Amanhecer: Novos Começos escrita por Sarah Lee


Capítulo 11
Erros


Notas iniciais do capítulo

Explicações rápida meus amores, infelizmente eu fiquei muito doente desse final de semana pra cá, o que me atrapalhou muito para terminar e corrigir o cap. Estou trazendo ele atrasado hoje, mas já garanto que a postagem de sexta continua normal. Obrigada pela compreensão e o aguardo, e boa leitura. ♥
(Ps: E não é que eu peguei gosto por escrever caps grandes? kkkkkk).



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O choque pelo o que eu tinha acabado de ouvir foi substituído pelo susto do barulho de porcelana se quebrando. As únicas luzes acesas na varanda penetravam com dificuldade na escuridão da casa, mas permitiam uma fraca visão das coisas que eu sabia que estavam lá. Vasculhando entre as sombras do sofá desgastado e a televisão, eu vi a silhueta de um homem. Como se fosse um espectro, enorme e praticamente todo preto, parado ali. A visão fez um arrepio se espalhar por todo meu corpo, pois é o tipo de coisa que você vê quando criança, parado atrás da sua porta, onde a luz do corredor não consegue chegar.

Então eu consegui notar, quando a figura finalmente começou a se aproximar em passos largos, que ela tremia violentamente. E com o impulso de alguém que se vê no caminho de um monstro de filmes de terror, ou de um animal feroz, eu me atirei para o lado. O movimento foi tão brusco que eu acabei caindo, mas consegui continuar me afastando, querendo manter distância do que quer que fosse surgir de dentro da porta, só parando quando minhas costas bateram na cerca da varanda.

Eu estava apavorada, e não entendia o que seria tal monstruosidade que havia surgido de dentro da casa. Eu olhei assustada para o lado, ainda procurando uma melhor rota de fuga quando o olhar de Paul me prendeu mais uma vez. E apesar de seus olhos estarem negros, algo no seu rosto parecia me dizer que ele estava em paz. Tentei gritar para que ele corresse também, porque provavelmente ele não viu o que eu vi. Mas não houve tempo. Jacob abriu a porta com força, a fazendo bater na parede externa com um baque estrondoso. A porta foi praticamente destruída, várias rachaduras surgiram perto da maçaneta e nas dobradiças, e alguns pedaços voaram nas minhas pernas.

Jake se aproximou, cobrindo a distância em pouco tempo e, sem hesitar por um segundo, deu um soco forte no rosto de Paul, o jogando por alguns metros para o meio do gramado.

— Você o que? — Jacob gritou, praticamente rosnando o final da pergunta.

Paul se levantou com dificuldade, o vermelho jorrando por seu nariz que devia estar quebrado. Ele também cuspiu uma grande porção do sangue no chão quando recobrou o equilíbrio.

— Você me entendeu. — Ele rosnou, igualmente irritado. — Quero que ela escolha a mim em vez de você. — Paul me olhou novamente nos olhos, ofegante. — E você sabe que seria só uma questão de tempo até… — Mas Jake não esperou o outro completar a frase. Em pouco tempo ele já estava correndo novamente, para acertar outro soco, agora no estômago de Paul. Mas dessa vez o outro não perdeu o equilíbrio, e conseguiu revidar com um gancho de direita no queixo do amigo. Eu ouvi o som de algo se partindo, e dessa vez era Jacob que cuspia uma grande porção de sangue.

Aquilo era demais para mim, a confusão e o vermelho escuro, tanto dor de uma vez, me fazia querer desmaiar. E eu desmaiaria, se a adrenalina não insistisse em me manter consciente.

— Você… — Jacob continuou, incrédulo com a situação. Mas antes de terminar, ele já estava no ar, se transformando em um lobo gigante. Paul também acabou se transformando, e os lobos avançaram um sobre o outro.

O barulho se tornou ainda mais ensurdecedor, uma mistura violenta de rosnados e dentes se fechando sobre a carne. Os animais se atacavam continuamente, enquanto gemidos de dor escapavam ocasionalmente de suas bocas. Era brutal, Jacob havia conseguido morder a pata esquerda do outro. Mas com a pata livre, Paul  conseguiu cravar as garras no rosto de Jacob, fazendo-o se afastar com um grunhido alto.

