E se... escrita por Arin Derano


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oi! Oneshot de Steven Universe de surpresa! Na verdade, eu tive essa ideia no twitter, depois de ter visto um vídeo onde um cara se apaixona pela sua vizinha durante a quarentena atual. Enfim, boa leitura!



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Fazia uma semana que estávamos em quarentena.

E devo admitir, apesar de eu trabalhar e amar ficar em casa, eu já estava odiando aquela restrição a minha liberdade de ir e vir. O máximo que eu podia fazer era passear pela quadra com Pumpkin, uma cãozinho que vem sendo minha companhia desde que me mudei para cá na época da faculdade.

Havíamos voltado de nosso passeio periódico (a cada dois dias nós saímos) e terminado de fazer nossa higiene antes de voltarmos a nossa rotina: dormir, comer e no meu caso, trabalhar.

Duas horas se passaram e eu não aguentava mais olhar para os códigos e comandos que eu vinha programando para um site. Suspirei. Talvez fosse melhor eu dar uma pausa e comer algo.

— Pumpkin, o que acha de um petisco? - perguntei da cozinha. Ela poderia não me entender, mas com certeza entenderia o som do pacotinho abrindo.

O fiz. E nada.

— Pumpkin? - fui até a sala e varri com os olhos pelo cômodo. A encontrei observando algo na porta de vidro fechada que levava a uma pequena sacada. Me aproximei e me agachei para fazer um carinho em seu corpo peludo e dourado – O que há? - segui seu olhar até o lado oposto da rua, onde no terraço do prédio a frente do meu, uma garota de cabelo azul e vestido da mesma cor dançava sem música.

Me levantei e abri a porta lentamente, e Pumpkin saiu com pressa e se apoiou no anteparo da sacada e continuou observando. Uma música instrumental se fez presente assim que terminei de abrir a porta. É claro, o vidro era anti ruído, eu nunca escutaria nada de fora assim.

Ela acompanhava o ritmo da música com movimentos leves, por vezes rodopiando com seu vestido e acelerando sua dança.

Eu poderia não ser nenhuma crítica de dança, mas ela dançava muito bem.

E ela era linda.

Pumpkin de repente começou a latir. No susto, derrubei o pacote com os petiscos e ela nem ligou. Continuou a latir, até chamar a atenção da garota. A garota nos olhou atentamente e acenou.

Senti tudo revirar quando nossos olhos se encontraram. No reflexo, peguei Pumpkin e fechei a porta e a cortina. Céus, o que estava acontecendo comigo? Eu não era tão antissocial assim, eu até puxava assunto com meus vizinhos quando os encontrava nos corredores mesmo não me importando com a vida deles quando tudo estava normal!

Por que com aquela garota era diferente?

Eu queria vê-la, mas eu tinha.... Medo disso?

Abri uma fresta na cortina para observar se ela ainda olhava na direção da minha sacada. Bingo! Ela posicionava as mãos acima dos olhos para tentar enxergar melhor. Fechei a cortina num pulo e só assim percebi que Pumpkin havia comido todos os petiscos em questão de segundos. Suspirei. Ela ficaria sem eles por um bom tempo depois dessa.

***

Era o dia seguinte. Desde o ocorrido ontem eu me recusei a chegar perto da sacada.

E eu me sentia mal por isso.

Eu queria ver se a garota estava lá, queria conversar com ela. Mas não conseguia. Além do mais, como eu conversaria com ela estando ao menos uns vinte metros de distância?

...

O drone! O drone que comprei na minha última viagem com Amy e Steven. Poderia funcionar! O tirei da embalagem delicadamente e li rapidamente o manual de instruções. Eu só o havia usado uma vez e havia sido na viagem a três meses atrás. O liguei e testei pelo apartamento. Parecia estar tudo funcionando.

Respirei fundo e espiei pela porta da sacada.

Ela estava lá!

