Outono escrita por P Capuleto


Capítulo 1
Único: Outono




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Você para de cantar para dar espaço ao solo do tecladista. Por um momento, acho que nossos olhares se cruzaram e eu congelo, mas você sorri para a multidão e me dou conta do óbvio: é impossível que me reconheça a essa distância que estou do palco. Minha reação, no entanto, me incomoda. Não era isso que eu queria quando comprei o ingresso idiota? Não foi a mísera possibilidade de você me ver que me guiou até aqui esta noite? E então? Quando pensei que você teria me visto o que eu fiz? Congelei. A não ser que não tenha sido por isso que eu vim...

A música termina e eu fico nervoso com a possibilidade de esta ter sido a última da noite, mas você diz que vai voltar logo e me sinto aliviado. A plateia explode em gritos e aplausos. Você sai do palco.

Será que você só vai trocar de roupa?

Que roupas você usa agora? Será que são de marca? Você deve fazer muito dinheiro com sua carreira, mesmo que eu não tenha acreditado nela no passado.

Alguém acerta minhas costelas com o cotovelo. Não aguento mais essa multidão, essa confusão. Não gosto disso. Você não acreditaria se eu dissesse que estive em um lugar como esse. Você sabe como eu sou... Só quero que você volte logo.

Para o palco, claro. Não estou pedindo que volte para mim.

Eu não pediria isso.

Mas então por que vim a este show de abertura de sua turnê?

Não tenho tempo de encontrar a resposta porque a plateia voltou a gritar. Estão cantando sozinhos porque você ainda não voltou. Estão pedindo a faixa principal do seu álbum de estreia. Sim, eu sei qual é a faixa principal. Eu uso a internet, sabia? E essa música está em todo canto. Para quem você a compôs? Você se orgulha de suas composições agora?

As luzes mudaram e uma batida estridente nos ensurdece, mas de alguma forma o público parece ser capaz de gritar acima dela. Você volta, mas nada mudou na sua roupa e isso me deixa feliz de certa forma. Você se sente bem usando esse tipo de roupa agora? As cicatrizes em seu peito são motivo de orgulho?

Você pega o microfone e o telão à suas costas começa a piscar repetitivamente. A plateia enlouquece e, pela segunda vez, sinto que você me viu. Pela segunda vez eu congelo.

E se eu estiver me destacando? É por que eu não estou pulando ou não pareço animado? E se você realmente me vir e eu estiver com essa cara de idiota? Não quero que você me veja.

A música começa de verdade dessa vez. Sua voz soa fantástica. Eu já disse isso alguma vez? Fico feliz que sua voz não tenha mudado. Você escolheu manter sua voz? Como essas coisas funcionam? Eu deveria saber?

E se você realmente me visse? E se me chamasse para conversar e eu não soubesse o tanto que eu deveria saber? Quer dizer, a informação está na por aí e eu só precisaria ir atrás, mas eu não fui. Aposto que você não ficaria surpresa...

Alguém pisou no meu pé e dessa vez doeu de verdade. Talvez seja algum tipo de karma por ainda pensar em você como Sakura. Eu não acredito nisso, você sabe, mas a convivência é foda. Quer dizer, faz mais de três anos que não moramos juntos, mas algumas coisas ficam. E acredite, estou recebendo bastante desse "karma" de que você tanto falava.

A música acabou. Qual é a próxima?

Espera, você está agradecendo? O show acabou? Mas eu ainda não sei por que estou aqui. Preciso de mais tempo. Preciso te ver por mais tempo. Não pude dizer tudo o que queria...

Seu cabelo continua lindo. Seus olhos verdes são tão brilhantes agora. Ou seria efeito das luzes? Ou seria efeito da felicidade? É isso que acontece quando estamos felizes, certo? Será que é por isso que eu não posso ser feliz? Porque meus olhos são tão escuros que sugam qualquer luz que você ofereça a eles?

