— Bella, Bella, acorda, acorda — escutei minha colega de quarto Alice dizendo meu nome, fazendo eu despertar pouco a pouco.

Ela pulou em cima de mim e me chacoalhou.

— Alie, para eu quero dormir — me enrolei mais na minha coberta quentinha, tentando me livrar de suas garras.

— Bellllaaaaaa, larga de ser preguiçosa, acooooorda. É hoje, é hoje! — saltou de cima da minha cama.

Abri apenas um olho e a vi de pé, já toda arrumada para o dia, batendo palmas.

Ela era tão irritante!

Principalmente porque podia dormir a hora que fosse que estava de pé cedo e cheia de energia. Enquanto eu tinha que dormir, pelo menos, 10 horas ininterruptas de sono. Podia contar nos dedos quando isso acontecia, porém eu não podia viver sem ela.

Alice era definitivamente minha melhor amiga.

Mais que uma irmã.

Cheia de energia e com seu visual cheio de estilo.

Esse mês, ela estava com seu cabelo escuro com mexas azuis. Ao contrário de mim que tinha os cabelos tingidos de loiros. Finalmente ela tinha me convencido a mudar, pois antes eles eram castanhos e longos.

Eu os havia cortado também e agora eles batiam na minha nuca, um visual que nunca ousei em sequer imaginar fazer, mas tinha adorado.

Alice dizia que a vida era só uma para se ter sempre o mesmo visual. Ela já tinha feito de tudo no cabelo dela, todos os cortes e pinturas que se possa imaginar. Não sei como conseguia ainda tê-los fortes e hidratados.

Sem falar nas várias tatuagens que tinha em seu corpo, eu a admirava por ter coragem e viver a vida da forma que queria, sem se preocupar com a opinião de ninguém.

— Eu já disse que odeio sua energia matinal? — bufei me sentando na cama e passando a mão nos meus cabelos bagunçados.

— Só toda manhã, agora se levanta que temos que hidratar seu cabelo, fazer uma limpeza na sua pele, sua sobrancelha...

— Alice, para que tudo isso mesmo?

— Bella, vai dizer que esqueceu?

— O que eu esqueci? — me levantei indo em direção ao banheiro.

Ela me seguiu e me observou pegar a escova de dente e colocar a pasta.

Eu só funcionava de manhã depois de uma bela escovada de boca, ninguém merece má hálito matinal. Urgh.

Alice e eu morávamos juntas desde quando largamos a universidade e fomos tentar ser empresárias. Começamos vendendo doces e bolos decorados, mas a ideia foi um fiasco já que éramos péssimas naquilo. Então passamos a vender produtos de maquiagem para algumas amigas de uma forma personalizada, mandando mensagens de auto estima e dicas femininas.

Foi um sucesso.

Em 10 meses expandimos o negócio e abrimos uma lojinha virtual. Tínhamos mais de dez mil seguidores e atendíamos milhares de clientes. Vendíamos de tudo um pouco: produtos de maquiagem, para cabelo e acessórios como brinco, colares, anéis. Vendíamos até para outras lojas e estávamos planejando abrir nossa primeira loja física.

— Hoje é o dia do seu encontro com Jasper Gostoso Hale — ela soltou entusiasmada.

— Ah — eu cuspi a espuma e enxaguai a boca.

— Só ah? Bella! Jasper é um sonho de gostosura. Eu estaria surtando se fosse sair com aquele homem.

— Você deveria ir em meu lugar, já que gostou tanto dele — retruquei um pouco irritada.

Por que mesmo tinha aceitado sair com esse cara?

Jasper era irmão de nossa outra amiga, Rosalie Hale. Ele tinha se mudado recentemente para Nova Iorque. E era muito bonito com olhos dourados e cabelos loiros que batiam em seu queixo. Segundo Rose, era um nerd que tinha inventado um aplicativo, vendeu e ganhou dinheiro suficiente para não precisar trabalhar o resto da vida.

— Mas ele chamou você para sair — senti a chateação em sua voz.

Olhei-a, vendo pela primeira vez uma pontada de tristeza em seus olhos.

— Alie, se você está tão interessada nele, eu posso cancelar ou você ir em meu lugar, posso fingir que estou com dor de barriga — falei rapidamente.

Afinal, ninguém iria a um encontro com dor de barriga, né? E eu ficaria muito feliz em livrar disso.