Eu continuava paralisada perto da cerca, enquanto via a cena se desenrolar diante dos meus olhos. Procurava ansiosamente no meu cérebro sobre formas de impedir que os dois lobisomens se destruíssem, mas não parecia haver alguma. Eu era fraca demais, humana demais. Se chegasse perto, com certeza teria mais um cadáver para a conta. Então eu fechei forte os olhos, desejando que tudo se acalmasse. Pois, qualquer que fosse o resultado da briga, eu não queria saber. Parecia inevitável que uma morte acontecesse hoje.

Então, eu consegui distinguir, estava perto e fez meus ossos tremerem. O uivo alto de de outro animal se aproximando. Ele vinha rápido, e fazia muito barulho ao correr, como se a intenção fosse avisar todos se sua presença. O lobo negro com olhos amarelos saltou das árvores, e os dois outros que estavam brigando pararam por um instante.

Eu não conseguia saber o que estava sendo dito, mas Sam rosnou alto cada vez que algum deles ousasse fazer um movimento. Os três lobos não deixavam de se encarar, com os dentes à mostra e o pelo arrepiado, só esperando o próximo movimento do adversário. O sangue continuava jorrando pelas feridas, mas os animais não ousavam se mover do lugar. Tudo parece acabado depois de alguns segundos de silêncio agonizante, quando Jacob deu mais um passo com dificuldade para frente, o que Paul respondeu abaixando as orelhas e encolhendo o corpo. Era surreal vê-lo assim tão acuado. E eu sabia, alguns segundos antes de acontecer, quando Paul me encarou com aqueles grandes olhos quase negros, que nós o haviamos perdido também.

O lobo desviou o olhar rapidamente, e partiu em disparada para a floresta. Nenhum dos dois outros ousou se mover. Então vários rostos conhecidos saíram das árvores, todos igualmente aflitos. Jake também havia voltado para a sua forma humana, tentando esconder a nudez com a mão. E Sam se transformou logo depois, e olhava furioso para o amigo.

— Onde você estava com a cabeça! — Sam gritou. E o outro pareceu se encolher ainda mais. — Queriam realmente se matar? — Jake não o encarava, mas a expressão continuava afiada, com a raiva que sentia.

Quando Jared se aproximou, ele jogou uma bermuda surrada para o lobo ferido, a qual foi colocada com dificuldade. Eu não consegui evitar de engasgar com a surpresa quando eu finalmente percebi a gravidade dos hematomas e cortes espalhados pelo seu corpo. E ao me encarar, como se percebesse finalmente que eu continuava ali, eu vi o corte profundo sobre o seu olho esquerdo. Seu rosto era uma mistura macabra de arrependimento e ódio, e eu tenho certeza que nunca mais esqueceria dessa expressão.

— Bella! — Emily veio correndo em minha direção, o olhar mostrando profunda angústia. Ela me abraçou, e eu automaticamente retribui, pois sentia que só assim não desapareceria. Só ao ser abraçada, eu senti que estava tremendo também. — Venha comigo. — Ela me levantou com dificuldade, e seguimos para dentro da casa.

Emily me colocou sentada no sofá, e segurou meu rosto entre suas mãos. — Está ferida? — Perguntou ansiosa, e eu apenas consegui negar com a cabeça. — Eu vou pegar um copo de água com açúcar para você. — E antes que eu conseguisse protestar, ela já tinha ido.

Mas eu não fiquei sozinha por muito tempo, já que Sam irrompeu pela porta no minuto seguinte, acompanhado por Seth, Embry e Leah. — Seth, vá chamar Sue! — Ele estava meio carregando, meio empurrando Jacob pela entrada. E acabou ficando ainda mais irritado quando viu a situação da porta. — Mas que merda Jacob!

— Ah mas eu queria ver… — Seth começou, mas um olhar furioso de Sam e também de Leah o fez mudar de ideia bem rápido. O menino saiu correndo noite adentro.

— Sente-se na mesa, vou buscar algumas toalhas para limpar os cortes. — E dando uma boa olhada na ferida aberta do olho. — Você tem sorte de ainda conseguir enxergar. — Sam praticamente cuspiu essas palavras, como se não acreditasse que ele merecia tal sorte.

Apesar de eu sentir o olhar de Jake sob mim, eu não consegui encará-lo de volta. Eu ainda lutava para tirar a imagem do “homem de sombras” que ele havia se transformado da minha mente, mas ele lutava para permanecer ali. Como o monstro atrás da minha porta. E tinha medo, de que se eu me virasse agora, ele realmente tivesse tomado o seu lugar.

