Guilty ones escrita por Aislyn


Capítulo 4
Rotina abalada




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A P”Saiko tinha acabado de sair do palco, encerrando a noite com um show incrível. Enquanto caminhavam para o backstage, os gritos por mais continuavam reverberando pelos ouvidos. Eles haviam atendido às expectativas dos fãs, sendo recebidos com muito carinho e animação. Não era o primeiro show dos cinco naquela região, mas era sempre emocionante.

 

Arata, o nome que Hayato usava nos palcos, se jogou no primeiro sofá que encontrou, cansado e animado pelo show, só desejando água fresca e um banho para encerrar a noite. A bebida foi fácil conseguir, contudo, Jack e Teruo, baterista e guitarrista respectivamente, foram mais rápidos e ocuparam as duchas, obrigando-o a esperar. Shibuya ou Jin, baixista da banda e também seu primo, não tardou em sentar ao seu lado, puxando conversa e relembrando os melhores momentos do show.

 

Takeo, por sua vez, decidiu ficar quieto no seu canto, sem pressionar o namorado, o que não passou despercebido por ninguém, já que ele era sempre hiperativo nas apresentações. Nos dias seguintes à conversa, a situação ficou cada vez mais delicada. Ainda estavam juntos, morando no mesmo apartamento, mas Hayato evitava seus toques, sem ignorá-lo de todo. Pareciam dois estranhos sob o mesmo teto.

 

Contornou a mesa no local, evitando passar ao lado de Arata, caminhando até sua mochila e pegando o celular para enviar uma mensagem ao irmão. Havia virado um costume entre eles, quando estavam na mesma cidade, avisar que o show encerrou e aproveitar para contarem as novidades. Mal terminou de digitar o texto e o celular começou a tocar, fazendo o guitarrista olhar desconfiado para Hayato antes de atender, saindo da sala com o aparelho no ouvido. Seja lá o que Mikaru queria, não era uma boa ideia atender no meio de tanta gente.

 

Hayato tentava focar sua atenção na conversa com o primo, mas os movimentos de Takeo não passavam despercebidos. Não negava seus esforços em se aproximar, mas ficava incomodado quando ele tentava tocá-lo, imaginando se ele havia abraçado o amigo da mesma forma que fazia consigo ou se segurava as mãos dele como segurava as suas. Observou-o pegar o celular, como sempre fazia ao final dos shows e, apesar de já ter perguntado e sabendo que ele conversava com o irmão, não conseguia afastar a ideia que, dessa vez, a mensagem era para o tal amigo.

 

— Ara-chii, você vem? – Hayato balançou rapidamente a cabeça para espantar o pensamento, voltando a atenção para o primo que o chamava – O banho está livre.

 

— Vou sim. É melhor adiantar minha parte. – mas antes de entrar para o banheiro, enquanto pegava sua toalha, o vocalista olhou para a porta, por onde o namorado havia saído minutos atrás.

 

Queria ir para o banho com ele, no ofurô de casa, recebendo uma massagem nas costas…

 

Quando Shiroyama retornou para a sala, Jack e Teruo já estavam prontos para partir e, como era esperado, o líder brigou com ele, mandando-o se apressar e não atrasar mais a banda, pois todos estavam cansados. Takeo só teve tempo de desviar da almofada e correr até a mochila, deixando o telefone do lado e separando as roupas que ia usar após o banho, entrando para a ducha assim que os primos saíram.

 

Mikaru estava brincando com fogo e testando seus limites. Takeo havia ligado pra ele logo após o incidente, pedindo que não aparecesse sem avisar e que parasse de importunar o namorado, mas o amigo não estava levando a sério. A ligação de minutos atrás foi para contar que assistiu o show e que gostou muito. Takeo ficou satisfeito com o elogio, até que a conversa mudou para suas roupas justas e seus rebolados. Não ficava desconfortável com as apresentações pois era tudo combinado antes: para onde iam em cada música, os fanservices, quando era momento de brincar e quando precisavam focar nos solos. Olhando de fora, podia parecer que estavam apenas se divertindo enquanto faziam música, mas eram profissionais acima de tudo.

 

Precisava falar com ele de novo e mais a sério. Reforçar que não podia levar aquela situação com descaso. O namoro já estava abalado, mas ia salvar. Mexer com a banda estava fora de cogitação.