Pensando bem, Alice com certeza combinava mais com ele do que eu, apesar de serem completamente opostos.

— É claro que não, Bella, eu só o acho bonito e quem sabe você acaba gostando dele e esquecendo de vez o Edward? Já faz mais de um ano que ele terminou com você, está mais do que na hora de seguir em frente com sua vida.

Senti um aperto no peito ao ouvir aquele nome.

Alice tinha tocado na minha maior ferida.

— Eu... eu sei, eu... — engoli o nó que se formou em minha garganta.

Não.

Eu não iria chorar.

Chega de chorar por aquele homem babaca e lindo que me largou sem mais nem menos.

Eu não merecia isso.

E Alice estava certa.

Eu tinha que seguir em frente com minha vida.

Eu que não iria passar a vida toda o esperando, mesmo que no fundo, no fundo o esperasse, nunca admitiria aquilo.

Não mesmo.

É claro que tinha me relacionado com outras pessoas durante esse ano, sai com uns três carinhas, mas nenhum me tocou como Edward tinha tocado.

Nenhum me amou, como ele tinha me amado.

Então, por que ele me deixou?

Sem falar nada, Alice me abraçou forte.

Era tudo que eu precisava.

— Vá banhar, Bells. Você vai ficar linda para seu encontro essa noite — garantiu.

— Você sabe que ainda falta mais de 10 horas para o horário, não é?

— Na verdade, faltam 9 horas e 22 minutos – respondeu olhando em seu relógio no pulso, em seguida sorriu para mim. – Não que eu esteja contando. Agora vai — e saiu do banheiro fechando a porta.

Suspirei tirando a roupa e entrando debaixo do chuveiro.

Tentei não pensar nele, mas era impossível.

Por que eu ainda tinha que amá-lo tanto assim?

Mesmo depois de tanto tempo?

Não tive mais nenhuma notícia dele. Nenhum telefonema.

Tudo tinha acabado.

Menos o meu amor por ele.

Antes que as lágrimas caíssem eu fechei o chuveiro, me enrolando no meu roupão. Sai do banheiro silenciosamente e me tranquei no quarto. Sentindo um aperto no peito, caminhei para meu armário, pegando aquela caixinha que ainda guardava.

Ali estava todas as recordações que tinha dele e a única foto de nós dois que tinha me permitido guardar. Sem pegá-la, puxei para fora uma fita cassete.

Pode achar antiquado isso, mas era assim que Edward era e o que fez eu me apaixonar por ele.

Passei meus dedos me recordando do dia que cheguei em meu quarto e tudo que encontrei foi aquela fita em cima do meu travesseiro junto com o som portátil que eu sabia que havia pertencido ao avô dele e que ele nunca largaria assim.

Antes mesmo de escutar, pude sentir meu coração se quebrar.

Eu podia me lembrar exatamente de todas as palavras que estavam ali.

Mesmo assim eu a coloquei no som e escutei mais uma vez sua voz.

"Oi, Bella. Eu... eu... Me desculpa por estar fazendo isso, mas nunca conseguiria olhar em seus belos olhos castanhos e dizer que estou voltando para Londres. Meus pais precisam de mim, eu... eu preciso terminar a faculdade de medicina... eu não posso me dá ao luxo de continuar aqui agora que o intercâmbio acabou. Sei que nada que eu falar vai fazer você me perdoar. Eu sinto tanto, tanto!" ele fungou e fez uma pausa antes de pronunciar a parte que dilacerou meu ser definitivamente: "Eu te amo, Bella Swan, te amo como se você fosse uma parte de mim e nunca vou me perdoar por estar abandonando-a assim. O que nós vivemos esses meses... eu... eu nunca me senti tão vivo, tão eu mesmo. Você foi tudo, você é tudo! E eu te amo. Não vou prometer a você que vou voltar um dia. Não quero que espere por mim. Por te amar tanto, quero te deixar livre. Não quero que se sinta presa a um futuro incerto. Quero que viva, que conheça pessoas novas, que seja feliz. Mas um dia eu vou voltar, Bella... e se, quem sabe alguma parte sua ainda puder me amar, me aceitar de volta, vai ser o dia mais feliz da minha vida."

Terminei de escutar a fita limpando minhas lágrimas.

Deveria ser masoquista por gostar tanto de escutar algo que me doía.

O nome dele era Edward Cullen.

