Ele nunca fora o mais inteligente da trupe, mas estava longe de ser burro. No calor da batalha, conseguia ler a força do inimigo e elaborar estratégias. Não que isso fosse muito significativo. No final, Uvogin preferia usar os punhos, sentindo os ossos do oponente quebrarem sob os nós de seus dedos.

Sua única fraqueza era o videogame. Nunca derrotava Shal naqueles jogos malditos. E o Manipulador deleitava-se em demasia, sempre convidando a fera para uma melhor de três. Mas Uvo era orgulhoso e jamais negava uma revanche. Perdeu várias apostas por conta disso e teve de pagar — ou melhor, roubar — muitas cervejas.

Fora esses jogos traiçoeiros, Uvogin era imbatível. Algumas lutas beiravam o tédio. A fera vivia para enfrentar gente forte, gente que nos desafia e desperta o melhor de nós. Lembrava-se bem daquele povo isolado, o clã dos olhos escarlates. Não sabiam usar a aura, mas eram todos exímios combatentes. Ele ainda recordava a sensação de arrancar a cabeça de um deles. Sim... Ainda sentia os fios de cabelo, a pele, a dor... Uvogin era um guerreiro honrado. Não gravava nomes, mas gravava forças.

A batalha contra os Injuu foi um tédio. Gente que merecia o esquecimento. Conseguiram paralisá-lo do pescoço para baixo, mas e daí? Uvo só precisava de sua boca. Provou um deles — o gosto era pior do que as sopas de Nobunaga. Cuspiu um pedaço de seu crânio para matar o homem-cachorro. Sobrou apenas o porco-espinho. Os lábios de Uvo contorceram-se em um sorriso. Ele urrou. O urro gutural e profundo de uma fera. O porco-espinho desabou no chão — morto.

Se não podia usar os punhos, usaria a voz. Simples assim. A mente de um Intensificador não foi feita para pensar tão longe. Mais do que isso: os urros eram sua própria identidade. Os companheiros reclamavam. Quer nos deixar surdos? Mas Uvo apenas sorria em resposta. No fundo, Nobunaga e Shalnark até gostavam. A fera derrotava os oponentes com todo o seu fervor. E depois erguia a cabeça, urrando em vitória.