 

Após o banho, Hayato se sentou no sofá para calçar os sapatos, vendo a mochila do namorado ao lado e pensando em pegá-la para levar para o carro, ajudando-o a carregar o peso, já que às vezes ele levava a guitarra. O celular vibrou próximo com a chegada de uma mensagem, mostrando para Hayato que quase sentou em cima do aparelho, mas sua expressão fechou ao ver o nome que aparecia na tela. Não era uma mensagem do irmão.

 

— Ara-chii? – com o chamado de Shibuya, Arata levantou o olhar, sendo encarado de forma estranha pelo primo – Está se sentindo mal? Fez uma cara… e ficou branco…

 

O comentário de alguém passando mal fez os outros dois integrantes da banda olharem em sua direção, preocupados. Substituir um vocalista em época de turnê, mesmo com poucos shows marcados e tão em cima da hora não seria uma boa ideia.

 

— Ah… acho que foi vertigem. – mesmo forçado, Hayato tentou sorrir para acalmar os colegas – O show foi animado, mas foi puxado também. – respirando fundo, lançou um último olhar para o visor do celular, levantando e caminhando na direção do primo – Jin, tudo bem se eu dormir no seu apartamento hoje?

 

O baixista ponderou um instante, inclinando de leve a cabeça e batucando o indicador no queixo, se decidindo após um balançar de ombros.

 

— Acho que Trevas não vai se importar. – como se a pequena yorkshire tomasse todas as decisões da casa.

 

Jack e Teruo trocaram olhares, mas não comentaram nada. Era melhor não se envolver. Já viram brigas o suficiente do casal para saber que mais uma estava a caminho e torciam para que não afetasse a banda. Colocaram a mochila nas costas e saíram na frente, apenas avisando para não demorarem.

 

Quando Takeo saiu do banho, a sala já estava vazia. Mesmo que não tivesse demorado, os amigos não pareciam estar com paciência para esperar. Pegou a mochila, o celular e uma garrafa de água, se apressando para segui-los, alcançando o vocalista e o baixista quase no fim do corredor.

 

— Vamos, antes que aqueles dois nos deixem pra trás. – Takeo tomou a frente no trio, mas os primos estavam distraídos na conversa para lhe dar atenção.

 

— Trevas está com muitas saudades, então ele vai fazer festa quando chegar. – Shibuya comentou em tom de aviso, arrancando um pequeno sorriso do vocalista – Precisamos passar na kombini antes e comprar comida também. Trevas comeu tudo que tinha no armário.

 

— Trevas devia se preocupar com a saúde… – Arata sabia bem o tipo de comida que o primo pensava em comprar, mas nenhum deles era muito bom em lidar com a cozinha.

 

— Ah, já sei! Diga isso pro Trevas, já que vai dormir lá. Tenho certeza que ele vai te escutar!

 

Chegando próximo à van, Takeo abriu a porta, dando passagem para os primos, mas acabou ouvindo o final da conversa que não tinha dado atenção antes, segurando Hayato pelo braço antes que entrasse no veículo.

 

— Eu ouvi direito? Você vai dormir fora? – questionou em tom baixo, de modo que apenas os dois ouvissem.

 

Hayato mordeu o lábio com força, apenas acenando em concordância e indicando o interior da van, guiando-os até o assento no fundo para conversarem sem atrapalhar os outros.

 

— Eu vou dormir no apartamento do Jin hoje. – comentou assim que Takeo sentou ao seu lado e a van saiu para as ruas.

 

— Entendi essa parte. Quero entender o motivo. – Takeo buscou na mente suas últimas ações, pensando o que poderia ter desencadeado aquela decisão. Será que ele havia ficado chateado só por ter saído para atender a ligação? Ou teria mais alguma coisa? – Eu sei que a gente não tá num momento muito bom, mas precisamos conversar… você pode me dizer quando eu fizer algo que não gostou…

 

Depois de alguns dias com os nervos à flor da pele e mantendo a distância para respeitar o espaço alheio, Takeo tentou se aproximar do namorado, mas foi afastado com um simples aceno negativo, onde Hayato virou o rosto, se afastando de sua mão.

 

— Não me olha assim… eu não queria estar incomodado, mas esse cara está me afetando mais do que devia. Não sei se conversar em casa hoje seria uma boa ideia… – Hayato esfregou o rosto com força, tentando afastar o cansaço e a angústia – Sinto que se for pro apartamento, vou encontrar ele na entrada, esperando você rebolar pra ele.

