Guilty ones escrita por Aislyn


Capítulo 8
Amor puro


Notas iniciais do capítulo

Passado o desafio de drabbles, bora voltar à rotina normal!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788284/chapter/8

A mão estava fechada em punho quando empurrou Mikaru contra a porta, o barulho do baque trazendo-o de volta à realidade. Estava caindo na provocação dele e tinha certeza que era tudo planejado. Mikaru queria sujar sua imagem com Takeo e estava conseguindo, ia sair de vítima caso prosseguisse com a agressão. Tinha quase certeza que o namorado ia ficar e cuidar do amigo, se fosse necessário.

 

Respirando fundo, Hayato o soltou e afastou alguns passos, olhando para o interior da casa. Onde o namorado estava?

 

— Takeo! Precisamos ir, agora! – o vocalista gritou para o interior da casa, esperando ser escutado. Não ia ficar nem mais um instante ali.

 

— Você é louco. – voltou a atenção para Mikaru ao ouvir a ofensa – É assim que trata as fãs que chegam perto dele? Acha que é propriedade sua e esquece que é uma figura pública. Ou acha que todos se aproximam com boas intenções? Te garanto que ele aceita as indiretas, cada uma delas.

 

— Se sabe que sou louco, então fique longe do que é meu. Você não é uma das nossas fãs. Elas nos respeitam e admiram nosso trabalho.

 

— Eu também admiro ele, como profissional, como pessoa, cada parte dele. Seus dias juntos estão contados. – Mikaru se virou para o interior da casa ao ouvir passos se aproximando, ajeitando rapidamente o terno e dispensando um sorriso amigável para o guitarrista.

 

— Precisa ir em algum lugar? – Takeo questionou enquanto caminhava até a porta, estranhando a proximidade dos dois.

 

Hayato não perdeu tempo em invadir o espaço que lhe foi proibido, recebendo o namorado com um selinho e puxando-o pela mão.

 

— Precisamos, amor. Vamos buscar nosso filhote e bebidas pra comemorar.

 

— Pensei que fosse buscar no próximo fim de sema-

 

— Eu não quero esse vocalista de merda dentro da minha casa!

 

— Como é? – Hayato podia se considerar ruim em muita coisa, mas um vocalista ruim estava fora de cogitação!

 

— Ok, ok, já estamos saindo! – Takeo se colocou entre os dois para evitar qualquer discussão, guiando o namorado para a garagem – Vamos buscar nosso filhote.

 

— Você disse que ia me ajudar! – Mikaru seguiu o casal, segurando Takeo pelo braço livre.

 

— Ah… eu coloquei a maior parte no lugar que você pediu. Posso voltar depois pr-

 

— Não pode não! – Hayato interrompeu novamente, puxando o namorado para si – Nós vamos ficar com a agenda bem cheia por esses dias com o início das gravações. Seu amigo pode procurar outra pessoa.

 

— Eu estou pedindo a ajuda dele, não a sua! Não misture sua agenda desorganizada com a do Shiro!

 

— Meus horários estão bem-

 

— Chega! Os dois! – Takeo se soltou, caminhando para a saída da casa sem dar atenção aos chamados. Ia ficar louco se continuasse no meio da troca de farpas. Maldita hora em que aceitou ajudar o amigo e ainda trouxe o namorado junto. Aquela combinação não ia prestar nunca!

 

Subiu na moto, colocando o capacete e esperando Hayato aparecer. Esperava que ele não tivesse continuado a discussão depois que se afastou. Do jeito que os dois estavam, era bem capaz que a conversa alterada resultasse em um vocalista sem voz, o que seria péssimo para a banda e com certeza o líder iria jogar a culpa nele.

 

Por sorte não precisou esperar muito e logo Hayato apareceu pelo portão, pegando o capacete e subindo na carona.

 

— Quer mesmo buscar o gato hoje?

 

— Quero. – precisava de algo para distrair e o filhote certamente tomaria seu tempo e atenção. Sem falar que seria divertido vê-lo explorando o apartamento, escolhendo cantos para se esconder, além dos brinquedos que comprou antes.

 

Takeo não comentou mais nada, concentrando apenas em dirigir até a pet shop. Queria chegar em casa e descansar. Os braços doíam por ter ajudado Mikaru a mover os móveis e a cabeça doía por ter se metido no meio da discussão. Talvez Hayato brigasse com ele por achar que defendeu o amigo, mas só queria evitar que a situação ficasse mais tensa.