Não pude evitar de sorrir, e Pumpkin de latir.

Colei com um pequeno pedaço de fita adesiva um bilhete com meu número e uma frase escrita embaixo: “Nos vimos ontem, aqui está meu telefone pra gente conversar!”.

Credo, o que era isso, eu estava no primário?

Mordi o lábio inferior, pensativa.

Quer saber? Dane-se!

Me levantei e fui empolgada até a janela da cozinha, onde não tinha tela e nenhum apoio pelo qual Pumpkin pudesse subir e acabar caindo. Suspirei uma, três vezes, peguei o controle do drone e espiei pela mesma janela enquanto o levava até o terraço da garota. Assim que ele se aproximou e pousou ela parou de dançar e se aproximou dele.

Comecei a tremer de nervoso. Talvez tivesse sido uma péssima ideia, talvez...

Ela olhou na direção da minha sacada, e com certeza me viu me escondendo da janela ao eu a ver tentando me encontrar.

Fixei meu olhar na tela do meu celular. Para minha alegria (e alívio) uma notificação apareceu.

Número desconhecido

Oi! É a garota do terraço, ou melhor, pode me chamar de Lazuli!

Lazuli..

Seria esse o nome verdadeiro dela? Bem, eu não tinha porque julgar também.

Oi! Prazer, sou a Peridot!

Mal eu sabia que mesmo sendo uma decepção no quesito social, eu ia acabar me apaixonando.

***

Eu a chamei para um encontro no dia seguinte.

É, eu não tinha o mínimo de vergonha na cara (ou talvez eu tivesse).

 O encontro seria as seis da tarde, o horário que ela costumava terminar seu ensaio de dança. E você acha que eu me arrumaria uma hora antes? 

Me arrumei quatro horas antes. Sem contar as horas que fiquei procurando o que vestir, o que fazer no cabelo, se eu deveria me maquiar (eu nem tenho maquiagem!), dar um banho na Pumpkin...

Finalmente, faltando dez minutos, vesti minha melhor roupa e, na sacada, preparei uma mesinha com um vasinho de flores e um prato com uma receita chique que tentei fazer sem o mínimo de histórico na cozinha (e ficou péssimo).

Na hora combinada, Lazuli chegou ao terraço com sua mesa. Ela acenou rapidamente para mim e voltou a entrar, buscando um vaso pequeno de flores e seu jantar também. Liguei para ela assim que ela terminou de se arrumar.

Em poucos segundos, vi seu rosto na tela.

— Oi! Como está?— ela sorria.

— Oi! Eu estou ótima, e você? – me esforcei ao máximo para não gaguejar.

Melhor agora— respondeu.

Um arrepio percorreu meu corpo. Ela estava falando sério?

Logo Pumpkin voltou a latir enquanto olhava para ela. Pude ouvir sua risada ressoar na ligação.

— Oh, achei uma fofura seu cãozinho. Qual o nome dela? Digo, presumo que seja ela, você colocou um lacinho na cabeça dela.

— Pumpkin. E nossa, você é atenta – elogiei. O lacinho nem era tão grande para conseguir enxergar da distância dela.

Obrigada, você acha que eu já não percebi as milhares de vezes que tentou me espiar?

Corei.

Desculpe! Eu não queria... Só quis que soubesse que eu achei isso fofo, de certa forma. Você poderia me assistir desde o começo sem problemas. É uma forma de eu me manter ativa nessa quarentena, meu apartamento é um pouco pequeno para dançar como eu gosto e, ficar aqui me dá uma sensação boa... Do vento soprando, do sol iluminando...— ela manteve o olhar distante por alguns segundos – Ah, desculpe. Falei demais. Me fale de você agora.

— Não, não, eu estava adorando saber! Pode continuar.

Nah, sua vez de contar sobre você.

Pensei por um instante. Oque eu teria de interessante para falar a ela?

