Imaginário escrita por Lorem K Morais


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Avisos: abuso-infantil (implícito)



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No escuro, Gami segura minha mão e me pede para contar algo bom.

Em um sussurro cúmplice, sentindo o cheiro de roupa que precisa ser colocada no sol, eu falo sobre o dia em que fizemos uma casa com palhas de coqueiro na praia. Em como o dia estava nublado, mas ninguém se importou com a chuva que viria. Meus irmãos se sujaram de lama enquanto fazíamos a dança da lama. Todo mundo estava feliz.

No escuro do guarda-roupa, Gami me abraça e me pede para contar algo engraçado.

Em uma risada baixa eu conto sobre como uma caneta estourou na boca da minha irmã e ela ficou com os lábios azuis, sobre o som que meu irmão faz com o braço na áxila e que me faz lembrar de um pum.

No escuro do guarda-roupa trancado, Gami trança meu cabelo e me pede para me contar algo assustador.

Eu falo para ele sobre cheiro de hospital. Sobre como nada é o que parece com os adultos. Sobre como o som dos passos dos meus irmãos se afastando para ir para escola me faz querer chorar.

No escuro do guarda-roupa trancado por fora, Gami arranha a porta e me pede para contar algo triste.

Eu falo sobre não saber se minha mãe está bem no hospital, do meu pai que nunca está em casa, dos meus irmãos sempre brigando. Eu falo sobre estar sozinha.

No escuro do guarda-roupa trancado por fora por horas sem fim, uma porta se abre. A babá me olha do outro lado, com as chaves na mão. Uma mão se agarra em meu pulso com força e me arrasta para fora.

No escuro, Gami lamenta e cuida dos meus machucados, me pergunta para falar um desejo.

Eu falo sobre o meu desejo de que ele fosse real.

No escuro de dentro do guarda-roupa Gami sorri. Dentes pontiagudos e olhos brancos, em seu abraço eu consigo segurar todo o universo. Sua voz, como pura estática, quebra e se retorce curioso:

“Você não tem medo dos monstros de dentro do guarda-roupa?”

“Não.” Eu respondo em um sussurro. “Eu tenho medo do monstro fora dele.”


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