 

Enquanto o vocalista foi pegar o gato com o responsável pela loja, Takeo foi atrás da caixa de transporte, já que seria arriscado levá-lo nas mãos. Pagou o objeto para a pessoa atrás do balcão e não precisou aguardar muito pelo retorno do namorado, que chegava com uma bolinha de pêlos brancos aninhada nos braços. O sorriso surgiu sem esforço, deixando-o animado. Fazia um bom tempo que não tinha animais em casa; desde a infância, na verdade.

 

Soltar o filhote para passear pelo apartamento foi uma festa, com Hayato andando atrás e Takeo tirando fotos dos dois. O atendente explicou que o gatinho aprendeu sobre o lugar de fazer as necessidades e também mostrou a quantidade de comida para as porções do dia, então não precisavam se preocupar com a parte séria dos cuidados, podendo curtir a nova companhia à vontade.

 

No início da noite, o casal se acomodou no chão da varanda em busca de uma brisa fresca, usando o corpo como cercadinho enquanto o filhote brincava entre eles, arrancando sorrisos de Hayato sempre que pegava o novelo de lã na ponta da varinha de pesca, ronronando satisfeito a cada carinho na cabeça. Nem parecia que poucas horas atrás estavam discutindo na casa de Mikaru.

 

— Pensou em um nome pra ele? – Hayato questionou enquanto tinha o dedo mordiscado pelo filhote – Eu pensei em Jun’ai. Jun com o kanji de puro e Ai de amor. Parece um nome fofo para um gato. Combina com ele e combina com você. Quer dizer, menos a parte do puro.

 

— Com certeza, puro não combina comigo! – Takeo riu divertido, sem entender de onde veio a comparação, aproveitando a distração do filhote para acariciar-lhe a barriga, o que causou uma mudança de alvo – Gostei do nome. Não tinha pensado em nada antes. – voltando a atenção para o namorado, cutucou-lhe com o pé – Gostou do seu filhote, mamãe Hayato?

 

— Gostei muito, papai Takeo. – sorriu de volta para o namorado, um flash de outro pensamento vindo à mente e não conseguiu evitar que as palavras saíssem – Sabe, você pode não ser puro e talvez seu amor também não, mas eu sinto que é verdadeiro quando você fala o que sente. Apesar de tudo que a gente passou, mesmo escondendo o que aconteceu entre Mikaru e você esses dias atrás, sei que fez isso pra não estragar nosso relacionamento, porque o que sente é verdadeiro. – notando como era encarado, Hayato emendou a explicação – Eu ouvi a conversa que teve com a Hana… não foi intencional, acabei atendendo junto e não consegui ignorar.

 

Takeo ficou em silêncio um instante, quebrando o cercado que formavam enquanto se sentava um pouco distante. Então Hayato sabia… ouviu tudo e não o questionou a respeito… aquilo foi um soco na cara: ele pensando que podia salvar a relação se escondesse o que aconteceu, quando a verdade já havia sido descoberta. Voltou o olhar para o namorado, aquela calma o deixando mais nervoso e ressabiado. Preferia que Hayato estivesse gritando.

 

— Foi um erro. Eu podia ter evitado, mas não fiz. – murmurou em resposta, sentindo a culpa pesar mais do que quando cometeu o ato, sabendo que nenhum pedido de perdão apagaria o passado – Continuei mantendo contato com ele, mesmo com você por perto, achando que não tinha problema… Fui muito idiota. – lembrou-se da conversa com a cunhada, concordando que sua atitude não merecia perdão. Não podia ter escondido aquilo – Eu vou entender se quiser acabar com tudo.

 

— Que bom que você sabe que foi um erro… – Hayato imitou o namorado, sentando-se com o filhote entre as pernas cruzadas, acariciando-o distraidamente – Reconheço que tentou evitar as brigas, tentou acabar com a distância que surgiu entre a gente, mas se eu fosse terminar, devia ter feito quando descobri tudo. Se eu terminasse agora, depois de decidir dar mais uma chance e depois de todo seu esforço, o erro seria meu. – lançando um olhar rápido para o namorado, continuou em um murmúrio – Jun’ai seria um substituto, se você tivesse continuado distante… quando soube da história dele, que foi abandonado, eu vi que não queria isso, ele não está aqui pra ocupar lugar de ninguém. Ele veio pra ganhar cuidados e amor, e eu tenho pra oferecer, pra vocês dois. – tentando descontrair um pouco, o vocalista voltou a encarar o namorado, sorrindo de canto – Não vou te entregar de bandeja pra nenhum loiro aguado intrometido!

 

Takeo tentou rir com o último comentário, mas mal tinha coragem de encarar Hayato. Então o gato era um substituto… qualquer deslize, qualquer novo erro, e seu lugar já estava ocupado. Hayato não ia pensar muito para chutá-lo numa próxima vez. Se é que não ia terminar agora. Ele devia estar muito decepcionado… a situação entre eles certamente voltaria a ficar estranha. Duvidava que ia conseguir uma nova aproximação.