Ele era lindo. Não digo lindo por fora, apesar de ser também, mas sua beleza interior era a mais bela de todas para mim.

Seu coração era gigante. O coração que um dia havia me pertencido.

Mesmo sendo dois anos mais novo que eu, isso nunca atrapalhou. Nós nos completávamos.

Alto, esguio, com cabelos cor de cobre, olhos claros e sotaque londrino.

Ele veio fazer um intercâmbio de seis meses em medicina.

Foram os melhores sete meses da minha vida, pois ele ficou aqui um mês a mais.

Nós nos conhecemos no avião. O voo dele era até Chicago assim como o meu que voltava para Nova Iorque depois de umas férias em casa.

Ele se sentou ao meu lado no avião e apesar de passarmos mais de algumas horas lado a lado, não trocamos mais do que um: pode pegar minha mala, por favor? E obrigada.

Dois dias depois nos esbarramos na universidade e não nos separamos mais.

Ele contou que passou o voo todo pensando em conversar comigo, mas não queria me importunar. E agora que a vida estava dando uma outra oportunidade ele não perderia a chance.

Uma semana depois, ficamos pela primeira vez e em um mês já estávamos completamente apaixonados.

Pode achar cedo, ou o que for, mas nosso sentimento foi real.

Nós passávamos muito tempo conversando e se amando. Eu achava engraçado da parte dele gravar e escutar suas músicas em uma fita cassete. Ele tinha um som portátil e o carregava para todo o lado, quando questionado, ele me contou que ganhou o objeto de seu avô antes de morrer.

Edward nunca teve um bom relacionamento com seu pai, que foi bem rígido em sua educação. Seu avô era aquele que sempre o levava para brincar, se divertir e acobertava-o. Por isso, sabia como aquilo era importante para ele e que nunca o deixaria assim.

E foi através de uma fita cassete que Edward terminou comigo.

Tudo que ele me deixou foi isso.

Seu aparelho portátil e uma fita em cima da minha cama.

Eu tinha escutado aquelas fitas tantas vezes que me lembrava exatamente das palavras.

E mesmo assim tinha que cutucar a ferida escutando-a quase todos os dias.

— Bella? Por que trancou a porta? Está se depilando? Eu posso te ajudar? — escutei batidas na porta e a voz de Alice dizendo, fazendo meus pensamentos voarem para longe.

Rapidamente, guardei a caixa e sequei minhas lágrimas, colocando um sorriso no rosto e fingindo que estava tudo bem. Conferi minha aparência no espelho antes de abrir a porta para a enxerida que amava.

Alice tinha me ajudado tanto no começo. Ela me deixava chorar por horas em seu colo, comia besteira comigo e me fazia sentir a mulher mais especial do mundo. Era uma amiga de verdade.

— Eu não vou para cama com ele — respondi, ainda mais agora sabendo que Alice tinha uma queda por ele.

Na verdade, eu só iria ainda a esse encontro e veria se Jasper era um cara legal, se ele fosse eu tentaria dar um empurrãozinho para ele sair com Alice.

Esperava que desse certo meu plano.

— Precaução nunca é demais. E você está precisando disso, vai que acaba gostando dele e querendo estender a noite.

Balancei a cabeça negativamente. Sabia que aquilo não aconteceria.

Eu tinha tentando transar com um cara meses atrás. E tinha sido horrível. Apesar de sentir um pouco de desejo, não consegui gozar e tudo que eu pensava era em Edward.

Ninguém nunca tinha me amado ou tocado como ele tinha. Só bastava um olhar dele e eu já ficava em combustão.

— Vamos ver. Não sei o porquê, mas algo me diz que você vai tirar essas teias de aranha hoje.

— Alice — eu ri dela.

...

O dia foi divertido.

Alice me fez de sua Barbie e eu amava quando ela cuidava de mim.

Me sentia em um spa.

Ela fez minhas unhas, hidratou e escovou meus cabelos... Nós tagarelamos, postamos algumas promoções nas redes sociais de nossa lojinha, almoçamos uma salada de frango super gostosa que pedimos... Até que finalmente chegou a hora.

— Você está linda! Com certeza, Jasper vai babar quando vê-la.

Eu sorri olhando meu reflexo no espelho.

Realmente estava linda.

