sorriso pequeno.

Tudo bem, Thanos — comentou. — Acho que eu devia ter esperado, considerando meu histórico...

Por favor — Thanos cortou —, não diga mais nada. Eu… 

Precisaria encontrar as palavras. Então decidiu ir para onde acreditava ser a fonte de todo esse sentimento. Sua falta de experiência, e aquela sensação de sua vida ser muito pequena comparada à dele, mesmo sem saber por quê se sentia assim.

Eu… eu só tive um amante, em toda minha vida.

Apolo parou de se afastar. Aqueles belos e brilhantes olhos voltaram a olhar para Thanos, e mesmo ali, depois de anoitecer, era como olhar diretamente para a luz do sol em um amanhecer. Thanos suspirou, procurando as palavras certas mais uma vez, segurando as mãos dele e acariciando seus dedos.

Eu sinto que você teve bem mais — Thanos continuou. — Que você viveu bem mais. Vivenciou bem mais. E eu… eu não sei se conseguiria corresponder a essas expectativas.

Houve um instante de silêncio. O olhar de Apolo estava fixo em Thanos naquele momento, de forma a fazer o caçador ter certeza dos pensamentos do loiro. Thanos daria qualquer coisa para saber os pensamentos do outro naquele momento… Apolo soltou uma risadinha sarcástica, muito curta, jogando-se para trás na cadeira e olhando para Thanos, sorrindo. Ele parecia estar se divertindo com alguma coisa.

Que bom que divirto você — Thanos comentou, era o mais perto que chegaria de um comentário mordaz sobre alguma coisa.

Não, não, perdão, só estou tentando entender… — e ele se inclinou para a frente de novo, olhando nos olhos de Thanos. — Você acha que não é o suficiente para mim?

O soldado abriu a boca em um “o”, querendo responder, sem saber como. A resposta simples seria “sim”, mas havia mais nisso que simplesmente uma sensação de insuficiência. Era como se os dois fossem muito diferentes. Como se seus mundos não devessem se cruzar. Thanos não sabia como dizer isso sem acabar afastando Apolo de si.

Decidiu não o fazer.

Você acha que eu sou? — Perguntou, apenas.

Apolo sorriu, levantando uma mão, tocando o rosto de Thanos em um carinho suave.

Você me encontrou nu e morrendo na floresta, quando eu mesmo já estava desistindo de continuar. Me trouxe para cá, cuidou de mim, e poderia ser isso. Eu teria ido embora depois, Thanos, mas resolvi ficar mais uma semana, e mais outra… E foi só muitos e muitos meses depois que eu entendi querer ficar porque tinha me apaixonado por você. Pela sua beleza, sua gentileza, seus sorrisos, a coragem em caça, a paz. Você não é o suficiente, Thanos. Você é tudo. Sou eu quem não merece você.

O caçador franziu a testa, como poderia Apolo não merecê-lo? Ele riu, um pouco confuso, mas Apolo parecia estar falando sério.

Apolo…

Eu fiz coisas. Há muito tempo atrás, e não me orgulho delas, mas fiz. E ainda afetam muito a vida de algumas pessoas importantes para mim. Agora que paro para pensar, talvez tenha sido melhor me expulsarem de casa.

A isso, Thanos não sabia como responder. Apolo abaixou o olhar para o colo, e o caçador conseguiu ver que os olhos dele estavam desfocados, e mesmo ele olhando para baixo, era possível notar sua mente viajando para muito longe.

Eu fiz coisas também. A quantidade de vidas que eu tirei em batalha… Apolo, eu tenho um histórico muito sangrento nas minhas costas. Ainda há pessoas querendo a minha cabeça. Ficar ao meu lado pode ser perigoso.

Apolo sorriu. Thanos não sabia como ele podia ouvir uma coisa dessas e achar graça, mas ali estava, o sorriso. Divertido. Relaxado.

O que posso dizer… Eu sempre gostei de fazer as coisas com um pouco mais de emoção.

Thanos riu, incrédulo. Emoção?

Você ouviu a parte sobre soldados de exércitos inimigos quererem a minha cabeça?

Ouvi. Você não é o único.

Oh. Impressionante. Teria Apolo também enraivecido inimigos de guerra? Ou seriam seus problemas com a família?

Tem uma história a ser contada aí? Eu vou ouví-la?

E então o olhar de Apolo voltou ao tom pensativo e melancólico, encarando o pôr-do-Sol. Thanos levou a mão à dele, entrelaçando seus dedos nos do loiro, buscando o passar algum apoio e confiança. E a voz de Apolo soou suave e distante quando ele respondeu.

Algum dia, talvez. Algum dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Leiam Malleus Maleficarum! A @bishophawk é maravilhosa gente :D
https://www.spiritfanfiction.com/historia/malleus-maleficarum-interativa-17663922



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bullseye" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.