 

— De onde tirou isso?

 

— Seu celular… – Arata comentou entre dentes, sentindo a raiva lhe subir à cabeça novamente enquanto explicava – Eu não li tudo, mas apareceu um trecho no visor.

 

Takeo pegou o celular do bolso, notando então a notificação de mensagem e a pequena frase que deixou o namorado incomodado. Era o mesmo assunto que o amigo havia dito por telefone minutos antes, reforçando o pedido para um show particular.

 

— Hayato, isso é uma brincadeira de mal gosto dele. Você sabe que eu fazia algumas bem ruins um tempo atrás, Mikaru deve achar que estou nessa fase ainda. Eu não vou me encontrar com ele pra nada. Faz alguns dias que não vejo ele.

 

— Essa sua amizade com ele me perturba… Não gosto dele, Takeo. – o vocalista cobriu o rosto com as mãos, pressionando os olhos com força. Não queria chorar. Não queria se mostrar tão fraco.

 

— Se você o conhecesse melhor, ia ver que não tem nada entre a gente. Esse é o jeito dele. – aproveitando do momento de guarda baixa, Takeo ignorou a regra muda de não se tocarem e o puxou para um abraço, acariciando-lhe os cabelos – Vamos pra casa juntos? Eu preparo um lanche pra gente e te faço massagem depois.

 

A primeira reação de Arata foi se afastar do abraço. Não queria ser induzido a aceitar a proposta, mas ao mesmo tempo sentia falta dos carinhos. Combinou com o primo de ir embora com ele e agora estava em dúvida sobre o que fazer. Se aceitasse a proposta para conversar com Takeo, talvez conseguissem passar por cima dos problemas dos últimos dias e o relacionamento voltaria a ser como era. Não queria que o namoro acabasse por uma bobeira. Mas e se Mikaru realmente estivesse esperando na frente do prédio? E Jin estava tão animado, fazia tanto tempo que não o visitava…

 

— Arachii? Vamos? – Shibuya chamou da porta, mostrando que a van havia parado em frente ao apartamento do primo.

 

Arata intercalou olhares preocupados entre o primo e o namorado, ainda sem saber qual a decisão certa a tomar. Os dois o encararam de volta em expectativa, aguardando a decisão.

 

— Jin… será que o Trevas me desculpa? Acho que vou deixar a visita pra outro dia.

 

Shibuya pareceu um pouco decepcionado, mas o suspiro de alívio de Takeo foi bem audível. Ver o namorado em dúvida mostrou o quanto a confiança entre eles estava abalada. Não podia deixar continuar daquela forma.

 

— Ah, tudo bem, primo. Trevas vai ficar um pouco triste, mas vai entender. – o baixista tentou se animar novamente, despedindo dos colegas antes de fechar a porta da van.

 

— Eu vou aceitar o lanche… – Hayato murmurou, enfim correspondendo ao abraço – Quero a massagem também e um banho de ofurô.

 

— Tudo que você quiser! – o guitarrista respondeu mais animado, beijando-lhe o topo da cabeça. Nem tudo estava perdido!

 

Quando a van parou em frente ao apartamento do casal, Takeo tomou a frente na saída para abrir a porta, mas Hayato não se moveu, olhando para os dois lados da rua, procurando até onde a vista alcançava. De uma esquina a outra, conforme o previsto para o horário, estava tudo deserto. Conferiu também os poucos carros estacionados, procurando algum sinal de movimento dentro dos veículos com vidros escurecidos, nem que fosse um mínimo ponto vermelho, já que aquele loiro aguado estava com um cigarro no dia que se conheceram, mas parecia tudo em ordem.

 

O percurso da calçada até a entrada do apartamento foi tranquilo após essa conferência e, conforme prometido, todos os mimos foram pagos e com bônus. Comeram, aproveitaram a banheira juntos e depois foram pra cama. Enquanto o sono não vinha, ficaram deitados próximos, trocando carícias, Hayato com o olhar perdido no teto e Takeo de olhos fechados, roçando o nariz contra seu pescoço.

 

Parecia que a paz reinava novamente e aquele pequeno desentendimento não passou de um mal entendido para agitar um pouco a rotina do casal.


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Notas finais do capítulo

Continua... não deixe de me contarem o que estão achando!



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