 

Hayato se levantou com o gato nos braços e caminhou para o interior do apartamento sem dizer nada, levando-o até a área de serviço onde a ração ficava, antes que seu short fosse mais mastigado. Não sabia se estava tomando a decisão certa, mas também não conseguia imaginar o que faria sem Takeo em sua vida. Era ruim ter esse tipo de pensamento, mas era um certo tipo de dependência. Talvez fosse se machucar de novo, mas e se não acontecesse? E se eles finalmente se acertassem de uma vez?

 

Voltou para a varanda, encontrando Takeo no mesmo lugar, sentado contra a mureta e com a cabeça apoiada nos joelhos, fazendo desenhos imaginários no chão. Parecia uma criança perdida. Mas aquela criança precisava de um pouco de juízo e fazer a parte dela, ou não ia dar certo.

 

— Takeo… – o vocalista se abaixou até ficar na mesma linha de visão, esperando ser encarado antes de continuar, o que não foi feito diretamente, então decidiu sentar ao seu lado, apoiando a cabeça em seu ombro – Você assumiu que fez algo errado, mas podemos corrigir, não é? Não estou dizendo pra fingir que nada aconteceu, porque eu não conseguiria, mas podemos superar juntos. O que acha?

 

— Eu estava esperando um monte de acusações, igual sua irmã fez. Dizer que eu não mereço você, que quer acabar com tudo, brigar pelo que eu fiz… essa calma me deixa desconfortável. Eu não me perdoei pelo que fiz, não consigo imaginar você fazendo isso.

 

— Mas é o que estou fazendo, ou tentando pelo menos. Como disse, não vou esquecer o que aconteceu, mas acho que podemos passar por cima disso juntos. Talvez, se você tivesse me contado quando aconteceu, admito que não conseguiria te perdoar, eu teria ficado com muita raiva e podia tomar uma decisão ruim. Esse tempo pensando é que me fez tomar uma decisão com calma. Se dê uma chance também, tente se perdoar. E me prometa que não vai fazer de novo.

 

Takeo virou o rosto para encarar o namorado, procurando algum vestígio de brincadeira ou um sinal de que ele estava se forçando a tomar aquela decisão, mas parecia sincero. Em todas as vezes que brigou com Hayato, sempre ficava sem rumo, sem saber o que fazer até encontrar uma brecha para se aproximar, mas pensou que dessa vez não teria solução. Tinha medo de que qualquer atitude levasse ao fim definitivo.

 

— Não acho que é um bom motivo você estar calmo porque eu escondi todo esse tempo… não é certo… e eu não devia ficar feliz por isso… mas estou… – Takeo se virou para ficar de frente para o namorado, inclinando contra seu corpo em busca de um abraço. Receber um cafuné e ser abraçado de volta nunca foi tão bom e acolhedor. Não costumava se sentir seguro com outra pessoa, tendo em mente a imagem que ele quem devia proteger, por ser mais velho e ter mais experiência, mas estava protegido ali, envolvido naquele abraço.

 

— Espero que cumpra sua parte e não me magoe de novo. – Hayato pontuou em tom sério, beliscando a ponta da orelha de Takeo – Não quero saber de você defendendo ele e nem que me esconda o que faz quando estão juntos, também não dê motivos para ele entender errado suas atitudes. Não gosto do Mikaru, acho ele irritante, se pudesse ia te proibir de ter contato com ele, mas entendo seu lado e sua amizade de infância, mas por favor, não fique do lado dele.

 

— Eu não vou ficar. Prometo. – Takeo ergueu a mão, com o mindinho à vista. Aquilo não podia ser mais infantil, mas também fofo. Ele estava relaxando aos poucos, aceitando a proximidade que estava voltando entre eles. Se acomodou melhor no abraço, agradecendo pelo namorado ser tão compreensivo e paciente. Ele era incrível, de diversas formas.

 

Hayato não sabia como seria quando Takeo encontrasse o amigo, mas precisava se preparar mentalmente. Sentiria ciúmes, é claro, mas devia confiar. O mundo sempre se mostrava um lugar pequeno e, em algum momento iria encontrar Mikaru também, imaginava ser inevitável, mas se soubesse como agir, se soubesse o que esperar daquele encontro, talvez não saísse tão chateado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tecnicamente, esse é o final. Tem uma cena extra, mas não tenho certeza se gostei, então talvez não poste. Vai depender do momento, enfim.
Se for mesmo o fim, aos que acompanharam, espero que tenham gostado!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guilty ones" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.