Emily chegou com a água e a entregou em minhas mãos, ela também sentou do meu lado no sofá, e de forma protetora colocou um dos braços sobre mim. Apesar de eu estar agradecida dela se sentada entre mim e Jacob, e ter bloqueado a visão que ele tinha sobre mim, eu não conseguia deixar de sentir que ela estava me dando uma atenção além da conta. Ele que estava ferido, eu só estava assustada.

— Alguém pode me explicar o que acabou de acontecer? — Embry gritou pela sala, e só então eu percebi os olhares ansiosos que ele e Leah alternavam entre mim e Jacob.

— Deixe que ele explique o que houve. — Respondeu Sam quando atravessou a porta do banheiro. Ele carregava algumas toalhas molhadas, e um olhar de descontentamento. Mas estava visivelmente mais calmo.

Ele entregou uma toalha para Jake, que começou a limpar com dificuldade o sangue do rosto e do peito. Sam estancou cuidadosamente uma marca de mordida profunda que eu não havia percebido em suas costas. — Talvez precise de pontos, está bem profundo. — Ele murmurou mais para ele mesmo do que para os outros. A sala entrou em um silêncio mortal de expectativa, e o único som que se ouvia eram os que as toalhas molhadas produziam. Jacob ainda tremia um pouco, e eu não sabia se era pelo o que tinha acabado de acontecer, ou pela dor que deveria estar sentindo.

— Eu sei que às vezes Paul pede por uma boa surra. — Continuou Leah, vendo que Jacob se recusava a falar. — Mas até eu achei que vocês exageraram dessa vez.

— É, vocês estavam fora de controle cara. — Embry completou a ideia. — Quer dizer, ele é nosso irmão. Não podemos…

— Ele não é meu irmão. — Jacob o interrompeu, cuspindo as palavras como se fosse veneno acumulado em sua boca.

— Jacob… — Sam suspirou pesado, ele estava exausto pelo dia, e claramente não queria lidar com mais uma explosão de raiva incoerente agora.

— Um irmão não faria o que ele fez. — Jake estava mais sombrio quando continuou, trazendo a imagem do monstro de volta para a minha mente. —  Imagine se fosse alguém falando desse jeito da Emily, Sam! Quando ele disse aquilo… — E eu pude perceber que Sam, apesar de tentar manter a compostura, tencionou um pouco o maxilar com a imagem.

— O que ele disse, droga! — Embry gritou, me pegando de surpresa.

— Paul sugeriu que teve um imprinting com a Bella. — Sam parecia ainda mais decepcionado quando falou. Como quando uma criança faz uma burrada muito grande por um motivo muito idiota.

— Ah… — Foi o que Embry respondeu, mas eu poderia jurar que as palavras haviam saído da minha boca. Eu não tinha energias nem para formular uma reação decente com essa revelação. Então me mantive em silêncio, como se fosse uma espectadora de algum programa de televisão. Vendo as situações que desdobravam como se eu não fizesse parte disso de fato. — Não é como se fosse algo controlado, mas mesmo assim. Não aconteceu, certo? — Sam negou, e voltou a limpar os ferimentos.

— De qualquer maneira foi cruel. — Leah completou. Ela estava encostada na parede, presa nos próprios pensamentos. E eu tive certeza que essa história afetava ela de um jeito ainda mais profundo.

— De todas as pessoas... — Jake fechou os punhos com força, espremendo da toalha velha uma água vermelha. — Então eu perdi o controle mesmo! De todas as pessoas, logo ele?

— Logo ele o que? — Dessa vez Sam não conseguiu manter o controle, ele girou o corpo de Jacob com força, fazendo se encararem. — Era seu irmão! E se fosse verdade? Ainda o mataria por isso? E se Bella sentisse o mesmo? A mataria também? É isso que nos separa dos animais Jacob, nós pensamos antes de fazer essas merdas.

— Nós sabemos como Paul tratou as mulheres que tiveram o desprazer de passar pelas mãos dele. Você ouviu o que ele pensava, então não acha que a Bella merece coisa melhor? Fiz isso por ela também! — Jacob se levantou da cadeira com um salto, para encarar Sam nos olhos. Seu corpo havia voltado a tremer de leve. Emily me apertou mais forte, e Sam olhou ansioso para nossa direção. Ele também não queria mais uma luta agora, mas não evitaria de fazer tudo para proteger a noiva.

