Quando éramos nós | jjk + pjm escrita por jubsaturn


Capítulo 1
01|Quando era eu




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— Os flamingos costumavam ser mais bonitos pela tela da tevê, mas ninguém havia me avisado que eles tinham aquele puta cheiro de peixe estragado. Juro, eu poderia ter desmaiado ali mesmo com aquele odor! não sei se era o local ou os bichos, mas se uma mosca passasse por ali ela sofreria uma parada cardíaca no mesmo instante [...]

Olhei no relógio do meu celular e vi que já passava das onze horas da noite.

Eu estou encharcado, gripado e com meus sapatos ensopados. E só para piorar, ainda perdi minha carteira enquanto corria para subir em cima do muro no qual estou agora. Já faz mais de duas horas que estou aqui ouvindo uma conversa sobre flamingos, ursos falantes e baratas que dançam reggae. E tudo isso não teria ocorrido se eu tivesse dado ouvidos a uma coisa básica: a mulher do jornal falando sobre a previsão do tempo.

Não sou daquelas pessoas que em seu tempo livre liga a tevê e procura saber dos problemas mundiais, mudanças climáticas e promoções de roupas para o inverno. Eu poderia me autonomear um alienado.

Para quem não está entendendo, bom, eu vou explicar:

Jimin Park

19:40, saída do trabalho

Desligando os computadores, me deparei com a sala de trabalho já vazia, só tinha eu e os papéis com rascunhos e lápis espalhados por cima. Peguei minhas coisas e joguei na minha gaveta, em seguida a trancando com meu cadeado. Só eu mexia naquela gaveta então não faria mal eu deixar ela totalmente bagunçada como o desleixado que eu sou.

Já caminhando pelo corredor dos escritórios, cheguei até a recepção onde dei um aceno de despedida para Sushua - que ainda estava encalhada, esperando todo mundo sair do prédio para poder ir embora - e finalmente sai. Sai daquele ambiente torturante que era o meu trabalho.

Ser designer gráfico nunca foi minha única escolha de profissão. Quando eu tinha dezenove anos, ainda pensava em ser dançarino, veterinário ou até guia de turismo. Mas como eu ainda não tinha a capacidade de fazer minhas próprias escolhas, só dei ouvidos a minha família e aos meus amigos, e no fim, acabei fazendo Design gráfico, Criação de Identidade Visual e Design digital. Eu não odeio esse emprego, na verdade está bem longe disso. Mas quando seu projeto que levou dias para ser desenvolvido é levado à lixeira digital, é difícil manter a pose de um ser humano apaixonado por seu trabalho e seus superiores.

Como eu já estava acabado emocionalmente, não precisou nem de dez minutos para uma chuva forte começar a cair e junto com a água que começava a correr ligeiramente pelas ruas cada vez mais altas, eu correr junto para tentar chegar ao estacionamento onde eu costumo deixar meu carro estacionado, a aproximadamente dois quarteirões do prédio onde trabalho. Nessa corrida, acabei deixando minha carteira cair no chão, mas quando virei pra trás, a água já havia levado ela para algum lugar depois que presenciei a cena da carteira, com dinheiro e documentos dentro, passando pelo buraco do boeiro. Me xinguei mentalmente mil e uma vezes por ter sido tão burro de deixar ela no bolso da minha blusa de frio.

Quando eu cheguei na esquina próxima ao estacionamento, estava tudo - literalmente tudo por baixo d'água. Se eu passasse de onde eu estava provavelmente teria que sair nadando, igual algumas pessoas tentavam fazer na tentativa de chegar mais rápido em casa. Quando me dei por vencido, subi em cima do muro mais próximo e alcançável que consegui encontrar. Mesmo tremendo e com o nariz úmido por causa do frio, fiquei esperando que a chuva abaixasse.

Até que chegou um garoto que sentou próximo a mim e começou a falar sobre uns assuntos estranhos-por exemplo, sobre o peido da vaca destruir a camada de ozônio. Mas eu decidi não dar muita importância pois eu estava, e ainda estou muito preocupado com esse lance da água que parece nunca diminuir.

— Então essa foi a pior experiência da minha vida! — Volto a atenção para o rapaz ao meu lado.

E venho a dizer: ele é totalmente, completamente, inteiramente estranho.

— Sabe, eu 'tô gostando desse assunto. É legal saber sobre as curiosidades do mundo animal e tals... mas você ainda não se apresentou...— falo com desinteresse.

Ele parece parar no tempo por um instante, me encarando fixamente, mas sua mente parece voltar ao normal e ele finalmente fala algo:

—Concordo, eu deveria ter me apresentado primeiro.— rio com desanimo.— Meu nome é Jeon Jungkook. Oh, na verdade é Jungkook Jeon agora, prazer!