Meus cabelos estavam penteados para trás sem nenhum fio fora do lugar. Usava apenas um gloss nos lábios, os deixando mais avermelhados e atraentes, e meus olhos levemente esfumaçados, realçando meu olhar. Uma saia preta de cintura alta, solta, com uma bota de cano curto e uma blusa de manga longa e gola alta completavam o visual. O tecido da blusa era fino e mostrava a renda do meu sutiã.

Eu estava incrivelmente sexy.

— Obrigada, Alie, estava precisando disso — agradeci.

Ela sorriu.

— Me agradeça quando voltar de uma noite incrível.

— Como você sabe que vai ser incrível?

— Eu apenas sei — deu de ombros e sorriu. — Jasper pareceu muito gente boa quando o conhecemos, então, tenho certeza de que vão se dar bem — ela deu um sorriso, mas percebi que era forçado.

Eu sabia que, se Alice tivesse gostado mesmo dele, ela estava fazendo de tudo para disfarçar. Mas a conhecia bem demais e podia entender cada olhar dela.

— Vamos ver — pisquei e ouvimos uma batida na porta.

— Vai lá, eu vou para o meu quarto.

— Não vai falar com ele?

— Melhor não. Com certeza, ele quer ver você. Agora ande, beije muito e se divirta — me empurrou para fora do quarto e se trancou no dela.

Respirei fundo e caminhei para a porta.

Jasper realmente era um homem lindo, tinha cabelos loiros e olhos de um tom incomum de dourados, a blusa que usava marcava seus bíceps e seu peito musculoso sem exagero, mas ao olhá-lo sabia que nada iria rolar entre a gente.

Nem hoje... nem...bem, nunca.

Sei lá.

Não senti nenhum pingo de atração por ele e agradeci mentalmente por isso.

— Uau, Bella, você está linda — ele me encarou de boca aberta.

Isso com certeza fazia bem ao ego de qualquer mulher.

— Obrigada, vamos?

Porém, Jasper não se mexeu. Desviou seus olhos de mim, balançou a cabeça e procurou algo atrás de mim.

— Alice, não está? — perguntou e estranhei.

— Ela está banhando — menti.

— Ah — não sei o porquê, mas juro que percebi sua expressão cair um pouco.

Ele estava decepcionado? Ele esperava ver Alice? Então... por que ele tinha me chamado para sair?

Isso não fazia o menor sentido, mas com certeza tornariam as coisas mais fáceis para mim.

— Vamos — concordou ao me olhar e sorrir.

Saímos do prédio e me guiou até seu carro um esportivo e parecendo novo.

— Então, onde nós vamos? — perguntei quando ele ligou o carro.

— A um restaurante novo na cidade que abriu recentemente, My Bella.

Senti um arrepio ao escutar aquele nome, mas ignorei completamente. Não podia pensar naquilo agora.

— Nunca ouvi falar. Mas só pode ser bom, já que tem o meu nome — brinquei.

— Eu ouvi falar que é muito bom. O chefe de cozinha de lá está sendo muito elogiado, pois começou sua carreira há pouco tempo. É um pouco distante, mas vamos chegar lá — avisou.

— Sem problemas.

Passamos um tempo em um silêncio confortável e fiquei agradecida pelo clima não estar tenso entre nós.

— Oh, eu já morei nesse bairro! — falei quando percebi onde estávamos.

— Sério?

— Sim, antes de me mudar para o centro com Alice, nós fazíamos faculdade aqui perto, mas abandonamos e abrimos uma lojinha online.

— Interessante, me conte mais sobre isso quando estivermos jantando — falou estacionando o carro.

O lugar do restaurante era simplesmente lindo e bem diferente. A entrada era um pouco escondida dentro de um beco: o local tinha um estilo rústico, rodeado de prédios residenciais com tijolos à vista, havia luzinhas penduradas decorando o caminho até a porta, uma bicicleta meio retrô azul estava encostada em uma parede parecendo fazer parte da decoração.

Era um lugar pequeno, mas bem romântico. As mesas eram circulares com um bom espaço entre elas. Quase todas estavam ocupadas, a maioria por casais ou famílias.

— Eu preciso ser sincero com você, Bella — Jasper suspirou quando já estávamos sentados na mesa e o garçom deixou o cardápio.

— O que foi? — meu cenho se franziu.

Jasper estava sério e fez uma pausa considerável antes de soltar de uma vez:

— Eu... eu só chamei você para sair porque, na verdade, queria saber mais sobre a Alice.