— Ninguém aqui é um santo para fazer o julgamento do caráter dele. — Sam rosnou em resposta. Parecia inevitável mais uma briga acontecer a qualquer minuto.

— Mas, por que ele fez isso então? — Me forcei a falar. Minha voz saiu fraca e baixa, mas foi o suficiente para distrair os lobisomens de sua fúria. Jacob se lembrou novamente que eu ainda estava ali, e observando o meu estado, virou o rosto e se sentou novamente na cadeira, envergonhado.

— Ele só achava que aconteceria, por causa de como a Bella o salvou. Mas era completamente unilateral pelo jeito. — Sam pegou as duas toalhas empapadas de sangue e levou para o banheiro, trazendo mais uma limpa no lugar. — Ele só se precipitou nas deduções.

— Paul nunca foi um poço de inteligência mesmo. — Embry falou, e não conseguiu evitar um sorriso.

— Muito menos tinha sensibilidade para entender o sentimento dos outros. — Leah completou, mas ela não estava sorrindo. — Céus que bagunça...

Mais alguns minutos se passaram e todos trataram de se ocupar com alguma coisa para se distrair. Sam começou a verificar o estado da porta, e Emily preparou um chá para todos. Leah e Embry apenas fingiam não fazer nada enquanto obviamente estavam  vigiando Jacob. Quando finalmente Sett retornou, ele pediu para que Embry o ajudasse a carregar Jake para a clínica, mas ele recusou a  ajuda, e saiu mancando pela porta. Provavelmente ele fez isso para mostrar responsabilidade, mas a situação toda apenas o deixou com um ar de irresponsável. Eu estava louca de ficar parada também, então comecei a tentar tirar o sangue das toalhas e o que tinha pingado no chão, apesar da tarefa me revirar o estômago. O que foi uma ideia ainda pior do que eu tinha imaginado, pois quase vomitei tudo quando o cheiro do sangue grudou na minha boca. Felizmente Emily veio ao meu socorro, provavelmente ao perceber o tom esverdeado que eu estava ficando.

Eu estava quase completamente calma, quando Quil e Jared surgiram ofegantes na porta. Eu nunca os tinha visto desse jeito, inclusive achava que era praticamente impossível um lobisomem ficar exausto. Provavelmente eles estavam correndo, e se for o caso, eles correram muito.

— Então? — Sam perguntou, nervoso por um momento.

— Perdemos a comunicação com ele, Sam. Paul… — Jared engasgou por um segundo, tentando recobrar o fôlego. — Ele deixou a matilha.

— Não… — Emily falou baixinho, como um suspiro. E Sam fechou forte os olhos, com a notícia o machucando profundamente.

— Ótimo! Mais um problema causado pela quebradora de corações nº 1 de Forks. — Leah praticamente cuspiu as palavras na minha direção. — Já não bastava brincar com um lobisomem, foi procurar outro.

— Leah… — Sam começou a intervir, claramente irritado com a menina. Mas eu não deixaria mais, estava cansada, realmente exausta de tudo isso, eu só queria um final de dia normal sem me preocupar com assuntos de lobisomens. Não deixaria ela jogar a culpa em mim sobre algo que nunca esteve sob meu controle.

— Você nunca se cansa de ser essa vadia amargurada Leah? — As palavras saíram rápidas e afiadas, sem que eu conseguisse me controlar. Um dos nossos amigos que acabou de voltar tinha sumido novamente, e ela não tinha nenhum direito de fazer mais um de seus comentários venenosos agora. — Deve ser exaustivo ser essa pessoa podre vinte e quatro horas por dia. — Foi então que eu percebi, depois de um momento, que todos ficaram chocados pela minha reação. Menos Jared e Embry, é claro que eles estavam rindo.

— Garota… — Leah fez menção que avançaria em mim, mas Quil já segurava o ombro da menina. Não que eu não compraria uma briga com ela agora, já havia enfrentado perigos muito maiores que Leah e a sua amargura de menina má para me amedrontar nessa situação. Mas é claro que eu sabia que não venceria alguma coisa contra ela. Então eu fiquei secretamente aliviada e orgulhosa, já que eu não havia me movido um centímetro quando Sam se colocou entre nós.