Ele estende sua mão para mim como se estivéssemos nos conhecendo agora e não como se ele já tivesse tagarelado coisas inúteis pra mim por mais de duas horas.

— Jimin Park!— aperto sua mão e não deixo passar despercebido o quão gelada ela está.— Você é daqui mesmo? Seu nome é diferente, sua aparência é asiática e seu sotaque é estranho.

— Seu nome é estranho, você parece um pintinho e nem por isso perguntei se você é daqui! Veja só, mal nos conhecemos e já está me faltando com respeito sendo xenofóbico, uh?

Ele é totalmente, completamente, inteiramente estranho.

— Estou brincando...— diz quando vê minha feição séria diante da sua tentativa de ser engraçado— Eu sou coreano. Sul coreano. E estou morando aqui já faz uns dois anos.— deu de ombros encarando os próprios pés que balançavam sincronizadamente.

— Nossa! Eu também nasci lá, mas quase não me lembro de como é...— digo mais interessado no assunto.

E isso só serviu de gatilho para aumentar o ego de Jungkook.

— Lá é muito gostoso, sabe? Mas acho que é um país que ainda precisa evoluir muito. Não na questão tecnológica, e sim na moral. Lá eles tem a mente muito fechada e esse sempre foi o lado que eu mais odiei naquele país.— ele ajeitou o guarda- chuva azul que segurava. E só agora percebo que a chuva já cessou e já não é preciso usar. Mas decidi não o avisar porque era muito engraçado ver ele segurando aquele guarda-chuva igual um bobão.

Me encarou com os olhos brilhando, "e eu posso dizer com a total certeza desse mundo que ele é um extraterrestre que chegou no planeta Terra para uma missão especial!"

— Eu não sou um extraterrestre que chegou nesse planeta para uma missão especial. — arregalo meus olhos ao ouvir o que ele diz. "Não é possível... além de falar sobre todos os animais do planeta e ter o várias estrelas refletidas nas pupilas ele também consegue ouvir meus pensamentos! Não pense muito, não pense muito..."— É que eu acho que você não percebeu, mas provavelmente você fala sozinho quando está distraído.

— Eu não falo sozinho! Isso é só uma desculpa para negar sua identidade de Marciano!— Respondo incrédulo.

— É sério, ok? Quando eu cheguei aqui você estava falando sozinho e eu até cheguei a pensar que você estivesse conversando com alguma alma perturbada.— não consigo mais. Começo a rir quando minha mente processa o que ele acabou de dizer, e acabo me sentindo mais leve quando ele ri também. Em questão de segundos as risadas alterosas acabam perdendo a força.

— Nada tira da minha a cabeça a ideia de que você é um marciano.— Pronuncio após alguns longos segundos de silêncio.

— E nada tira da minha cabeça a ideia de que você é um bruxo que conversa com espíritos!— Sorriu de lado encarando a água que já diminuía deixando parte da calçada a visível.

Encarei ele por alguns segundos, e talvez minutos. Nessas duas horas que estou parado aqui, percebi que tem momento em que ele parece estar tendo uma visão, ou parece não estar pensando em nada, ele simplesmente deixa seu olhar fixo em algum lugar com uma expressão de espanto.

Mas agora sua expressão está suave, acredito que ele realmente esteja pensando em algo nesse momento.

— Sabe Jimin, eu deveria estar em casa assistindo "Sempre ao seu lado" e chorando até o corpo desidratar com a minha mãe.— ele sorri de canto—  Mas a realidade é que eu estou preso numa enchente, que é uma coisa que nunca aconteceu aqui nesses dois anos, com um cara que me nomeia um alienígena.

— É pra você ver... uma hora 'ta quentinho no sofá de casa e na outra tá boiando em latinhas de refrigerante na rua.— Solto. —Você tem quantos anos? Com essa cara de bebê é capaz da sua mãe te defenestrar quando ver você passando pela porta de casa a essas horas.

— Não vou contar minha idade. É falta de educação perguntar a idade dos outros, então isso você terá que descobrir sozinho!— proferiu com tom brincalhão e sorriu deixando algumas ruguinhas no canto dos olhos a mostra.

Eu estou tentando entender se ele é sempre assim ou se só parece um palhaço perto de quem não conhece. Tento achar que é a segunda opção, porque se eu fosse amigo desse cara, sairia na porrada com ele na primeira oportunidade que surgisse.

— E como eu vou descobrir isso? — Dessa vez passo uma das pernas pra cima do muro, agora estando com meu corpo totalmente virado para sí.

— Conversando, Oras!

Ah, conversando...

— Então é assim que você descobre a idade dos outros?

— Claro!

— Então vamos ver se você descobre a minha — falei num tom provocativo.