— O quê? Sério? Ah, meu Deus, não consigo acreditar nisso!

— Me desculpa, eu não queria chateá-la, mas eu achei Alice incrível e... eu tenho um problema sério com mulheres que me sinto atraído e fico meio... travado... pensei que, se soubesse algo sobre ela por meio de você, podia ajudar a me soltar mais. E Alice... Ela é toda decidida e tem aquela personalidade, fiquei com mais dificuldade ainda.

— Jasper... — balancei minha cabeça. — Você deveria ter chamado ela desde o princípio.

— Eu... eu tentei, mas eu simplesmente... travo e... não consigo! Não sei o que acontece comigo! Meu pai sempre me chamou de nerdzinho que não serve para nada e sempre fui muito retraído. Eu só namorei uma mulher na vida e foi porque ela me pediu em namoro.

— Oh, isso é complicado, Jasper. Mas, se você gosta mesmo da Alice, tem que demonstrar isso! Não deveria ter me chamado.

— Eu só tenho medo de ficar travado e não conseguir me expressar corretamente com ela e... olha o jeito que minhas mãos ficam — falou mostrando suas mãos que tremiam, me dei conta como ele estava sem jeito e envergonhado.

Talvez o jeito sem vergonha de Alice, fosse exatamente o que ele precisava para se soltar mais.

— Jasper, respire e relaxe. Alice é uma garota incrível. Algo me diz que vocês darão super certo.

Ele assentiu, tentando se acalmar. Depois disso, nós conversamos sobre minha amizade com ela e eu o enchi de coisas sobre nós duas, mais sobre Alice do que de mim. Percebi que ele relaxou e se soltou, me contando histórias divertidas entre ele e a irmã.

Sabia que Jasper e Alice tinham temperamentos completamente diferentes, mas que de alguma forma dariam certo juntos.

— Meu Deus, essa comida estava simplesmente incrível! — exclamei sem conseguir acreditar.

O tempero com certeza me lembrava uma coisa, mas eu preferi não pensar naquilo. Só tinha comido uma comida tão boa assim, quando um certo alguém preparou. E eu não estava pronta para desabar em cima de Jasper sobre Edward quando o encontro tinha sido tão legal.

— Eu vou pagar a conta e chamar o chefe de cozinha. Temos que parabenizá-lo — ele disse e eu assenti.

Jasper chamou o garçom, pediu a conta e que chamasse o chef porque queríamos cumprimentá-lo pela extraordinária comida pessoalmente. E com essas ordens, o garçom sumiu de vista.

Estávamos rindo quando o chef da cozinha e dono do restaurante parou ao nosso lado.

Eu me levantei e encarei o homem sentindo meu sangue gelar.

Um ano.

Um ano que não via aqueles olhos.

Um ano que não via aquele homem.

Um ano de dor e saudade.

Um ano que pensei nele todos os dias da minha vida.

Nunca tinha o esquecido.

— Bella? — ele perguntou parecendo surpreso.

Quantas vezes aquela voz já não tinha sussurrado meu nome?

Quantas vezes eu já não tinha beijado aquela boca?

— Edward – murmurei estática.

Ficamos nos encarando por minutos, presos um no olhar do outro.

Eu não estava preparada para sentir tantas coisas ao mesmo tempo: meu corpo todo tremia, minhas mãos suavam, meu coração batia contra um peito apertado e um nó em minha garganta insistia para eu soltar as lágrimas.

Queria fazer tantas coisas!

Queria abraçá-lo, beijá-lo e socar sua cara por ter me abandonado.

Edward estava ali.

Vestido com uma roupa branca de chefe de cozinha, um lenço na cabeça, as mangas de sua blusa estavam dobradas mostrando as tatuagens que tanto admirava em seu antebraço, ele tinha feito na epoca da adolescência depois de uma briga com o pai.

E se tinha alguma dúvida que eu o amava, ela não existia mais.

Entretanto, havia outro sentimento, um sentimento que percorria todo meu corpo e tentei controlá-lo ao máximo mordendo a parte interna das minhas bochechas para impedir o sorriso de sair.

Jasper limpou sua garganta, passando um braço nas minhas costas e estendendo sua outra mão.

— Eu sou Jasper Hale, você é o chef daqui?

— Ah, claro — ele apertou a mão dele e percebi Edward o fitar duramente. — Sou Edward Cullen. Abri esse restaurante faz uns dois meses.