— As duas, acalmem-se — Sam usou seu tom autoritário habitual. — Leah, por que você não vai ficar com a sua mãe e Seth? — Ela fez menção de discutir, mas o olhar sério do alfa não deixara dúvidas de que aquilo não era um pedido. Era uma ordem. — Vocês dois também. — Se virou para os meninos que visivelmente tentavam segurar o riso. — Acho que a Bella precisa de um momento sozinha.

E eu realmente precisava. Foi muita informação em muito pouco tempo, eu ainda estava com dificuldades de entender tudo que tinha acontecido. Sentia que poderia explodir a qualquer momento, e teríamos outro lobisomem irritado. Ou pior, que eu pudesse desaparecer. Eu ainda lutava para recuperar o que poderia ter sobrado da minha sanidade, quando notei que estava sozinha com Emily na casa. Sam provavelmente quis nos dar algum espaço para eu poder desabafar, já que éramos as únicas humanas aqui. E se alguém poderia me ajudar a colocar as coisas no lugar, com certeza seria Emily.

— Ele realmente sofreu um imprinting por mim? — Comecei, e depois me virei para notar que ela me encarava com compaixão. Mas por algum motivo essa perspectiva me assustou. Eu não queria isso, ser mais uma vez jogada por aí pelas mãos do destino. Além disso, afirmo certamente que não sinto nenhum sentimento profundo por Paul, ele é apenas um bom amigo para mim, como Emily e Sam.

— Não, segundo Sam não foi nada próximo a um imprinting. Ele deve ter apenas se apaixonado por você como uma pessoa comum. — Ela se aproximou para segurar as minhas mãos. — Ele deve ter confundido os seus sentimentos por ele. Achou que o carinho que você dava como amiga, seria o mesmo que daria por amá-lo.

— Eu não consigo entender. — Foi o que consegui dizer. Não era uma pessoa de dar segundas intenções ou interpretações, aliás, nem sabia como isso era feito.

— Eu arrisco que foi pela maneira que ele vê o mundo Bella. — Ela se afastou e sentou na bancada, tentando organizar os pensamentos. — Sabe, Paul também teve uma infância complicada, na verdade, em muito ela se parece com a de Sam. E eu acredito que seja por isso que eles sejam tão ligados. — Ela ficava mais sombria enquanto contava a história. — O pai de Paul era, como posso dizer, uma pessoa ruim, muito ruim. E não só com o filho, ele também era intragável com todos à sua volta. Tanto que foi por isso que a esposa o deixou. Ela fugiu na calada da noite e nunca mais voltou. Paul passou a sofrer ainda mais nas mãos dele depois disso. E apesar dele não admitir, talvez também guarde rancor pela mãe não tê-lo levado junto. Mas quem sabe. Ele não se abria sobre isso nem para Sam, quem dirá para outras pessoas. — Ela se remexeu e levantou em um salto, voltando a andar pela casa de maneira impaciente. — O ponto é que, ao meu ver, Paul sempre tentou compensar o amor que faltou na sua criação com outros tipos de amor, na maioria das vezes aquele tipo que dura só por algumas noites. Então quando você chegou, não é surpresa dele ter confundido as coisas. Ele não aprendeu que o amor tem várias formas, então para ele estava claro as suas intenções. — Emily suspirou fundo, mas não me encarava quando terminou. —  Ele só recebeu todo esse sentimento nas mãos, e não soube o que fazer com ele.

A história me chocou por um momento. Eu já tinha ouvido que Paul tinha tido uma infância difícil, Jacob já havia comentado algumas vezes, mas eu não sabia que tivesse sido assim tão ruim. Provavelmente isso explica uma porção de coisas, mas esse não era o meu foco agora. Eu parei e considerei todos aqueles que eu amava, e de maneiras tão diferentes. Todos esses sentimentos me ajudaram a ser quem eu sou hoje. Sem a ajuda e o apoio de tantas pessoas, eu sabia que não teria tido a sorte de continuar aqui agora. E pensar em alguém passando boa parte da vida sem ter recebido nada disso, só me fazia querer chorar.

— Mas ainda não compreendi sobre como ele esperava que o imprinting fosse acontecer em algum momento. — Perguntei, sentindo que alguma coisa me escapava.