Percebo o que estou fazendo. Passei todo esse tempo pensando em mim mesmo e não curti seu show como devia. Desculpe. Me desculpe. Quero que saiba que ouvi suas músicas, seus agradecimentos. Também quero que saiba que ouvi quando você foi embora naquele dia. Eu ouvi a porta batendo. Sei que você fez isso de propósito e que queria que eu ouvisse e fosse atrás de você, mas às vezes me sinto grato por não ter ido. Quantos anos a mais você perderia comigo se eu o tivesse impedido naquele dia?

Você faz uma reverência para a plateia e levanta os braços para receber os aplausos. Você tem noção do quanto você pertence ao lugar em que está agora?

— Vocês foram maravilhosos! Obrigado! Obrigado! Antes de eu ir, quero dedicar uma última música! – você tira a franja suada de cima dos olhos e se afasta do microfone por um momento para recuperar o fôlego.  – Quero dedicar uma música especial para alguém especial. Quero que essa música chegue até ela. Vocês podem cantar comigo?

É claro que a plateia não te decepciona e gritam em resposta. Você tem o carisma que eles tanto idolatram e que eu tanto amo.

Amo?

Será que te amei alguma vez?

Quem ama não faz o que eu fiz. Certamente não. Me perdoe por te fazer acreditar que aquilo era amor.

— Quero que vocês pensem em quem vocês foram nos últimos anos. Quero que pensem na pessoa que vocês eram até ontem. Ela não existe mais, mas ela te trouxe aqui. Estamos aqui agora. Juntos!

Você é um sucesso. Nem parece que estreou há menos de um ano.

— Eu vou cantar para alguém que me ajudou a me carregar até onde estou hoje. Ela aguentou um monte de merda. E sabem? Ela nunca existiu! Vou dedicar essa última música para a máscara que usei por 22 anos da minha vida... Vocês sabem o que vem depois que as flores de cerejeira morrem?

— Estamos com você, Aki! – alguém gritou atrás de mim.

— Essa se chama "Outono".

Sinto uma lágrima correr pelo meu rosto enquanto sou empurrado de um lado para o outro pelos fãs eufóricos.

Limpo meu rosto. Acho que eu não tinha nada para fazer aqui. Você com certeza está melhor agora. Talvez eu só precisasse me certificar disso, Aki.

Aliás... Me desculpe por nunca te chamar por esse nome. O seu nome de verdade.

Sei que é tarde para me desculpar por todos os meus erros, mas se o universo tem algum poder, como você sempre dizia ter, então espero que isso chegue a você:

Eu estava errado.— sussurro enquanto te observo de longe – Você não precisa de mim e nunca precisou. Eu não devia ter dito as coisas que eu disse. Gostaria de dizer que sou outra pessoa agora, mas isso não importa. Espero que nunca cruzemos nossos caminhos novamente. Espero que você jamais esbarre com nenhum outro "Sasuke Uchiha", nenhum outro intolerante como eu. Eu sei que você está namorando agora, ou pelo menos é o que a mídia diz, então espero que você encontre o amor. Ou mais uma forma dele, já que você tem todas essas pessoas ao seu lado de coração e alma.

Ele tornou a se curvar em respeito ao público e seus cabelos cor de rosa caíram para a frente. Pelo telão eu pude ver as gotículas de suor que escorriam pelos fios, mas mais importante, pude ver seus olhos mareados.

E o amor mais importante de todos você já tem, certo?

De repente, sinto que eu não deveria estar ali. Eu não mereço ter o prazer de estar em um show seu. Espero que o karma não me pegue por isso.

Foi difícil fazer o caminho até a saída em meio à multidão incansável, mas um segurança gentil veio em meu socorro quando já estava quase no final.

— Está passando mal, cara?

— Só preciso sair. – explico.

— Se sair não vai poder voltar. – ele informa.

Sorrio pela primeira vez desde que cheguei aqui.

— Eu sei.


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Notas finais do capítulo

* Aki é Outono em japonês.
Lembrem-se de marcar a fanfic como finalizada na lista de vcs. Se não quiserem perde-la pra sempre, basta favoritar!



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