— Bem... Meus dias estão um tédio. Trabalho com computação e na maioria das vezes em casa, mas não é a mesma coisa que agora, que a gente nem pode sair de casa... A Pumpkin me acompanha desde que me mudei para cá, dois anos atrás. Quando ela te viu aí e eu também, as coisas ficaram bem menos entediantes. 

Dessa vez foi vez dela corar.

Isso... É ótimo! Fico feliz que eu esteja fazendo o dia de alguém melhor. Eu me mudei para cá faz poucos meses. Não consigo ficar em um mesmo lugar por muito tempo. Sou quase que uma nômade!— ela riu, e eu acabei rindo também – E por isso não tenho nenhum bichinho, apesar que eu gostaria muito de ter um qualquer dia!

— Entendo... – um silêncio constrangedor se instaurou – E o que você preparou pra hoje? – perguntei, me referindo ao prato dela.

Salada. Era o que eu tinha pronto na geladeira, eu sou péssima na cozinha— comentou e riu de leve.

— Ah, nem me fale. Eu fui tentar um prato chique do qual nem sei pronunciar e... Tá terrível.

Então estamos simulando um restaurante chique?— ela sorriu – Você tem vinho aí?

— Claro – fui buscar e ela fez o mesmo.

Um brinde a quarentena— ela se serviu e eu fiz o mesmo, preenchendo a taça até a metade.

— Um brinde a quarentena.

***

Uma semana havia se passado, e devo dizer, apesar de ainda não poder sair de casa, eu tinha um motivo para levantar feliz todos os dias.

Eu e Lazuli estávamos nos dando muito bem. É como se em uma semana tivesse dado tempo para nos conhecer em anos. Eu a adorava assistir dançar todas as tardes e ela adorava me ter como plateia. Ah, ela também adorava a Pumpkin, inclusive brincava com ela, mesmo de longe.

Descobrimos também que o Steven era um amigo comum entre nós. Eu o conhecia desde o colegial e ela desde a faculdade, do qual os dois fizeram a mesma: artes cênicas.

Eu contava os segundos para podermos nos ver de perto. Felizmente, as notícias estavam ficando melhores a cada dia que passava.

E minha ansiedade de vê-la de perto só aumentava.

Me sentei na sacada no horário combinado de sempre, seis da tarde. Eu segurava Pumpkin no colo enquanto a esperava ansiosamente.

Logo ela apareceu sorrindo e me ligou por voz.

Hoje você vai dançar comigo.

— O quê? Quem disse isso? – disfarcei.

Você mesma. Fizemos uma aposta em maratonar Camp Pining Hearts, e como eu ganhei, você vai dançar comigo.

A olhei desconfiada e ela retribuiu com um olhar desafiador - Que temporada você tá?

Quinta— ela cruzou um dos braços.

— O quê? Como você... Fizemos essa aposta ontem!

Não subestime meu poder de maratonar— ela arqueou uma sobrancelha, convencida.

Suspirei. Ok, eu teria de cumprir com minha palavra.

— Ok, pode escolher a música – ela sorriu alegre e desligou a ligação. Conectou o celular em um pequeno som e um ritmo calmo começou.

Ela voltou seu olhar para mim e fez um gesto para que eu iniciasse.

Pra ser sincera, eu nunca tive o mínimo de coordenação motora no meu corpo. Mas para ela, eu tentaria meu melhor. E parece que deu certo.

Em pouco tempo já estávamos dançando como se isso fosse comum de fazermos juntas. E eu estava adorando aquela sensação de liberdade, mesmo que não fosse literalmente.

Dançamos pelo que acredito que fosse uma hora, e devo dizer, foi a melhor hora da minha vida até então (na verdade, as outras horas em que conversei e passei a madrugada falando com ela também).

Já havia anoitecido e eu ao menos estava exausta. Ela ainda parecia tranquila. Um som de chamada começou no meu celular de repente.

— Já cansou?