— Hum… Você lembra dos contos na fogueira, sobre a terceira esposa e o sacrifício que ela fez? — Afirmei com a cabeça. — As lendas dizem que ela foi o primeiro imprinting, apesar de Taha Aki amar todas as outras, ela havia se tornado seu par espiritual. Mas o que ela fez de diferente? — Ela se sentou no sofá, e me chamou para sentar ao seu lado. — Bem, Sue tem a teoria que foi pelo sacrifício que ela fez, para salvar o lobisomem. Para ela, o imprinting não é nada menos que a bênção da lua. A nossa protetora que faz essa união tão irresistível para eles. Quando a deusa abençoa essa união, os filhos dela ficam completamente devotados pela pessoa, como se não existisse mais nada que algum dia importaria tanto. Parece um pouco extremo demais, mas eu acredito que pode ser um bom caminho para começarmos a entender isso.

— Então o sacrifício ajuda a desencadear o imprinting?

— Em teoria sim. — Ela confirmou. — Mas não é tão simples. E também é preciso que já exista alguma espécie de relação entre os dois para que isso aconteça.

— Me parece ser algo bem complicado de qualquer maneira. — As peças começavam a se encaixar, mas eu ainda não entendia completamente como.

— Bem, Sam tem uma teoria mais simples. — Ela deu uma risadinha que soou como um assovio.

— E como ela é?

— Ele acredita que o imprinting acontece com a pessoa que tem menos chances de “surtar” quando você vira um lobo gigante na frente dela. A mais “preparada” para viver essa vida com você. — Ela riu novamente. — Também pode acontecer para gerar melhores lobos na próxima geração, por isso que eles são maiores e mais fortes que seus antepassados.  — As risadas e o tom de brincadeira que ela trazia foram morrendo aos poucos, e um silêncio confortável se formou entre nós. Emily segurou gentilmente a minha mão, e recostou a cabeça no topo do sofá. Ela estava cansada também, e carregava no olhar a experiência de quem já esteve na minha posição antes. Eu ainda me surpreendo quando Emily já viveu e sabia, apesar de só ter vinte e seis anos. — Mas não importa qual teoria você escolha, não é algo que possa ser controlado de jeito nenhum. — Eu a estava encarando, mas ela não olhava para mim. — Se pudesse, bem… Acredito que você saiba do resto.

E eu me lembrava. Provavelmente se houvesse algum tipo de escolha, Emily não estaria com Sam agora. Conhecendo ela do jeito que eu conheço, ela teria escolhido poupar a todos de muita dor. Na maioria das vezes, não é difícil saber o que ela está pensando, já que nós pensamos de maneira parecida.

— Está se sentindo melhor agora? — Ela me abraçou, a energia voltando junto com o seu calor. — Vou te levar para casa, ok?

Eu concordei com a cabeça, mas ainda sentia que faltavam muitas coisas para serem resolvidas. O que, de fato, era verdade. Eu tinha certeza que Jacob, como aquela figura assustadora e sem luz, voltaria para me visitar nos sonhos essa noite. Eu estava acostumada em vê-lo como um sol ambulante, e perceber o tanto de escuridão que havia dentro dele. Bem, não podia negar que me assustava no interior. Talvez compará-lo com o sol fosse idiotice, ele provavelmente estava mais como a luz. Uma parte que reflete claridade, e outra que não se enxerga nada.

— Como você conseguiu lidar com isso? — Fiz a pergunta que segurava por muito tempo. — Mesmo depois do que ele fez com você? Como não consegue achá-lo um monstro? — Emily não se chocou, ou ficou constrangida com a pergunta. Ela apenas tocou gentilmente a cicatriz que levava em seu rosto.

— Eu posso garantir que qualquer homem que me machucasse estaria em sérios apuros. — Ela deu um risinho, mas esse não levava o mesmo humor de antes. —  Eu já tive um namorado violento antes Bella. E aprendi do pior jeito a me atentar com os sinais que esse tipo de pessoa carrega. Mas Sam é diferente. Ele luta todos os dias para que o que aconteceu comigo não se repita, nem conosco, nem com mais ninguém. Ele não luta contra o que não pode ser mudado, mas sim, contra os seus defeitos. Ele me prova diariamente que está melhorando, então eu tenho a confirmação diária que ficar ao seu lado foi a escolha certa. — Ela se levantou, pegou o casaco e me entregou o meu. — Você deve observar se, de agora em diante, ele vai se esforçar para mudar. Pois ninguém é perfeito. E observando isso, vai caber à você a decisão final. Se você vai ficar e crescer junto com ele, ou deixá-lo para trás. — Ela me ajudou a levantar e me deu um abraço apertado. Quando se afastou, seus olhos brilhavam daquele jeito sábio que eu tanto amava. — Aprenda a diferenciar certas coisas. Foi só um dia ruim, não uma vida ruim. E os monstros não parecem tão assustadores se você se lembrar de ligar a luz, e enxergar a situação como um todo.