— Você não está morando em Londres? — não sei como consegui dizer aquilo. — E sua faculdade de medicina? Sua família?

— Eu... — Edward engoliu em seco ao voltar os olhos para mim. — Eles entenderam que meu coração não estava mais ali e eu voltei atrás dele.

Eu arfei.

O que isso significava?

Edward estava morando aqui.

Há vários meses...

...E ele nunca tinha me procurado.

— Fico feliz que tenham desfrutado dos pratos, se me dão licença, preciso voltar para a cozinha — ele disse automaticamente e saiu.

— Vocês se conhecem? — Jasper indagou virando-se para mim.

Eu ainda encarava paralisada a porta que Edward tinha entrado depois de se virar para trás e dar uma última olhada.

Seus olhos tão verdes e tão intensos me encararam uma última vez.

Eu queria impedi-lo de ir.

Queria exigir uma explicação.

Queria abraçá-lo e nunca mais soltá-lo.

Porém,não fiz nada disso.

— Bella, você está bem?

— Eu... eu... vamos embora daqui – pedi, meio que ordenando, ainda estática.

Sinceramente, nem sei como cheguei andando ao carro de Jasper. Meu corpo ainda tremia e eu não sabia o que eu fazer.

— Vocês se conheciam? — perguntou com cuidado.

— Nós já namoramos antes... mas... eu... eu pensei que nunca mais fosse vê-lo... e...

A frase morreu ali mesmo. Um turbilhão de imagens e sentimentos passando pela minha mente de forma confusa.

— Eu não sei o que aconteceu, mas tenho certeza de que vocês ainda sentem algo um pelo outro. O cara faltou arrancar minha mão com seu aperto.

— É claro que não... ele... nunca me procurou. E... está aqui há meses e...

— Acho que deveriam conversar.

— Não importa, está acabado. Podemos ir?

— Você quem sabe —deu de ombros e ligou o carro.

Jasper dirigiu por cerca de cinco minutos antes de passar em frente a uma praça muito conhecida por mim.

— Para o carro!

— O quê? Por quê?

— Eu vou ficar aqui — tirei o cinto e abri a porta.

— Aqui? Está de noite, não posso te deixar aqui!

— Eu vou ficar bem, já morei aqui perto e tenho spray de pimenta.

— Bella, não acho uma boa ideia. Se algo acontecer...

— Está tudo bem, só preciso pensar um pouco. Depois eu pego um táxi.

— Tem certeza?

— Claro — sorri confiante. — A noite foi ótima, pode ter certeza de que vou te ajudar a se soltar e falar com Alice.

— Você me avisa quando chegar em casa? Se eu não receber uma mensagem daqui a uma hora, vou voltar aqui.

— Pode deixar, vou ficar bem — fechei a porta e sai pisando na calçada.

Caminhei pelo caminho que um dia já foi tão conhecido por mim e nada havia mudado.

Algumas pessoas caminhavam e conversavam pela calçada, até que vi o nosso lugar.

O banco.

Não tinha ninguém nele.

Caminhei até aquele lugar que chamávamos de nosso banco e me sentei.

Quantas vezes já tínhamos vindo aqui?

Quantas vezes eu e Edward tínhamos nos beijado aqui?

Ouvi alguns passos e levantei meu rosto apenas para ver um vulto sentar-se ao meu lado.

Meu coração acelerou quando meu corpo reconheceu aquele cheiro.

Cheiro de Edward.

— O que quer aqui? — perguntei engolindo em seco, percebi pelo canto do olho que Edward tinha trocado de roupa.

Agora ele vestia uma calça jeans e uma blusa preta de uma de suas bandas favoritas, uma que eu tinha dado a ele de presente. Uma que eu costumava usar para dormir.

— O que você faz aqui sozinha? – retrucou ele um pouco seco. – Cadê seu namorado?

— Ele me largou.

— Ele é doido? – seu tom de voz se alterou. – Não podia te deixar sozinha aqui!

— Ele me largou há um ano, Cullen. Me deixou malditamente sozinha apenas com uma gravação na merda de uma fita cassete e um toca-fitas antigo.

— Bella...

— Por que você voltou? Você largou sua família? Seu curso? Você virou cozinheiro e abriu um restaurante! Você me largou por causa de todas essas coisas e agora está aí! Sem família, sem formação — desabafei sem conseguir impedir as lágrimas de escorrer pelo meu rosto.