Eu realmente não quero ficar conversando com ele, porque pra mim ele ainda é um estranho. Mas se for pra ficar a noite toda aqui, tenho que me juntar aos semelhantes.

Ele assentiu com o cabelo recém molhado se movendo junto com a cabeça. Seus olhos felinos me fitaram fixamente como se estivessem me estudando.

Então, ele desviou o olhar, agora olhando para a água. Acompanhei sua visão já imaginando o que ele pensava.

A água já diminuiu quase que por completo.

É hora de ir pra casa...

Pulo do muro já com os pés firmes no asfaltoJungkook faz o mesmo, e agora posso perceber que ele veste uma roupa simples, um conjunto de moletom que se assemelha a um pijama. O encaro depois dessa breve analise e Jungkook finalmente diz algo:

— Bom... acho que esse é o momento em que nos despedimos melancolicamente e a partir daqui nós nunca mais nos reencontrarmos para eu descobrir sua idade e sua identidade de bruxo demoníaco...— riu com o desanimo aparente enquanto observava qualquer ponto da rua deserta.

E eu sinto que vou explodir. Sua face juvenil que agora está tão séria faz meu coração bater três milhões de vezes mais. O pequeno bico que ele provavelmente não percebe estar formado em seus lábios me deixa aquecido por dentro.

Ah, se cada desconhecido que eu interagisse me deixasse choroso assim ao se despedir...

— Ou...— procuro por meu celular no bolsinho da minha bolsa. Por um momento imaginei que eu também tivesse deixado ele cair no chão enquanto corria, mas assim que eu acho entrego para ele.— Você pode me passar seu número e assim poderá descobrir o que tanto deseja.

Encarou o aparelho na minha mão e o agarrou. Observo ele adicionar seu número e em um momento ele murmurou algo que não consigo entender, mas me devolveu o celular com um sorriso pequeno e sincero no rosto.

— As vezes esqueço das tecnologias de hoje em dia. Sabe, na minha época não existia essas coisas... — ironizou e eu ri com sua palhaçada. Acabo dando um tapa no seu braço como tenho costume, mas olho pra ele tentando achar algum resquício de que ele não gostou daquilo.

— Você mora muito longe? se quiser eu te dou uma carona. — questionei dando alguns passos para trás, passando a mão pelo meu cabelo em um ato costumeiro.

— Não, eu moro á uns cinco minutos daqui. Mas valeu... — Também foi andado para trás, e sem querer acabou se chocando contra uma lixeira logo atrás de si. Rapidamente ele disfarçou

— Eu vi ela! Só fiz isso para ver se estava firme no chão. — falou com convicção e um pouco alto para que eu ouvisse.

Visivelmente Jungkook é o sinônimo de desastre. Eu acho que na verdade ele é a própria personificação da catástrofe.

Em outra situação eu iria julgar a pessoa pedindo para ela ser mais cuidadosa e atenta, mas de certa forma, eu gostei de Jungkook ser assim.

Quando ele percebe estar quase saindo do meu campo de visão, finalmente acena e diz:

— Então... até mais! — Grita e eu sorrio acenando de volta. Ele vira de costas pra mim.

Seu jeito é bem chamativo, o modo como ele anda e o jeito que seu cabelo que quase chega a tocar os ombros se move de acordo com seu corpo consegue arrancar o suspiro de qualquer garota que o visse. Seus ombros esbeltos também pareciam fortes.

Na próxima irei perguntar qual academia ele deve frequentar... Olho para meus pés mas só então me lembro de responder.

— Até mais, Jung...— Bom, Jungkook simplesmente da de cara num poste quando vira para me olhar novamente.

Essa foi a última cena que presenciei dele antes de me orientar e voltar a seguir caminhando até meu carro.

Já dentro dele, joguei minha bolsa no banco de trás e virei a chave já o ligando com o ar condicionado no máximo. Provavelmente o carro vai ficar com cheiro de meia estragada por eu estar molhado em cima de um banco de tecido.

Ligo o rádio que já estava com meu Pen drive conectado e começa a tocar Silence do Before you exid.

No mesmo instante me lembro de Jungkook Jeon há alguns minutos atrás e um sorriso involuntário toma meu rosto. Decido dar partida no carro enquanto vários pensamentos começam a preencher minha mente.

Sorri novamente, quis me matar por isso.

Ah Jimin, onde você foi se meter...

Escuto meu celular tocar e olho de soslaio para ele no banco ao lado, era uma notificação de mensagem de um contato que eu não lembro ter adicionado. Quando desbloqueio com a outra mão livre, acabo soltando uma risada nasal.

|1 mensagem de: Filósofo e detetive nas horas vagas.

|| eu irei te investigar até o fim ;-)

Jungkook é totalmente, completamente e inteiramente estranho.


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