Nós saímos da casa, estava escuro e Emily procurava as chaves do carro no bolso da jaqueta. Eu deixei que a brisa me segurasse por um tempo. Era um contraste gostoso, o frio da noite contra o calor da matilha. Segui a linha das estrelas, que já estavam brilhantes no céu, até o começo da floresta, e após isso, a trilha que seguia dela para o gramado de Emily. Ao longe, eu consegui ver que alguém se aproximava, em passos tímidos, iluminado pela luz fraca da lua. Ele se seguiu cuidadosamente, como se para garantir que não me assustaria novamente. Jacob estava cheio de ataduras pelo corpo, e um grande curativo limpo sobre o seu olho esquerdo.

— Ainda está doendo? — Foi o que eu consegui dizer. A minha mão se levantou automaticamente para tocar seu rosto, mas eu a fiz se abaixar rapidamente.

— Não tanto. Sue me deu alguns analgésicos, mas a minha temperatura vai tirar o efeito logo. — E ele pareceu extremamente triste de eu me preocupar com ele. O que seria no mínimo estranho, se eu não conhecesse Jacob. Claro que ele estava se sentindo muito culpado por tudo que aconteceu, os machucados eram o menos importante agora. — Desculpe… — Ele sussurrou, mas não se aproximou de mim. E a questão era que eu o desculpava, mas não era para mim que ele devia desculpas.

— É que eu nunca havia te visto assim. Tão descontrolado.... — A última palavra saiu sem querer, e eu me arrependi de tê-la dito no segundo que eu observei a sua expressão.

— Eu queria que você nunca tivesse me visto assim… Descontrolado. — Ele suspirou pesado, e se encostou na cerca de Emily, como para me dar espaço. — No final isso ainda está dentro de mim, como uma doença sem cura. — Ele olhou para as mãos, que se abriam e fechavam de uma maneira mecânica. — Você acha que eu sou um monstro? — Então ele me encarou, e eu não conseguia ver luz no seu olhar. Eu sabia o que ele achava de si mesmo agora, mas Jacob ainda esperava a minha confirmação.

Eu neguei com a cabeça, mas não podia mentir e falar que ver esse lado dele não me assustava um pouco. Eu teria que aprender a conviver com isso, assim como ele deveria superar o erro e seguir em frente. Seria uma aprendizado diário, com pequenos passos. E eu me perguntei se estava realmente pronta para isso. Quando Emily passou por toda aquela situação, quando Sam a machucou e tudo mais, ela estava sozinha. Felizmente eu tenho a sorte de ter várias pessoas incríveis para me apoiar agora.

— Não acredito que você seja um monstro. Nenhum de vocês. — E eu me aproximei, para dar mais segurança daquilo que eu falava. Tomei as suas mãos grandes nas minhas, e me senti instantaneamente confortada pelo calor familiar de Jake. — Vamos superar isso, ok? Juntos.

Ele concordou com a cabeça. — Juntos. — Sussurrou, e beijou as minhas mãos que ainda seguravam as dele. — Eu já avisei os outros. Eu mesmo vou sair em patrulha para procurar Paul a partir de amanhã.

Eu assenti também e me recostei no seu corpo, absorvendo o calor da sua pele. Jacob fechou os braços em volta de mim com dificuldade, me abraçando carinhosamente por trás. Eu senti um arrepio subir pelas minhas costas quando ele respirou fundo nos meus cabelos. — Prometo que serei eu quem vai te proteger da próxima vez que você sentir medo. — Ele sussurrou novamente e eu senti um leve beijo no meu pescoço. — Mesmo que seja de mim mesmo... — Completou ainda mais baixo. 

No momento que eu iria virar para protestar, Jacob me calou com um beijo urgente, e eu perdi os pensamentos no meio de seu calor.


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Notas finais do capítulo

Já vou pedindo desculpas por tirar o Paul de vocês tão cedo, mas é por uma ótima causa.
Dúvidas, sugestões ou surtos, aguardo nos comentários ♥



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