— Por você Bella – respondeu colocando as mãos em meu rosto. – Eu voltei por você.

Seu toque.

Por que tinha que ser tão bom?

Por que tinha que me fazer sentir tão bem?

— Eu pensei que podia fazer isso. Pensei que podia ficar sem você. Mas meu coração não estava mais em Londres, estava aqui, nessa cidade barulhenta, com você —explicou e percebi que também chorava.

— Então por que não me procurou? Você está aqui há meses e...

Ele deu um risinho me interrompendo.

— Você sabe quantas Isabellas Swans existem aqui?

Balancei minha cabeça.

— 4320 e você não era nenhuma das que eu fui atrás. Eu na verdade te olhando agora tenho certeza de ter te visto em um instagram, mas era bloqueado e a foto só mostrava um cabelo loiro. Não sabia que estava assim então pensei que não era. Fui um burro, deveria ter mandado uma solicitação — bateu a mão em sua cara.

Aquele sotaque, aquela voz, eu amava tanto.

Deixei meu riso escapar identificando, por fim, o sentimento que estava dentro de mim desde quando o vi no restaurante.

Não era saudade, tristeza, amor ou raiva.

Era alegria.

Eu estava me sentindo alegre pela primeira vez em um ano.

Realmente alegre.

Queria me deitar naquele banco e rir.

Eu estava feliz.

Me sentia como dançarinos que dançavam para uma multidão e eram aplaudidos de pé.

Me sentia como uma autora que acabou de lançar um livro e recebia só comentários bons.

Eu estava alegre.

Porque, em algum lugar dentro de mim, eu sabia que se Edward estava ali, naquele restaurante, era porque ele tinha voltado para mim.

Pode me achar besta por perdoá-lo rápido assim, mas eu não era orgulhosa e tudo que importava era que ele estava ali.

Que ele tinha voltado.

Por mim.

— Não teve um único dia que eu deixei de pensar em você, Bella. Eu simplesmente tinha que voltar! Sei que fui um babaca e...

— Mas... e sua família? Seu pai? – interrompi. Não queria que ele ficasse se remoendo em culpa quando eu estava tão feliz.

— Minha mãe conseguiu fazê-lo entender que meu coração não estava mais ali, que ser médico nunca me faria feliz. Sempre vou amá-los e visitá-los, mas eu quero uma vida com você, formar uma família com você e cozinhar para você.

Então eu ri.

Ri tanto que coloquei a mão em minha barriga me sentando de volta no banco.

— Ei, isso é alguma piada para você? — ele falou suas sobrancelhas grossas se erguendo.

— Não — respondi ainda rindo.

Minhas bochechas doíam, mas o sentimento de felicidade que tomava conta de mim impedia que eu parasse.

— Bella, se... se você tiver seguido em frente, eu vou entender. Você escutou a fita?

— Todos os dias — eu disse voltando a me levantar, podia recitar de trás para frente ela. — E eu esperei você, Edward Cullen. Eu te amo — declarei a única verdade que estava em meu coração.

Seus olhos verdes brilharam de emoção e com coragem levantando sua mão novamente, acariciando meu rosto com seu polegar, depois de seus dedos passarem por meu cabelo curto.

— Então você me perdoa? — percebi ele suspirar parecendo tirar um peso de suas costas, sua expressão se suavizou e aquele sorriso que eu tanto amava surgiu em seu rosto.

— Vai me abandonar de novo?

— Enquanto você me querer estarei ao seu lado — prometeu.

Seu olhar era tão intenso, seu polegar acariciou meu lábio inferior como ele costumava fazer antes de me beijar. Estremeci sentindo o gosto da antecipação percorrer meu corpo.

Queria tanto seus beijos, para saber que era real.

Que estávamos juntos de novo.

E que nada iria nos separar.

— Então será para sempre.

— Parece perfeito para mim — constatou — Amo você, my Bella.

My Bella.

Era o jeito que ele me chamava.

Fui tão burra de não ter percebido isso antes.

Ele se inclinou para mim e suspirei abrindo minha boca lentamente.

Meus olhos se fecharam e então, depois de um ano, finalmente nossos lábios selaram essa promessa.

E sabia que dessa vez tudo daria certo.

Parece que Alice estava certa e eu teria uma noite incrível.

Mal podia esperar.

Como eu costumo dizer nunca jogue contra Alice.