— Eu não costumo ter uma vida fitness que nem você, Lazuli! – brinquei, tentando parecer séria.

— Oh, sem problemas. Posso te tornar fitness se quiser, Peridot— Ela retrucou, com um tom tranquilo.

— Só com uma condição – limitei.

Ok, diga suas exigências!— ela dramatizou.

“Se aceitar namorar comigo” a frase se repetiu na minha mente.

Travei. Eu não sei se... Eu deveria? O que ela iria pensar? Talvez fosse cedo demais... E se ela já tivesse alguém?

— Se me esperar chegar na quinta temporada pra continuarmos juntas.

Droga Peridot, o que você estava fazendo?

Está bem. Eu faço esse sacrifício por você— ela continuou seu drama e riu. E eu ri também.

Talvez eu devesse pedir a ela em uma outra hora.

Bem... Eu vou indo. Vejo você amanhã?

— É claro – sorri – Até amanhã, Lapis Lazuli.

“Eu te amo.”

Até amanhã, Peridot— e ela desligou.

***

Um novo dia, um novo começo!

O dia amanheceu com o céu limpo e com ótimas notícias.

A população poderia voltar a circular pela cidade tranquilamente, embora ainda precisássemos fazer a higiene e evitar excesso de contato físico.

Eu não me importava. Eu iria ver ela hoje. Iria fazer uma surpresa!

Tomar coragem na cara!

Vesti minha segunda melhor roupa e me arrumei ao máximo. Comprei flores e um pingente com a pedra de Lapis Lazuli. Tive que gastar um pouco das minhas economias para ele, mas valeu a pena. 

Caminhei até a porta de seu prédio e digitei o número de seu apartamento.

Chamou, chamou, chamou... E nada.

Bom, talvez ela não pudesse atender no momento...

Esperei na entrada por uns cinco minutos. Seria o tempo dela tomar um banho, sei lá, né?

Fui acordada de meus pensamentos com a porta do prédio abrindo.

— Lazuli! Eu... – comecei, mas logo percebi que não era ela.

— Posso ajudar? – uma senhora de terceira idade perguntou gentilmente.

— Ah, eu... Estou esperando a garota do apartamento 304 responder, sabe se ela está bem?

— Ah, jovem... Ela não te contou?

— Me contar? Me contar o quê? – o que ela estava falando?

— Ela se mudou hoje cedinho, mas não me disse o porquê. Ela parecia triste em ir. Acho que não era escolha dela se mudar.

As palavras dela me atingiram feito uma faca no estômago.

— O quê...? Por que... Ela...

— Sinto muito. Ligue para ela, talvez ela te conte o porquê – ela aconselhou e saiu andando.

É verdade. Não era o fim do mundo... Né?

Liguei para seu telefone. Uma, duas, três vezes. Todas caíram na caixa postal. Mandei uma mensagem no aplicativo de mensagens, um torpedo, em todas as suas redes sociais. Nada.

Passei o dia ali. Na entrada de seu prédio. Esperando que ela voltasse. Esperando aqueles cabelos e olhos azuis encontrarem os meus como da primeira vez.

E esperei.

A voz dela ressoando nos meus pensamentos: “Sou quase que uma nômade!”

Mas ela não me deixaria, né? Ela me esperaria para que pudéssemos estar perto depois de tanto tempo separadas.

Lembrei de Steven. Talvez ele soubesse onde ela estava.

“Não faço ideia. Peri, ela não é muito previsível. É o estilo de vida dela, por que se importa tanto com isso?”

O pedido.

Eu devia ter pedido a ela.

Não aguentei. Comecei a chorar, imaginando em como se tivesse pedido a ela, pudesse ter sido diferente. Ou talvez, pudesse ter sido pior, se ela negasse.

E se... E se... Tantos “e se”... 

E no fim, foi o “E se ela fosse embora sem te avisar e não voltasse nunca mais” fosse a hipótese que realmente aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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